terça-feira, 31 de março de 2020

Morre Wallace Roney, vítima do corona virus


Um dos músicos de jazz mais importantes da atualidade, o trompetista Wallace Roney, morreu aos 59 anos vítima do corona virus nesta sexta-feira, dia 31 de março.
Roney estudou com as lendas Clark Terry, Dizzy Gilespie e Miles Davis até construir seu prórpio nome ao longo de uma carreira profissional de quase 45 anos. Com Davis, Roney estudou entre 1985 até 1991, até a morte do lendário trompetista. Em 1990 se apresentaram juntos no Montreaux Jazz Festival.
Gravou 21 discos como artista principal e participou de dezenas de outros artistas, inclusive sua ex esposa, a pianista Geri Allen.
Com ela gravou quatro discos, antes da morte de Allen, vítima de um câncer em junho de 2017. Eles já estavam divorciados. Roney se apresentou em quatro dos álbuns de Allen, começando com "Maroons" em 1992. A colaboração final ocorreu em 2006 com "Timeless Portraits and Dreams". 
Além dos artistas já citados, Roney tocou e gravou com Art Blakey, Kenny Barron, Chick Corea, Tony Willians, Joe DeFrancesco, Cindy Blackman e outros.
Wallace Roney morreu em New York, onde morava e epicentro da Covid-19 nos Estados Unidos. Deixou três filhos, frutos da união com Geri Allen. 

segunda-feira, 30 de março de 2020

Stories – 2002 - John Mayall


Esse trabalho traz o gaitista, guitarrista, pianista, percussionista, produtor e compositor inglês John Mayall, as vésperas de completar 70 anos, mas com a mente arejada frente aos Bluesbreakers, Buddy Whittington, Tom Canning, Joe Yuele e Hank Van Sickle.
Desde os anos 60, o grupo sempre foi elemento aglutinador de grandes músicos, Jack Bruce, John McVie, Mick Fleetwood, Aynsley Dunbar e, principalmente os guitarristas, Eric Clapton, Mick Taylor – que sairia para entrar nos Rolling Stones transformando a banda de Jagger e Richards numa autêntica banda de rythmn and blues – Coco Montoya, Harvey Mandel entre outros.
E neste CD, preste atenção no trabalho do guitarrista texano Buddy Whittington que já o havia acompanhado em outras empreitadas e também nos teclados Hammond de Tom Canning que dão aquele clima bluesy em quase todos os temas. 
Uma vez o Nuno Mindelis me disse que considerava o John Mayall mais um bluesófilo do que um blueseiro. Bom, isso é mesmo. Alguns dos temas aqui apresentados são dedicados a contar a história do blues e seus personagens.
São os casos do tema de abertura Southside Story que recria  as noites em que Little Walter dominava a cena de Chicago, e também Oh, Leadbelly, que paga tributo o lendário guitarrista, cantor e presidiário – que cantava o que vivia ou vivia o que cantava, como preferir. Em Southside a harmônica de Mayall canta bonito. 
O folclore do blues também aparece em I Tought I Heard the Devil e em Kids Got the Blues, Mayall homenageia as novas gerações de músicos que se dedicam a tocar blues ao redor do mundo.
O batidão e a letra de The Witching Hour e o climão de Demons in the Night não deixa dúvidas de que estamos falando de New Orleans. A participação do percussionista Lenny Castro em ambas evoca os mistérios e encantamentos da cidade que, assim como a Salvador, é a encruzilhada macumbeira do mundo.
As introduções pianísticas de I Wished I Had e do slow The Mist of Time nos coloca dentro daqueles inferninhos de madeira cheios de dança e malícia que vemos nos filmes.
Blueseiro ou bluesófilo, John Mayall mantêm o caledoscópio girando com a gente dentro dele, curtindo todas as cores da música perpetrada pelos negros fodidos da América no século 20.    

Músicas 
1 – Southside Story
2 – Dirty Water
3 – Feels Like Home
4 – Kids Got the Blues
5 – The Witching Hour
6 – Oh, Leadbelly
7 – Demons in the Night
8 – Pride and Faith
9 – Kokomo 
10 – Romance Classified
11 – I Wished I Had
12 – Pieces and Parts
13 – I Tought I Heard the Devil
14 – The Mists of Time

quinta-feira, 26 de março de 2020

Soul Gumbo – 2014 – Raphael Wressnig


Minha parceria com o guitarrista brasileiro Igor Prado tem rendido bons trabalhos. Entre os shows que consegui trazer pra Santos, os americanos Lynwood Slim (harmônica), James Wheeler (guitarra), Tia Carrol (cantora) e Raphael Wressnig, organista austríaco que divide seu tempo tocando e gravando entre Europa e Estados Unidos. 
Foi quando ganhei o CD e o LP Soul Gumbo, um belo exemplo do peso e influência da música de New Orleans nos jovens músicos de jazz de todo o mundo.
Esse álbum faz parte da série de trabalhos soul gravados por Wressnig que inclui Soul Gift e Soul Connection, ambos parceria com Alex Schultz e o nosso Igor Prado, respectivamente.  
Especialista em Hammond B-3, Wressnig reuniu um time da big easy para gravar esse petardo recheado de souls e funks, onde o som de seu órgão brilha, despejando aquele timbre molhadão, característico.
O disco já começa com o funk pegadão Chasing Rainbows com a voz emprestada do cantor e gaitista nova iorquino Tad Robinson. Soulful Strout vem na mesma linha funky, só que instrumental, com seu parcerio de longa data, Alex Schultz, pilotando a guitarra.
O próximo tema inverte a imagem 180°. Trata-se de um tema soul vindo da alma. Brincadeira! Mas é pra dizer que as palavras de I Want Know saem das profundezas da garganta de Walter “Wolfman” Washington e colam no muro sonoro cimentado pelos metais de Antonio Gambrell (trompete), Jimmy Carpenter (sax tenor), e o Hammond de Wressnig. Uma porrada de sete minutos que, além de Wolfman, guitarrista, autor do tema e figura lendária de New Orleans, tem Schultz, George Porter Jr (baixo) e Stanton Moore (bateria).
Mustard Greens é mais um tema instrumental porrada seguido pela soul Sometimes I Wonder com a voz, e o piano wurlitzer de Jon Cleary e sax do convidado, que também já esteve aqui no brasa, “Sax” Gordon. Linda canção.
Tad Robinson e Alex Schultz voltam no blues Room With a View. Slivovitz For Joe e Soul Jazz Shuffle são verdadeiras jams, a primeira feita sob medida para o sax tenor de Harry Sokal brilhar, ambas com grandes intervenções dos teclados de Wressnig. 
O CD termina com a super soul Nobody Special com os vocais quase falados de Larry Garner. Nem essa e Soul Jazz Shuffle estão no LP. 
Assim como a música, a culinária de New Orleans também é muito diversificada, com influências de todos os povos que aportaram ali ao longo dos séculos. E há uma categoria profissional chamada saucier, ou seja, o cara que é especialista em molhos. E Weak Sauce é um funk com Stanton Moore groovando a lot no seu kit de bateria e mostrando o molho da cozinha de New Orleans. O álbum em vinil conta ainda com a potente Get the Money, que deixa bem claras as influências do Caribe, ali pertinho. 





Músicas CD
1 – Chasing Rainbows
2 – Soulful Strut
3 – I Want To Know
4 – Mustard Greens
5 – Sometimes I Wonder
6 – Room With a View
7 – Slivovitz For Joe
8 – Soul Jazz Shuffle
9 – Nobody Special

Músicas LP
1A – Chasing Rainbows
2A – Soulful Strut
3A – I Want To Know
4A – Mustard Greens

1B – Slivovitz For Joe
2B – Sometimes I Wonder
3B - Get the Money
4B - Weak Sauce

sexta-feira, 20 de março de 2020

Live at the Fillmore East – 1971 - The Allman Brothers Band (Deluxe Edition)


Não é fácil escolher um entre tantos discos ótimos dos Allman Brothers, banda formada em Macon, na Georgia, pelos irmãos Gregg e Duane.
Tenho todos, mas escolhi esse duplo ao vivo porque sintetiza o que de fato era o super grupo que traçou as linhas do blues/rock com o lançamento de seu primeiro álbum em estúdio, gravado em1969. 
Considero esse Live at the Fillmore East, gravado em julho de 1971, um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos. De todos os que ouvi, lógico. Lançou-os ao estrelato e após 50 anos, ainda é o disco que melhor capta a energia da apresentação ao vivo de uma banda no auge. 
Não é pra menos, esse ao vivo traz a banda completa, Dickey Betts (guitarra e voz), Butch Trucks e Jai Johanny Johanson (bateria), Barry Oakley (baixo), além de Gregg (teclado e voz) e Duane (guitarra), em um dos palcos mais prolíficos dos anos 60/70, o Teatro Fillmore, comandado por Bill Grahan, onde os shows costumavam durar três horas, no mínimo.
O LP original tem sete temas, extraídos pelo produtor Tom Dowd – parceiro dos irmãos desde o álbum anterior, Idlewild South – de duas apresentações em março de 1971, em New York. 
Nessa versão as três primeiras músicas são os blues enfesados Statesboro Blues, Done Somebody Wrong e Stormy Monday, para depois mudar drasticamente para os temas viajantes, misturando rock, jazz e muito rythmn and blues.
As suítes que faziam os shows durarem tanto, You Don’t Love Me, Hot ‘Lanta, In Memory of Elizabeth Reed e Whipping Post levam a um mergulho no túnel sonoro dos Allman Brothers. Desafio alguém a me mostrar uma dupla de guitarristas na mesma banda mais foda do que Duane e Dickey Betts.
A minha versão é a  De Luxe Edition, com CD duplo com mais algumas faixas extras – faixa não porque CD não tem faixa, coisa de velho! Músicas é melhor. São elas Don’t Keep Me Wonderin’, One Way Out, Midnight Rider, Mountain’ Jam (com fudidos 33.39’) e Drunken Hearted Boy.
One Way Out e Midnight Rider foram gravadas em 27 de junho, as demais foram gravadas em 12 e 13 de março de 1971. Todas no Fillmore de New York.
Este álbum foi o último gravado com a formação original. Em 29 de outubro de 1971, em meio às gravações de Each a Peach, quatorze dias após os Allman Brothers ter ganhado o disco de ouro por Live at Fillmore East, Duane Allman morreu em um acidente de moto com 24 anos a caminho da casa de Barry Oakley. E em 12 de novembro de 1972, aos 24 anos, Barry Oakley morreu em um acidente de moto a três quarteirões do acidente de Duane. Sinistro.  

Músicas: 

CD 1
1 – Statesboro Blues (4.17)
2 – Trouble No More (3.43)
3 – Don’t Keep Me Wonderin’ (3.27)
4 – Done Somebody Wrong (4.33)
5 – Stormy Monday (8.48)
6 – One Way Out (4.56)
7 – In Memory of Elizabeth Reed (13.04)
8 – You don’t Love Me (19.16)
9 – Midnight Rider (2.55)  

CD 2
1 – Hot ‘Lanta (5.20)
2 – Whipping Post (22.53)
3 – Montain Jam (33.39)
4 – Drunken Hearted Boy (6.57)

quarta-feira, 18 de março de 2020

Pandemia de Covid-19 adia 6ª edição do Clube do Blues de Santos

Diante das notícias estarrecedoras sobre o alastramento do vírus Covid-19, a 6ª edição do Clube do Blues de Santos, que sempre acontece no mês de abril e esse ano seria entre os dias  03/04 e 03/05, está adiada para uma data ainda não definida.
É claro que a medida afeta, e muito, as finanças da empresa, e dos nossos músicos parceiros. Como todos os setores econômicos, temos compromissos a honrar, empréstimos, impostos, etc., mas quem trabalha com cultura enfrenta muitas turbulências e essa será mais uma que vamos superar. 
Diante dos fatos, a Mannish Boy Produções e seus parceiros, Sesc, Secult, Museu do Café, Cervejaria Everbrew, Quintal da Véia e Mucha Breja, em comum acordo, decidiram suspender todos os shows para resguardar a saúde do nosso público, evitando assim o agravamento da epidemia.  
Com responsabilidade, acreditamos que cada um deve fazer a sua parte nesse momento de crise aguda.
Desde já agradecemos a compreensão do nosso público e o profisssionalismo dos nossos parceiros já citados, aos vereadores que apresentaram emendas fortalecendo o Clube do Blues 2020, Lincoln Reis, Thelma de Souza, Fabrício Cardoso e Fabiano da Farmácia, e um abraço especial aos músicos envolvidos no projeto. 
VIVA A MÚSICA!

O dia que tomei uma intima da Dançar Marketing pra mudar o nome do festival – Ao último dia da edição da Mostra Blues de Santos 2019, show do Jefferson Gonçalves, tive uma supresa. Recebi um e-mail de um escritório de advocacia comunicando que o nome Mostra Blues não poderia mais ser usado. A alegação era que ele já havia sido registrado por uma empresa, a Dançar Marketing.
Para quem não sabe, a Dançar Marketing é a responsável pelo festival Samsung Best of Blues, realizado em São Paulo, e que há tempos deixou de ser um festival de blues, tendo convidado Zack Wilde, Joe Satriani, Tom Morello, Richie Sambora, Johnny 5, etc. Ou seja, usa o nome blues para promover shows que não tem nada a ver com o estilo.
E a Mostra Blues da Dançar Marketing se limita a eventos paralelos ao Samsung Best of Blues, ou seja, apresentação de filmes, exposições de fotos, etc. Nunca de shows.
A “minha” Mostra Blues acontece desde 2009, nasceu dentro do Sesc Santos e nunca teve a pretenção de subir a serra. E, desde a primeira edição vem recebendo artistas nacionais dedicados ao blues, entre eles, Big Chico, Igor Prado, Big Gilson, Big Joe Manfra, Jefferson Gonçalves, Caviars Blues Band, Mauro Hector, Márcio Abdo, Ivan Márcio, Giba Byblos, Duca Belintani, Los Breacos, Ari Borger, Artur Menezes, Filippe Dias e Robson Fernandes. 
Todos eles têm história na música brasileira, discos gravados e muitas horas de estrada. Possuem carreiras admiráveis e são respeitados aqui e lá fora, no real cenário do blues, em Chicago, New Orleans ou da costa oeste.
Ao telefone, argumentei tudo isso com a advogada da Dançar e ainda apelei para que ela falasse ao presidente da empresa, o Sr. Pedro Bianco, que ele me conhecia, eu havia feito uma entrevista com ele e, de forma muito respeitosa e reverente, contado sua história em meu segundo livro, Blues – The Backseat Music – As Origens no Brasil. 
Ela me pediu pra registrar tudo isso em um e-mail que iria enviar para ele que, talvez, liberasse o uso do nome. 
Enviei e não houve resposta. Fui ignorado. Diante disso resolvi usar o nome de um projeto antigo que já faço em Santos, o Clube do Blues. 
Brigar pelo nome Mostra Blues contra a Dançar e talvez contra a Samsung não era uma opção, não tenho tempo e nem grana. Além disso, tenho uma história no blues, não vou me rebaixar. 
A Mannish Boy Produções nasceu exclusivamente como uma empresa de produção musical, não usa o nome do blues pra fazer “marketing” ou explorar o blues por dinheiro. 
Ja passei por muitas dificuldades, em 2017 pensei em fechar a empresa, mas resisti e estamos aí na atividade. Todos os anos inventando projetos, respeitando os músicos, mostrando a cara. Com muito acertos e alguns erros.