terça-feira, 20 de outubro de 2009

Novos Timbres


Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Alex Almeida

Desde os anos 50, a guitarra e o contrabaixo elétrico fazem a trilha sonora de diferentes gerações. De lá pra cá, esses instrumentos sofreram algumas mudanças, incorporando elementos mais modernos, de acordo com cada época. Mesmo assim, poucos projetistas ousaram excluir a madeira em suas confecções.

O luthier santista Gennaro Ricardo Ferreira, dono da marca Güller, quebrou essa regra sagrada -pode-se até dizer, mais do que uma regra, um verdadeiro dogma. A ousadia teve preço. Ao mostrar uma de suas guitarras em uma loja de São Paulo, o vendedor soltou um torpedo na direção de Gennaro: "Aqui nós não vendemos brinquedos. Não estou interessado", conta o projetista, que compara a tecnologia dos instrumentos antigos à dos automóveis antigos. "Não se pode comparar um carro da década de 50 com um carro projetado e construído hoje".

Em três anos de pesquisa, Gennaro inovou em tudo. Não somente substituindo a madeira por uma espécie de liga de materiais sintéticos, tornando os instrumentos mais leves, como redesenhando todas as suas formas.

"Meu material, uma mistura de polímero com fibras, possui muitas vantagens sobre a madeira, uma delas é a resistência. O braço do meu instrumento não empena de jeito nenhum. Pode até cair no chão que não sofrerá maiores danos. Além disso, eles são 30% mais leves do que os instrumentos tradicionais", diz o luthier, que se orgulha de nunca ter comprado um instrumento industrializado na vida.

Para Gennaro, o uso de materiais sintéticos é o futuro na confecção dos instrumentos. "Além de ser de fácil manuseio, o material sintético preserva a natureza. Devido à legislação ambiental, está cada vez mais difícil arranjar madeiras nobres como o jacarandá e a imbuia preta, próprias para a confecção de instrumentos".

O design também é moderno, privilegiando o equilíbrio e a funcionalidade. Em um instrumento musical, isso quer dizer melhor performance. Um bom exemplo é o recorte do "cuteway", aquelas duas curvas do corpo da guitarra ou do baixo, onde é encaixado o braço. Em um instrumento Güller, o músico pode explorar com maior facilidade e precisão as escalas naquela região do braço.

Mas o luthier diz que tudo isso não teria sentido se o som fosse semelhante ao de outra guitarra. Para chegar aos timbres que julgou ideal, Gennaro desenvolveu dentro no corpo de seus instrumentos camadas acústicas que proporcionam mais sustain - que pode ser entendido como a maior ma sustentação de uma nota. "Isso foi o que mais demorou. Não adiantaria nada eu inventar um instrumento com um timbre parecido com de outro". Uma particularidade do material usado é que ele possui a mesma densidade da madeira, facilitando o manuseio na hora de esculpir as partes desejadas, mas não possui veios e nem emendas. Essas imperfeições atrapalham a vibração do som no corpo do instrumento, influindo diretamente no sustain. "A minha guitarra standard tem 20% mais volume que as outras. Meu instrumento não é melhor nem pior, mas diferente".

Ele diz ainda que existe somente uma marca no mundo que fabrica guitarras de plástico. "As guitarras Palmer são de plásticos, mas são ativas, o som não é natural, é sintetizado. A minha guitarra é passiva, ou seja, o som é dela mesmo".

Vida dedicada à música - Talhado na noite santista, Gennaro é músico há 40 anos. Foi um dos primeiros a tocar guitarra nas bocas de Santos, porta de entrada destes instrumentos no Brasil na época e que eram trazidos dos "States" pelos marinheiros.

Paralelo à vida musical, foi dono de indústria de moldagens plásticas, mas é administrador de formação e não químico. De tanto montar e desmontar instrumentos, acabou virando luthier autodidata. Trabalha sozinho em sua fábrica em Santos, fazendo guitarras e contrabaixos personalizados. Seus baixos são os únicos com captadores móveis que se ajustam ao timbre desejado. Trata-se de uma inovação mundial.

Enquanto não incrementa sua produção, o luthier santista divulga a sua marca pela internet e faz contato com as grandes marcas de guitarra pelo mundo. Sua tecnologia já está patenteada. Mais uma vez, Santos está na vanguarda.

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