sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Nem tudo acaba em samba ou como somos 100% egocêntricos

Uma das fantasias mais feias dos últimos tempos

Sim, sou 100% egocêntrico. Santista nasce assim. Não sei o por quê, mas nasce.
Talvez por isso não nos contentamos com pouco. Talvez por isso temos uma cidade linda, com quase 100% de esgoto tratado, com jardim, com cultura, com ciclovias, com um timão de futebol, um cais gigante, um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) bacana, reconhecido por esses orgãos governamentais fodões.
Talvez esse egocentrismo seja a nossa maior virtude. Nos achamos bons demais pra ter uma cidade merda. Quem disse que egocentrismo é defeito?
Talvez ele tenha nos empurrado pra frente.
Talvez esse nosso egocentrismo tenha influenciado os irmãos Andradas a entrar na mente do príncipe com todas aquelas ideias libertárias.
Somos 100% egocêntricos, mermão.
Talvez isso tenha feito com que Saturnino de Brito criasse os canais para acabar com a influenza no início do século passado. Há cem anos construímos uma saída criativa para uma epidemia, hoje não conseguimos nem informar direito a população sobre dengue, zika e a porra toda.
Talvez esse fogo tenha nos colocado em posição de brigar contra todas as ditaduras brasileiras, de Getúlio a Figueiredo. Além de egocêntricos, somos arengueiros, malandro.
Será que não foi por esse sentimento que fomos pioneiros na luta contra a AIDS no mundo?
E a Luta antimanicomial? Fruto do egocentrismo? Pode ser. Os caras são loucos mas são os nossos loucos. Louco é louco. Gente é gente, não é bicho.
Nascemos com esse sentimento de que faremos alguma coisa importante na vida, não sabemos o que, é certo, mas um dia faremos. Somos assim, egocêntricos e sonhadores até a medula.
Por isso não gostamos quando contam a nossa história pela metade.  Esse negócio ae que a escola de samba Grande Rio fez foi papelão. Li em algum lugar que os caras da escola pesquisaram seis meses as coisas de Santos pra fazer o desfile na Marquês de Sapucaí. Sabe o que parece? Sinceramente? Que ficaram seis minutos no Google.
Outra coisa, vamos parar de falar que aquilo foi homenagem porque homenagem não se compra.
Depois das críticas de grande parte dos santistas, os aspones da prefeitura – esses ae que nos deixam uma hora esperando pra nos receber, mesmo depois de ter marcado horário com você há semanas – saíram em defesa do arremedo. Um deles chegou a chamar os santistas que reclamaram do desfile de “egocêntricos”. Tentou ofender, mas a mim, elogiou.
Cumpadi, sou 100% egocêntrico, ando de cabeça erguida por aí a fora. Sou cria do Plínio Marcos, meio vagabundo, meio sentimental. Como ele mesmo dizia, pé no chão e cabeça no céu. Vivo aqui no Marapé e não ando de carro importado SUV. Ando de moto e de magrela. Falo na tua cara brother, faltou Gilberto e faltou Chorão. Faltou Toninho Navalhada e Simião. Faltou falar do porto vermelho seu água de salsicha.
O pequeno príncipe passou o pano dizendo que o desfile mostrou Santos pro mundo e que os aspectos técnicos ele deixaria para os entendidos na área. Prefeito, mas você também deveria fazer isso quando escolhe seus assessores. Chamar gente entendida em cultura pra trabalhar na cultura.
Não precisamos ser entendidos em porra nenhuma pra saber que Mamonas Assassinas, Roberto Carlos, Neymar Santos e Susana Vieira não nos representa.
E que os aspones não deveriam ficar ofendidos com críticas, isso é coisa de moleque mimado. Quando partem pra ofensa, têm estar cientes que do lado de cá, tem gente que fala, e que é egocêntrica, e que é arengueira.
Mas pra não dizer que não gostei de nada, gostei do cheirinho de café que um carro mandava pra galera. Mas eu não estava lá pra sentir, né?