terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O bandolim virtuoso de Fábio Peron é a nova música instrumental brasileira

 

Prolífica parceria entre Fábio peron e Alessandro Penezzi

Texto e fotos : Eugênio Martins Júnior

A apresentação de Fábio Peron e Alessandro Penezzi aconteceu no Clube do Choro de Santos, em 15 de novembro de 2024, dentro do evento anual da entidade, Choro Patrimônio Santista. Aproveitei a ocasião para fazer essa entrevista e pegar o contato do Penezzi para tentar outra.
O show consagrou a parceria que rendeu dois trabalhos, Alessandro Penezzi e Fábio Peron e Na Trilha do Choro. 
Quem esteve lá presenciou a incrível capacidade de improvisação dessas duas feras da música brasileira. 
Fábio Peron já foi considerado uma promessa de uma nova geração de músicos. Hoje ele é um dos grandes. 
Peron começou a tocar aos cinco anos de idade, dedicando-se à composição, pesquisa e arranjo de vários períodos e estilos da música do mundo. 
Tem como instrumento principal o bandolim de 10 cordas, mas também possui fluência em outros instrumentos, como os violões de 6 e 7 cordas e cavaquinho.
Seu currículo inclui ainda parcerias com Paulo Vanzolini, André Mehmari, Amilton Godoy, Arismar do Espírito Santo, Thiago Espírito Santo, Lea Freire, Silvia Goes, Naylor “Proveta” Azevedo, Mestrinho, entre muitos outros. 
Lançou seu primeiro CD em 2011, 0 Fábio Peron em Boa Companhia. Não parou mais. Em 2013 gravou Roupa Na Corda, com Arismar do Espírito Santo e Léa Freire. No ano seguinte, Alma de Músico, com Thiago Espírito Santo e Mestrinho do Acordeon. Em 2015, lançou seu segundo trabalho solo “Fábio Peron e a Confraria do Som”, que conta com participações de Arismar do Espirito Santo, Thiago Espirito Santo, Izaías Bueno de Almeida, Alexandre Ribeiro, Ricardo Herz, Chico Pinheiro e Zé Barbeiro, entre outros.


Eugênio Martins Júnior- Seus pais são músicos, como foi a tua infância musical? Li que vários músicos frequentavam a tua casa.
Fábio Peron – Sim, meu pai Italo Peron, Violonista, minha mãe Vera Cury, pianista. Foi ambiente mais favorável do mundo. Tinha acesso a tudo que queria ouvir e muita gente com muita informação. Sempre tive pra quem perguntar e em quem me inspirar. Isso foi fundamental. E também por ter instrumento em casa que foi tremendamente facilitador.

EM – Qual foi o teu primeiro instrumento?
FP – O primeiro que caiu na mão foi flauta doce. Mas depois me apaixonei pelo bandolim, pelo Jacob e pelo Izaías Bueno de Almeida, que é um bandolinista maravilhoso e foi super generoso comigo. Não só por influenciar a forma como eu ouvia, mas por ser uma pessoa que convivi bastante e estava sempre disponível.   

EM - Fez parte da sua formação.
FP – É assim, o Jacob provavelmente é a maior influência para qualquer bandolinista de choro. Só que não tive a oportunidade de conhecê-lo. E nem de ver vídeos dele.  O Izaías foi o primeiro que eu vi tocando daquele jeito na minha frente. Eu ainda era criança. Nem sabia que dava para fazer aquilo. E tive a sorte de tê-lo próximo na infância e na adolescência e até hoje.

EM – Você lembra quando e onde o viu pela primeira vez?
FP – Foi na casa do Paulo Vanzolini...

EM – Sério isso? (risos)
FP – Sim. meu pai produziu uma obra do Vanzolini chamada Acerto de Contas. Uma caixa com quatro discos. Uma produção que levou anos, de ensaio, inclusive. E meu pai se aproximou muito dele nessa época. Eu era criança e estava começando a tocar choro na flauta doce e freqüentava muito as rodas que tinham lá. E o Izaías sempre estava. Que tempo bom. Ver o mestre tocar ao vivo.


EM - Você gravou um disco com o Joel Nascimento, o Jacob do Bandolim 100 Anos – Sentimento & Balanço. Estive com ele aqui em Santos. É uma figura com um conhecimento enorme e cheio de histórias pra contar. Gostaria que falasse um pouco sobre esse trabalho com o Joel. Como foram essas gravações?
FP – Sim, como o nome diz foi em homenagem aos 100 anos do Jacob do Bandolim. Foi um projeto do Henrique Cazes que chamou o João Camarero (violão de 7 cordas) e o Marcos Nimrichter (acordeon). Tem a participação do Silverio Pontes (flugelhorn) e do Rogério Caetano (violão de 7 cordas de aço). Ah, gravar um disco com músicas do Jacob com o Joel Nascimento é a maior diversão do mundo. 

EM – Juntos no estúdio?
FP – Gravamos separados, mas no estúdio, no mesmo dia.

EM – Já que estamos falando tanto no Jacob. Gostaria de saber a tua opinião sobre a importância do Jacob para a música brasileira.
FP – Toda a importância. Tanto pelas composições quanto pelo intérprete e qualidade de gravação, de fonograma. Dá para ouvir os arranjos do regional com muita clareza. E também de pesquisa e resgate de repertório. Muita coisa do Ernesto Nazareth, por exemplo. Os arranjos do Jacob são tão lapidados que hoje em dia você pode tocar em qualquer roda de choro. Brejeiro, por exemplo, choro do Nazarth que é super famoso em qualquer roda de choro que você for tocar, não será preciso perguntar, vai ser o arranjo do Jacob.     

EM – Por que eu digo isso? Em Fábio Peron e a Confraria do Som há vários estilos musicais apresentados por vocês. Uma verdadeira viagem aos cantos do imenso Brasil.
FP – Esse foi meu segundo álbum. E a proposta era a de ser uma coisa diversa. São sete convidados que dentro de uma vertente da música brasileira representam coisas completamente diferentes. Um deles é o Izaías, outro é o Zé Barbeiro, o Ricardo Hers, Chico Pinheiro, Arismar do Espírito Santos, Thiago do Espírito Santo e o Alexandre Ribeiro. Gravei uma música em duo com cada um deles. E uma música com formação maior. Tem frevo, ijexá, samba, choro, valsa, tem tudo.


EM - Folia de Três traz uma formação inusitada, acordeon, bandolim e bateria. Digo inusitada porque a gente não vê essa formação por aí. Mas, por outro lado, na música instrumental cabe tudo, não é mesmo?
FB – E nesse disco ainda toco um instrumento que eu inventei, o bandolão. Um bandolim de cinco cordas uma oitava abaixo, mas com outro corpo, outras cordas. Ficou bem interessante a sonoridade. A primeira ideia foi fazer em quarteto, mas com a urgência de marcar o primeiro ensaio, foram apenas os três. O som rolou bem e decidimos não chamar mais ninguém. (risos)
  
EM – Tenho uma teoria que as plataformas digitais foram uma coisa boa para música instrumental brasileira, sempre valorizada lá fora, mas aqui bem menos. O que acha?
FP – Falando sobre os clássicos, é uma questão de referência para quem quer estudar música. O Jacob do Bandolim que a gente já falou bastante é um exemplo. Quando comecei a tocar não existia esses streamings e Youtube. O jeito era comprar CD, mas era uma coisa cara. Não eram todos que tinham acesso. Hoje você assina um streaming por 20 reais, o preço de um CD, e tem acesso a muita coisa.    

EM – Como nasceu essa parceria para gravar um álbum com o Alessandro Penezzi? O mesmo que vocês estão lançando aqui no Clube do Choro? 
FP – Essa parceria é muito antiga. A gente se conheceu há muitos anos. Eu já era fã do Penezzi. Fizemos um trabalho juntos em um evento corporativo e antes da apresentação tínhamos um bom tempo no camarim. Ficamos ali tocando e deu certo. Nos grudamos muito. Freqüentei a casa dele por muitos anos, coisa de três vezes por semana para tocar através das madrugadas até sangrar os dedos. Muitos anos depois a vida de ambos estava condizente para que pudéssemos gravar esse disco.  

EM – Você faz parte dessa geração que revitalizou o choro nos anos 2000, que roubou o choro da mão dos coroas e criou, não diria um movimento, mas uma nova movimentação em torno desse gênero musical. Gostaria que falasse sobre isso.
FP – Tem um pouco a ver com a questão do acesso que falávamos antes. É uma música que não tocava na rádio e CD era caro. O choro sempre foi uma música para quem foi atrás. Concordo que tem muito mais gente tocando. Dou aula na EMESP, que é a Escola de Música do Estado de São Paulo e tem muita gente interessada por choro. Tem os clubes de choro também, além de Santos há o de Brasília, Lisboa. Tem muito procura e as pessoas têm onde achar a informação.

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