sábado, 30 de setembro de 2017

João Bosco se junta às feras do Coliseu (13/05/2006)


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. 
A data acima é de quando foi publicada, portanto, um retrato da época. E o título também é o original do jornal.

O cantor e compositor João Bosco vem a Santos na sexta-feira, dia 19, às 21h, em única apresentação no Coliseu. O teatro já recebeu feras como Bibi Ferreira, Toquinho e Gal Costa. 
Par essa entrevista peguei João Bosco recém chegado do Estados Unidos, onde se apresentou em diversas oportunidades. Uma delas no Birdland, em New York. No templo do jazz, que tem esse nome em homenagem ao saxofonista Charlie Parker, também conhecido como Bird, Bosco dividiu o Palcom com Eumir Deodato e com o Cubando Paquito D’Rivera, músicos experimentados e que vivem há décadas na terra do jazz.
Também se apresentou no San Francisco Jazz Festival e nas universidades de Burlington e Hanover. Nessa última dividiu o palco com seu amigo, o pianista Gonzalo Rubalcaba. 
João bosco é o entrevistado ideal, qualquer pergunta que se faça ele elabora um verdadeiro tratado sobre o assunto e se a entrevista não fosse editada ocuparia três páginas. Confira.

Eugênio Martins Júnior – Como vai ser o show em Santos?
João Bosco – Vai ser solo e acústico. Esse formato me dá mais liberdade na escolha do repertório que vai ser uma retrospectiva de toda minha carreira e também do CD Malabaristas do Sinal Vermelho. Acho que esse tipo de show se enquadra perfeitamente no Teatro Coliseu, que eu não conheço, mas ouvi dizer que é um lugar belíssimo. 

EM – malabarista foi gravado em 2003, está vindo disco por aí?
JB – O disco já está pronto., mas não está gravado. O meu projeto desse ano é o DVD. Pretendo entrar no estúdio só no segundo semestre.


EM – Vem com parcerias?
JB – Sim, parcerias com Aldir Blanc, Nei Lopes, Carlos Rennó e Francisco Bosco (filho de João Bosco que já foi seu parceiro no disco Malabaristas do Sinal Vermelho).

EM – Fale um pouco sobre sua parceria com Aldir Blanc e do tempo que ficaram sem compor.
JB – Eu e o Aldir temos um pouco de dificuldade em falar nisso. Durante muitos anos o nosso trabalho teve uma solidez, uma consistência. Talvez a explicação é que somos compositores e exploradores e gostamos dessa inquietação. Encontramo-nos e e percebemos que a amizade ainda era a mesma. É inegociável. Parecia que tínhamos nos encontrado no dia anterior. A única diferença é que você deixa de compartilhar a intimidade do dia a dia. 

EM -  Foi como tivessem tomado caminhos artísticos diferentes? 
JB - Exatamente. Quando éramos jovens fizemos muitas músicas e de maneira muito intensa. Agora não, quando nos encontramos aproveitamos para cultivar a amizade, tomar uma cerveja.

EM – E como são essas composições?
JB – Fizemos duas canções para o CD, um samba e um samba canção. E um samba que já está gravado e que vai ser usado em um seriado da TV Globo.

EM – E O DVD, quando sai?
JB – Vai ser lançado no dia 29 de maio pela Universal. Vai ter cerca de 20 músicas gravadas ao vivo na Sala Ibirapuera, em São Paulo. Nesse show a banda tem oito músicos, inclusive naipe de metais. Tem também os convidados, Hamilton de Holanda, Yamandú Costa e Guinga. Também tem o Djavan na música Corsário.

EM – O Brasil tem apresentado uma boa safra de violonistas e mesmo os mais antigos como Ulisses Rocha, Marco Pereira, Duo Assad e tantos outros parecem ter ganhado atualmente mais visibilidade de público e mídia. A que você atribui isso?
JB – O violão é uma espécie de alma da música popular brasileira. É claro que também apareceram grades compositores e pianistas como Tom Jobim e Ary Barroso, ms quase tudo que foi feito no século 20 tem como base o violão, tanto no acompanhamento como solista. Um dos maiores representantes dessa escola é Baden Powell.

EM – O brasileiro está mais habituado ao formato canção e talvez seja por isso que a música instrumental brasileira fique em segundo plano.
JB – O Brasil é um país que tem uma fome de novidade e uma das características mais marcantes é a antropofagia. A música brasileira ainda não tem um público que a coloque numa maneira confortável na mídia, mas ela aparece cada vez mais e com uma cara toda nossa.

EM – Houve uma época, mais precisamente nos anos 80, com ops discos Gagabirô, Ai Ai de Mim e Bosco que você investiu na pesquisa de ritmos africanos. Você ainda continua esse trabalho? 
JB – O artista tem uma curiosidade permanente pelas coisas e os compositores têm de ter essa vontade de explorar novos caminhos. A cultura do Brasil dessas culturas (africanas) e temos essa facilidade de formar ideias novas. Todo compositor deve exercitar isso.

EM – Suas letras falam sobre o mar, culturas orientais e afro brasileiras. Essas são suas grandes inspirações?
JB – São elementos com grande apelo poético. Durante séculos foi pelo mar que aconteceram as ligações entre uma cultura e outra. Essas referências são caminhos poéticos que a gente luta para preservar, sempre com o intuito de dividir com as pessoas. Não faço nada pra desfrutar sozinho.

EM – O que você escuta atualmente?
JB – Um disco do Sérgio Mendes gravado nos Estados Unidos com músicos negros com temas do Tom Jobim e do Jorge Benjor.

EM – E música brasileira?
JB – Hoje em dia as novidades são tantas e tão rápidas, a música brasileira é tão dinâmica que muita coisa passa despercebida. 

EM – Ainda mais agora com a internet. O que você acha desse negócio de baixar música pelo computador?
JB – Isso se tornou inevitável. Faz parte do mundo contemporâneo. A única coisa que pode ser feita é uma forma de organizar. Hoje as mudanças acontecem muito rapidamente. O formato antigo de consumir música tende a acabar.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Badi Assad em Wonderland (29/04/2006)


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog.
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.

A cantora, compositora e violonista Badi Assad traz toda a sua energia, criatividade e sensualidade ao teatro do Sesc, nesse domingo, dia 30, às 20h.
A apresentação marca o lançamento de Wonderland seu novo CD, produzido por Jacques Morelenbaum e com as participações de Seu Jorge e Elisa Lucinha que recita um fragmento da poesia Libração, em A Banca do Distinto, de Billy Blanco.
O CD tem ainda Acredite ou Não, de Lenine e Bráulio Tavares; Black Dove, da norte-americana Tori Amos, que versa sobre o estupro, e Vacilão, de Zé Roberto, famosa na voz de Zeca Pagodinho, sobre o alcoolismo.
Após o exito de Verde, lançado em 2004, Badi, que foi considerada a melhor violonista do mundo pela revista Guitar Player, se aprofunda no seu lado cantora em Wonderland. Ao que parece o caminho é só de ida.
Em Santos ela se apresenta com Décio 7 (percussão), e com o grego Dimos Goudaroulis (violoncelo). Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00.

Eugênio Martins Júnior  - Gostaria que contasse como foi o começo de sua carreira.
Badi Assad – Comecei aos 14 anos de idade, seguindo os passos do Sérgio e do Odair (irmão de Badi, integrantes do renomado Duo Assad), na música erudita, mas aos 19, 20 anos descobri que não era a minha. Usei tudo que sanbia para fazer música popular e depois passei uma época fazendo experimentações com a voz, violão e percussão.

EM – Quando e como aconteceu de você ficar conhecida internacionalmente?
BA – Gravei uma fita demos e queria apresentar em alguma gravadora, mas era uma dificuldade para conseguir falar com as pessoas aqui no Brasil. Acabei entrando em contato com uma gravadora nos Estados Unidos e em duas semanas já estava com um contrato para três discos que não saíram por aqui. Acabei morando naquele país entre 1997 e 2001. Por contrato, a minha nova gravadora, a Deutsche Grammophon, passou a lançar os meus CDs no Brasil, aconteceu com o Verde e o Wonderland.

EM -  Em um país com grandes violonistas, quais as suas influências? E não vale citar o Sérdio e o Odair.
BA – (risos) Ulisses Rocha, Marco Pereira, Rafael Rabelo, Baden Powell, Egberto Gismonti, todos esses músicos. Grande parte do meu trabalho é de música instrumental.

EM – O seu estilo é incomum, como eu disse anteriormente, O Brasil é um país de grandes violonistas, você sentiu necessidade de fazer alguma coisa diferente nesse sentido? Como forjou essa maneira toda especial de se apresentar?
BA – Aconteceu naturalmente porque eu sempre cantei, mas não profissionalmente. O uso da voz ampliou muito o meu horizonte musical. No Wonderland exercito meu outro lado que é o teatral e que também gosto muito. Por exemplo, se canto uma letra que tem certa ironia, eu sou a ironia em pessoa em cima do palco (risos).

EM – Como foi gravar o disco Three Guitars com o Larry Coryell e John Abercombie?
BA – Nós tivemos os papéis definidos, o que deu um certo equilíbrio. O meu violão serviu de base e minha voz é que acabou entrando como improviso, virando o quarto instrumento. Já na parte instrumental, o improviso ficou por conta dos dois.

EM – Fale um pouco sobre o Wonderland. Quais as diferenças e semelhanças entre ele e o Verde?
BA – Quem acompanhou a minha carreira sabe que os meus trabalhos passaram por um processo evolutivo. Do Verde pra cá houve uma certa maturidade, principalmente na minha voz. No Verde, cada tema levou um tratamento diferente. No Wonderland o disco ganhou uma unidade, tanto pela temática, como pelos arranjos.

EM - Por quê esse título?
BA – O repertório parece leve, alegre e cheil de suingue, mas se você olhar de perto os temas são pesados e é exatamente o que acontece em Alice in Wonderland, a história de Lewis Carrol. Aparentemente Wonderland é um paraíso alegre e sem problemas, mas na realidade abriga um bando de doidos.

EM – Gal Costa e Zélia Duncan me falaram sobre a dificuldade que é escolher repertório para um disco. No seu caso, sendo brasileira, mas antenada com o que acontece no mundo, é difícil montar um?
BA – Sou cidadã do mundo e pra mim não existe diferença entre música brasileira e internacional. Elas têm a mesma medida. Tenho uma carreira internacional e é um prazer cantar em inglês para plateias internacionais. Espero que para eles também seja um prazer.

EM – Como está a tua agenda?
BA – Esta preenchida até 2008 (risos). Em julho vou para os Estados Unidos e depois para o festival de jazz de Montreal, no Canadá. Volto ao Brasil e outubro, depois lanço o Wonderland nos Estados Unidos e em novembro Europa.

EM – Além das músicas desse CD o que mais vai tocar?
BA – Duas músicas do Verde e alguma coisa inédita em disco que é surpresa.

EM -  O que lhe interessa na música brasileira hoje?
BA – Com essa séria de shows não tenho tempo nem para respirar, mas sou fã incondicional do Lenine, Chico Cezar e da Zélia Duncan.




quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Mauro Hector - Live in Santos - 2015


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos - Mauro Hector (guitarra), Glécio Nascimento (baixo) e Plínio Romero (bateria).

Gravação e mixagem - Vinícius Suzuki e Theo Cancello
Design - Winter Santana Fotos - Flávio Hopp
Gravado no Teatro Guarany em 18/04/15
Produção do show - Eugênio Martins Júnior
Todas as faixas (composição e arranjos) são de autoria de Mauro Hector

Músicas

1 - Green Bullet
2 - Country Bird
3 - Pra Curtir
4 - Na Calma
5 - Atitude Blues
6 - Impressão Digital
7 - Voltando Pra Casa
8 - Hendrixiando


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Hoje na quinta-feira (18/03/2006)

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. 
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Na quinta-feira, dia 23, Gal Costa apresenta, no Teatro Coliseu, as músicas de Hoje, seu mais recente CD, lançado pela gravadora Trama.
Gal vem completa, com banda e 14 temas, entre duzentos, escolhidos pela cantora para compor o CD.
O show faz parte da turnê de lançamento desse que é um dos melhores discos realizados pela cantora. O trabalho contou com a produção do maestro Cesar Camargo Mariano e com temas de compositores desconhecidos do grande público, como o pernambucano Julio Barreto, os baianos Moisés Santana, Tito Bahiense, Péri, Moreno Veloso e os paulistas Hilton Raw e Nuno Ramos.
Durante os ensaios, no Rio de Janeiro, Gal arrumou um tempo para essa entrevista.

Eugênio Martins Júnior – Você declarou que estava devendo um CD com músicas inéditas e até houve uma cobrança da crítica sobre isso.
Gal Costa – Essa cobrança realmente existiu, mas porque eu disse que queria gravar um repertório com compositores novos.

EM – Deve ser difícil pra você que já viu e ouviu tanta coisa achar um bom repertório, não é verdade?
GC – É difícil porque os bons compositores estão escondidos. As gravadoras apostam em trabalhos descartáveis. Na minha geração a mídia também estava interessada em mostrar o que realmente acontecia, hoje isso não acontece.

EM – O Carlos Rennó aparece nos créditos do CD como responsável pela “pesquisa de repertório”. Como foi isso, ele escolheu sozinho e depois mostrou para você o que decidiu gravar?
GC – Uma parte eu recebi através da Trama. A outra perguntei ao Rennó se ele conhecia alguns compositores e ele trouxe para mim os CDs. O processo de escolha foi baseado na melodia das canções, um exemplo disso foi a música do Hilton Raw, Leonora de Barros e Marcos Augusto, de quem ouvi o CD inteiro e acabei escolhendo Nada a Ver.

EM – Todos nós sabemos o que você é capaz de fazer com a sua voz, mas nesse disco você optou pela delicadeza, estou certo?
GC – Você está certo, o disco é mesmo muito suave. Aliás, eu sou uma pessoa muito suave, o meu estilo é cool. Às vezes a gente assume uma postura mais agressiva, mas não é comum.

EM – Falando em ser cool, como anda o projeto com as músicas do Chet Baker? Já foi escolhido ou gravado algum tema?
GC – Eu adoro o Chet Baker e é claro que tem muitas coisas que quero gravar, mas primeiro quero encerrar o ciclo desse show.

EM – Isso inclui viagem ao exterior?
GC – Sim. Em Junho vamos à Europa, mas primeiro vamos fazer todo o Brasil. Acredito que levaremos dois anos com esse disco até pensar em preparar o próximo trabalho. E nesse tempo muita coisa acontece.

EM – Como o músico congolês Lokua Kanza entrou no projeto?
GC – Eu o conheci em um evento no Canecão, no Rio de Janeiro, quando ele me presenteou com um CD autografado, mas as três composições que entraram no CD me foram apresentadas pelo Carlos Rennó. O Lokua é uma pessoa muito doce, é maravilhoso.

EM – A maioria dos compositores do seu disco estão morando em São Paulo, inclusive os baianos. Gal, a música baiana não está com muito axè, não? Você não acha que está precisando de uma renovação?
GC – A turma do axé é muito organizada e muito fechada. O pessoal da MPB que quiser aparecer tem de sair da Bahia e vir para São Paulo ou Rio de Janeiro que é onde as coisas acontecem.

EM – O show em Santos vai ser com a mesma banda do CD?
GC – Não, tem algumas diferenças: é o Keko Brandão (teclados), Marcus Teixeira (violão), Jakaré (percussão), Júri Moreira (bateria) e Marcelo Mariano (baixo). E também Ed Flash, Ricardo e Júnior na voz.

EM – Qual a diferença de estar em uma grande gravadora e a Trama que está em crescimento?
GC – Eu fui uma artista que sempre gravei o que quis sem sofrer nenhuma interferência. As gravadoras sempre respeitaram isso. A ida para a Trama tem sido maravilhosa e estou muito feliz com a repercussão do Hoje.



sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Zélia Duncan Pós Tudo (11/03/2006)

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. 
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Zélia Duncan volta a Santos na terça-feira, dia 14, às 21h, para mostrar as canções de Pré Pós Tudo Bossa Band, seu mais recente CD, só que desta vez com o show completo, aclamado pela crítica como o melhor da cantora. O CD traz 16 faixas com diversas participações, na produção: Lenine, Cristian Oyens, Bia Paes Lema e Beto Villares. Nas composições e parcerias, o CD conta com Paulinho Moska, Lulu Santos, Pedro Luís (de A Parede) e Mart’nália. Entre as composições, quatro do “Nego Dito”, Itamar Assunção, uma das influências de Duncan.     

Eugênio Martins Júnior – Nesse CD você mostra ter muitas influências. Além, é claro, do samba, MPB e todos esses ritmos nacionais, o músico brasileiro ainda é influenciado pelo jaz, pelo blues e o pop internacional, no Pré Pós Tudo Bossa Band tem tudo isso. Parece ser muito difpicil escolher o que gravar com tanta coisa na cabeça, não é verdade? 
Zélia Duncan – Sim, você tem razão e, fora isso, eu não gravava um disco autoral há quatro anos, pois fiz o Sortimento Vivo e o projeto Eu Me Transformo em Outras, então acabou ficando um disco um pouc maior. Mas eu, como consumidora de música também, acho que é um privilégio para o público poder adquirir coisas diversas num únioc álbum. 

EM – O CD Eu Me Traansformo em Outras jámapontava nessa direção?
ZD – Sim, o Pré Pós traz conquistas daquele trabalho. 

EM- É devido esse fator que ocorre parcerias que tantos músicos e tantos produtores?
ZD – O fator único é apenas o desejo de trabalhar com todas essas pessoas que já fazem parte do meu universo.

EM – É verdade que você estáfazendo faculdade de Letras? Entre shows, gravações e participações em CDs e DVDs de outros artistas, como você arruma tempo?
ZD – Sim, não sei como, mas vou levando. Acabo de chegar da faculdade (essa entrevista foi realizada ao meio dia de uma quinta-feira. Meus colegas me ajudam, viajo com um computador e quando é uma viagem mais longa vou me virando. Faço o mínimo de matérias possível e tem me dado muito prazer. Leio as apostilas e por vezes faço trabalhos dentro do avião.

EM – Sempre que pode você cita o Itamar Assunção e o Tom Zé. Dessa vez você gravou quatro músicas do Itamar: Vi Não Vivi, Tudo ou Nada, Do Elegante e Milágrimas. Gostaria que você falasse um pouco sobre isso.
ZD – São autores que me ajudam a dar consistência ao meu próprio trabalho e, em troca, eu tento colocar mais foco neles, que são sensacionais. 

EM – É mesmo um importante resgate. Sempre achei que esse pessoal chamado de “maldito”, como Itamar, Aguilar, Arrigo, Premê, Língua de Trapo, Rumo, as próprias Ná Ozetti e Vânia Bastos sempre foram muito injustiçados pela mídia, gravadoras e até por outros artistas, você não acha?
ZD – A pessoa pode passar a vida inteira vivendo bem de música, sendo importante mesmo e não ser conhecido nacionalmente como merecia. Tem a ver com o movimento de cada um e com a artificialidade das rádios e gravadoras, certamente. Você citou aí pessoas fundamentais para a minha vida de ouvinte e cantante.

EM – O seu CD nas lojas custa cerca de R$ 36,00. Inclusive em grandes redes que costumam cobrar um pouco menos. Nas Lojas Americanas on line achei por R$ 27,00, mas não é todo mundo que pode comprar CDs pela internet. Você não acha que esse preço estimula a pirataria?
ZD – Estimula, mas não justifica. A pirataria é um câncer e uma falsa ilusão de se estar levando vantagem, quando tantas pessoas são lesadas, não só o artista. O cinismo virou regra no Brasil e, por outro lado, o imposto é altíssimo e os donos de loja, pouco inteligentes abusam disso, querendo cem por cento de lucro, provavelmente. Quem sofre é a cultura, ou seja, todos nós. Nos meus shows, quando posso levar, vendo a R$ 20,00. Mas saiba que compro da gravadora por R$ 19,00.

EM – Como será a apresentação em Santos?
ZD – Estou muito feliz, pois será um dos lugares onde o show estará completo: cenário, iluminação e tudo o mais. Estou rodando o Brasil e já estive também em Portugal. Santos, terra de Pagu, vai ser uma alegria!


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Duca Belintani - How Long - 2017


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos – Duca Belintani (guitarra e voz), Benigno Sobral (baixo), Ulisses da Hora (bateria nas faixas 1,2,3,4,6 e 7), Humberto Zigler (bateria nas faixas 5,8,9 e 10), Ricardo Scaff (gaita nas faixas 4 e 7), Adriano Grineberg (piano na faixa 7) e Vinas Peixoto (berimbau e caixa na faixa 3).  
Produção e direção - Duca Belintani
Edição e Masterização – Vinas Peixoto
Projeto gráfico – Tim Ernani
Fotos - Duca Belintani e Aline Belintani
Gravado no Hybrid Studios (CA) – (faixa 2) por Joshua Brooks
VP Estúdios – (faixas 1,2,3,4,6 e 7) por Vinas Peixoto
Space Blues – (faixas 5,8,9 e 10) por Alexandre Fontanetti

Músicas
1 – Baby Please Don’t Go - Big Joe Willians
2 – Ma baby, My Car and My Guitar - Duca Belintani
3 – I’m Going Down in Mississippi - Duca Belintani
4 – Jumping Boy Blues - Duca Belintani/Osmar Santos Jr
5 – How Long – Leroy Carr
6 – Louisiana Blues - Duca Belintani
7 – Tô Sabendo – Tico Terpins/Zé Rodrix
8 – Rota 145 - Duca Belintani
9 – Hey Hey – Big Bill Broonzy
10 – Mena Old Frisco – Arthur Big Boy Crudup

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Trio Ciclos apresenta sua música móvel no Sesc Pinheiros

Na quarta-feira, dia 27, a partir das 20h30, o Sesc Pinheiros recebe o Trio Ciclos, um dos grupos dedicados à grande fusão de ritmos brasileiros que podemos chamar de jazz br


Formado por três músicos de destaque no cenário da música instrumental brasileira, Edson Santanna (piano), Bruno Migotto (baixo) e Alex Buck (bateria), o Trio Ciclos existe desde 2008. 
Com um início calcado na tradição de trios brasileiros, o repertório era composto por composições próprias e arranjos sofisticados de clássicos da música brasileira, como Alvorada (Cartola), Chega de Saudade (T. Jobim e Vinícius de Moraes), mas ao longo dos anos os músicos adotaram um sistema de interação para trio absolutamente singular, denominado pelos integrantes como Móbiles. 
O conceito, emprestado da arte cinética, visa a valorização de um aspecto muito caro ao trio: a composição em tempo real. Ou seja, a boa e velha improvisação. 
Outra característica do Ciclos é a interação com o computador. Ora processando os sons dos instrumentos (live electronics), ora com o computador funcionando como uma espécie de quarto integrante, improvisando juntamente com os músicos, é notória a expansão do campo timbrístico dessa formação clássica (piano, baixo acústico e bateria) que surgiu no jazz e difundiu-se mundialmente.

"Flexível, inconstante, volúvel... Mobile.
No início do século XX o artista plástico Alexander Calder, um dos expoentes da arte cinética, criava as primeiras esculturas movediças, estruturas suficientemente leves e flexíveis capazes de assumir diferentes (con)figurações acompanhando as correntes de ar.
Transportar a ideia de móbiles para o nosso campo - jazz / música instrumental brasileira - foi a solução que encontramos para dinamizar as decisões coletivas, potencializando a articulação do discurso musical no momento da performance. É a partir da tensão do encontro entre as vontades dos integrantes do trio que surge a força motriz para o encadeamento das estruturas - música cinética. Por isso as apresentações do trio são imprevisíveis, são configurações únicas que dão origem a uma música criativa e dinâmica".


Trio Ciclos - Mobile Vol. 1 - 2015


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos - Edson Santanna (piano), Bruno Migotto (baixo) e Alex Buck (bateria e live electronics).

Captação e mixagem – Bernardo Goys
Masterização – David Darlington/NY Bass hit Recording
Arte da capa e projeto gráfico – Thais Barbosa e André Mortatti
Gravado no estúdio Soundfinger, São Paulo,  em dezembro de 2015. 
Todas as composições do Trio Ciclos, exceto Koan n. 2 e 3 Chances, de Alex Buck 

Músicas
1 – 3 Chances
2 – Curação Mobile
3 – Mobile Rock
4 – Koan n.2
5 – Mobile Saudade
6 – Mobilibre
7 - Maxixe

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Tambores de Arcoverde (11/02/2006)

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei cinco delas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. O título e a data acima são de quando a entrevista foi publicada, portanto, é um retrato da época. Ambos são original do jornal.


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Foi Arcoverde que produziu o Cordel do Fogo Encantado, o conjunto mais original saído de Pernambuco na esteira do movimento mangue beat, que teve os grupos Mundo Livre SA e Chico Science e Nação Zumbi como precursores.
Arcoverde é uma cidade, tem só 61 mil habitantes e fica no sertão, a 252 quilometros de Recife. Além de produzir, batata, milho, goiaba, mandioca, feijão e banana, Arcoverde também é muito rica em artesanato e folclore.
Todos os anos, sempre em agosto, acontece o Festival Lula Calixto, em comemoração ao aniversário do samba de coco Raízes de Arcoverde. 
O festival reúne diversas atrações como o Boi da Macuca de Garanhuns, banda de Pífanos Santa Luzia e o Reizado de Caraíbas de Arcoverde, a Orquestra Popular do Recife, Zabumba de Mestre Chimba do cabo, Aurinha do Coco de Olinda, Samba do Leitão da Carapuça de Afogados da Ingazeiras, e os grupos de coco de Arcoverde, Irmãs Lopes e Raízes Verdes.
O Cordel preservou as raízes de Arcoverde, com poesia calcada no cotidiano do homem sertanejo. Formam a banda, Clayton Barros (violão e voz), Emerson Calado (percussão), Lirinha (letras e voz), Nego Henrique (percussão e voz) e Rafa Almeida (percussão e voz).
O percussionista Emerson Calado reservou um tempo entre as gravações do novo CD do grupo para essa entrevista. 

Eugênio Martins Júnior – Vocês já estão no estúdio gravando o terceiro CD, dá pra adiantar alguma coisa?
Emerson Calado – Já iniciamos a gravação e a previsão de lançamento é para o meio do ano. O carnaval vai tirar a gente um pouco de São Paulo, mas as percussões já estão prontas. Falta colocar os violões e todas as letras que serão compostas pelo Lirinha. Talvez role uma parceria com o B Negão, mas ainda não temos um nome para o CD.

EM – Os dois discos anteriores são bem crus. Buscam essa sonoridade? 
EC - O disco é o próprio registro do espetáculo, com todas as deficiências e não ao contrário. 

EM – No primeiro disco a produção foi do Naná Vasconcelos, o segundo do próprio Cordel e o próximo?
EC – É do Carlos Eduardo Miranda. (jornalista, produtor e diretor artístico da Banguela Records e responsável pelos CDs Samba Esquema Noise, e Guentando o Oia, do Mundo Livre SA de Recife.

EM - Então o Cordel continua um grupo independente?
EC – Sim, preferimos continuar independentes para não sofrer nenhuma interferência ou imposição em nosso som. No nosso caso é independência ou morte.

EM – Tem gente que prefere ter uma grande gravadora dando suporte.
EC – Acredito que no Brasil já não exista mais o receio de ser independente, porque com a chegada da internet e dos novos equipamentos a gravação de um CD ficou muito mais fácil. Veja, somos independentes e o nosso primeiro DVD vendeu 15 mil cópias em apenas três meses. O que aconselho aos outros grupos é que tenham um bom projeto.

EM - Como vai ser o show em Santos?
EC – É o mesmo show que foi gravado pela MTV e eleito pela revista Bravo como o terceiro melhor de 2005. Ele é relativamente novo e ainda tem muito a mostrar. Também vamos incluir novas composições.

EM – Os grupos de Pernambuco possuem influências muito fortes da cultura de rua, só que o Cordel incorpora ainda poesia e elementos teatrais e isso diferencia o grupo de bandas como Mundo Livre e Nação Zumbi, não é verdade?
EC – Exato, o Cordel é uma junção de elementos da música mundial. As letras sempre foram focadas em nosso cotidiano, dá para perceber bem uma mudança nos dois primeiros discos, a visão de quem saiu do interior do Nordeste e veio para a metrópole. Todas as viagens nos influenciam. 

EM – No som de vocês também não tem muito espaço para instrumenrtos eletrônicos, como guitarra e baixo.
EC – E nem teclado. A instrumentação é restrita aos violões e à percussão que dão suporte às letras de Lirinha.

EM – Nas composições de vocês não há muito espaço para frazes como: “eu te amo, baby”. O que rola mesmo é fogo, tempestade. É um lance bem carregado para esse lado.
EC – No primeiro disco nós nos inspiramos nos poetas locais, já no segundo incorporamos alguns poetas urbanos como João Cabral de Melo Neto, por exemplo. A chuva e a tempestade provocam mudanças na vida do sertanejo e ao mesmo tempo são de grande beleza. A tempestade é também uma metáfora sobre a vida, um pouco a tragédia do amor que fere e cansa.   

EM – Temos grandes percussionistas no Brasil e a música que vocês fazem representa bem essa característica. A produção do Naná Vasconcelos não foi por acaso?
EC – O que diferencia a percussão do Brasil para de outros países como Cuba e os africanos é que aui a renovação é muito grande, a fusão ritmica. Veja o exemplo do Naná Vasconcelos que pegou o berimbau, um instrumento de capoeira e o transformou em um instrumento universal, e a mesma coisa o Marco Suzano com o pandeiro que é um instrumento que vem do samba.

EM – Há um senso comum de que a MPB não produz mais poetas como Caetano, Gil, Chico, Djavan, e tantos outros. Talvez isso pode até acontecer no que diz respeito ao formato canção, mas ao mesmo tempo a música brasileira é muito rica em outros formatos. Você não acha que essa afirmação restringe o alcance da música brasileira que tem tantos ritmos diferentes?
EC – Talvez isso aconteça mesmo com o formato canção, mas como falei anteriormente, a música brasileira tem um poder muito forte de renovação e as pessoas sempre acabam abrindo os ouvidos para novas coisas, o brasileiro é um povo muito musical. A percussão sempre foi uma coisa de guetos, mas agora está em alta e ganha cada vez mais espaços. Tem muita gente tocando em pequenos clubes, mas não tem visibilidade.



sábado, 16 de setembro de 2017

Igor Willcox - #1 - 2017


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos: Igor Willcox (bateria), Clayton Souza (saxofone), Erik Escobar, Vini Morales, Bruno Alves (teclados), JJ Frannco, Rubem Farias, Glácio Nascimento, Fernando Rosa (baixo), Carlos Tomati (guitarra), Bocato (trombone), Marcus Cesar (percussão).

Produção: Igor Willcox
Mixagem e masterização: Igor Willcox
Foto da capa: Zé Cintra
Desenho gráfico: Lery Festa
Gravado nos estúdios Room 73 e Drum Village

Músicas
1 - Brotherhood - Igor Willcox
2 - The Scare - Igor Willcox
3 - Old Friends - Erik Escobar
4 - Julie's Blues - Igor Willcox
5 - Brad Vibe - Vini Morales
6 - Thakful - Erik Escobar
7 - Room 73 - Igor Willcox
8 - Waltz For My Love - Igor Willcox
9 - Lifetime - Igor Willcox

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O jazz tradicional da Big Easy chega em Sampa.


O lendário trompetista Leroy Jones, conhecido pelos amantes da música como o responsável por manter acesa a chama do Jazz Tradicional de New Orleans, se apresenta na terça-feira, dia 26, no Bourbon Street, em São Paulo.
Trata-se de um dos grandes músicos nascidos na cidade berço do jazz, responsável por expor a audiências de todo o mundo a autêntica música de Louis Armstrong, Buddy Bolden, Danny Barker e todos os grandes que ajudaram a criar o rico caldeirão sonoro da big easy, sem deixar de colocar sua marca em todos os temas.
Leroy Jones começou a estudar trompete aos 10 anos de idade e aos 13 já se apresentava em casas de show e conduzia a banda de sua igreja. Membro do New Orleans Jazz Hall of Fame, seu som é descrito como a mistura da sofisticação de Louis Armstrong com o bebop do virtuoso de Clifford Brown.
O repertório inclui as tradicionais Bourbon Street Parade, Sleepy Time Down South, Basin Street Blues, Do you Know What it Means (to Miss New Orleans) e muito mais.
A banda vem com Leroy Jones (trompete e voz), Victor Atkins (piano), Nobu Ozaki (baixo), Barnaby Gold (bacteria).

Serviço:

Show: Leroy Jones
Local: Bourbon Street
Endereço: Rua Dos Chanés, 127 – Moema – SP
Data: 26/09/2017 – terça-feira
Horário: 21h30
Bilheteria: de 2ªf.a 6ª.f das 9h às 20h, sábado e feriado das 14h às 20h
Fone para reserva: (11) 5095-6100 (Seg. a sexta) das 10h às 18h
Abertura da casa: 20h30
Couvert Artistico: R$ 75,00
Venda também pela Ingresso rápido - 11 4003 1212 - www.ingressorapido.com.br
Classificação indicativa: 18 anos e 16 anos acompanhado de responsável

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Blues Beatles - 2017


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos – Marcos Viana (voz), Lancaster Ferreira (guitarra), Humberto Zigler (bateria), Flávio Naves (Hammond/piano), Bruno Falcão (baixo), Denillson Martins (saxofone) e Ivan Márcio (harmônica em Help).

Produção – Marcos Viana e Flávio Naves
Gravação e mixagem – Space Blues Studio, São Paulo, Brasil - 2017
Produzido e masterizado – Alexandre Fontanetti
Álbum design e fotos - Alexandre Cândido (Pamplace)

Músicas
1 – A Hard Days Night
2 – Eleanor Rigby
3 – You Can't Do That
4 – Stand By Me
5 – I've Got a Feeling
6 – Ticket to Ride
7 – Yellow Submarine
8 – The Word
9 – Help

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Após 11 anos, o fim da Mannish Boy Produções. O Mannish Blog continua.

Larry McCray e Vasco Faé (Ilhabela 2017)
Foto: Eugênio Martins Jr

Foram 11 anos de muitos shows legais. Criando projetos, formando parcerias, respirando cultura 24 horas por dia.
Não existe outra forma de produzir que não seja com tesão. As dificuldades são muitas, inimagináveis, e sem tesão você não levanta nem do sofá.
A Mannish Boy sempre optou pela qualidade. Esse é nosso jeito de fazer. E nem sabemos fazer de outro. A independência nos deu essa liberdade e a lista de shows da Mannish Boy mostrada abaixo fala por si. Nosso produto sempre foi bom.
Mas não dá mais. Por uma série de fatores, nos últimos dois anos a Mannish Boy não tem conseguido colocar os shows nos locais que antes conseguia e dívidas com contador, bancos, impostos municipais e federais foram acumulando até que inviabilizaram a empresa.
Os fatores: incompetência em fazer política e investir mais no marketing, confiar em produtores e tomar calotes homéricos e, no fim, incapacidade em separar as contas pessoais das empresariais.
A alta do dólar, todos sabem que a Mannish Boy também trabalha com artistas internacionais; a falta de ética de alguns donos de casa de shows que sempre estão "atravessando" os nossos contatos; “alguns” músicos mercenários que fazem perder tempo com eles e na hora de fechar um show te dão um pé na bunda; pessoas que falam imbecilidades sobre cultura em geral, Lei Rouanet, apropriação, meia entrada, ECAD, OMB, mas não têm a capacidade de ler um livro; amigos que pagam 500 reais em show gringo, mas não pagam 50 nas tuas produções (às vezes nem isso) e vivem pedindo ingressos.
Outra coisa que incomodou muito foi lidar com pessoas alheias à cultura em cargos chave em empresas e prefeituras. Na política, cabides de emprego. Nas empresas, gerentes de marketing e pseudo produtores. Tudo isso foi minando a vontade e a economias da empresa.
E, acima de tudo, o desmonte que vem ocorrendo na cultura nesse desgoverno usurpador que assolou o país nos últimos meses, transformando o cenário político em balcão de negócios. E o pior, com a população calada e a classe média sob o cabresto ideológico da FIESP, MBL e fundamentalistas religiosos. O Brasil chegou ao fundo do poço cultural.
Porém, a Mannish Boy nunca ficou devendo a nenhum contratado. Os músicos com quem trabalhamos podem atestar isso. E agradecemos a todos por terem acreditado no trabalho durante todo o tempo que a Mannish Boy ficou ativa.
Não tenho mais como manter uma estrutura, ainda que pequena, com o volume de shows e renda que a empresa vem amealhando nos últimos meses.
Infelizmente anuncio aqui o fim da Mannish Boy Produções Artísticas. O fim do sonho que tive em fazer boa música.
Hoje, aos 51 anos, estou desempregado. Engordando as estatísticas.
Espero continuar fazendo eventos com a cerveja artesanal CAIS. E também algumas produções de shows esporádicas. Sempre com a mesma qualidade. Conhecimento não me falta.
Continuo com o Mannish Blog, que esse mês, completa oito anos no ar. Jornalismo que me dá prazer, mas também não dá dinheiro.
Agradeço a todos que cruzaram o caminho da Mannish Boy Produções Artísticas e que foram leais à empresa e à boa música em todos esses anos.

Shows:
2006 - Mauro Hector, Leo Gandelman, Big Time Orchestra, Big Joe Manfra, Ana Caram, Eric Gales, John Pizzarelli e Stanley Jordan.
2007 - Traditional Jazz Band, Blue Jeans e Magic Slim, Big Time Orchestra, Rosa Passos, Gilson Peranzzetta, Kenny Brown, Freddy Cole e Peter Madcat.
2008 - John Pizzarelli (Virada Cultural), Kenny Brown, Os Cariocas, Lô Borges, Rosa Passos, Francis Hime, Bad Plus, Big Time Orchestra, Marina De La Riva e Stanley Jordan
2009 - Mart’nalia, Traditional Jazz Band, Badi Assad, Izzy Gordon, Vânia Bastos, Daisy Cordeiro, Igor Prado Blues Band, Robson Fernandes Blues Band, Caviars Blues Band, Big Chico Blues Band, Luccas Trevisani, John Pizzarelli, Pedro La Colina e Sexteto Cañaveral, Havana Brasil, Dixie Square Band, Projeto Café com Música, Sepultura, Leo Gandelman, Big Joe Manfra, Big Gilson e Arnaldo Antunes.
2010 - James Wheeler e Igor Prado Band, Ary Holland e Maria Diniz, Bruna Caram, Adriana Peixoto, Giana Viscardi, Lynwood Slim e Igor Prado Band e Tom Zé, Choro de Bolso, Os Fulanos (teatro), Hermanoteu na Terra de Godah.
2011 - Maurício Sahady e Ivan Márcio Blues Band, John Pizzarelli e Banda, Big Time Orchestra, Shirley King South American Tour 2011 (com Gerald Noel e Ivan Márcio Blues Band) e Roda de Samba do Ouro Verde e Wandi Doratiotto (Tarrafa Literária), Meu Caro Amigo (teatro), Hamilton de Holanda (aniversário de Santos) e Maria Rita.
2012 – Giba Byblos, Bluesonicos, Lurrie Bell e Big Chico, Soundtrackers, Vanessa Jackson, Cláudio Celso Quartet, Igor Prado Blues Band, Shirley King South American Tour 2012 (com Gerald Noel e Giba Byblos Blues Band), Big Jam – Tributo a Celso Blues Boy, Lobão.
2013 – Harry (Virada Cultural São Paulo, Shirley King (Virada Cultural Jundiaí e São João da Boa Vista), Caviars Blues Band, Clube do Blues em Mongaguá, Cláudio Celso (Jazztimes e Jazz.br), Hamilton de Holanda Trio (Tarrafa Literária).
2014 – Big Chico, Orleans Street Band, Jon McDonald, Camisa Listrada, Giba Byblos Blues Band, Jam For a Dime, Shirley King (Santos Jazz), Igor Prado (Santos Jazz), Cláudio Celso, Zuzo Moussauer (Rio das Ostras Jazz e Blues), Larry McCray e Banda, Lurrie Bell, Lazy Lester, Peter Madcat, Los Breacos.
2015 – Claudio Celso e Orquestra Sinfônica de Santos, Gravação de DVD de Zuzo Moussawer, Harry, Igor Prado Blues Band convida Tia Carroll, Filippe Dias Project, Rearranjos – Elis e Tom; Mauro Hector Trio - gravação do CD Ao Vivo; Rearranjos – O Grande Encontro; Giba Byblos – Clube do Blues Acústico, Oficina – Uma História do Blues; Rearranjos – Ventura; In The Level, Orleans Street Jazz Band, Oficina – Jazz a Música Transcendental, Delta Blues.
2016 – Koko Jean Davis e Igor Prado Band, Raphael Wressnig e Igor Prado Band, Osmar Barutti Trio, Divazz, Izzy Gordon, Jefferson Gonçalves, Artur Menezes, Filippe Dias, Vasco Faé acústico, Ivan Márcio e Roger Gutierrez, Sax Gordon e Igor Prado Band, Big Time Orchestra, Big Chico Tributo a BB King, Orleans Street Jazz Band, Mauro Hector e Zuzo Moussawer, Dog Joe, Gustavo Figueiredo.
2017 – Larry McCray, Blues Beatles, Divazz, Aki Kumar, Dog Joe, Love in a Void.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Chega em São Paulo exposição do Nirvana


Após os cariocas, agora os paulistanos, paulistas e até são paulinos, poderão reviver os melhores momentos de uma das bandas mais influentes da música contemporânea, a exposição Nirvana: Taking Punk to the Masses, que já alcançou mais de 3 milhões de visitantes nos seis anos em que esteve em cartaz em Seattle, aterrissa em São Paulo dia 12 de setembro e fica em cartaz até 12 de dezembro no Lounge Bienal.
Localizado no Parque do Ibirapuera, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, o Lounge Bienal dá vida ao cenário underground do Nirvana, reunindo registros que resgatam o surgimento da revolucionária banda em 1987, o processo criativo do último disco - In Utero, além de um mural que reúne 21 discos que fazem parte do acervo pessoal do baixista Krist Novoselic.
Parte das atividades do calendário 2017 da plataforma Samsung Conecta, que tem por objetivo oferecer experiências únicas, na música e no esporte para os consumidores brasileiros, o Samsung Rock Exhibition - Nirvana: Taking Punk to the Masses será distribuída numa área de aproximadamente 800 metros quadrados, reunindo mais de 200 peças entre instrumentos icônicos, fotos, vídeos, depoimentos, álbuns, objetos pessoais dos integrantes, cartazes, entre outras peças que vão desde a origem do grupo, em Aberdeen, às grandes turnês internacionais. “Será maravilhoso ter a oportunidade de compartilhar com os fãs do Brasil, onde o Nirvana tocou para seu maior público na história da banda”, diz Jacob McMurray, curador da exposição.
Registros do Rock - Os anos 80 registraram o surgimento de artistas independentes, e nessa década (1987), Kurt Cobain e Krist Novoselic formaram o que viria a ser o Nirvana. Registros resgatam esse momento, as primeiras composições, instrumentos e o surgimento da Sub Pop, gravadora que impulsionou discos como Soudgarden, Mudhoney e o próprio Nirvana.
Em 1991 o lançamento do álbum Nevermind transformou o Nirvana na primeira banda com mensagem underground a atingir o mainstream. No final deste ano, o Nirvana vendia 400 mil discos por semana, e no ano seguinte atingia o primeiro lugar na Billboard, superando o até então imbatível Michael Jackson.
A exposição narra também o processo criativo do disco In Utero, o último da banda, e a morte de Kurt Cobain, em 1994, além de um mural com os 21 discos que fazem parte do acervo pessoal do baixista Krist Novoselic.

Serviço:
Lounge Bienal – Av. Pedro Álvares Cabral, s/n – Ibirapuera, São Paulo – SP.
Passarela Ciccillo Matarazzo - Parque Ibirapuera.
(11) 5576-7640.
Horários de visitação: de terça a sexta: das 10h às 19h.
Sábados, Domingos e Feriados: das 10h às 20h.
Ingressos: www.ingressorapido.com.br
R$ 25,00 de terça a quinta; R$ 35, sexta a domingo.





sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O blues contemporâneo de Joe Louis "great guitar" Walker


Texto: Eugênio Martins Jr
Foto: Divulgação

Em um intervalo de um mês assisti a um show de Joe Louis Walker, onde consegui essa entrevista, e produzi três de Larry McCray. Dois dos maiores representantes do blues contemporâneo. Dois caras cheios de soul. Peguei Joe Louis numa noite inspirada, de bom humor e com a guitarra afiada. Grande show no Bourbon Street, em sampa.
Conheci-o no álbum de BB King de 1993, Blues Summit. Mas seu som bateu forte com o Great Guitars (1997), uma paulada na moleira que, fazendo jus ao nome, tem Otis Rush, Ike Turner, Taj Mahal e outros como convidados. Às vezes duelando entre si.
Ele nasceu e cresceu na San Francisco dos anos 60, o olho do furacão da contracultura. Reinou por lá ao lado de Santana, Mike Bloomfield, Country Joe e Jerry Garcia. 
Mas afastou-se da turma devido aos excessos e bandeou-se para o lado da gospel music, se formou na faculdade e se aprumou na vida, se é que você me entende.
Em 1986 o blues reclamou sua alma e Joe Louis lançou Cold is The Night, um dos melhores discos do ano. Desde então, o guitarrista da dourada e enfumaçada costa oeste americana vem lançando vários discos básicos em qualquer coleção: The Gift (1988), Blue Soul (1989), Live at Slim’s Vol.1 e Vol.2, Preacher and the President (1998), In The Morning (2002), Hellfire (2012) e Everybody Wants a Piece (2015).
Ao lado de Larry McCray e mais meia dúzia de caras inovadores e cheios de alma tornou-se um dos grandes representates do blues atual. Os inovadores do passado, Robert Johnson, Muddy Waters e o velho Jimi devem estar rindo de satisfação lá no céu dos guitarristas.
Podem acreditar, coisas estranhas acontecem mesmo. Larry McCray me ligou no meio da entrevista para acertar uns detalhes de sua miniturnê em julho no Brasil. Quando Louis percebeu com quem eu estava falando pediu o telefone e levou o maior lero com Larry. Fiquei a escutando as paradas musicais que eles falavam. Classe A.


Eugênio Martins Júnior - Você começou a tocar guitarra na infância já influenciado pelo blues?
Joe Louis Walker – Fui influenciado pelo blues desde bebê porque era o que meu pai e minha mãe ouviam. Eles sempre tocavam discos de blues. Eles me sentavam à mesa para escutar o que estava tocando na vitrola.

EM – Então você já cresceu em um ambiente musical? Quais artistas você ouvia?
JLW – Sim. Ouvia Howlin’ Wolf, Meade Lux Lewis, Pete Johnson, Muddy Waters. Minha mãe tocava BB King, BB King, BB King, BB King (risos). Éramos em cinco irmãos que cresceram ouvindo essas músicas.

EM – Crescer nos anos 60 em San Francisco influenciou você de que forma?
JLW – Bem, ia ao Fillmore antes de os hippies chegarem. Meus primos tinham uma banda quando eu tinha uns 12 anos. E um deles se tornou profissional e depois fiquei em seu lugar. Tocávamos por toda a Califórnia. Minha família incentivou porque nos queria longe de problemas. Não praticávamos esportes, a única coisa que fazíamos era música. Todos os dias.

EM - É impressionante a lista de pessoas com quem você tocou naquela época, John Lee Hooker, Otis Rush, Thelonious Monk, Willie Dixon, Earl Hooker, Muddy Waters e Jimi Hendrix. Pode-se dizer que você estava no lugar certo, na hora certa?
JLW – Abri shows para Thelonious Monk. Mas aprendi muito assistindo e falando com ele. Ouvindo ele tocar, era como se estivesse em uma escola.


EM – Qual foi a lição mais importante que teve tocando com todos esses artistas?
JLW – Alguns me disseram a mesma coisa: faça sempre a sua música. Não tente ser como eu. Não tente ser como BB King. Acho que foi o melhor conselho que tive. E não foi difícil, porque já tocava por um tempo. Mas todos esses músicos tiveram sua influência sobre mim. Blues, soul music, os caras do blues, Lowell Fulson, Jimmy McCracklin, os hippies, Jefferson Airplane, Jerry Garcia, Bob Weir. Faço um mix de tudo isso. 

EM – Você chegou a tocar com o Jimi Hendrix, como foi?
JLW – Foi uma jam session. Em um lugar onde as bandas ensaiavam. Eu era jovem, lá conheci Mike Bloomfield que tocava no Electric Flag, cujo baterista era Buddy Miles e nos tornamos grandes amigos. Através dele conheci Jimi, pois Buddy sempre falava dele antes de ser famoso. Fazíamos jams e íamos a festas. Posso dizer que já era um jovem criativo. Se houvesse quatro guitarristas, eles tocariam uma música igual, mas se ele ouvisse os quatro tocando, faria diferente de todos.  

EM – Tinha sua própria voz, como BB e Carlos Santana.
JLW – Sim, Jimi sempre trabalhou nisso. Conheci Santana na mesma época e ele também fez isso. Sabia que o primeiro nome da banda de Santana tinha o “blues band”? Então Carlos começou a escutar Tito Puente, Eddie Palmieri, Mongo Santamaria. Oye Como Va, uma canção tradicional, e Black Magic Woman, não foram escritas por ele. O que ele fez foi trazê-las para a sua cultura. Muitas pessoas esperavam por esse som, em Honduras, Nicarágua, México. Ritmos como salsa já existiam, mas de forma tradicional, não com a guitarra no topo. Ele colocou e funcionou. Misturou com as coisas que estavam acontecendo na época, com as músicas dos hippies e o blues. 

EM – No Brasil os músicos fazem isso o tempo todo.
JLW – Eu sei, mas Carlos estava no lugar certo na hora certa. Antes de Woodstock meu primo Robert Willians tocou com Chapito Arias e Michael Carabello e todos conheciam e tocavam juntos com seu irmão, Jorge Santana. Bem, Jorge tinha uma voz ótima, emplacou um grande hit (nesse momento Joe começa a cantar Suavecito mi linda...), um super hit. Era muito mais melódico do que Carlos. Mas Carlos passa a tocar toda semana no Fillmore. Não sei se foi por causas empresariais, mas muitas coisas acontecem por acidente. Veja, tivemos Woodstock que fez a diferença para muitas bandas. Santana e Sly Stone foram duas delas. Eles ganharam o mundo depois de tocar lá.

EM – Fale sobre a sua amizade com Mike Bloomfield.
JLW – Um amigo em comum nos apresentou. Eu e Johnny vivíamos juntos e quando fui para o Canadá, Mike foi morar na casa. Era um ponto de encontro de músicos. Às vezes tínhamos vinte pessoas à mesa. Country Joe, a banda do Muddy, todos.

EM - Depois disso você ficou um tempo fora do blues. Porquê tomou essa decisão?
JLW – Fiquei chateado. Todos estavam fazendo muito dinheiro. Era uma vida de excessos. Passei a tocar gospel. Queria terminar meus estudos. Estava tentando ser eu mesmo.


EM – Conheci a tua música com o grande álbum Great Guitars, que tem Bonnie Raitt, Buddy Guy, Matt Guitar Murphy, Robert Lockwood. Gostaria que falasse sobre esse álbum em especial e como foi realizado.
JLW – Sou sortudo em poder trabalhar com todos os meus heróis (risos). Gigantes, únicos. Fiquei amigo de Gatemouth Brown, Scott Moore, Robert Jr Lockwood. Aprendi muito sobre guitarra e acabei viajando com eles. Steve Crooper foi o co-produtor. Não é só música, eles inventaram algo. Tentei chamar Johnny Guitar Watson, Johnny Winter e John Lee Hooker, mas eles andavam com problemas de saúde na época. Gravar esse disco foi a realização de um sonho. E não só meu, Little Charlie tocava coisas de Scott Moore, mas não o conhecia e coloquei os dois juntos. Ao final das sessões Robert Jr disse que queria gravar um disco comigo. Foi uma grande experiência.

EM - O blues existe há mais de cem anos, o que ele ainda pode dar para a cultura americana? 
JLW – Coloque assim. O blues nunca foi inventado. O que os Ten Years After, os Rolling Stones e os Beatles tocavam? Se Chuck Berry não tivesse inventado o rock and roll e os outros caras não tivessem tocado blues, o que eles seriam? Frank Sinatra? Não, eles queriam sem Howlin’ Wolf.

EM – Como os ritmos brasileiros, o blues vem dos ancestrais. 
JLW – Sim. Como Cuba, que é semelhante ao Brasil. Começa com a batida dos tambores. Na Europa é diferente, quando tocam tambores fazem assim... (imita a batida de bandas marciais). Mas se fechar os olhos, o som da Jamaica, África, samba, têm o mesmo ritmo.


EM – Você pode misturar tudo que funciona.
JLW – Sim, está provado que funciona. Mas como o Muddy dizia, você não pode nascer com um milhão de dólares e cantar sobre ser pobre. Mas se você for pobre e ganhar um milhão de dólares, vocâ ainda pode cantar sobre ser pobre. Tem o sentimento. Você não pode sair por aí cantando: “A vida é tão boa, meu carro é novo, como é bom ser um milionário” (risos). O indicativo de o blues ser nossa música é esse tipo de sofrimento. Na economia musical, os ricos mandam e ganham dinheiro com a música dos outros. Ravi Shankar, Bob Marley, Marvin Gaye, todos pobres. Os Beatles eram pobres em Liverpool. A música do Brasil, de Cuba. Essa é história que precisa ser contada.

EM – Já que estamos mais ou menos nesse asssunto, gostaria que comentasse essa afirmação: “"Não tenha medo de acrescentar outras culturas em seu som."
JLW – Sempre tento incorporar novos elementos na minha música. Mas tento procurar as pessoas certas. Se eu for tocar samba, vou procurar músicos brasileiros e ver o que acontece. Mas sem querer me apropriar da música dos outros para ficar famoso. Não sou Paul Simon, não sou David Byrne, não sou Peter Gabriel. No fim do dia a questão é: Onde está sua música?”. Todos os músicos que tocaram em Graceland já eram famosos antes de tocar com Paul Simon. Todos os músicos que tocaram com Peter Gabriel também. Youssou N’Dour era muito famoso. Sem desrespeito ao sucesso desses músicos, mas isso soa como merda na minha opinião. Me desculpe.

Dog Joe - Blues Rock Hotel - 2016


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos – Eduardo Elói (guitarras, violão, voz), Digo Maransaldi (bateria), Rogério Duarte (baixo). 

Produção – Dog Joe 
Mixagem e masterização – Ayrthon Boka
Concepção e arte gráfica - Digo Design
Estúdio – RD - Santos - SP

Todas as músicas compostas por Eduardo Elói. Exceto Boa Sorte por Digo Maransaldi
Agradecimentos o gaistista Xandão Moraes pelo apoio e energia positiva

Músicas
1 – Boa Sorte
2 – Dog Joe
3 – Na Pegada do Blues
4 – Vida Mansa
5 – Delta Blues
6 – Lady