segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Ficha Técnica - Gustavo Figueiredo - Trio


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos: Gustavo Figueiredo (piano e teclados), Márcio Bahia (bateria) e Pablo Souza (contrabaixo).

Gravação de pianos: Acústico Estúdio
Técnico: Christiano Caldas
Produção e arranjos: Gustavo Figueiredo
Mixagem: Gustavo Figueiredo
Masterização: Christiano Caldas
Fotos: Felipe Lacerda
Projeto gráfico: Gabriel Camelo e Raphael Camelo

Gravado no estúdio NearField por Gustavo Figueiredo

Músicas:
1 – Brasil Fest
2 – Manuela
3 – Intro Mark
4 – Mark 1
5 – Thelonius Groove
6 – Emily
7 – Canção do Sal
8 – 2011
9 – Passeio no Parque

Todas as composições de Gustavo Figueiredo, exceto Canção do Sal (Milton Nascimento).

Ficha Técnica - André Mehmari - Ernesto Nazareth Ouro Sobre Azul


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos: André Mehmari (piano e arranjos).
Participações especiais nas faixas 12 e 14: Neymar Dias (contrabaixo acústico) e Sérgio Reze (bateria).
Técnico de do piano Yamaha C7: Djalma Carvalho
Projeto gráfico: Máximo Soalheiro
Assistente: Lorena Galery
Impressão: Oficina Tipográfica Soalheiro

Gravado em 25, 26 e 27 de março de 2013 por André Mehmari no estúdio Monteverdi, Cantareira, Brasil.

Músicas:

SUITE NAZARETH SOLO

Temas:
Escovado, Brejeiro e Ferramenta
FAMOSO
TURBILHÃO DE BEIJOS
XANGO/DIGO
REBOLIÇO
EPONINA
FON-FON
FURINGA
PINGUIM
PASSAROS EM FESTA
ODEON

Música incidental
Guinga, Choro pro Zé
OURO SOBRE AZUL
DE TARDE
SUITE BIS (TRIO)



terça-feira, 11 de novembro de 2014

John Primer representa o som real de Chicago: The Real Deal


Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior

Fugindo da miséria e do racismo, milhares de negros se puseram na estrada rumo às grandes cidades do norte dos Estados Unidos. A história registra dois grandes êxodos.
Por décadas, Chicago foi o Eldorado para esses afro-americanos. Talvez esse termo politicamente correto ainda não tivesse sido criado quando o jovem John Primer chegou numa das cidades mais vibrantes da América, em 1963.
Tudo era novidade para o jovem e Chicago respirava música. Nas regiões negras, South side e West side, onde moravam os novos habitantes da metrópole, a música rolava solta nas festas e nos botecos. O blues elétrico dominava a cena.
Sua mãe e seu padrasto já moravam lá. Vindo de Camden, pequena cidade encravada em uma região do Mississippi e que deu ao mundo muitos bluesmen, John Primer adaptou-se bem ao novo estilo de vida.
Perambulou pelas espeluncas ouvindo todas as lendas do blues que estavam voltando a ter prestígio e, por sua vez, fincou o pé em um dos principais clubes de blues locais.
A casa merece parênteses. Antes dos clubes Kingston Mines, BLUES on Halsted, Rosa’s Lounge, e Buddy Guy Legends, hoje famosos em todo o mundo, houve um boteco escondido num porão embaixo de um prédio de tijolos aparentes. Sua proprietária era uma senhorinha de fala mansa chamada Theresa McLaurin Needham. Seu estabelecimento, Theresa’s Louge.
Fundado em 1949, o bar definiu o que seria o som de Chicago. Todos os nomes consagrados passaram por lá: Byther Smith, Muddy Waters, Little Walter, Earl Hooker, Otis Spann, Jimmy Rogers, Howlin' Wolf e jovens artistas que também fariam história, Buddy Guy, Junior Wells, Otis Rush e Magic Sam.
Em determinado momento, John Primer fez parte da banda da casa. Enquanto se tornava músico, nesse ambiente Primer se tornou homem. Conheceu  e tocou com todos os grandes.
Em seu tempo, tornou-se grande. Ganhou o apelido The Real Deal e hoje é ele quem arregimenta jovens em todo o mundo. Gravou discos antológicos: Poor Man Blues: Chicago Blues Sessions Vol. 6, The Real Deal, Stuff You Go To Watch e alguns outros.
Esteve no Brasil várias vezes, a primeira foi no Festival de Blues de Ribeirão Preto como sideman de Magic Slim. Apesar de já ter percorrido um bom trecho naquela ocasião, foi aclamado como “revelação” pelos críticos da terra do samba.
No dia seguinte de uma apresentação no Bourbon Street Music Clube, quando foi amparado pela Uranius Blues Band, John Primer falou com o Mannish Blog. A entrevista foi facilitada pelo produtor Juan Urbano. Gracias hermano.  


Eugênio Martins Júnior – Você tocou e gravou com Willie Dixon, Muddy Waters e Magic Slim, músicos considerados verdadeiras lendas do blues. Gostaria que falasse sobre cada um deles. 
John Primer -
Tenho muito a falar sobre esses caras. Era um jovem nos anos 60 quando os conheci. Toquei com Willie Dixon durante seis meses, a primeira vez que fui ao México. Dixon era um grande homem, um grande escritor. Ele estabeleceu os parâmetros do baixo no blues. Ele é o rei dos baixistas. Era um trabalhador e ajudou muitos músicos de blues e do rock. Nunca gravei em estúdio com o Muddy. Gravamos um disco ao vivo nos anos 80 no Chicago Blues Festival. Todos dizem que BB King era o rei do blues. Sim, quando era jovem. Para mim Muddy Waters é o rei do blues. Muddy Waters trouxe o folk blues para Chicago e tornou a cidade famosa.

EM – E Magic Slim?
JP -
Oh yeahhh! Foram 13 anos tocando com Slim. Ele me ensinou muita coisa. Toquei pouco com Willie Dixon, mas Muddy e slim me fizeram ser quem sou. Slim me tornou conhecido, viajamos pelo mundo todo.

EM – Vocês estiveram no Festival de Ribeirão Preto em 1988. Lembra disso?
JP –
Sim. Foi um grande festival. Minha primeira vez no Brasil. Depois vim muitas vezes, mas aquela foi a primeira. A filha do prefeito nos levou a um passeio pela cidade. O pessoal da banda aproveitou bastante as festas (risos).

EM – Ribeirão Preto é conhecida pelas cervejarias?
JP –
Sei disso. Estive em bons lugares lá (risos). Todas as vezes que vou a uma cidade diferente tento conhecer o lugar.


EM – Voltando à Muddy Waters e Magic Slim. Qual a principal lição que eles te deram?
JP –
Como ser um líder. A ter respeito com os músicos. Seja qual for a cor da pele, não importa. Todos são músicos. Podem tocar bem ou não, mas estão sempre aprendendo. Nunca acho que um músico não toca bem, pois sei que ele pode ficar melhor. Então, no palco ou não, há de ser ter respeito. Procuro sempre deixá-los confortáveis. Trabalho para ser pago e eles também.

EM – Inspirado por uma canção do Buddy Guy, First Time I Meet the Blues, sempre faço a mesma pergunta aos veteranos: Lembra quando foi a primeira vez que ouviu o blues?
JP –
(risos) Conheço a canção e adoro. Ouvi ainda no Mississippi, em um disco com o próprio Buddy Guy. Acho que conheci o blues no dia em que nasci. Ou muito criança. Minha avó tocava blues e eu adorava aquela música. Também cantava os gospels na igreja. Mas o blues era diferente. Eu era pequeno e via as pessoas tocando guitarra. Isso me tornou um bluesman. Minha mãe, que morreu há apenas dois anos, disse que quando vim ao mundo não chorei. O médico bateu na minha bunda e eu soltei um lamento uhuhuhuuhuhuuh (risos). Naquela época recebíamos todos os meses catálogos da Sears ou da Roebuck. Sempre checava a minha caixa de correio e nesse livro tinha uma seção para guitarras. Eu passava por todas as outras até chegar ali e ficar olhando. Foi assim que me tornei um bluesman.  

EM – Você chegou em Chicago em 1963. Qual foi a sua primeira impressão sobre a grande cidade? A cidade do blues.
JP –
Bem, não cheguei em Chicago para tocar música. Fui para trabalhar. Minha mãe já vivia lá. A música que ouvia tinha ficado no passado. Não imaginava que aqueles caras ainda estavam vivos.

EM – Mas eles estavam em evidência nos anos 60.
JP –
Sim. Não Podia acreditar. Todos vivos, BB King, Bobby Bland, Muddy Waters, Lightning Hopkins. Foi uma surpresa pra mim. Andava pela cidade com meu padrasto. Ele achava que se eu andasse sozinho me perderia. Até o dia que eu saí sozinho e... me perdi (risos). Mas tudo bem. Era tudo muito excitante.



EM – Você cresceu nos campos do Mississippi. Como adaptou aquelas antigas canções ao som que veio fazer em Chicago. Quero dizer, nos anos 60 mais do que nunca o blues elétrico estava em evidência.
JP –
Precisei fazer. Tive que aprender guitarra elétrica por minha conta. Sentava lá e ficava tocando, tocando, tocando. Por outro lado, não havia muita diferença. Continuei tocando o blues tradicional de outra maneira. Continuei tocando gospel nas igrejas de lá. Tive de mudar para adaptar o rock and roll, o jazz. Sem problema. Você deve fazer o que você tem de fazer. Desde que faça com sentimento. Então a mudança faz parte de todos. BB King mudou muito desde que começou a tocar. Muddy Waters mudou seu estilo também. No meu caso a mudança veio com a prática. Quanto mais tocava mais ia moldando o estilo.

EM – Quando era jovem você tocou no Theresa’s Louge com alguns dos caras que ajudaram a forjar o som de Chicago. Gostaria que falasse um pouco sobre isso.
JP –
Quando cheguei lá era mais um bar pra mim. Não sabia que havia pessoas brancas tocando. Sempre toquei nos guetos, mas lá também havia brancos tocando. Pra mim foi um sentimento estranho. Outra grande mudança. Havia muitos músicos indo tocar lá. Toquei com muita gente. Fazia parte da banda da casa. Conheci muitos músicos, Otis Rush, Junior Wells, com quem passei muito tempo aprendendo sobre o blues. Quando você está em um lugar desses não toca só blues tradicional. Chamam Chicago a cidade do blues, mas lá não tocam só blues tradicional. Tocam todos os tipos de música como R&B e soul music. Com algum sentimento do blues, mas não é blues. Para mim não. Só toco blues, blues e blues. Existem muitos bares com o Blues no nome, mas todos têm duas ou três bandas da casa que tocam de tudo.      

EM – Quem é o Real Deal hoje?
JP –
Músico jovem?

EM – Sim.
JP –
Não sei, me diga você (risos).

EM – Perguntei primeiro.
JP –
Há muitos jovens em Chicago, mas todos iguais. Acho que está para nascer.



domingo, 9 de novembro de 2014

Começam os diálogos de mais um CulturalMente Santista


Começa nessa quarta-feira, dia 12, em Santos o fórum CulturalMente Santista – Diálogos Culturais, cuja função é contribuir com a formação de público para a produção artística da região, disseminar a discussão entre os artistas, produtores culturais e jornalistas do ramo junto à sociedade e fazer um mapeamento dessa produção e o legado que pode ser deixado por ela.
Esse ano o evento chega à terceira edição e acontece entre 12 e 22 de novembro, em sete espaços públicos e privados.
A programação terá 14 bate-papos que reunirão mais de 50 artistas e produtores. Além disso, ocorrerão intervenções artísticas e a exposição “Viva Santos”, do artista plástico Waldemar Lopes. Toda a programação é gratuita.
O evento, que em suas duas primeiras edições ocorreu entre o fim de março e começo de abril, foi transferido para novembro em virtude do calendário atípico por conta da Copa e outros projetos realizados na cidade. “É bem provável que mantenhamos assim, já que, por ser fim de ano, conseguimos ter uma visão mais ampla do que foi a temporada cultural da região, fazendo essa reflexão e partindo para o que será realizado no ano seguinte”, explica André Azenha, idealizador e coordenador do CulturalMente Santista.
Pela primeira vez, a abertura acontece num teatro, o do Sesc, instituição co-realizadora do evento, em 12 de novembro, uma quarta-feira, a partir das 20h30, com o encontro de dois projetos que resultaram de trabalhos de formação artística para jovens: a Banda Querô, do Instituto Arte no Dique, e o Broadway Voices. Cada grupo fará um pocket-show e depois os dois elencos participarão de um bate-papo que abordará o processo de desenvolvimento artístico.
Novidades - Os jovens artistas não serão destaque apenas na abertura. Nessa terceira edição, o CulturalMente Santista realizará um encontro voltado exclusivamente á apresentação de trabalhos de pessoas com menos de 21 anos. Os interessados em divulgar seus trabalhos voluntariamente poderão enviar minicurrículo e imagens em foto ou em links do YouTube de suas obras até o dia 12 de novembro para o email culturalmentesantista@gmail.come esperar resposta de confirmação se foram selecionados. Os escolhidos poderão falar em até 10 minutos sobre seus trabalhos, no sábado, 15 de novembro, a partir das 15h, na Gibiteca Municipal Marcel Rodrigues Paes.
O evento também dá um novo passo: o intercâmbio de informações e expertises entre profissionais da Baixada e de São Paulo. No sábado, 15 de novembro, 17h, no Ao Café, acontece a mesa Literariamente Santista. Entre os convidados, Eduardo Lacerda, diretor da Patuá, editora independente que tem publicado autores santistas – como seus colegas de mesa, os escritores Flávio Viegas Amoreira e Manoel Herzog - finalista do Prêmio Jabuti, o principal da literatura no país. No dia seguinte, no Sesc, a produtora paulistana Ana Duval falará sobre as leis de incentivo.
 A programação ainda terá encontros que abordarão o teatro; o audiovisual (bate-papo que acontece no Instituto Arte no Dique com exibição de curtas); os blogs culturais; os coletivos; as organizações sociais que utilizam a arte em prol da inclusão (Arte no Dique, Instituto Querô e ONG TAMTAM); os representantes dos principais festivais artísticos (Santos Jazz, Tarrafa Literária, Festa, Fescete e Curta Santos); a importância de se contar histórias; o papel do curador nas artes visuais; a influência caiçara e das religiões na cultura santista; e a música. 
“A reflexão e compartilhamento de práticas artístico culturais integram o universo das ações que o Sesc desenvolve por meio da educação informal e permanente, com intuito de valorizar as pessoas ao estimular a autonomia pessoal, a interação e o contato com expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir. A parceria com o CulturalMente Santista reforça esse universo, potencializando a expressão regional”, diz  Luiz Fernando S. Silva, Coordenador de Programação do Sesc Santos.
“Acreditamos que o poder do diálogo pode resultar em novos projetos, parcerias e colaborar na resolução de alguns pontos que ainda precisam ser lapidados no meio cultural. O evento ocorre justamente para ser um canal de contribuição nesse sentido. Sem contar que propicia, à população, informação e cultura sobre a realidade que a cerca”, explica André Azenha.

Exposição - A tradição dos anos anteriores é mantida: uma exposição pontuará a programação do festival. O artista plástico Waldemar Lopes homenageará a cidade na mostra “Viva Santos”, que reunirá dez telas nas quais são celebradas paisagens e espaços turísticos. O vernissage acontecerá em 18 de novembro, uma terça, a partir das 20h, no Shopping Pátio Iporanga.

Formação de público -  Como um dos objetivos do CulturalMente Santista é formar público e ampliar a plateia dos artistas, bem como levar à população conteúdo e arte, foi feita uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Assim, parte dos lugares nos bate-papos será destinada a alunos da rede municipal de ensino.

O CulturalMente Santista – Diálogos Culturais é realizado pelo CineZen Cultural e o Sesc, com parceria da Prefeitura Municipal de Santos e apoios do Shopping Pátio Iporanga, Ao Café, Lobo Estúdio, Instituto Arte no Dique, TV Tribuna e rádio CBN Santos. A produção é da Mannish Boy Produções Artísticas.
Mais Informações: www.culturalmentesantista.com.br e www.facebook.com/culturalmentesantista.

Programação:

Dia 12, quarta
Teatro do Sesc Santos
20h30 - Abertura

21h -  Workshop musical: O encontro de diferentes projetos de formação – Broadway Voices e Banda Querô
Cada grupo fará um pocket-show, depois tocarão uma música juntos. Após a música, acontece o bate-papo sobre formação artística.
Mediação do bate-papo: Jorge Oliveira.

Dia 13, qinta
Sesc Santos - Sala 1
20h - Palcos santistas: formação, circulação e engajamento artístico
Convidados: Maria Tornatore, Platão Capurro (Movimento Teatral) e  Carol Bezerra (EAC Wilson Geraldo).
Mediação: Marcus Vinicius Batista.

Dia 14, sexta
Instituto Arte no Dique
15h - Audiovisual: promovendo o social pelas câmeras 
Convidados: Eduardo Ferreira (curta Anseios que permeiam meus tempos de paz) e Delson Matos Gomes (curta Limbo). Antes do bate-papo, os curtas serão exibidos.

Museu da Imagem e do Som de Santos
19h30 – Culturalmente plugados: blogs de Santos
Convidados: Flavia Saad (Juicy Santos), Eugênio Martins Jr. (Mannish Blog) e Vinicius Carlos Vieira (Cinemaqui).

21h – Coletivos culturais: Do it yourself – Produção artística engajada em Santos e região
Convidados: Rubens de Farias (Dose de Inspiração), Jota Amaral (Coletivo Teremin) e Luiz Lufer (Futuráfrica).

Dia 15, sábado
Gibiteca Municipal Marcel Rodrigues Paes
15h – Encontro de jovens talentos
Se você é artista, independente da arte que escolheu, e tem menos de 21 anos, eis uma oportunidade de demonstrar o seu trabalho. Interessados em apresentar seus portfólios, músicas, filmes, etc, podem enviar email para culturalmentesantista@gmail.com até 12 de novembro e esperar a resposta de confirmação ou não se foram selecionados para o evento. Durante uma hora, o encontro propiciará aos artistas finalistas exporem, em até 10 minutos cada, seus trabalhos. Ideia inspirada nos encontros TEDx, da organização TED, que atua mundialmente visando disseminar novas ideias.

Ao Café
17h – Literariamente santista
Convidados: Flavio Viegas Amoreira, Manoel Herzog, Eduardo Lacerda (diretor da editora Patuá, de São Paulo).
Mediação: Viviane de Almeida.
Haverá exposição de livros dos autores e da editora Patuá. Exemplares poderão ser comprados.

Ao Café
20h – Inclusão social através da arte – encontros de organizações sociais
Convidados: José Virgílio Leal de Figueiredo (Arte no Dique), Renato di Renzo (Associação Projeto TAMTAM) e Tammy Weiss (Instituto Querô).
Mediação: Oswaldo Silva Junior.

Dia 16, domingo
Auditório - Sesc Santos
15h – Entendendo as leis de incentivo e mecanismos de fomento cultural
A especialista Ana Duval, a convite do Sesc, falará a respeito dos projetos culturais que buscam apoio nas leis de incentivo, o funcionamento dessas leis e editais.

16h30 – Festivais: há formação de público e qual o legado desses eventos?
Convidados: Jamir Lopes (Santos Jazz Festival), José Luiz Tahan (Tarrafa Literária), Caio Martinez Pacheco (Festa), Pedro Norato (Fescete), Ricardo Vasconcellos (Curta Santos) e Leonard Nicoletti (Sesc-Mirada). 
Mediação: Sérgio Luiz (Sesc São Paulo).

Dia 18, terça
Shopping Pátio Iporanga
19h - Vernissage da exposição Viva Santos!
O experiente e reconhecido artista plástico Waldemar Lopes reúne obras que celebram o município na exposição “Viva Santos”.

Dia 19, quarta
Toca do Sesc
20h – A importância de se contar histórias
Convidados: Camila Genaro e Gigi Fernandes.
Mediação: Nara Assunção.

Dia 20, quinta
Ao Café
20h – O papel do curador em Artes Visuais
Convidados: Nívio Mota, Célia Cristina Teixeira.
Mediação: Carlota Cafiero.

Dia 21, sexta
Ao Café
20h  - A influência caiçara e das religiões na cultura santista
Convidados: Danilo Nunes, Rogério Baraquet (Sidarta).
Mediação: Guilherme Pradella.
Após o bate-papo os músicos farão uma jam session.

Dia 22, sábado
Lobo Estúdio
20h -  Musicalidades santistas – bate-papo com músicos de diversos estilos
Convidados: Theo Cancello, José Consani e Johnny Hansen (Harry).
Após o bate-papo haverá pocket-show de Hansen com músicas inéditas do novo CD do Harry e exibição de videoclipes de músicos santistas.

Endereços:

Ao Café – Av. Siqueira Campos, 462, Boqueirão
Gibiteca Municipal Marcel Rodrigues Paes - Av. Bartolomeu de Gusmão, S/N - Boqueirão
Instituto Arte no Dique – Rua Brigadeiro Faria Lima, 1349, Rádio Clube
Lobo Estúdio – Rua Luís de Camões, 12, Vila Mathias
Museu da Imagem e do Som de Santos – Av. Pinheiro Machado, 48, piso térreo do Teatro Municipal, Vila Mathias
Sesc Santos – Rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecida
Shopping Pátio Iporanga – Av. Ana Costa, 465, Gonzaga

sábado, 25 de outubro de 2014

Morre Jack Bruce aos 71


Morreu hoje em Suffolk (ING) o músico e compositor Jack Bruce. Com Eric Clapton e Ginger Baker, Bruce foi responsável pela fundação do Cream, uma das lendárias bandas de rock inglês dos anos 60.
Bruce compôs e cantou o maior hino do Cream, Sunshine Of Your Love, tocada e gravada por muitas bandas que vieram depois, inclusive um certo Jimi Hendrix, um dos seus maiores fãs.
Nascido em Glasgow (ESC), em 1943, e estudou na Bellahouston Academy e na Royal Scottish Academy of Music, onde ganhou bolsa de estudos para o violoncello e composição.
Após terminar os estudos foi para Londres onde agrupou-se na banda de Alex Korner, considerado um dos pais do blues inglês. A banda era o Blues Inc, onde tocava o baterista Charlie Watts que mais tarde migraria para um conjunto iniciante chamado The Rolling Stones.
Antes de se juntar ao Cream definitivamente, Bruce tocou também no John Mayall’s Blues Breakers e no Manfred Mann. O formato power trio, o qual os músicos têm de mostrar tudo o que sabem e na maior intensidade, fez os membros do Cream serem aclamados no mundo inteiro, dentro e fora da cena roqueira.
 Após deixar a banda, Jack Bruce foi para o lado do jazz associando-se a John McLaughlin, Carlos Santana, Larry Coryell, Tony Willians, Frank Zappa, Leslie West, Carla Bley e Billy Cobhan. Os melhores.
Em 2005 o Cream reuniu-se de novo para uma apresentação no Royal Albert Hall, em Londres, que se transformou em um ótimo DVD duplo, ainda disponível.
Jack morreu em casa, ao lado de sua família.

sábado, 11 de outubro de 2014

André Christovam, fundador do blues no Brasil, fala sobre Mandinga e dos 25 anos que se passaram após seu lançamento


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Cezar Fernandes

Vinte e cinco anos se passaram desde o lançamento de Mandinga, disco seminal do blues feito na terra do samba.
Nesse período, André Christovam se consolidou como o maior artista de blues brasileiro, gravando outros discos importantes: A Touch of Glass, seu segundo trabalho, todo cantado em inglês e guitarra slide; 2120, primeiro disco de blues de um brasileiro gravado nos Estados Unidos com músicos americanos, no lendário estúdio da Chess Records, em Chicago.
Participou do primeiro festival de blues do Brasil, em 1989, em Ribeirão Preto e também abriu a primeira noite de blues do Free Jazz Festival em São Paulo, o show do grande John Lee Hooker.  
Seu mais recente álbum, André Christovam Trio Live in POA with Hubert Sumlim, foi gravado em Porto Alegre, além Hubert, traz Big Time Sarah e Coco Montoya. Por um problema técnico, Solon Fishbone ficou de fora.
Trata-se da realização de um sonho. O bootleg autorizado conta com Hubert, guitarrista de um dos maiores nomes do Chicago Blues, Howlin’ Wolf. Segundo André, o disco que mais o influenciou foi Howlin’ Wolf London Sessions, cujas guitarras são todas de Hubert.
Muita birita rolou debaixo da ponte até 2014.
Vinte e cinco anos após o lançamento de Mandinga, a população do Brasil chegou aos 200 milhões de habitantes e a população de bandas de blues também aumentou, bem como o número de festivais do gênero. Claro, não na mesma proporção, Blues is the backseat music, man.
Todas traçando o caminho que um dia André e Blues Etílicos ousaram traçar, mesmo o guitarrista declarando que o que faz atualmente nem é mais blues e sim um “híbrido” com muitas influências.
Se hoje existe uma cena nacional com artistas de blues e blues/rock em quase todos os estados do Brasil, ambos são os responsáveis.
Rodeado por sua coleção de discos de vinil, guitarras e pedais, André falou mais de duas horas sobre tudo relativo ao blues brasileiro e sua carreira, o começo nos anos 70, o estouro de Mandinga, seu amadurecimento musical, viagens boas e viagens ruins.



Eugênio Martins Júnior – Como foi que você começou na guitarra?
André Christovam
– Arrumei um emprego na Só Calças por causa de uma garota. O dono da loja era o pai do Bozzo Barretti, produtor musical que tocou com o Arrigo Barnabé, Capital Inicial. Meu amigo de infância. Então ela foi trabalhar na Av. Angélica e eu na Rua das Palmeiras pra estar perto. O dinheiro que ganhei era pra comprar um aparelho de som. Meu pai tinha um Grundig mono na sala, mas eu queria o meu. No dia que recebi tive de fazer um trabalho e deixei o dinheiro cair no esgoto. E não fiquei com a garota também. It’s is that a blues or what? Mas meu pai vendo esse esforço deu o dinheiro para comprar o aparelho. Na noite que o aparelho chegou em casa eu tinha só o Abbey Road e o Help dos Beatles e o Cosmo’s Factory e Willie and the Poorboys do Credence e muita música brasileira do meu pai. Ouvia isso constantemente, cantava junto. Naquela noite meu tio me deu um disco do Bread, cuja primeira faixa era Guitar Man, que achei um horror. Aí chegou o Sérgio Amaral, que hoje é um fotógrafo renomado, meu irmão de criação, com o volume nove da série Pop History do Eric Clapton. Na Alemanha era duplo, mas no Brasil saiu com um disco. Tinha Let It Rain e After Midnight, e ele também me falou sobre o Cream. No dia seguinte troquei o Bread pelo Pop History do Cream. Lembro da sensação física de ouvir aquilo. Todos os sonhos de adolescente foram embora, piloto de fórmula 1, espião da CIA, o desejo de meu pai em eu ser médico. Ouvi os discos e pensei: “Eu vou fazer isso. Mas não vou fazer na bateria porque não tenho coordenação, mas uma das outras duas vou fazer”. Quem me encantou foi o Jack Bruce. A forma como ele cantava. Num primeiro momento queria ser baixista. Mas se fosse baixista não conseguiria tocar com outro baixista. Então resolvi ser guitarrista pra tocar com o Jack Bruce.

EM – Mas você começou aprender pra tocar com o Jack Bruce?
AC –
É a mesma coisa que chegar para um esquimó e mostrar um vídeo do Pelé e depois dar uma bola pra ele. Você acha que ele vai querer jogar com uma foca, um urso polar ou com o Pelé? Era um sonho de menino. Em janeiro de 1973 pedi uma guitarra para meu pai e ele disse que não ia dar, disse que eu teria de ganhar. Já havia um violão em casa. Meu primeiro violão.

EM – Esse instrumento ainda existe, você usa?
AC –
Tenho, é mais velho do que eu. Só não está aqui porque meu filho levou para a escola. Levei no luthier Novais e ele reformou. É um Del Vechio 56 que ainda uso quando preciso de um som com nylon. Meu pai disse que arrumava um professor de violão e eu concordei. Na primeira aula o professor me perguntou o que queria tocar. Respondi que queria ser músico. Ele disse que para ser músico precisaria ler partitura e concordei. Ele disse que tinha de estudar bastante e concordei. Comecei a loucura de estudar violão clássico o dia inteiro. Ele me dava técnicas e mandava estudar meia hora. Estudava cinco, a ponto de colocar uma flanela entre as cordas para não atrapalha a novela da minha mãe. Durante um ano e meio de aprendizado toquei compulsivamente. Fizemos uma apresentação com todos os alunos acompanhando o Cauby Peixoto. Nessa época eu já estava tocando Villa Lobos. Lembro muito de Targa, que me deslumbrou como compositor. Nessa época já conhecia o King Crinsom, tinha o The Court of the Crinsom King.

EM – E esse disco aqui? Qual é a importância dele? (Tiro de uma embalagem o Howlin’ Wolf London Sessions).
AC –
Tenho aqui (vai na pilha de LPs na prateleira e saca o dele, original, importado e capa dupla). Naquela época jogava botão, futebol de mesa, com o Sérgio e com o Elton. A gente jogava bem. O Elton sempre ganhava as coisas, mas um dia eu ganhei esse disco dele. Apostei porque gostava do Eric Clapton. 
Quando cheguei a ter certa desenvoltura no violão comecei a tocar as coisas que gostava. Gostava muito de rock progressivo, Fragile e Close to the Edge do Emerson, Lake e Palmer; Yes Songs e Yes Album do Yes; Foxtrot do Genesis. Mas não dava pra tocar Robert Fripp, não dava pra tocar Steve Howe. Eu não tinha um bom ouvido para tirar as coisas. Sabia tocar e ler partitura, mas com aquele disco, por incrível que possa parecer, sabia onde estavam as notas. Em seguida veio a minha primeira Giannini, depois uma Strato, foi tudo muito rápido. De repente, entre 1974/75 tinha certa desenvoltura no instrumento. Esse foi o primeiro disco que consegui tocar junto.

EM – Quando o blues entrou na tua vida?
AC –
Conheci o Marcos Rampazo e ele me ensinou a tocar guitarra. Em 1978 mudei para o Pompéia e no meu quarteirão morava o Carlini e o Sérgio e o Arnaldo (Batista - fundadores dos Mutantes), o Made (in Brazil – banda paulistana pioneira do rock and roll nacional). Desde 74 atormento o Celso Vechione, meu parceiro de vida. Fui o primeiro aluno do Rampazo, convenci-o a dar aula. Ele me ensinou um monte de música, a tirar as coisas de ouvido, os intervalos, acordes, os maiores. Depois fui estudar no CLAM, no dia que passei no teste era o cara mais feliz do mundo. Estudei com o Cândido Serra, o maior presente do mundo. Ele morou em Chicago em 67 e gravava em um gravador K7 as rádios de blues de lá. Ele não tinha discos, mas tinha horas e horas de blues, Shuggie Otis, Paul Butterfield com Michael Bloonfield, BB King ao vivo. Ele me emprestou e tirei tudo isso obsessivamente. Ele dava os toques. Eu chegava mais cedo na escola e convivia com o Hamilton (Godoy) e com o Luiz Chaves do Zimbo Trio. A música brasileira começou a ter espaço: “André, toca Wave aqui com a meninas”. “Olha André, estamos escrevendo para quatro vozes de guitarra, toca aqui”. E toda a vez que tinha alguma coisa de blues eu me sobressaia. Em 77 prestei Faculdade Paulista de Arte e passei em segundo lugar em música. Fui muito bem no exame. Cai numa classe de malucos, João Canônico, Tuca Fernandes, Ivo Nobre. Foram dois anos de estudos e CLAM ao mesmo tempo. Vivia música 24 horas. E tinha as gigs com o Fickle Pickle que já estava por aí. Tinha uma banda com o Bruno Cardoso, baita pianista, eu tinha 18 ele tinha 15 anos. Minha primeira gravação dessa época foi com o Otávio Fialho. O Arrigo também, na primeira formação de Tubarões Voadorres. O Tavinho montou uma banda comigo, o Michel Freidenson e o Teco Cardoso, todos moleques, na RCA. A banda era um absurdo, tudo escrito e bem arranjado. De repente meu pai morreu, no dia o meu aniversário de 20 anos. O último presente que ele me deu foi o disco do Allman Brothers ao vivo no Fillmore East. Entrou pra fazer um check up e ficou. Tranquei a faculdade e comecei a estudar inglês com a mesma obsessão que estudava guitarra e um ano e meio já havia estudado tudo na escola. Passei a tocar em todos os lugares para por comida na mesa. Uma das maiores experiências foi tocar no Avenida Danças. Minha mãe vendeu jóias e coisas da casa.



EM - O que era o Avenida Danças?
AC –
Era taxi dancing na avenida Ipiranga com a São João, o cara comprava um ticket e podia dançar à vontade com as mulheres. Tinha uma banda ao vivo que tocava sambas, boleros, mambos. Imagina, eu era um cara que tocava de Les Paul, já tinha uma Brasília, um filhinho de papai que era executivo da Texaco. Vi aquela realidade e entendi que aquilo era ser músico.

EM – Você estudou fora do Brasil. Como foi essa experiência?
AC –
O Sérgio Dias me apresentou o John McLaughlin que estava aqui para o primeiro festival de jazz, semanas após a morte do meu pai. Disse a ele que queria ir para os Estados Unidos e ele me perguntou se eu queria tocar jazz. Eu disse que queria ser músico de estúdio e que gostaria de conhecer o GIT do Howard Roberts. Ele disse que se o Howard estava envolvido eu tinha de conhecer. O Howard é um grande guitarrista de jazz e estudioso, um guru. O GIT é o resultado de uma série de seminários criados por ele, foi criado em 77. Sou da quarta turma, de 80. Antes do Scott Henderson que foi meu calouro, o Frank Gambale e o Malmsteen, que não se formou, entrou e saiu. Vendemos um apartamento, quitamos a casa onde morávamos e sobrou dez mil dólares. Com três, paguei a escola e com o resto paguei o aluguel e vivi comendo pizza durante um ano e meio e tocando nunca menos do que 10 horas por dia. Vi Eric Burdon, BB King, John Lee Hooker, Clarence “Gatemouth” Brown, Muddy Waters, Big Joe Turner, Big Mama Thorton, Pee Wee Crayton, John Mayall, tocava com o Robben Ford todos os dias porque ele era professor da escola. E vi muito rock and roll.  Isso deu autenticidade ao meu som. Era um filhinho de papai que havia morado sozinho em um apartamento em frente a uma lixeira, não era lixo orgânico, mas era uma lixeira. Moravam eu, uma Les Paul, um violão, depois uma Strato e um (amplificador) Mesa Boogie. E tudo isso sem birita, sem droga e sem mulher.

EM – E quando voltou ao Brasil?
AC –
Voltei ao Brasil e retornei ao Fickle Pickle, tocamos muito durante dois anos, mas sai para viajar com o Rádio Taxi. Foi a coisa mais linda da minha vida. Era 1982, a turnê que estourou. Era o Rádio Taxi de Garota Dourada, que era a Mae East da gang 90. O Nelson Motta fez pra ela, apesar dela ser paulistana. O Wander me viu tocando no Vitória e queria o meu som de guitarra. Todo mundo ia ao Votória, o Peter Frampton, Queen, Jimmy Cliff. Eram dois palcos, nós em um e o Tutti Frutti no outro.

EM – Nessa época as bandas do rock nacional ganharam muito dinheiro.
AC –
Nossa, se eu ganhei dinheiro imagine os caras. A gente viajava o Brasil. Fiz muitos amigos, o Evandro da Blitz, o Frejat desde o começo. Mas logo me aborreci e fui para a Inglaterra por um ano com Fickle Pickle. Quando voltei, em 1985, desisti de ser músico. Havia muita gente ruim naquela época na Inglaterra. Tinha o Motorhead e o Iron Maiden que, com toda a sinceridade, naquele momento não era a minha. Estava totalmente envolvido com o John Coltrane, Miles Davis, que era o que queria tocar. Ou ia para aquela sonoridade que atraia o Paulo e o Nelson? Eu achava medonha, neandertal, todo o new wave of britsh heavy metal (NWOBHM). Achava ruim, mal tocado. O cantor do Def Leppard pelo menos cantava afinado. Até assisti o Iron Maiden em Cascais, mas achava ruim, fazer o que? Minha cabeça estava em outro lugar. A gente ouvia Smiths e o cantor era desafinado. Aí diziam: “Mas o Johnny Marrs é um gênio!”. Eu não conseguia ouvir porque a voz do cantor me incomodava. Ou seja, era um velho de 60 anos em Londres nos anos 80, cara! Então vendi uma guitarra para o Faiska, outra para o amigo dele, fiquei com a Strato, aquela que está na capa do Mandinga. O Faiska entrou no Magazine, mas odiou e saiu. Pediu para eu fazer os shows e me dei bem com o Kid Vinil. Acabou o Magazine, fizemos a banda Heróis do Brasil e foi quando comecei a compor, porque o Kid se recusava cantar Boy e Tique Tique Nervoso. Assinamos com a BMG/Ariola e chamamos o Roberto de Carvalho. A Heróis do Brasil virou uma banda cult. O primeiro show que fizemos no Chacrinha tocamos Conta da Light e arrancamos a calça dele. Alinhavamos uma calça velha que ele tinha e veio um pela frente e o outro por trás: “Se não voltar a luz, saio pelado tonight...”, e a gente puxava. O Chacrinha amou, o disco vendeu bem. Virei letrista. O Rádio Taxi começou pedir letra, a Rita pegou uma música que era para o Kid.

EM – Que música foi essa?
AC –
Foi Para com Isso do disco Flerte Fatal. É um blues, minha primeira gravação com a Rita. Entrei como convidado. Acabou a gravação e eu entrei na banda (risos). O disco saiu um mês depois. Mas uma coisa era tocar com o Kid Vinil nos lugares mais legais de São Paulo, o Rose Bombom, Projeto SP, Sesc Pompéia. Outra era ficar hospedado no Copacabana Palace com a Rita Lee.

EM – Aí você é gente.
AC –
Você é gente tocando com o Kid Vinil. Com a Rita você vira divindade. Eles tinham acabado de fechar um contrato de um milhão de dólares, dinheiro que não existia no Brasil. Assinei os direitos autorais com EMI por sugestão do Roberto de Carvalho. Não sabia nada disso na época. Olha só, fiz nove músicas para a Heróis do Brasil e ganhei um muito obrigado. Assinei uma música com a Rita Lee e ganhei um carro zero.

EM – Era uma indústria muito poderosa nessa época.
AC –
Era muito forte. Descobri que ser um bom guitarrista não faz você trabalhar. Garante gigs boas e fica seguro, mas o que dá dinheiro é ser um compositor. Fiquei esperto com isso e o Roberto era o meu mentor nesse período. Comecei a produzir e ele e a Rita avaliavam o que eu estava fazendo. Havia um tecladista que tocava muito, tinha o Roberto que tocava muito, ele é um músico acima da média. Você tem grandes músicos e tem o Roberto de Carvalho. E quando você toca com esses caras tem de ficar esperto, achar o teu lugar dentro da banda e na banda da Rita nunca consegui achar. Em disco sim, na banda não. Então saí antes de começar a turnê. Virei artista solo, compondo mais ainda. O André Geraissati me indicou para o Zuza Homem de Mello que me indicou para um show do Talento. De lá fui para o Espaço Off e o João Lara Mesquita me contratou para a Eldorado.


EM – O Mandinga estava germinando?
AC –
Já tinha o disco pronto. Ele achou que eu ia fazer um disco de blues solo. De repente montei a banda com o Márcio Vitulli e o Alaor Neves. A gente ensaiou quarenta dias sem saber que ia ganhar um disco. De repente virou.

EM – Onde entram o Herbert Lucas e o Flávio Guimarães nessa história?
AC –
O Herbert era padrinho de casamento do Alaor Neves. Não tínhamos empresário e deixamos o Herbert cuidar dessas coisas. Já estávamos na gravadora e ele pegou a produção executiva do disco. Conheci o Blues Etílicos através do Renato Arias, dono da loja Satisfaction, no Rio. Ele disse que iam tocar no Blues and Jazz e se eu poderia ver a banda. Gostei muito e como ia tocar na próxima semana chamei o Flávio para tocar comigo e depois eles me chamaram pra tocar no Rio. A gente sempre se deslocava para prestigiar o outro. Ninguém me conhecia no Rio de Janeiro, quer dizer, eu conhecia o pessoal do jazz, o Nico Assumpção, o (Carlos) Bala morava lá naquela época, e do rock conhecia o Frejat e o Lulu. Não existia cena de blues no Brasil.

EM – Aí finalmente saiu o Mandinga?
AC –
Quando fizemos o especial da Manchete recebemos os vinis que haviam acabado de ser prensados. Quando o Cesar Castanho montou o festival em Ribeirão Preto ele me convidou e ainda perguntou com quem eu queria tocar. Na ideia dele eu abriria o festival na quinta-feira para o Buddy Guy. Eu disse que preferia tocar com o Albert Collins. Ele me perguntou por quê? Eu disse que no sábado ia ter gente saindo pelo ladrão e o Albert Collins é meu maior ídolo e meu amigo. Havia sido roadie dele em Los Angeles. Ele me disse que ia dar a abertura do festival para o Blues Etílicos.

EM – Os discos Mandinga, A Touch of Glass, Água Mineral e San Ho Zay venderam como pãozinho quente.   
AC –
Venderam mais juntos do que toda a discografia internacional de todos os tempos, incluindo BB King e Robert Cray, de acordo com a pesquisa do Luiz Fernando Vitral que na época era da Veja. Ele disse que a gente havia acabado de bater o recorde de vendas de blues. Lembro do John Hammond jantando na minha casa na época do álbum 2120 e eu dizendo que havia vendido pouco, só 15 mil cópias, porque não pudemos divulgar por causa da morte do BB Odon. Ele me disse que se vendesse isso nos Estados Unidos teria virado divindade. Eu comparava com a Rita Lee que na primeira semana tinha 150 mil discos vendidos.

EM – Nessa época os artistas da MPB batiam em 800 mil a um milhão de cópias.
AC –
Existe uma coisa que a indústria não explica. Um milhão de discos vendidos eram um milhão de discos entregues. O quanto eles recebiam de volta era outra coisa. Um disco de ouro demorava entre 60 e 90 dias com, de fato, um disco de ouro.

EM - Os dois primeiros discos no Brasil que levaram o rótulo de blues foi o Mandinga e o Água Mineral. E vocês chegaram cantando blues em português. Gostaria que falasse sobre isso.
AC –
Toco blues ao vivo todas as noites desde 1981. Toda vez que chegava num dono de casa noturna o cara falava: “Blues é muito triste, André. É muito chato, dá sono”. Eu dizia que eles estavam ouvindo blues errado. Quando a gente tocava R&B levantava a casa, todo mundo começava a dançar. Só que ninguém conseguia escrever blues em português. No momento que você vai fazer uma música em português. Pega as letras dos Beatles, por exemplo, o Ronnie Von cantando Meu Bem. A língua não ajuda. Não dá para ser romântico em português sem ser brega, porque nós tivemos um excesso da breguisse melódica na Jovem Guarda. 
As letras eram muito melosas. Não importa que o Erasmo era um rocker ou que o Roberto em algum momento passou a fazer grandes letras. Nos anos 80 estávamos vivendo no Brasil um momento em que as letras haviam ficado inteligentes. 


EM – Nessa época havia uma profusão de letristas bons, Cazuza, Renato Russo, Lulu, Herbert e outros.
AC –
Exatamente. Falei ao Pena Schimidt que queria fazer um disco de blues. Minhas canções pops eram boas, Fútil Rock and Roll, Conta da Light e Assassinato Anônimo eram legais. A Rita gravou Para com Isso, do disco Flerte Fatal, depois de eu cantar para ela: Se não for olho gordo, deve ser a lua cheia/Cruzar a garçonete que serviu a santa ceia/Isso não é miopia, isso é praga de madrinha/Baby, baby para com isso/Baby, baby sai dessa lama/Baby assim você acorda o cortiço/Baby assim você quebra essa cama/Você foi na verdade um acidente de trabalho/Um porre sem bebida, um tremendo ato falho/Te vendo em minha cama procurei por meu arreio, gritei por São Genaro, você acha que ele veio. Quando acabei de falar isso, ela disse: “E você acha que essa música é do Kid? Não, é minha”. Ela me parou antes do segundo refrão dizendo que ia gravar. Tinha achado uma maneira que tem muito mais a ver com Noel Rosa, Ataufo Alves e Adoniram Barbosa.

EM – Ou seja, o lado bem humorado do blues.
AC –
Confortável roubei Built for Confort do Howlin’ Wolf, não pedi emprestado. O fato é que todas as nuances das letras de blues não haviam sido traduzidas. Quando comecei escrever essas coisas, usei os recursos que tinha. Usando o português que eu tinha. O Kid é um cara que escreve muito bem, não letras de música, mas textos. A Rita, o Raul, o Marcelo Nova.

EM – Se todo mundo elogiava as letras e a música, porque a Heróis do Brasil acabou não dando certo? Ou dando certo em termos?
AC –
Cara... tomei uma cantada do diretor da gravadora que queria me levar a uma lua de mel em Roma. Do nada o disco parou de vender. Vendeu 30 mil cópias até o dia que dei o fora nele.

EM – Aproveitando que você está falando isso. Se o Mandinga fez aquele baita sucesso com letras em português, por quê A Touch of Glass?
AC –
Sou virginiano e tenho uma visão muito clara daquilo que faço. Demorei cinco anos compondo Mandinga e tive sete meses pra fazer o A Touch of Glass. É impossível. Todas as letras do A Touch foram escritas em uma noite antes de começar por voz no disco.

EM – Porquê só sete meses. Foi por pressão da gravadora?
AC –
Foi um erro. O Mandinga tinha várias músicas de sucesso. Uma no Rio, uma em São Paulo e outras em outros lugares. Tinha mais um ano de vida. Matamos a duração do Mandinga. Qual é o disco de banda estreante que tem quatro músicas tocando em rádio, Confortável, Genuíno Pedaço de Cristo, So Long Boemia e Dados Chumbados. Tudo o que eu escrevia parecia resto do Mandinga. O tiro que matou a minha criatividade em português foi o Aldir Blanc. Na crítica ao Mandinga no jornal O Globo ou no Jornal do Brasil, não lembro, ele disse: “É um dos discos com as letras mais inteligentes do atual cenário brasileiro”. Travei.
Mostrei o disco pra Rita e perguntei o que ela achava e ela disse que achava que eu era um idiota (risos). Eu disse que estava travado. Havia produzido um disco para o Kid, escrito nove letras em 87, dez letras em 89, e tinha seis meses para escrever outras letras. A gente tem de ter história pra viver. Havia acabado de casar e as letras que havia feito eram com mulheres e enroscos do passado. Ela disse que eu tinha de aprender a contar as histórias dos outros.   

EM – Até que o A Touch of Glass não teve uma trajetória tão ruim.
AC –
Fizemos uma turnê com 97 shows. Conhece alguma banda de blues que teve esse volume? A turnê terminou em Belo Horizonte uma semana depois de fazermos quatro shows nos Estados Unidos, em Chicago. Foi quando conheci o BB Odon. Era o lançamento do Family Style, disco póstumo do Stevie Ray Vaughan. Havia comprado uns cinqüenta CDs de blues na Delmark Records pela manhã. Uns 25 caras dos meus discos estavam no show de noite. Quando acabou o show, atravessei a rua e o Zinner estava sentado na sarjeta. De onde a gente estava dava pra ler o letreiro: “Brazilian blues star. Tonight only. Guess only”. Ele estava torcendo a camisa e disse que havia sido o show que melhor me ouviu tocar em 17 anos. Na mesa da minha frente estava o Buddy Guy, Junior Wells, Dr John, Dave Mason. Toquei slide a noite inteira.


EM – Depois veio 2120, primeiro disco brasileiro de blues gravado lá fora, na terra do blues. Como foi que isso aconteceu?
AC –
Antes produzi um disco do Golpe de Estado, Nem Polícia, Nem Bandido. Fui quem levou o Golpe para a Eldorado. Era para ter produzido o Kães Vadius, mas eu acabara de produzir um single deles e os caras do Golpe eram meus amigos. O Nelson e o Paulo eram amigos de infância. Eles me apresentaram Filho de Deus e eu disse: “Pára. Isso vai tocar pra caramba, deixa eu produzir”. Ganhamos muito dinheiro com isso. 
O 2120 foi o último disco da história do estúdio da Chess, tombado como patrimônio histórico dois meses depois. Hoje é um museu. A ideia inicial era gravar em Vancouver com o Paul Horn. Ia ficar um mês lá. O Howie Albert havia montado um estúdio em Nashville e também queria gravar comigo. Disse que ia convidar aquele baixista do Toto, o David Hungate. Então ficou essa dúvida. Eu estava querendo gravar um disco acústico, o John Hammond havia me ensinado a tocar Hard Times Killing Floor e viajar para divulgar era mais fácil. Quando estou decidindo sobre as passagens e outras coisas, o Tony Hilgert liga me convidando para gravar no estúdio da Chess porque ele me faria um preço bom. A primeira semana gravei violão, conhecendo o estúdio, saindo pra jantar, trabalhando três a quatro horas por dia. Bem low profile. Em uma segunda-feira estava tomando uma cerveja com o Buddy Guy, estava rolando uma jam e o baterista dele, Jerry Porter, me chamou pra tocar. Tocamos até às quatro da manhã e o Mark Salzman falou que a gente precisava gravar um disco. Esqueceu que estava pagando um hotel pra eu ficar lá. Deixamos para gravar na sexta e no sábado. A jam foi na segunda e na outra segunda o disco estava gravado.

EM – Depois de dois discos bem sucedidos, como foi a recepção no Brasil de 2120?
AC –
O BB Odon veio ao Brasil e a TV Cultura fez um especial de uma hora. A merda é que falei para o pessoal da gravadora que estava indo embora do Brasil. Os caras concordaram. A ideia era começar uma carreira internacional, mas aconteceu uma coisa que não esperava. A turnê acabou dia 02 de dezembro e o BB Odon morreu em 21 de dezembro. Aí perdi o chão.

EM – Não haveria condições de continuar sem ele?
AC –
Ele era a voz. Para os Estados Unidos eu era bom, mas ele era uma lenda. Havia se retirado após a morte do Earl Hooker, trabalhado por 11 anos no departamento de esgotos de Chicago. Ele era cantor do Earl. Não tem depois disso. Perdi meu pai no dia do meu aniversário e você sabe bem o que é isso. A morte do BB Odon dizimou a minha vida. 

EM – Mas o que aconteceu então?
AC –
Montei uma banda quinze dias depois. Se não tivesse montado uma banda... na verdade, o Fernando Naylor que estava tocando comigo com o BB Odon indicou uns caras para a gente continuar tocando, o Izal de Oliveira no baixo e o Cláudio Tchernev na bateria.  Tinha muita demanda de show. Consegui virar um guitarrista de blues de Chicago, era o diretor musical, o único branco, era a força de composição. Pela primeira vez eu era a grana. Tinha um empresário do Junior Wells que também havia acabado de deixar o Buddy Guy e... o trem passou. A banda durou mais dois anos e o meu casamento acabou.
Lembro que em algum momento de 1995, última vez que esteve no Brasil, o Junior Wells me ligou às quatro da manhã dizendo que havia demitido o guitarrista e queria que eu entrasse na banda dele. Disse que faria o show de sábado com ele, mas ele me queria na banda de verdade. “Quero que você vá comigo para Chicago e cuide da minha banda”. Tinha 28 shows agendados e dois músicos que viviam do dinheiro que eu pagava. O que poderia fazer?       
        
EM – O Junior Wells estava em uma boa condição financeira como o Buddy Guy que estava começando a ficar rico com o blues?
AC –
Tava bem. Me convidou para morar na casa dele até arrumar um lugar. O Buddy ficou rico, mas quando o conheci era durango. Só tinha muitas guitarras.

EM – Após 25 anos o lançamento de mandinga, como vê a cena hoje?
AC –
Não existia, agora existe. Os instrumentistas são excelentes, mas o que estão fazendo com a habilidade deles é patético.

EM – Não entendi. Eles são excelentes, mas o que estão fazendo é patético?!
AC –
Talvez, três ou quatro exceções no Brasil inteiro. Grande parte dos músicos brasileiros toca o mesmo repertório. Estou errado? Não têm direcionamento. Quem tem talento não se aprimora porque acha que é melhor do que é. Vou falar dos caras que realmente gosto. Conheci o Marcos Ottaviano há 25 anos quando ele tocava muita guitarra. Hoje ele toca melhor do que qualquer músico de blues americano na minha opinião. Ouve o Flávio Guimarães e ele está cada dia melhor. Vejo o Adriano Grineberg tocar e acho que está procurando caminhos e entregando um bom produto. Vejo o Edu Gomes tocar uma linguagem com frescor que também não vejo nos americanos. Não vejo nenhuma cozinha no Brasil com a competência da americana. Os caras não fizeram a lição de casa. Tem de aprender que o blues tem um jeito de tocar. Tiro a minha banda porque a gente tem um diálogo. E o que toco virou um híbrido tão complexo que não dá pra colocá-los nesse contexto. Principalmente o Fabio Zaganin que está comigo há 16 anos. O que faço não é mais blues. Tem uma brasilidade. E não vejo ninguém tomar uma liberdade com isso. Com a veemência de quem está tocando algo que é seu. É muito difícil dizer “eu te amo” e não ser brega. E é muito fácil dizer “baby I love you”, e não dizer nada.

EM – Talvez porque o DNA do blues brasileiro seja classe média? 
AC – Ele é branco. Como o blues americano de hoje. E classe média. Onde um menino americano vai comprar uma Strato 63 por trinta mil dólares? Onde vai tocar um Bassman 59? Tocando em bar? Não, papai bancou. É a diferença entre eu em 76 e em 2014. Estudei e ganhei equipamentos bons porque papai podia pagar.

EM – Depois dessa caminhada você não pode dizer que tem um trabalho? A tua história não te legitima? Esses músicos não estão buscando o mesmo caminho que você já buscou?
AC –
Então para de copiar! Para de tocar o mesmo repertório. Para de se preocupar com o amplificador do Eric Clapton, o violão do Robert Johnson, o pedal do Robben Ford. Para de imitar a marca do microfone do Little Walter. Vai buscar o porquê de o Little Walter ser o Little Walter. Se O Robert Johnson estivesse vivo provavelmente estaria usando uma guitarra dessas modernas, sem headstock. Por que ele era o mais moderno da época. Quando olho o John Mayer me dá vontade de volitar. Ele é o Eric Clapton de hoje, mas que não cresceu em uma garagem, ele saiu do BBB, cara! Minha crítica não é só ao blues brasileiro. É ao blues americano. Você sabe que blues é uma música que veio dos africanos que usavam essa estrutura musical e melódica pra contar a história da África, os griots. Essa molecada não está contando história nenhuma. Deus do céu, estamos vivendo uma revolução social no Brasil. E não tem um cara de 23 anos que saiu na Paulista no ano passado que vai contar o que ele viu? Genuíno Pedaço do Cristo foi composta porque estava indignado com a CBF que permitiu que roubassem a taça Jules Rimet. Só que em vez de dizer isso diretamente, contei uma história sobre aquela estrutura de poder montada no Rio de Janeiro, do poder da política, do poder do futebol, e que deixaram roubar o maior patrimônio que a gente tinha. E derreteram. Roubaram um pedaço da nossa história, uma coisa preciosa. Me lembro da comoção de 1970.

EM – Você está dizendo que o blues brasileiro sofre de crise de identidade crônica?
AC –
É isso. Temos bons guitarristas, baixistas, bateristas, gaitistas e pianistas, mas muito pouca gente tentando contar uma história própria. Não têm onde desenvolver essa arte.

EM – Foi esse o caminho que buscou na pareceria com o Heraldo do Monte?
AC –
Ele foi o meu mentor. Era professor dos meus professores. Só cheguei a conclusão de que o Heraldo tocava uma música com origem moura... aí tenho de entrar em questão teórica. A escala que a gente usa pra criar essa música nordestina tem a sétima menor. Uma mixolidia, o quinto grau das escalas do campo harmônico. Isso é genial. Quando você ouve Asa Branca, uma sonoridade africana, do blues, da música nordestina, dos negros que subiram para a Europa e colonizaram os países ibéricos, um pedaço de Portugal, Espanha e Itália. O Heraldo domina isso por natureza e criação. O Joe Pass me disse que o Heraldo era o guitarrista mais interessante que já ouvira tocar.

EM – Qual foi a maior alegria que teve com o blues?
AC –
É a hora em que você está tocando e faz o mundo parar. Faz o olho daquela mulher bonita da segunda fila brilhar.



terça-feira, 23 de setembro de 2014

A cultura para os candidatos à Presidência 2014

O Mannish Blog gera seu próprio conteúdo, mas por considerar a relevância dessa matéria para a cultura, reproduzo aqui na integra para que o maior número de pessoas tenha acesso às informações nela veiculadas.
A versão publicada no site do GLOBO traz mais perguntas que a veiculada no Segundo Caderno.  É essa que está publicada abaixo sob coordenação de Mariana Filgueiras

Lei do direito autoral, Lei Rouanet, vale-cultura, Lei das Biografias, decreto do Ibram, preço fixo do livro. Praticamente ausentes do debate que antecede as eleições, esses temas mobilizaram boa parte da sociedade nos últimos anos.
Para saber o que os presidenciáveis pensam e planejam para a área, O GLOBO pediu que representantes da classe artística formulassem perguntas aos três primeiros candidatos nas pesquisas de intenção de voto: Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Dilma Roussef - (foto Divulgação)

RIO - Luiz Carlos Barreto, cineasta e produtor: A indústria do entretenimento movimentou R$ 1,7 trilhão em 2010, segundo a Pricewaterhouse. No seu programa de governo há algum plano estratégico para o setor? Ou vamos continuar a tratar a indústria cultural como uma atividade ornamental?
É necessário articular a economia da cultura e o financiamento. Destaco três caminhos: dar acesso aos recursos públicos a diferentes tipos de atividade e empreendimentos, operando com diversidade e simultaneidade de mecanismos; estruturar um Sistema Simplificado de Acompanhamento e Fiscalização das atividades culturais desenvolvidas com recursos públicos; e criar um Programa Continuado de Formação de Plateia para

Márcia Milhazes, coreógrafa: Que medidas concretas podem ser tomadas para que a cultura ganhe mais importância no governo?
A implantação do Sistema Nacional de Cultura, incorporando os entes federativos, estados, municípios e Distrito Federal a uma estrutura de alcance universal. Para sustentá-lo, é preciso elevar os valores do Fundo Nacional de Cultura para fazer dele um instrumento efetivo de financiamento da diversidade cultural. Ampliar e aprofundar o Programa Cultura Viva. E avançar em uma política para as artes, que permita atuar sobre a produção, distribuição e acesso, além de processos de formação artística e de ampliação de público.

Ivan Lins, músico: Os ex-ministros Gil e Juca Ferreira enviaram para a Casa Civil no fim de seus mandatos uma proposta de reforma do Direito Autoral depois de anos de consultas públicas. Há mais de 3 anos os criadores esperam para conhecer o resultado desse esforço. Que compromissos podemos esperar?
O MinC já enviou para a Casa Civil o projeto amplamente discutido nos últimos anos. O Brasil e o mundo hoje têm o desafio de compreender o equilíbrio entre o acesso às obras, inclusive via internet, e o justo direito de o autor receber por seu trabalho. É no equilíbrio que queremos estabelecer a nova política, compromisso que já efetivamos com o aprovação do Marco Civil da Internet.

Patricia Pillar, atriz: O tema reforma política me parece fundamental até para as questões da Cultura. Sem ela, não é possível construir um modelo de democracia que represente os interesses do povo brasileiro. Qual será seu compromisso em relação à reforma política?
É urgente e necessária uma ampla e profunda reforma política que supere as distorções do nosso sistema representativo. Para assegurá-la, é imprescindível a participação popular por meio de um plebiscito que deixe claro que o povo considera a reforma política uma questão prioritária e inadiável. Sem a participação popular não conseguiremos superar o impasse atual. O ideal é que a reforma seja feita por meio de uma Constituinte exclusiva.

Lira Neto, escritor: Qual é a sua posição em relação à polêmica das biografias não autorizadas? O Procure Saber defendeu, de público, a necessidade de autorização prévia dos biografados ou de seus herdeiros legais. Biógrafos, jornalistas e intelectuais protestaram, evocando o direito constitucional à liberdade de expressão.
Fico do lado da liberdade de expressão. Sempre. Do lado do Direito. Também sempre. Se alguém se sentir prejudicado, pode recorrer ao Poder Judiciário para dirimir a questão. São muitos os casos de biografias de interesse histórico e cultural que vão muito além das vidas privadas das pessoas biografadas. Ou seja, as obras compõem uma espécie de narrativa coletiva e social. Podem ser relevantes para a reflexão sociológica, antropológica, histórica e política da sociedade.

Adriana Varejão, artista plástica: Sobre o decreto do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) que permite declarar de interesse público obras de coleções públicas ou privadas, o(a) senhor(a) não acha que o governo deveria focar na manutenção do acervo público que já existe?
O governo tem investido na internacionalização da produção artística e cultural brasileira ao mesmo tempo em que fortalece uma política de preservação do patrimônio museológico. Ampliamos em mais de 400% os investimentos nesses últimos anos, inclusive com a criação do Ibram. A legislação não desapropria coleções privadas. Hoje, temos 41 pedidos de declaração de interesse público tramitando. Na sua maioria, são coleções históricas, científicas e de cultura popular, garantindo o direito à memória da população.

Carlo Carrenho, consultor editorial: O crescimento do comércio on-line tem sido cruel com as livrarias. Governos como o dos EUA valorizam o livre mercado e pouco fazem para proteger as livrarias. Mas a França exerce o preço fixo do livro e tem leis anti-Amazon. O seu governo tenderá para que postura?
Defendo a livraria como espaço de difusão cultural, mas propostas como a lei do preço fixo devem ser mais discutidas. Devemos buscar uma convivência equilibrada e saudável do setor, que contribua para o fortalecimento dos diferentes segmentos e democratize o acesso aos livros. E essa não é uma questão exclusiva do Estado. Responde também ao próprio mercado. Devemos buscar um meio-termo entre os modelos que você aponta e construir uma solução rapidamente, porque a questão exige agilidade.

Myrian Dauelsberg, produtora cultural: Como o seu plano de governo vê o vale-cultura?
O vale-cultura é um dos mais inovadores instrumentos de democratização e acesso ao consumo cultural, sendo estudado hoje por vários países como forma de inclusão social por meio da cultura. O vale-cultura está incluindo milhares de trabalhadores no universo dos livros, dos teatros, do cinema, dos museus. Está induzindo à democratização do acesso à cultura. O vale já aparece na pauta de reivindicação dos trabalhadores em seus dissídios, mostrando que é uma porta que se abre e deve ser alargada.

Domingos Oliveira, ator e diretor: Bom cinema e bom teatro são bisturi fino. Alcançam lugares aonde nada mais vai: a honestidade, a solidariedade, o patriotismo, a ética, o amor. São imprescindíveis na formação do homem. Para o(a) senhor(a), isso é importante ou um detalhe?
O bom cinema e o bom teatro são linguagens indispensáveis, que contribuem para a formação da nossa identidade cultural. Ao poder público cabe oferecer os meios e os instrumentos econômicos e administrativos, como estamos fazendo no nosso governo, para incorporar a dimensão simbólica ao projeto de desenvolvimento. Cultura não é detalhe, é essencial na sociedade, é o que nos dá dimensão, identidade, projeto. Nos últimos anos, o MinC adquiriu um novo perfil, com capacidade de incidir positivamente em todas as expressões culturais.

Adailton Medeiros, diretor do Ponto Cine: O Brasil tem cerca de 2.700 salas de exibição para mais de 200 milhões de habitantes. Ou seja: mil a menos do que havia no meado da década de 1970. Qual é a sua proposta para ampliar o número de salas de exibição, descentralizá-las e desonerar o setor?
A Ancine e o BNDES já realizam um programa exitoso nessa área, aumentando o número de salas de exibição no Brasil. No entanto, é necessário acelerar esse processo e diversificar os modelos de negócio de exibição, levando em conta as necessidades específicas dos pequenos exibidores. Será preciso criar novos parâmetros para captação de recursos para salas de cinema e implementar linhas de financiamento e investimento para grupos exibidores de pequeno e médio porte.

Lilian Barreto, produtora cultural: Quais são as suas prioridades para o Fundo Nacional de Cultura?
O Fundo Nacional de Cultura contemplará todas as áreas da cultura brasileira. A maior fatia de recursos (70%) deverá apoiar os projetos de cidades e estados por meio do Sistema Nacional de Cultura, que prevê repasses aos que têm conselhos, planos e fundos de cultura. E 30% para quem captar por meio do Procultura.

Leoni, músico: O Ministério da Cultura é o de menor dotação orçamentária do país. Qual é a sua posição em relação à PEC 150, que garante 2% do orçamento federal para cultura sem contingenciamento? Vai mobilizar a base governista para garantir sua aprovação rápida?
A PEC 150 está em debate no Congresso Nacional. Há todo empenho do meu governo em fazer crescer a fatia da cultura e me comprometo com um crescimento escalonado do seu orçamento. A política de financiamento da cultura no Brasil vem sofrendo, ao longo dos anos, distorções com o aumento da renúncia fiscal através da Lei Rouanet, em detrimento da ampliação do Fundo Nacional de Cultura.

Marcos Villaça, escritor e imortal da ABL: Qual é a sua ideia em relação à interação povo e cultura? Distingue cultura de massa e cultura popular?
A cultura de uma nação emana de seu povo. Mas é mediada por criadores populares e eruditos, individuais e coletivos. Eles têm sensibilidade e criatividade para expressar os sentimentos, modos de vida e visões de mundo da população, traduzindo-as nas mais diversas criações artísticas e culturais. A cultura popular é produzida pelo povo. Já a cultura de massas é produzida e mediada pela indústria cultural, dentro de padrões mercantis. São modalidades culturais distintas, ainda que se relacionem.

Jorge Mautner, músico e compositor: Hoje, se investe muito imposto via leis de renúncia para financiar musicais do exterior em superproduções de milhões. Por que não investir esse dinheiro nos talentos do país, que em cada estado guarda tesouros de exuberância poética e filosófica?
Está no Congresso Nacional o projeto de lei do Procultura, que justamente pretende estabelecer parâmetros mais justos de distribuição de recursos. Ele também fortalece o Fundo Nacional de Cultura, que faz política de estado para a cultura. Os editais para as minorias, a Região Amazônica e grupos que dificilmente obtêm patrocínios tentam preencher as lacunas.

Amir Haddad, diretor de teatro: Acredita que a Lei Rouanet contribuiu para uma mais justa distribuição de verbas públicas? Dinheiro público, manipulado por particulares, chega a todos igualmente e honestamente? Uma cidade é para quem vive nela ou para quem vive dela?
Mecenato é instrumento de fomento às artes desde a antiguidade, mas acreditamos que é preciso responsabilizar mais o setor privado pelo financiamento, lidando com a renúncia fiscal como um incentivo para o aporte de recursos próprios. A questão da distribuição dos recursos está sendo discutida atualmente no Congresso Nacional – e com apoio do governo – de modo a diminuir a concentração de recursos e democratizar o acesso. Nosso objetivo é fortalecer o Fundo Nacional da Cultura e queremos aumentar a capacidade pública de apoiar projetos e estruturar políticas destinadas ao cidadão.

Eduardo Barata, produtor cultural: Desde a sua criação, a Lei Rouanet nunca foi operacionalizada de uma forma eficiente pelo Ministério da Cultura, deixando o proponente sem informação e detalhamento dos projetos. O Procultura possui uma estrutura muito mais complicada e complexa, com várias comissões e departamentos. Se até hoje, em mais de 20 anos, a Rouanet não foi operacionalizada pelo governo da forma esperada, como os senhores pretendem implementar esta detalhada nova lei? Na opinião dos senhores de quem é a responsabilidade pela distorção da Rouanet: do governo, do proponente ou da iniciativa privada?
A Lei Rouanet foi criada com base em um tripé: mecenato, Fundo Nacional de Cultura e fundos de investimento. Ao longo dos anos houve uma excessiva ênfase no mecenato em detrimento dos demais mecanismos. Será necessário recuperar o equilíbrio no financiamento à cultura do país, sobretudo fortalecendo o Fundo Nacional de Cultura com mais recursos e com novos mecanismos de fomento. Entendo que devemos trabalhar por uma sistemática de financiamento que parta do apoio aos projetos para iniciantes e evolua até o apoio em fluxo contínuo e automático à organização de planos de negócios e à estruturação de empresas, coletivos e instituições. Qualquer implantação de um novo modelo deve garantir a estrutura adequada para que os processos tramitem de forma rápida e eficiente.


Marina Silva - (foto Ivo Gonzalez/Agência O Globo)

Luiz Carlos Barreto, cineasta e produtor: A indústria do entretenimento movimentou R$ 1,7 trilhão em 2010, segundo a Pricewaterhouse. No seu programa de governo há algum plano estratégico para o setor? Ou vamos continuar a tratar a indústria cultural como uma atividade ornamental?
Apesar da nossa riqueza cultural, o Brasil não figura na lista dos 20 maiores produtores de bens e serviços criativos no mundo, daí nosso programa contemplar a riqueza cultural como geradora de valor e competitividade globais focando em oito ações prioritárias, como a criação de um sistema de informações sobre economia criativa; a formação profissional; o apoio a empresas do setor; crédito para empreendedores criativos desprovidos de garantias ou avalistas, via Fundos de Aval, entre outros.

Márcia Milhazes, coreógrafa: Que medidas concretas podem ser tomadas para que a cultura ganhe mais importância no governo?
Aproximar cultura e educação, de modo que a formação e o desenvolvimento de grupos e atividades culturais sejam estratégicos na introdução do ensino integral; fortalecer programas voltados à cidadania cultural, identidades e diversidade, como o Cultura Viva e ações para mestres da cultura popular e griôs. E priorizar as artes, área em que houve menos avanço nas gestões do PT no MinC. É preciso fomentar a criação de cadeias criativas e preservar a memória e o patrimônio histórico e cultural.

Ivan Lins, músico: Os ex-ministros Gil e Juca Ferreira enviaram para a Casa Civil no fim de seus mandatos uma proposta de reforma do Direito Autoral depois de anos de consultas públicas. Há mais de 3 anos os criadores esperam para conhecer o resultado desse esforço. Que compromissos podemos esperar?
A reforma da lei está estacionada na Casa Civil há meses. É nosso compromisso enviá-la ao Congresso Nacional logo nos primeiros meses de 2015. O melhor seria conciliar a defesa dos interesses dos que criam com a facilidade de acesso pela sociedade. Não é razoável a “solução” que prega que os artistas precisarão se sustentar fazendo shows até o final de seus dias ou então vendendo camisetas. É necessário um equilíbrio entre os interesses de produtores de conteúdo, os provedores de aplicação da internet e a sociedade civil.

Patricia Pillar, atriz: O tema reforma política me parece fundamental até para as questões da Cultura. Sem ela, não é possível construir um modelo de democracia que represente os interesses do povo brasileiro. Qual será seu compromisso em relação à reforma política?
Sem dúvida, um dos grandes entraves que a gestão do MinC sofre no atual governo diz respeito exatamente ao (mau) hábito político de entregar “nacos” do Estado a interesses privados ou partidários, negociando o ministério por objetivos outros que não os da Cultura. Nosso compromisso será assegurar uma gestão competente e comprometida com a criatividade, a identidade e a diversidade do povo brasileiro.

Lira Neto, escritor: Qual é a sua posição em relação à polêmica das biografias não autorizadas? O Procure Saber defendeu, de público, a necessidade de autorização prévia dos biografados ou de seus herdeiros legais. Biógrafos, jornalistas e intelectuais protestaram, evocando o direito constitucional à liberdade de expressão.
Neste assunto há que buscar um equilíbrio de direitos. De um lado há o direito à privacidade e à honra das pessoas; de outro, há o direito à informação e à livre expressão. Com equilíbrio, a chamada Lei das Biografias, já aprovada no plenário da Câmara dos Deputados e em tramitação no Senado, poderá assegurar um justo marco regulatório para o tema.

Adriana Varejão, artista plástica: Sobre o decreto do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) que permite declarar de interesse público obras de coleções públicas ou privadas, o(a) senhor(a) não acha que o governo deveria focar na manutenção do acervo público que já existe?
Você tem razão. Tratamos do tema na página 123 do nosso programa: “O país tem perdido seu patrimônio artístico sem avaliar os danos que isto produz e sem ter a chance de estimular, antes da evasão, a aquisição de peças para coleções públicas ou privadas. Não se trata de penalizar ou engessar os negócios de colecionadores privados, como pretendeu o Ibram; trata-se, antes, de agir em sinergia, para que existam as condições adequadas de manter nosso patrimônio artístico próximo dos brasileiros”.

Carlo Carrenho, consultor editorial: O crescimento do comércio on-line tem sido cruel com as livrarias. Governos como o dos EUA valorizam o livre mercado e pouco fazem para proteger as livrarias. Mas a França exerce o preço fixo do livro e tem leis anti-Amazon. O seu governo tenderá para que postura?
Para uma postura com a seguinte estratégia: a) Aprimorar políticas para a produção e circulação do livro e oferecer bolsas de criação literária; b) Reduzir o custo dos livros; c) Fomentar a prática leitora, fortalecendo o Proler e o Plano Nacional do Livro e Leitura; d) Apoiar as bibliotecas públicas; e) Fortalecer o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. Vamos retomar a discussão sobre o preço único do livro e o incentivo às pequenas e médias livrarias, que podem ser impulsionadas a partir do uso do vale-cultura.

Myrian Dauelsberg, produtora cultural: Como o seu plano de governo vê o vale-cultura?
A lei do Vale-Cultura é uma importante conquista para garantir a cultura na cesta básica. Porém, apesar da lei aprovada, seu alcance ainda é pequeno. Como principal medida, buscaremos assegurar que todos os trabalhadores da iniciativa privada, com renda até cinco salários mínimos, bem como os professores da rede pública, tenham acesso ao vale-cultura. Outra medida será o fomento a ações pulverizadas e comunitárias de oferta de produtos culturais.

Domingos Oliveira, ator e diretor: Bom cinema e bom teatro são bisturi fino. Alcançam lugares aonde nada mais vai: a honestidade, a solidariedade, o patriotismo, a ética, o amor. São imprescindíveis na formação do homem. Para o(a) senhor(a), isso é importante ou um detalhe?
Isso é a alma de um povo. Exatamente por isso, a cultura faz parte de um dos seis eixos estratégicos de nosso programa de governo (eixo 3: Educação, Cultura e Ciência, Tecnologia e Inovação), pois entendemos que somente com a educação aliada à cultura e à inovação é que conseguiremos mudar o Brasil em sua plenitude.

Adailton Medeiros, diretor do Ponto Cine: O Brasil tem cerca de 2.700 salas de exibição para mais de 200 milhões de habitantes. Ou seja: mil a menos do que havia no meado da década de 1970. Qual é a sua proposta para ampliar o número de salas de exibição, descentralizá-las e desonerar o setor?
Experiências como o Ponto Cine (cinema comercial com salas de baixo custo, instaladas em bairros populares e com ingressos a preços acessíveis) deverão ser incentivadas via financiamento pelo BNDES ou arranjos criativos nos municípios (recuperação de salas de cinema fechadas, desoneração fiscal etc.) e garantia de ampliação de público com iniciativas como A Escola Vai ao Cinema, estímulo ao uso do vale-cultura para aquisição subsidiada de ingressos e programa de incentivo ao cineclubismo.

Lilian Barreto, produtora cultural: Quais são as suas prioridades para o Fundo Nacional de Cultura?
A parte da produção artística e da cultura que não encontra espaço no mercado. Ou seja: a formação cultural continuada; a experimentação, pesquisa e inovação estética; a cidadania cultural, a identidade e a diversidade; conservação e preservação do patrimônio cultural; manutenção de corpos artísticos estáveis (desde teatro de grupo até orquestras).

Leoni, músico: O Ministério da Cultura é o de menor dotação orçamentária do país. Qual é a sua posição em relação à PEC 150, que garante 2% do orçamento federal para cultura sem contingenciamento? Vai mobilizar a base governista para garantir sua aprovação rápida?
A PEC 150 é estratégica para a efetivação do Sistema Nacional de Cultura e encontra-se pronta para votação na Câmara dos Deputados. No entanto, sua votação tem sido constantemente adiada há quase dez anos. Nosso compromisso será ampliar o orçamento da cultura desde o começo do governo e avaliar as ações da área da cultura para incrementar e ajustar os recursos.

Marcos Villaça, escritor e imortal da ABL: Qual é a sua ideia em relação à interação povo e cultura? Distingue cultura de massa e cultura popular?
Nosso lema para o novo Ministério da Cultura a partir de 2015: “a massa ainda comerá do fino biscoito que fabrico” (Oswald de Andrade). Cultura é tudo. Cultura interage, promove trocas, sínteses. Cultura é identidade, mais alteridade, gerando solidariedade. Cultura é tradição e invenção ao mesmo tempo; é erudita e popular; é de massa e singular. Cultura é de todos e para todos.

Jorge Mautner, músico e compositor: Hoje, se investe muito imposto via leis de renúncia para financiar musicais do exterior em superproduções de milhões. Por que não investir esse dinheiro nos talentos do país, que em cada estado guarda tesouros de exuberância poética e filosófica?
Estamos em acordo Jorge Mautner. Nosso programa de governo (pg. 129) prevê “combinar diferentes mecanismos de financiamento, evitando que as leis de incentivo fiscal sejam a maior fonte de recursos do setor”. Assim fortaleceremos o Fundo Nacional de Cultura para que, em um primeiro momento, tenha, no mínimo, os mesmos recursos que os destinados à renúncia fiscal. Com isso, programas praticamente abandonados pelo atual governo, como o CULTURA VIVA e os Pontos de Cultura poderão ser retomados e fortalecidos, bem como o conjunto da criatividade de nosso povo, que será tratada como bem estratégico para o fortalecimento de nossa identidade e diversidade, o que vai muito além de uma simples redução à condição de mercadoria.

Amir Haddad, diretor de teatro: Acredita que a Lei Rouanet contribuiu para uma mais justa distribuição de verbas públicas? Dinheiro público, manipulado por particulares, chega a todos igualmente e honestamente? Uma cidade é para quem vive nela ou para quem vive dela?
A chamada Lei Rouanet é analisada em nosso programa (pg. 129): “No que concerne ao financiamento, temos de considerar ainda que o universo da cultura é heterogêneo, composto por alguns setores lucrativos e outros necessariamente deficitários; alguns agentes aptos a competir no mercado e outros sem chances de inserção comercial. Há que combinar diferentes mecanismos de financiamento, evitando que as leis de incentivo fiscal sejam a maior fonte de recursos no setor.”

Eduardo Barata, produtor cultural: Desde a sua criação, a Lei Rouanet nunca foi operacionalizada de uma forma eficiente pelo Ministério da Cultura, deixando o proponente sem informação e detalhamento dos projetos. O Procultura possui uma estrutura muito mais complicada e complexa, com várias comissões e departamentos. Se até hoje, em mais de 20 anos, a Rouanet não foi operacionalizada pelo governo da forma esperada, como os senhores pretendem implementar esta detalhada nova lei? Na opinião dos senhores de quem é a responsabilidade pela distorção da Rouanet: do governo, do proponente ou da iniciativa privada?
De fato, a lei Rouanet, passados mais de 20 anos de sua aprovação, tem sérios problemas de operacionalização, tanto na fase de aprovação dos projetos, quanto na da prestação de contas. Há um conjunto de responsabilidades, seja do governo ou proponentes e iniciativa privada. Se, de um lado, o ProCultura poderá resolver várias distorções na lei, por outro, poderá agravar problemas operacionais, burocratizando o processo. Nossa intenção é analisar a lei em seu atual estágio (ainda sem aprovação no congresso) de modo a dar agilidade em sua implementação, como por exemplo: a partir do Sistema Nacional de Cultura, permitir que estados e municípios que também contam com leis de incentivo, possam analisar e aprovar projetos (com abrangência local e até determinado valor) à Lei Rouanet.


 Aécio Neves (foto João Cotta)

Luiz Carlos Barreto, cineasta e produtor: A indústria do entretenimento movimentou R$ 1,7 trilhão em 2010, segundo a Pricewaterhouse. No seu programa de governo há algum plano estratégico para o setor? Ou vamos continuar a tratar a indústria cultural como uma atividade ornamental?
Meu governo vai apresentar um novo conceito de cultura na política pública brasileira, com prioridade para uma visão integrada da ação cultural, abrangendo todas as instâncias governamentais. Por isso, vamos estimular toda a produção cultural nacional, em todos os seus segmentos. As nossas políticas públicas vão ser focadas na formação, manutenção e difusão da tão rica cultura brasileira.

Márcia Milhazes, coreógrafa: Que medidas concretas podem ser tomadas para que a cultura ganhe mais importância no governo?
Vamos valorizar a produção cultural nacional, ampliando as diversas formas de produção artística do país, garantindo não só o acesso de cada vez mais pessoas como também valorizando a remuneração dos artistas para que a cultura brasileira, tão rica, consiga ecoar por todos os cantos do país. A cultura deve permear todas as ações e políticas públicas do governo. Trata-se de uma indústria que movimenta 5 milhões de trabalhadores.

Ivan Lins, músico: Os ex-ministros Gil e Juca Ferreira enviaram para a Casa Civil no fim de seus mandatos uma proposta de reforma do Direito Autoral depois de anos de consultas públicas. Há mais de 3 anos os criadores esperam para conhecer o resultado desse esforço. Que compromissos podemos esperar?
A Lei de Direitos Autorais será aprimorada para garantir que a produção de conhecimento não só se dissemine pelo Brasil como também promova uma melhor remuneração aos autores.

Patricia Pillar, atriz: O tema reforma política me parece fundamental até para as questões da Cultura. Sem ela, não é possível construir um modelo de democracia que represente os interesses do povo brasileiro. Qual será seu compromisso em relação à reforma política?
A reforma política será uma das prioridades do nosso governo, até porque ela é a mãe de todas as reformas. Defendo três pontos. O retorno da cláusula de desempenho para os partidos, que reduziria o atual quadro de 22 partidos funcionando no Congresso para sete ou oito legendas. O voto distrital misto com lista partidária, onde metade do parlamento é eleita por distritos, criando uma relação direta do representado com o representante. E o fim da reeleição, com mandato de cinco anos. Quatro anos para trabalho e um ano para eleição.

Lira Neto, escritor: Qual é a sua posição em relação à polêmica das biografias não autorizadas? O Procure Saber defendeu, de público, a necessidade de autorização prévia dos biografados ou de seus herdeiros legais. Biógrafos, jornalistas e intelectuais protestaram, evocando o direito constitucional à liberdade de expressão.
A legislação não pode se impor diante do interesse histórico despertado pelas biografias de personalidades públicas. É preciso deixar muito claro que não devem haver hipóteses ou brechas na lei que permitam que qualquer pessoa vete a publicação desse tipo de obra.

Adriana Varejão, artista plástica: Sobre o decreto do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) que permite declarar de interesse público obras de coleções públicas ou privadas, o(a) senhor(a) não acha que o governo deveria focar na manutenção do acervo público que já existe?
No meu governo as políticas públicas para o setor serão fortalecidas e discutidas com mais profundidade, diferentemente da maneira como foram geridas nos anos do governo da presidente Dilma, período em que as decisões foram monocráticas e sem debate relevante com a sociedade.

Carlo Carrenho, consultor editorial: O crescimento do comércio on-line tem sido cruel com as livrarias. Governos como o dos EUA valorizam o livre mercado e pouco fazem para proteger as livrarias. Mas a França exerce o preço fixo do livro e tem leis anti-Amazon. O seu governo tenderá para que postura?
Será iniciado um debate para aperfeiçoar a Lei do Livro de modo a atualizar seu conteúdo. A utilização do livro como fonte primordial de conhecimento será ampliada. E o meu governo vai lidar com questões importantes como as novas plataformas digitais, que não devem ser equiparadas ao livro. Também vou institucionalizar o Plano Nacional do Livro e Leitura para priorizar o livro como objetivo de desenvolvimento da sociedade.

Myrian Dauelsberg, produtora cultural: Como o seu plano de governo vê o vale-cultura?
O sistema do vale-cultura passará por melhorias. O governo Aécio criará uma ferramenta que funcione de forma efetiva para estimular o acesso cultural de forma a atrair cada vez mais público às artes brasileiras.

Domingos Oliveira, ator e diretor: Bom cinema e bom teatro são bisturi fino. Alcançam lugares aonde nada mais vai: a honestidade, a solidariedade, o patriotismo, a ética, o amor. São imprescindíveis na formação do homem. Para o(a) senhor(a), isso é importante ou um detalhe?
Isso é importantíssimo. Por isso, no governo Aécio Neves será criado um programa de circulação de espetáculos de teatro, dança, música e circo por todo o país. O objetivo é estimular a montagem de produções nacionais em diversos pontos do país de maneira ágil e efetiva para levar cultura para o maior número de municípios brasileiros.

Adailton Medeiros, diretor do Ponto Cine: O Brasil tem cerca de 2.700 salas de exibição para mais de 200 milhões de habitantes. Ou seja: mil a menos do que havia no meado da década de 1970. Qual é a sua proposta para ampliar o número de salas de exibição, descentralizá-las e desonerar o setor?
Para ampliar o número de salas de exibição no Brasil é preciso aumentar a produção nacional. Por isso a proposta é incrementar e simplificar a utilização do Fundo Setorial do Audiovisual. O governo Aécio vai levar realmente os recursos aos produtores de cinema de forma mais rápida e mais simples. Com isso, será estimulada a produção e a distribuição do conteúdo brasileiro. Isso vai gerar uma oferta cada vez maior de filmes, levando a uma necessidade de mais salas de cinema.

Lilian Barreto, produtora cultural: Quais são as suas prioridades para o Fundo Nacional de Cultura?
É preciso ampliar a valorização da cultura regional. O governo Aécio Neves não só vai estimular a produção regional, como elevará os recursos disponíveis ao setor, por meio de parcerias público-privadas e outras formas. As políticas culturais no governo federal terão prioridade e protagonismo.

Leoni, músico: O Ministério da Cultura é o de menor dotação orçamentária do país. Qual é a sua posição em relação à PEC 150, que garante 2% do orçamento federal para cultura sem contingenciamento? Vai mobilizar a base governista para garantir sua aprovação rápida?
O Ministério da Cultura no governo Dilma Rousseff foi jogado para escanteio e perdeu seu protagonismo, deixando de lado políticas culturais que realmente valorizem o patrimônio cultural nacional. O governo Aécio vai fazer uma revolução cultural, criando fontes complementares de financiamento através de parcerias público-privadas. Vamos incrementar e tornar mais eficiente a aplicação dos recursos públicos para que se possam alcançar conquistas mais significativas e concretas na cultura brasileira.

Marcos Villaça, escritor e imortal da ABL: Qual é a sua ideia em relação à interação povo e cultura? Distingue cultura de massa e cultura popular?
É preciso estimular ainda mais a produção cultural brasileira para ela representar a beleza do patrimônio cultural do nosso país. A população não pode ser apenas consumidora de cultura. Ela precisa ter acesso, absorver o que for produzido no país, mas precisa também se sentir representada. E essa interação só atingirá seu potencial quando a cultura for de fato reconhecida e valorizada como ela deve ser: uma das maiores, mais bonitas e ricas manifestações culturais do mundo.

Jorge Mautner, músico e compositor: Hoje, se investe muito imposto via leis de renúncia para financiar musicais do exterior em superproduções de milhões. Por que não investir esse dinheiro nos talentos do país, que em cada estado guarda tesouros de exuberância poética e filosófica?
É preciso aprimorar as fontes de financiamento. Para ampliar os recursos, o governo Aécio Neves vai estimular a realização de parcerias público-privadas para amplificar e valorizar a cultura regional, no plano interno e fortalecendo e estimulando o protagonismo do Brasil, divulgando nossa cultura em suas diversas formas, como produto simbólico caracterizador de nossa singularidade. Isso representará o novo formato que adotaremos, seguindo os conceitos do policentrismo.

Amir Haddad, diretor de teatro: Acredita que a Lei Rouanet contribuiu para uma mais justa distribuição de verbas públicas? Dinheiro público, manipulado por particulares, chega a todos igualmente e honestamente? Uma cidade é para quem vive nela ou para quem vive dela?
É muito importante que a Lei Rouanet seja aprimorada e desburocratizada para que possa chegar a pequenos e médios produtores de conteúdo nacional. Os recursos não podem apenas ser gastos na gestão da cultura. O dinheiro também tem que chegar à produção cultural.

Eduardo Barata, produtor cultural: Desde a sua criação, a Lei Rouanet nunca foi operacionalizada de uma forma eficiente pelo Ministério da Cultura, deixando o proponente sem informação e detalhamento dos projetos. O Procultura possui uma estrutura muito mais complicada e complexa, com várias comissões e departamentos. Se até hoje, em mais de 20 anos, a Rouanet não foi operacionalizada pelo governo da forma esperada, como os senhores pretendem implementar esta detalhada nova lei? Na opinião dos senhores de quem é a responsabilidade pela distorção da Rouanet: do governo, do proponente ou da iniciativa privada?
Não adianta apontar culpados pelos problemas enfrentados pela Lei Rouanet. O importante é ter um diagnóstico preciso de suas fragilidades para ela poder ser aperfeiçoada. E esse é o compromisso do governo Aécio Neves: melhorar e aperfeiçoar a legislação para impedir os desvios de finalidade que ocorreram ao longo dos anos.