sexta-feira, 25 de maio de 2018

Bebendo cerveja e falando sobre a história do blues com quem faz: Blues Etílicos

Greg Wilson e Noel Andrade - Sesc Santos 21/04/2018

Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos - Tiago Cardeal

A entrevista de Flávio Guimarães contida no primeiro Blues – The Backseat Music foi fácil. Nossos caminhos se cruzaram na estrada um montão de vezes e numa dessas acabou acontecendo. Mas passei anos tentando falar com os outros caras, Greg Wilson, Cláudio Bedran e Otávio Rocha.
Finalmente consegui e, com sorte, falei com o novo integrante da banda pioneira do blues no Brasil, o baterista Beto Werther, que por sua vez foi integrante de primeira hora da também carioca Big Allanbik.
Aos desinformados, digo que o Blues Etílicos foi pioneiro na mistura do blues com alguns dos ritmos brasileiros, dando régua e compasso a muitos artistas que vieram depois. Letras em português e inglês, com muita personalidade.
Ao longo dos 30 anos de estrada, eles misturaram guitarra com berimbau, tocaram Raul, homenagearam Muddy Waters e, acima de tudo, inventaram o blues na terra do samba.
O caminho dos integrantes genuinamente cariocas cruzou o caminho de um americano – olha a encruzilhada aí de novo – e a banda foi criada em plena efervescência do rock nacional.
As letras de Cazuza e a guitarra de Frejat, já flertavam com o velho blues. As de Celso Blues Boy também. Mas nunca assumiram o namoro. O Blues Etílicos foi lá e raptou a noiva, casou e gerou diversos filhores. O Big Allanbik foi um deles. Beto Werther conta um pouco dessa história aqui. E também fala um pouco sobre o irmão cantor, Ricardo Werther, falecido em 2013.
A entrevista aconteceu em um show da turnê Canoeiros, CD homenagem a Tião Carreiro, gravado em parceria com o violeiro Noel Andrade, aqui na minha cidade, Santos.
Canoeiros mostra que o tempo não consumiu a disposição e muito menos a criatividade da banda. A mistura da viola caipira do interior com a slide do Mississippi rende bons frutos e o “country” O Menino da Porteira é a prova.
O tempo passa para todos e a banda que misturou blues e birita mostrou que o segredo da vida é se manter em movimento. Como diz o Larry McCray: “Get Your Blues On”.



Entrevista com Greg Wilson

Eugênio Martins Júnior - Você nasceu em Tupelo, no Mississippi, terra do Elvis, veio ao Brasil e depois voltou aos Estados Unidos para estudar. Como essas influências musicais agiram na tua cabeça? Essa mistura?
Greg Wilson – Meus pais vieram trabalhar como missionários quando eu tinha seis meses de vida. A regra da Igreja Batista era que eles tinham de ficar pelo menos cinco anos e depois voltar aos Estados Unidos por um ano. Eles tinham de viajar pelo país e falar nas igrejas sobre os trabalhos que haviam feito no Brasil. Passei um tempo ficando cinco anos aqui e um ano lá até acabar aqui o ensino ginasial. Depois fui cursar a universidade nos Estados Unidos, após me formar voltei pra morar de vez no Brasil.

EM – Teu pai era regente de corais. O que vocês escutavam em casa?
GW – Ouvíamos todos os tipos de música. Ele gostava muito das big bands, aquelas coisas do sul. Nasci em Tupelo porque eles estavam na universidade do Mississippi, mas o pessoal é todo da Carolina do Sul. Me criei aqui no Brasil, Rio Grande do Sul e Paraná e depois no Rio de Janeiro onde estou até hoje. Esse ano que eu passava lá era sempre na Carolina do Sul. Meu lance musical era todo dentro da igreja. Meu pai era músico e fazia isso nos corais, quartetos, seminários. Eu vivia rodeado de instrumentos, todos os meus irmãos são músicos. Quer dizer, tiveram aprendizado. Tiveram seus instrumentos. Eu só fui tocar blues depois que voltei da universidade. Já sabia, já conhecia, mas não tocava. Gostava muito de James Taylor.

EM – E como foi o encontro com o pessoal do Blues Etílicos?
GW – Quando morei no Rio estudei na escola americana. No final, alguns amigos foram para as suas universidades nos Estados Unidos. Mas nas férias, geralmente no verão, eles voltavam para o Rio e alugavam um apartamento por uns meses, onde eu ia sempre fazer um som. Um belo dia entram o Flávio e o Cláudio atrás de um deles que era guitarrista de blues. Ele tinha colocado nesses quadros de universidades um anúncio se oferecendo como guitarrista e foi tocar com o Blues Etílicos. Eu ia aos shows e acompanhava a galera. Quando acabou a temporada esse cara foi embora e como eu já estava entrosado com a rapaziada me candidatei à vaga. Gravamos o primeiro disco e entramos na Eldorado.

EM – Eu tenho uma curiosidade. Você nunca teve vontade de fazer uma temporada nos Estados Unidos, a terra do blues?
GW – Já tive e gostaria de fazer isso com a banda. Mas por incrível que possa parecer a gente nunca teve esse projeto e dessas bandas novas todos já fizeram isso (risos).
Mas a gente não seguiu o tradicional, a gente compõe em português. Digamos que a nossa missão era inserir o blues na nossa realidade.

EM – Mas você gravou um disco solo bem blueseiro. Com bastante shuffle, o Blues Etílicos gravou Viva Muddy Waters e o Flávio gravou umas coisas bem tradicionais nos discos solos. Vocês fazem isso bem.
GW – Claro. Se quiséssemos poderíamos gravar vários discos assim. Também tem a gaita, da slide, do meu vocal. Se a gente vai tocar num bar de blues pra se divertir é blues total.

EM - Fale sobre a parceria com o Alex Rossi.
GW – A gente se conheceu nos anos 90. Numa dessas idas a Porto Alegre. Ele me convidou para fazer umas gigs por lá com uma banda. Numa dessas ele arrumou um show em um projeto cultural. Era numa sala arrumada, com cadeiras. Era só minha guitarra e a gaita dele. Quando acabou o show o cara do som disse que tinha gravado tudo.

EM – E aquele disco é o show na íntegra!? Ele gravou direto da mesa?
GW – É. Demos uma mexida, claro. Mas nem sabíamos que estava gravando. Pensamos em fazer esse CD pra conseguir mais shows.

EM – Acredito que a viola caipira é prima da slide do blues. Gostaria que falasse sobre a parceria com o Noel Andrade que gerou um disco e esse show? Como surgiu a ideia?
GW – Tudo começou com um encontro entre ele e o Flávio, que sugeriu pra nós, que topamos na hora. As letras do Tião Carreiro, a história, são parecidas com a dos blueseiros. Trabalhamos nos arranjos e o show está aí.

EM – Surgiu a ideia fazer a versão de Menino da Porteira? Vocês transformaram numa música country americana.
GW – O Noel sugeriu fazer essa parte em inglês. Começou a ficar interessante e a gente mandou ver.

EM – Voltando ao teu CD, vi uma grande influência do Allman Brothers ali. Tem inclusive músicas deles. Fale mais um pouco sobre esse trabalho.
GW – Estava tocando em um bar no Rio com essa banda me acompanhando há uns três anos todas as segundas. Resolvemos fazer o disco e eu juntei o repertório, fui puxando coisas que gostava e o Allman Brothers escutava desde a adolescência. As músicas do Allman Brothers na verdade é do Elmore James. Entramos no estúdio de manhã e terminamos no mesmo dia. Foi uma loucura. Depois acertamos algumas coisas no som.

EM – Vocês foram os fundadores do blues no Brasil. Como vê a cena blueseira após trinta anos?
GW – A coisa alastrou. A gente fez uma história. Naquela época não tinha banda de blues. A gente começou a viajar o país inteiro e começou surgir banda aqui, banda ali. Hoje em dia, nossa senhora! Exitem instrumentistas maravilhosos, guitarristas, gaitistas. O Flávio criou uma legião de gaitistas. É legal de ver. Claro que tem pessoas que se aproveitam um pouco do cenário e não sabe nem quem é Muddy Waters. Mas isso tem em qualquer lugar. Às vezes atrapalha um pouquinho o trabalho da gente. Mas o nível está altíssimo.

EM – O que falta fazer com o Blues Etílicos após trinta anos?
GW – Voltando aquela história, gostaria de fazer uma turnê pelos Estados Unidos agora, depois de tantos anos juntos. Não só tocando o tradicional, mas o nosso repertório, pra ver a reação deles. Isso é uma pulga atrás da orelha.



Entrevista com Cláudio Bedran

EM - Naquela efervescência do rock carioca dos anos 80, como tiveram a ideia de fundar uma banda de blues? 
Cláudio Bedran - Eu e Flávio éramos amigos e eu já tocava baixo quando ele começou na gaita e foi se apaixonando por blues. O rock clássico que eu gostava estava em crise, era tempo de new wave e punk, que só curti bem mais tarde. Tocava mais jazz/rock e música instrumental BR em pequenos festivais e bares. O mais relevante que fiz até fundarmos o Blues Etílicos foi tocar numa orquestra de gafieira e num musical infantil (!!!) de relativo sucesso. O Flávio começou a me aplicar uns LPs de blues e eu gostei. Percebi que o som que mais gostava, Deep Purple, Led Zeppelin, Humble Pie, Jeff Beck, Johnny e Edgar Winter, AC/DC era fruto direto do blues. Um belo dia, à noite, num bar, ele sugeriu montarmos uma banda de blues, coisa que não existia no Brasil, pra tocar em boteco, sem maiores pretensões. Achei ótima ideia e fomos em frente.

EM - O Blues Etílicos começou como um trio?
CB - Não. Flávio e eu conhecíamos o Otavio, que tinha um sebo de discos bacana no Flamengo (bairro do Rio). Ele gostava de blues e de tocar slide, daí o convidamos. Fechamos a nossa primeira banda de blues com o guitarrista Sérgio Bap e o Paulo Batera. Fizemos dois shows num bar dias 25 e 26 de dezembro de 85, sob o "criativo" nome de Banda Experiência. Depois Otavio foi para os Estados Unidos de bike e a gig se desfez. O Flávio como cantor e gaitista e eu continuamos na luta, já como Blues Etílicos. Éramos chapas do Rodolpho Rebuzzi, - guitarrista que depois seguiu como músico instrumental e de estúdio, que hoje faz trilhas sonoras para filmes e TV - e completamos a banda com um suíço de passagem pelo Brasil, o Bernard Christian, na bateria. A essa altura nosso repertório já incluía composições nossas. Gravamos uma demo com Safra 63, que fiz há 32 anos, mas cuja letra é assustadoramente atual. Tocou bastante na lendária rádio "Fluminense FM, A Maldita" e com isso começamos a ficar conhecidos no Rio. Eu diria que esse é nosso começo, como um quarteto esperando a volta do Otavio pra se tornar um quinteto. O ano seguinte foi decisivo para nos tornarmos o que somos hoje, com a volta do Otavio, a entrada do Greg e do Gil Eduardo, e a gravação do nosso primeiro álbum.

EM - Como chegaram ao nome?
CB - Em dezembro de 85, com duas noites já agendadas no falecido bar Viro da Ypiranga (Laranjeiras, RJ), precisávamos de um nome.  Flávio e eu queríamos algo com a palavra blues, até para deixar claro o estilo que queríamos tocar. Nessa, após um ensaio na casa do Otavio, fomos pro boteco. Aí um sugeriu Blues Lisérgico, outro Blues Psicodélico. Então veio o Paulo Batera, vê a garotada toda, (tínhamos 22/23), com copo de cerveja na mão e diz: "Por que não Blues Etílicos?" Pronto, era isso. Mas o Sérgio, que não bebia e cuja namorada era a "divulgadora" da gig, queria "Banda Experiência" e foi isso que saiu no tijolinho do jornal. Nome pouco criativo, porém mega adequado à confusão sonora que fizemos naquele Natal.

EM - Qual foi o primeiro grande show e o grande momento do Blues Etílicos? 
CB - O primeiro grande show foi uma abertura que fizemos pro Barão Vermelho, no Circo Voador, creio que no início de 88. Queríamos mostrar que éramos bons e, segundo quem estava lá, conseguimos. Aliás, nossa onda com o Barão é muito boa. Rola uma admiração mútua. Frejat e Guto compuseram Terceiro Whisky pra gente, Flávio já gravou com Frejat, Otavio tocou na Midnight Blues Band deles no Hollywood Rock, tenho uma gig paralela com Fernando Magalhães, outro dia compus uma música com Guto, enfim...
Tomara que o grande momento ainda esteja por vir, mas o Festival de Ribeirão foi emocionante, um curso intensivo de blues, além de nos lançar nacionalmente. Também teve uns shows memoráveis com Paulo Moura e Ed Motta, aberturas para gringos, shows com Sugar Blue e Larry McCray.

EM - Cláudio, você é o único que não tem carreira solo, gravando discos fora da banda. Por outro lado está sempre envolvido em algum projeto, Clube do Blues, Cozinha Etílica etc. Ou seja, fazendo o trabalho de pedreiro. Fale sobre isso.
CB - Na verdade tive várias gigs paralelas ao BE, mas não são blues, daí a turma blueseira não fica sabendo. Teve uma chamada Macabu, bem interessante. Foi num momento em que Flávio estava mega focado na paralela dele. Eu, Otavio, Pedro e Greg começamos então a gravar um álbum. No meio do projeto o Greg achou que o som estava muito estranho e saiu fora. Realmente tem algumas coisas bem loucas. Inclui participações do Seu Jorge em Sujeito Mané, dividindo vocais com Pedrão  (https://youtu.be/tZNJ1iEAsn4) e em H2O (https://youtu.be/0t9lvIn6DSA), que depois gravamos no Puro Malte. Tem uma suíte progressiva chamada Flauaualta Bongozando Jaca que você não vai acreditar (https://youtu.be/pwn0j2EKN5M). Outra foi Krakatao, gig instrumental com Beto Werther, Otavio e Waltinho Vilaça, depois com Dillo D'Araújo no lugar do Waltinho (https://youtu.be/RW50OGNsbSc). Também participei de álbuns de alguns amigos, inclusive Mauro Santa Cecília, letrista de várias do Barão e Frejat e parceiro de algumas do BE (https://youtu.be/7dJGKxGVTwQ). De uns 10 anos pra cá, tenho promovido jams semanais no Rio. Nessa levei som com todo mundo daqui, além de muitos blueseiros do Brasil afora. Chegamos a gravar um álbum comigo e Pedrão convidando vários amigos, mas está literalmente engavetado aqui em casa. A qualidade da captação não ficou das melhores, mas quem sabe um dia sai.
Tenho uma banda paralela com Fernando Magalhães (Barão), Gil Eduardo (ex-batera do BE) e Paulo Loureiro (voz), chamada "I Love Rock and Roll". O repertório conta a história do rock, de hoje até a origem em Robert Johnson. Tem ainda uma outra, "Freak Brothers", que é mais uma reunião eventual de amigos onde compomos uns troços bem legais, com bastante suingue. Também com Gil e Paulo, mas com Rodrigo Larese e Luis Keller nas guitarras. Outro trabalho paralelo ao BE que tive por um tempo foi o de advogado. Renderia um pocket book, mas basta dizer que parei com isso há vários anos e que incluiu aventuras em Sergipe, Minas, Argentina e Itália.

EM - Puro Malte é o trabalho mais recente, uma homenagem à boa cerveja. A cerveja de vocês ainda está sendo fabricada?
CB - Na real, o mais recente é um EP (2018) que ainda não saiu, já com o Beto na batera. Inclui uma parceria do Flávio com Pedro Luís em 3.000, cuja letra é a cara da loucura nacional e intercontinental que estamos vivendo (https://youtu.be/a2ng7UqKpVA). E o Canoeiros (2017) com Noel Andrade. Tem um ao vivo de 2016 comemorando os 30 anos. Não está entre os meus preferidos, embora tenha coisas bem legais
O "Puro Malte" (2014), tem maioria de autorais inéditas, é um ótimo trabalho. Quanto à nossa cerveja, "Hell Bier", era uma Lager lupulada bem bacana, com bastante Amarillo, feita pelo Mestre Severino, da Mistura Clássica. Capitaneei esse projeto, instigado pelo amigo Giovanni Calmon, distribuidor de cerveja aqui no RJ. Fomos uma das primeiras bandas brasileiras a surfar essa onda, foi sensacional. Aprendemos muito sobre cerveja, fizemos bons amigos. Mas foi uma aventura com início, meio e fim. Como você pode dizer melhor que eu, é um trabalho que toma muito tempo e energia, chegou o momento de parar. Mas no futuro, quem sabe?

EM - Após quase trinta anos, o que falta o Blues Etílicos fazer? Esse projeto é um exemplo de que vocês ainda estão buscando abrir mais horizontes na música.
CB - A obra do Tião Carreiro, por exemplo, abriu o tampão da nossa mente. É muito gratificante descobrir a riqueza de um som de raiz, que sempre esteve aqui ao lado, mas que nós só percebemos agora. Modéstia à parte, conseguimos aí fazer uma coisa nova, bem world music. Diga-se que Menino da Porteira é uma das histórias mais blues que já toquei na vida. Eu, Otavio e Beto ficamos com nó na garganta ao fim da versão que tocamos em Santos.

EM - Vocês foram os fundadores do blues no Brasil. Como vê a cena blueseira de hoje?
CB - Acho que a cena vai bem, com muita novidade bacana. Sou fã do Laranjeletric, banda de blues carioca formada por músicos negros, coisa paradoxalmente rara no blues BR. Também do Rio tem a ótima cantora Sonja. Adoro o Fred Sunwalk, de Ribeirão. Curti muito tocar com o Bruno Marques, guitarrista mineiro de blues da melhor qualidade. O Cristiano Crochemore, gaúcho radicado no Rio, toca um blues rock de primeira. O Oly, de Porto Alegre, faz uma mistura de blues e milonga muito bacana. O Dillo D'Araújo, de Brasília, toca blues pra caramba, mas foca num trabalho fora do segmento. Tem ainda os ótimos Eric Asmar de Salvador e Artur Menezes de Fortaleza. Isso pra não falar da turma mais antiga. E com certeza estou esquecendo vários nomes recentes, é muita gente boa tocando blues.

EM – No Puro Malte tem duas músicas que me chamaram a atenção. Cotidiano 2, do Toquinho e Vinícius, que retrata um momento do Rio quando a vida era mais relax. E Na Hora de Atravessar que retrata o momento atual, quando a pessoa tem de ficar mais alerta. Gostaria que falasse sobre isso.
CB - Bem, pra começo de conversa, o "nº2" do "Cotidiano" é código para "merda". Vem daquele papo "vou ao banheiro fazer nº2". A letra trata de um tipo de vida que para muitos, inclusive os autores e eu, é insuportável. É uma "calma" muito cara. Já em "Na Hora de Atravessar", a letra fala sobre a vida insegura numa megalópole moderna, num país onde respeitar leis, inclusive as de trânsito, é coisa de otário. Hoje, a falta de atenção à educação nas quatro décadas que separam as duas musicas resultou em milhões de pessoas sem estudo ou qualificação profissional. Pra complicar, a política de guerra às drogas não funcionou, até piorou as coisas. Como droga ilegal só perde para armas e petróleo em termos de lucro, isso levou a um crescimento exponencial das quadrilhas de varejistas, das milícias, da violência urbana e da corrupção entre policiais, políticos e militares. Afinal, não se fabricam drogas, fuzis, granadas e metralhadora .50 em favelas, né? A parada tem que passar por um caminho longo até chegar lá...
Atualmente o interventor no RJ está tentando atacar uma raiz do problema, a corrupção na cúpula das polícias, o que está causando uma reação ainda mais violenta, do tipo: "olha com quem cê tá mexendo, rapá..." Em princípio sou contra intervenção, mas parece que o cara está falando sério.
Quanto à tal da vida mais relax no Rio e no BR de outrora, é discutível. É verdade que éramos "90 milhões em ação", menos da metade da população atual, e havia muito menos violência nas ruas. Só que a "vida melhor de antigamente" era boa pra quem? "Cotidiano nº 2" é de 1972. Pouco antes, minha mãe, quando casada, precisou pedir permissão por escrito a meu pai para trabalhar, era lei. Ele pulava mais cerca que cabrito maluco, mas quando minha mãe se encheu e resolveu se separar em 1970, passou a ser discriminada como "desquitada", palavra quase tão pejorativa quanto "vagabunda". Não existia divórcio! Em 74 eu estudava em colégio católico, onde pegava mal ser filho de pais separados.
Aliás, quase não havia negros nos colégios particulares tradicionais do Rio durante os 70. Sem exagero, a porcentagem era menor que 1%. E, quando iam visitar os colegas brancos, o porteiro os mandava subir pelo elevador de serviço! Em 1980, na Engenharia UFRJ, a proporção talvez chegasse a um negro para cada 30 ou 40 "brancos". Ser mulher ou negro era pedreira, mas ser gay nos anos 70 significava ser cidadão de terceira categoria. Faltava armário pra esconder a turma. Do general mais conservador aos cartunistas d'O Pasquim, todo mundo esculachava gay. Não só aqui. Na Inglaterra, URSS, EUA e Cuba também. Até o início dos 80, ser músico no Brasil equivalia a ser vagabundo, drogado e "subversivo em potencial", enfim, cidadão de segunda classe. Meu pai e minha mãe quase tiveram um troço quando larguei engenharia pra ser músico. Inclusive o leque de profissões liberais respeitáveis se resumia a engenharia, medicina e direito. Pra completar, "Cotidiano nº2" foi gravada na fase mais barra pesada do regime militar (68/74), quando expressar opiniões como essas aqui podia até dar cadeia. E ainda tinha censura, que só acabou no fim dos anos 80. Chegamos a submeter letras do Blues Etílicos à aprovação da censura! Veja só que loucura... Lembrando agora, a coisa era muito medieval. Não gostaria de voltar àquela época, prefiro me adaptar e tentar melhorar um pouco a minha.

EM – Tá certo. Qual é o próximo projeto do Blues Etílicos?
CB - Além de aperfeiçoar o Canoeiros, estamos envolvidos com o lançamento do novo EP 3.000, já com Beto Werther na bateria. Tem algo novo surgindo no horizonte, mas é melhor deixar amadurecer um pouco antes de dar como certo. Afinal, "o homem que diz vou, não vai..."


Entrevista com Otavio Rocha e Beto Werther (Blues Groovers)

EM - Como surgiu a ideia de fazer os Blues Groovers que ainda tem o Ugo Perrota?
OR – Eu, Beto e Ugo sentimos que havia espaço pra uma banda com um senso ritmo forte. A gente achava que faltava no blues uma enfase no ritmo, fica tudo muito em cima de solos, daí o nome, Blues Groovers. E a gente sempre associa a música negra com uma cozinha forte, no funk, soul, samba. E no blues não, é sempre o solista. E a ideia é oferecer aos artistas interessados uma cozinha sólida que desse uma boa base.

EM – E o pessoal do Rio já conta com vocês, nao é isso? Eu tenho várias gravações com vocês fazendo o suporte. 
OR – Em 2007 o Charlie Musselwhite veio ao Brasil e o Flávio Guimarães montou uma banda para acompanhá-lo que era eu o Ugo e o André Tandeta, um super batera. A partir daí surgiu a ideia. E com a saída dele veio o Beto. 
OR – Surgiu o selo Delira Música que tinha vários artistas, o disco da Rodica (Weitzman), o ao vivo do Flávio que, quando ouvimos, achamos a qualidade muito boa e lançamos.
Beto Werther – E o surgimento do Delira foi perfeito. Um trio para acompanhar artistas aqui do Brasil e de fora. Daí veio o Alamo (Leal), o Maurício (Sahady), o (Cristiano) Crochemore.  

EM – E ainda está na ativa?
OR – Sim, o Ugo Perrota saiu e entrou o baixista Cesar Lago, uma amigo nosso lá do Rio, de uma banda antiga chamada Beale Street. Hoje tocamos com o Cristiano Crochemore e Alamo Leal.

EM – Voltando um pouco no tempo, gostaria que falasse sobre o Big Allanbik. Quando formaram já tinha a influência do Blues Etílicos?
BW – Com Certeza. O Big Allanbik surgiu de uma banda chamado Gato Negro lá de Niterói, que era o Ugo Perrota, o Vitor Gaspar e a Eulina. Não lembro quem era o batera. E eu e o Big Gilson tínhamos uma banda chamada Emoções Baratas. O Renato Arias, que havia sido empresário do Blues Etílicos, assistiu a um show nosso no Circo Voador e resolveu empresariar a banda. Só que ele queria uma mega banda e juntou as duas. Um ou outro acabou saindo, entrou o meu irmão no lugar da Eulina... é meio confuso, mas foi assim que surgiu o Big Allanbik. Foi tudo muito rápido, o Renato já tinha todos os contatos. Fomos fazer um show em uma casa em Santo André que não lembro mais o nome...
OR – Jazz and Blues. 
BW – Isso. O cara da gravadora viu o nosso show e resolveu gravar. Na época tinha selos, rádio e lugar pra tocar. Pegamos uma época que o Blues Etílicos pegou bem mais. A gente ainda conseguiu subir aquela escada e seguir junto com eles. 

EM – Como o blues apareceu na tua vida e do teu irmão, Ricardo Werther?
BW – Quando o Big Allanbik apareceu ele nem cantava. Tinha vontade. A gente chamou ele porque era mais fácil. O Ugo era contra. Eu comecei bem antes. Mas ele sempre cantava. Sempre foi afinado. Imitava o Frank Sinatra. Tinha esse dom, era meio fanfarrão, a alegria da festa. Quando viu que a gente estava montando uma banda, imagina?

EM – Depois ele gravou um disco solo excelente, o Turning Point.
BW – Isso foi bem depois, o Big Allanbik já havia acabado. Na época o Blues Groovers, o Marco Tommaso no piano e o Pedro Strasser na batera também, tinha dois bateristas. Quando o Big Allanbik acabou ele ficou afastado da música por seis anos, casou e foi para Teresópolis. Quando voltou a gente já estava com o Blues Groovers. 
OR – O Ricardo tinhas as duas influências, do jazz e blues rock. Eu, o Ugo e o Beto, dávamos o chão do rock. O Pedrão, que é um baterista de jazz, e o Marco que é um pianista de jazz também. Quando juntou as duas vertentes saiu aquele disco do Ricardo. Você vê que ali tem coisas de jazz. Essa era a visão do Ricardo. 
BW – Foi o trabalho de quase um ano. Lançamos o disco em 2010, fizemos alguns shows em festivais, mas aí não deu mais tempo. (Ricardo Werther morreu em 18 de fevereiro de 2013). 

EM – Otávio, você é um ás da slide, que é uma técnica dos primórdios do Blues. E faz isso como poucos. Como transportou essa técnica para os anos 80 e faz até hoje. Como é o estudo por trás disso?
OR – Por uma razão estranha, pra mim sempre foi uma coisa muito natural. Desde criança ouvia o Johnny Winter e o Rory Gallagher e pensava que se conseguisse tocar aquilo seria o cara mais foda do mundo. Depois que aprendi a afinação aberta em um livro perdido em 1982 ou 1983, não existia internet, informação era coisa rara, já sai tocando. Ainda sou aquele garoto tocando igual. Claro, a gente desenvolve. 
BW – O Otávio sempre teve isso de tirar o som da guitarra, do amplificador, às vezes um pedal, mas pouca coisa. Tirando o máximo do mínimo. 

EM – Então continuamos em 1982. Como tiveram a ideia de montar uma banda de blues na efervescência do rock nacional?
OR – Nos juntamos pela primeira vez em 1985. Foi uma coisa de paixão mesmo. Ninguém queria tocar isso. Eu tocava no banheiro. Quando conheci o Flávio e o Bedran percebi que havia pessoas que também gostavam. E era legal me sentir um desbravador. A gente fazia shows com o André Christovam e conversava com ele sobre isso, sobre a sensação de estar chegando na cena, desbravando, uma coisa maravilhosa. De aprender fazendo. 
BW – Com o Big Allanbik foi o contrário. Ele foi montado. O Emoções Baratas que tocava músicas dos Stones, autorais também, e o Vitor Gaspar, o Ugo Perrota e a Eulina eram mais do blues. Eu vim do rock, nunca tinha ouvido blues.  Conheci o blues pelo contato com o Blues Etílicos, o Otávio. Ouvia muito rock inglês.

EM – O Brasileiro é diferente até nisso. No Mundo inteiro o rock nasceu do blues. Aqui o blues nasceu do rock. Todo mundo que tocava rock passou a tocar blues.
OR – O Big Allanbik era uma banda de “blues progressivo”, com super arranjos. 
BW – A gente era psicopata de ensaios.

EM – E agora Beto você está tocando com os caras que eram os teus ídolos. Qual é a sensação?
BW – Foi o que falei no início, assistia esses caras quando  ainda tocava de brincadeira. Tocar com eles é uma vitória pra mim. É muita coisa, não é uma banda qualquer.

EM – Uma banda que tem 30 anos passou por muitos planos econômicos e muitos percalços da música brasileira. 
OR – É uma banda que tem blues no nome, no DNA, e de repente está fazendo um show desse com o Noel Andrade. A gente sempre foi muito aberto. Sempre cantamos em português, nossas composições. É difícil. As pessoas pararam de compor. Tocam sempre as mesmas músicas. Pra mim compor sempre foi fundamental nessa profissão. Desde o primeiro disco, além de músicas próprias, tem vários tipos de roupagem que você pode dar ao blues. Hoje você tem acesso a todos os originais do blues, mas ao mesmo tempo vai muito direto naquilo. E o risco de virar um cópia é enorme. O que a gente levou 20 anos pra aprender a galera aprende em seis meses hoje. 

EM – É só ligar o computador.





terça-feira, 22 de maio de 2018

MILES DAY celebra a arte e a vida do gênio que revolucionou a música mundial


Como já aconteceu com muitos artistas norte-americanos ao longo dos anos, a ponto de virar uma tradição, Miles Davis foi convidado à Casa Branca para uma apresentação ao presidente dos Estados Unidos.  Reza a lenda que a certa altura, antes da apresentação, uma senhora branca e bem vestida indagou a Davis qual o motivo dele estar ali entre os bem nascidos. Com o fogo nos olhos Miles respondeu: “Eu só estou aqui porque revolucionei a música umas cinco vezes”.
Miles Davis, o gênio abusado tinha o coração inquieto e pulsante como a batida do Be Bop que ajudou a consolidar. Foi o ìcone criador do cool jazz, do jazz modal, do fusion e do free jazz e  todos os músicos devem um pouco a ele.
Miles Day é a celebração da vida e música desse artista, com as seletas do DJ Lufer e Genoma e exibição do filme Miles Ahead.
As atrações serão gratuitas, com o objetivo de instruir e formar público para a boa música.
A data escolhida é 26 de maio, dia do nascimento de Miles Dewey Davis III, em East St Louis, Estados Unidos.
E o local é o espaço de resistência cultural de Santos, saido de um filme surrealista, o Buraco's.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Duca Belintani ensina as rotas do blues


Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: J.A. Valim

Assim como o Mauro Hector e Marcos Ottaviano, Duca Belintani passa muitas horas do seu dia trancado em uma sala, conduzindo seus alunos pelas perigosas curvas e encruzilhadas da estrada do blues. 
Instrutor habilidoso, esse paulistano da gema assumiu a missão desde quando decidiu transformar a música em ofício nos anos 80. 
Ainda bem que existem esses caras. Apaixonados pelo blues e... teimosos. Caras que ensinam os truques adquiridos ao longo de décadas de trabalho e estudo, e que gravam discos independentes, merecem o nosso respeito porque colocam a sua arte sempre no primeiro plano. Caso não fosse, não existiriam discos de blues no mercado brasileiro.
Uma de minhas teorias, e eu tenho muitas, é que muitos músicos brasileiros consideram o blues a sua base, mas também  seu laboratório. Duca, Mauro e Ottaviano atestam. Casaram com o blues, mas, infiéis, flertam com o fusion sempre que podem. 
A discografia do Duca tem de tudo: Conduzir, de 2006, que apesar de parecer nome de disco de crente, traz a música homonima em destaque, um climão que se tranforma em batucada, do nada. Os CD Cuíca (2009) e Na Trilha do Blues (2011), aceleram na mesma estrada instumental, mas com muitas  brasilidades. 
Rota 145 (2015) e How Long (2017) consolidam o Duca Belintani como um dos blueseiros mais prolíficos do Brasil. Ambos contam com temas autorais e tradicionais do blues, além de letras cantadas em português e inglês. 
How Long foi gravado parte ém São Paulo e parte na Califórnia, onde Duca vai estagiar de vez em quando. As viagens musicais nascem das viagens verdadeiras, é certo.
E o bom é que tudo isso está disponível lá na Vila Mariana, na sala de aula do Duca. E há quem se habilite a aprender de onde vem o blues e como ele é. Em todas as suas formas.


Eugênio Martins Jr – Como foi o teu início na música?
Duca Belintani – Comecei estudando violão erudito aos doze anos. Aos quinze ouvi Rolling Stones e Jimi Hendrix e quis tocar guitarra. Acabei descobrindo o Eric Clapton e o Blues. Cerca de 1975.

EM – Como foi a transição?
DB – Aos dezoito anos montei a minha primeira banda, mas o  que “virava” no Brasil era banda de rock. O André (Christovam) tocava com a Rita Lee. O Celso (Blues Boy) havia tocado com o Raul, o Sá e Guarabyra. Então a galera que tocava blues tinha que ir para o rock para poder trabalhar. Meu primeiro trabalho lançado foi em uma banda de pop rock em 1983 aqui em São Paulo, o Controle Remoto.

EM – Confesso que não lembro dessa banda.
DB – Gravamos um compacto e um LP. Discograficamente falando, durou uns três anos. Na sequência fui tocar com o Kid Vinil. Já tentava inserir o blues no que eu fazia. Uma das faixas do primeiro compacto do Controle era um blues, chamado Motel Paraíso. 

EM – Muitas blues brasileiros dessa época tinha um motel, né? (risos).
DB – Sim, influência do Tutti Frutti que compunha muito nessa onda. Sempre fui fã do (Luiz) Carlini, um dos brasileiros que me influenciaram. O blues fazia parte do meu jeito de tocar. Com o Kid Vinil foi a mesma coisa. O André (Christovam) Já havia tocado com ele. 

EM – Que ano você começou a trabalhar com o Kid?
DB – Final dos anos 80. Fiquei seis anos e gravei só um disco. Mais voltado ao rock pesado e independente, o XU-PA-KI. Foi na época que o Titãs lançou o Titanomaquia, com Jack Endino, o Nirvana, porrada. Era o que o mercado tinha a oferecer. Tem de tocar de tudo, já tinha tocado sertanejo, forró, samba rock. Tinha que trabalhar, queria viver disso e não podia escolher. Quando parei de tocar com o Kid pensei que naquele momento poderia começar a fazer as minhas coisas. Já estava ouvindo Robert Cray e Robben Ford  e comecei fazer as misturas.


EM – E o blues, apareceu depois do Verminose?
DB – O blues estava sempre junto e eu nunca havia colocado um disco de blues na rua. Sempre estava a serviço de outras coisas. Meu primeiro disco solo é de 1999. Quando lancei o  O MPBlues era uma mistura de MPB com blues. Foi o que me colocou no mercado como artista solo. Aqui em São Paulo tocava o dia inteiro no rádio. 

EM – E o Cuíca?
DB – Foi tudo uma transição. O MPBlues é um disco que eu canto, um disco de MPB com influência de blues. Quando fui fazer o novo disco estava na piração do Robben Ford. Queria tocar guitarra, não queria mais cantar. E no Cuíca também fazia as misturebas. Já estava pensando no mercado da música instrumental. Foi chamado de blues fusion. Em Na Trilha do Blues comecei a pensar fazer mais blues. 

EM – Você começou cantando e depois ficou um tempão fazendo música instrumental.
DB – Não sou cantor, meu barato era tocar guitarra. Mas quando o negócio chegou perto do blues as pessoas começaram a cobrar. O Cuíca e o Conduzir são discos muito loucos, com muita informação. É para quem curtia música instrumental. Daí os shows começaram a ter essa mistura, instrumental e blues, mas hoje é mais blues mesmo. 

EM – Você escreveu livros didáticos para guitarra. Conta essa história.
DB – São quatro livros chamados Na Trilha do Blues. Um projeto antes do meu disco solo, juntando o material didático que dava aos meus alunos. Um roteiro de estudo. No Brasil não existia nenhum método de aprendizado só voltado ao blues. Levei o projeto para uma editora e eles me falaram que trabalhavam com banca de jornais e vendiam muito fascículo. Me pediram para dividir porque queriam colocar nas bancas por dez reais. Pensei, “pô dez reais vai chegar no Brasil inteiro”. A tiragem era dez mil livros de cada exemplar. Cara, chegou na Argentina, Paraguai. Hoje as pessoas me falam que começaram a tocar blues por causa dessa revista. Era a única coisa que tinha. Explodiu.

EM – Que ano foi isso?
DB – Foi em 1998. Em um ano e meio sairam os quatro volumes. Deu muito certo. Foi uma coisa que me projetou no mercado de aula,  de publicação. A HMP, que editava a revista Cover Guitarra, me chamou pra fazer mais coisas sobre violão, guitarra, etc.

EM – Semana passada entrevistei o Marcos Ottaviano lá na sala onde ele dá aula. O Mauro Hector lá de Santos dá aula das dez da manhã às dez da noite. E agora você também está me falando isso. Vocês vivem mais de aula do que de show?
DB – Muito mais. A aula é que segura a onda. Comecei hoje às oito da manhã. De segunda a sábado. Quando tem show eu remanejo os horários.


EM – E isso possibilitou a convivência para depois escrever o livro sobre o Kid Vinil.
DB – Queria fazer uma homenagem a ele. Na verdade, viramos grandes amigos desde que o conheci e pensava por quê a história dele nunca havia sido contada. E ele super na dele, nunca havia pensado nisso. Um dia marquei um café e disse que queria escrever essa história e perguntei se ele autorizava. Ele me perguntou se estava brincando, mas gostou. Chamei um amigo jornalista para organizar tudo, roteiro jornalístico e investigativo e eu ia puxando a história do Kid. Como era uma biografia autorizada algumas coisas ele deixou ir pra frente e outras não. Foi um presente que consegui dar pra ele. 

EM – E você conseguiu lançar o trabalho um pouco antes de ele morrer?
DB – Um ano antes. Mas a intenção era dar um presente pra ele mesmo. Você sabe, a gente não ganha dinheiro com livros no Brasil...

EM – Sei. É uma teimosia nossa.
DB – Foi a vontade de deixar a história, o quanto mais a gente puder fazer será melhor para os que virão. O ganhar dinheiro faz parte porque a gente precisa pagar as contas. A gente grava disco e não ganha dinheiro com isso. Então eu queria que ele curtisse em vida a história dele sendo contada. Ele estava sem trabalhar em rádio, sem aparecer na TV e na época isso voltou a acontecer. Deu uma revigorada na carreira dele e era isso que eu queria.

EM - Você passou uma temporada em Chicago? Como você faz? Já vai agendado ou vai com a guitarra debaixo do braço atrás das gigs?
DB – Eu vou uma vez por ano, há uns seis anos e já fiz de tudo. Na primeira vez fui para conhecer quem é quem, o circuito de blues. Não só Chicago, Indianápolis também. Na segunda vez já fui com a guitarra, chegava lá e fica esperando e às três da manhã eles começavam a chamar todo mundo pra tocar. E você começa se enturmar com os músicos.

EM – Tem muito brasileiro?
DB – Tem brasileiro, mas gosto de ir aos lugares onde não tem brasileiro. Principalmente em Los Angeles. Em Chicago tem uma história engraçada. Eu armei a gig antes de sair daqui e quando cheguei fui muito bem recebido pela casa, pela banda. E eles disseram que eu ia tocar na segunda entrada. Tocaram a primeira e o responsável pela banda me chamou pra subir ao palco. O pessoal das mesas continuou comendo e bebendo sem dar a menor importância. Daí ele disse que ia chamar um guitarrista do Brasil. Nesse momento um silêncio tomou conta da casa, todo mundo parou de comer e beber e olhou pro palco. Eu pensei: “Fudeu!”. Fiquei procurando um segundo amplificador e o guitarrista disse que só tinha um mesmo e saiu do palco, tipo, “se vira aí”. A músicia começou a rolar e no final eu já ia desplugando a guitarra, mas o baixista disse pra eu ficar. Na segunda música percebi que o bar voltou ao normal. Bom, não incomodei os caras. Nessa eu percebi que eles ficam surpresos quando aparece alguém de outro lugar, mas aí: “ahh, mandou? Ok, mandou. Então deixa tocar” (risos). Ou seja, você tem de ir na onda dos caras. Não pode chegar lá e querer encangalhar. Não adianta querer inventar a roda deles. 

EM – Agora você já tem esquema armado chegando lá?
DB – Não, nem sempre. Depende de data, de um monte de coisas. Mas já conheço um pessoal. Uma das faixas do meu disco gravei lá. Me falaram que havia um estúdio legal onde costumavam gravar. Não é uma intenção ter carreira internacional, mas é legal conhecer como eles trabalham.

EM – Qual o cuidado que tem quando faz tua leitura de um clássico, como fez em How Long, por exemplo?
DB – Não é nem um cuidado. É um respeito pela música do cara. E entender que o que ele faz é te oferecer uma informação. Na minha visão esses caras das antigas te oferecem o blues. Pega Sweet Home Chicago e perceba quantos mudaram a letra. Cada um coloca a sua história dentro daquela música. O cara deu o gancho. Ele contou pra você e agora você conta a sua. Gosto de fazer isso sem deixar de lado a história que ele me deu. Isso eu faço com os meus alunos. Não tem essa de esconder o jogo, porque aquilo veio  pra mim de alguma maneira e tenho que devolver. Poxa, o John Lee Hooker fazia uma parte da letra a cada noite que tocava. Ele fazia uma parte, aí brigava com a mulher e no outro dia fazia outra parte. Aquilo não tem fim. Penso o blues como uma roda girando o tempo todo. 


EM – Ontem a Anitta lançou o vídeoclipe da música nova Vai Malandra que está gerando muita polêmica. Pra mim esse clipe é a cara do Brasil atual, tem favela, tem bunda, mas tem ritmo. Não acho ofensivo, nada que a Gretchen, Rita Cadillac e Carla Perez já não tenham mostrado. Na época que o blues nasceu, no começo do século passado, isso não se chamava mimimi, se chamava segregação. Gostaria você falasse sobre isso. Você deu azar porque o lançamento do clipe foi ontem (risos).
DB – Não vi o clipe. Vi o Lulu Santos dizendo alguma coisa. Depois desdisse. Também não me incomodo com nada disso. Acho que tem público pra tudo. Se você não gosta de uma camisa, não compre. Se não gosta da Rede Globo, não assista. Se não gosta da Anitta, não compre o disco dela. Hoje você abre o computador e o mundo inteiro está lá. Fico triste pro não ter mais diversidade. Por exemplo, se eu quiser assistir hoje um show de bossa nova não vou conseguir. Num país como o Brasil?! Eu não poder ver um show de bossa nova na minha terra! Já aconteceu de um amigo que veio de fora querer ir a  um show de bossa nova e eu não poder levá-lo por não ter na cidade. Na Argentina tem show de tango todos os dias. O funk é uma coisa que o carioca gosta, bunda a praia está cheia. Não deveria ser agressivo. Há movimentos que defendem o uso do shortinho sem que a mulher tenha que passar por qualquer constrangimento. O que elas querem dizer é que têm esse direito. Usam o que quiser e pronto. O preconceito é que é ruim. 

EM – Mudando um pouco a rota da coversa, me explica o que é essa Rota 145.
DB – É uma brincadeira e uma coincidência. Eu tinha uma música instrumental que precisava dar o nome. Conversando com o Tim, que faz as artes dos CDs, cheguei a conclusão que seria legal falar sobre o formato musical do blues, os 1º, 4º, e 5º graus. Só que estava indo para Los Angeles e pensei em procurar essa rota pra ver se existia mesmo. E tem, mas são rotas regionais, todas pequenas e em todos os estados tem. E na Califórnia é cercada de plantações de algodão.

EM – Alguns dos artistas contemporâneos de New Orleans gravaram e gravam discos muito influenciados pelos acontecimentos da cidade. Por exemplo, Trombone Shorty gravou uma música chamada Hurricane Season, Leroy Jones gravou Sweeter Than a Summer Breeze, ambas sobre o furacão Katrina que devastou a cidade. Como São Paulo influencia a tua música?
DB – Gravo muito com guitarra elétrica. Se morasse no interior talvez tivesse mais coisas com violão, que aprendi a tocar e gosto muito. Mas não sinto que isso esteja no meu DNA pra fazer blues. O Little Will faz coisas muito bacanas com violão e gaita. Pra ele tem todo sentido. O que a cidade me dá, essa paranóia, a correria do dia a dia. Meu blues reflete isso. Ainda não me influenciou nas letras, mas no jeito de tocar, o amplificador com drive. Acho que isso vem da cidade.




domingo, 20 de maio de 2018

O professor Marcos Ottaviano fala sobre blues e Blue Jeans


Texto: Eugênio Martins Jr
Foto: Internet

O professor Marcos Ottaviano é um dos guitarristas com a maior moral no universo brasileiro do blues. Não existem muitos caras que vivem de tocar guitarra por aí que já foram elogiados por BB King e Ron Wood.  
Da segunda geração de músicos dedicados ao bom e velho som do Mississippi, pós André Christovam e Blues Etílicos, integrou a lendária banda Blue Jeans a partir do começo dos anos 90, onde fez história ao lado de Junior Morenno e Andrei Ivanovic.
Come Back Home, álbum da banda de 2007, é um dos melhores discos de blues gravados no Brasil. Produção caprichada e repertório impecável que mistura blues e soul music em composições próprias.
Conheci-os quando produzi um show do Magic Slim no Sesc Santos, em 2007, na Virada Cultural. O time contou ainda com o tecladista Adriano Grineberg. Blue Jeans no auge. Com Come Back Home na mão e o recém lançado DVD São Paulo Sessions, com Magic Slim, a lenda de Chicago. Dois momentos memoráveis do blues nacional.   
Vamos falar de shuffle. E a porrada São Paulo Sessions é cheio deles. Gravado ao vivo, sem repetição de takes, o filme confirma ao que veio o blues de Chicago: uma tonelada de guitarra, no caso, Slim e Ottaviano + letras sacanas.
Após essa fase a banda se desfez por divergências entre os integrantes e Ottaviano continuou seu trecho.
Em 2010, lançou o álbum Marcos Ottaviano e Kiko Moura Project, mistura de blues com fusion que rendeu elogios da geral. Na mesma linha, em 2013 saiu Blood, Sweet & Electric, coletânea instruemental de gravações realizadas entre 1995 e 2010. Em comemoração aos seus 20 anos de carreira, em 2010, lançou o livro Guitarra Blues, do Tradicional ao Moderno, fruto de anos de estudos e estrada. 
Depois do bate papo, na sua sala de aula em uma das travessas da Teodoro Sampaio, aproveitei pra dar um rolê nas lojas de instrumentos perguntando aos vendedores mil coisas sem comprar nada. Não toco porra nenhuma. Só o terror.


Eugênio Martins Jr – Como foi o teu começo na música?
Marcos Otaviano – Aos treze anos me interessei por guitarra após ouvir o Mark Knopfler naquela versão extendida de Sultans of Swing, no programa Som Pop da TV Cultura. Comecei estudando sozinho e tirando os sons do vinil e fitas K7. Após alguns anos comprei o disco Another Ticket, do Eric Clapton, com I Can’t Stand It, a baladona Another Ticket e aquela música do Muddy Waters, Blow Wind Blow. Ouvi essa última e fiquei pensando que som era aquele. Um blues tradicional, 1, 4, 5, três acordes. Comecei o trabalho de pesquisa, olhar os créditos, a gente fazia isso naquela época. Aí vi lá, Mckinley Morganfield. Quem é esse cara? Pô, Muddy Waters! E tinha o Clapton tocando blues. Até então era aquela coisa do rádio, Cocaine e I Shot The Sherif. Depois caí no primeiro disco do John Mayall and the Bluesbreakers, que também era com o Eric Clapton. Também tentando tirar as músicas de ouvido.  

EM – Então o blues apareceu na tua vida de cara?
MO – Sim, foi uma sequência. Comprava um vinil e ficava muito tempo ouvindo o mesmo. Não tinha grana pra comprar outro. Ouvi muito BB King, Clapton e em seguida Duane Allman.

EM – Que guitarra você tinha nessa época?
MO – Uma Gianini Sonic, depois pulei pra uma Stratosonic que tenho até hoje. Depois comecei a ter aulas com o Wesley, o Cesar, no primeiro IG&T, onde passei rapidamente entre 86 e 87. Lá um amigo me indicou o Kiko Moura com quem fui estudar. Fiquei um ano com ele, mas era mais jazz e fusion e eu estava focado no blues. Continuei estudando sozinho. Mas o Kiko me deu uma fita de vídeo com um show do John Mayall e os Bluesbrakers nos anos 80, com o Mick Taylor na guitarra e Albert King, Buddy Guy, Sippie Wallace e Etta James como convidados. Foi quando vi todos pela primeira vez em vídeo. Pra você ver como era difícil. 

EM – Eu sei. Estive nos anos 80.
MO – Pois é. Ficava vendo o Mick Taylor na slide e tentando fazer aquilo, até hoje passo o solo do Mick Taylor nas minhas aulas.

EM – Quando começou a tocar profissionalmente?
MO – Comecei direto, em 1990, na Companhia Paulista de Blues. Era o Marcelo Porto (voz), Jorge Lucena (bateria), que recentemente tocou e produziu a Malu Magalhães, Renato Gonçalves (baixo), depois o Cleber Alves, que iria tocar no Blues Jeans e o Guto Machado (guitarra). Formação com duas guitarras. Nessa época o blues em São Paulo bombava. Estava acontecendo muita coisa, shows para todos os lados. Dá saudade, porque era uma música nova. O festival de 1989 estava fresco ainda. O Marcelo ainda tem um VHS do show de 1990 no Ibirapuera, com a participação do Ed Motta, Blues Jeans e Kinsey Report, Magic Slim, Koko Taylor. Foi fantástico. 

EM – Mas vocês não chegaram a gravar?
MO – A Companhia não. Mas em trinta anos de carreira foi o único momento que senti um movimento. Os jornais dando destaque. Chamando a gente de “blues boys”, ou “a moda do verão”. (risos). Em 1991 foi publicada uma matéria de capa, na Ilustrada, da Folha de S. Paulo, com a foto do Blue Jeans. Eu ainda não tocava nessa época, entrei em 93. Havia meia dúzia de bandas em São Paulo. Tentando tocar blues, né? (risos).     

EM – Você tocou com o Celso Blues Boy em 1992, como foi essa experiência?
MO – A Companhia serviu de base para a banda do Celso. Era a banda dele em São Paulo. Eu e o Marcelo estávamos em um evento no Blue Note e o Celso foi pra lá depois de tocar em algum lugar aqui em São Paulo. Como ia rolar uma jam o Marcelo teve a ideia de chamar o Celso pra tocar. Ele estava tomando uma cerveja, pra variar, né? Ele mandou a gente fazer um som que qualquer coisa ele ia. (risos). Aí eu puxei aquele solo de slide do Mick Taylor que já havia tirado mil vezes em em seguida Sky is Crying. Nesse momento vi ele levantando e vindo na nossa direção, no meio da galera. O Marcelo gritou no microfone, CELSO BLUES BOY! Ele subiu lá e tocou umas quatro músicas. A casa pegou fogo, era uma puta noite quente de verão. Logo que a gente saiu do palco ele perguntou se a gente queria ser a banda dele em São Paulo. Ficou de mandar as músicas dele, mas eu já conhecia, sempre gostei do Celso e tinha os discos dele. Fizemos alguns shows aqui, eu, o Cléber e o Jorge Lucena. Foi demais. Eu cantava nos ensaios e ele nos shows. Tocamos no Sanja, Teatro Mars e viajávamos pelo interior. Depois que a banda parou, mas eu ainda toquei com o Celso no Rio, Circo Voador e outros. Era incrível como as pessoas gostavam dele no Rio. Era muito conhecido.


EM – O Circo Voador era a casa dele.
MO – Sempre conto pra todo mundo como foi inesquecível. Comecei em 1990 e em 92 já estava tocando com o Celso. Foi uma baita sorte estar no lugar certo. E também um choque, porque com dois anos de carreira, não tinha a experiência em tocar para duas mil pessoas no Circo Voador, aquele negócio lotava. E ainda ver e ouvir o Celso tocar alto, com o amplificador Fender, aquele som que vinha mesmo, né? (risos). Ele tinha uma puta presença.

EM – E o Blue Jeans?
MO – Foi na sequência. O Blue Jeans foi fundado em 1986 pelo Alan Marcus (guitarra e vocal), o Junior entrou depois. Eu estava aprendendo guitarra e via o Blue Jeans no programa do Kid Vinil, o Boca Livre, ainda tenho isso gravado. Depois o Alan me contou que encontrou o Junior e o Andrei no interior, eles eram da banda Vultus, ou Banda da Esquina. O Junior entrou em 1990 quando o Blue Jeans ficou realmente conhecido. Já era uma puta pedreira, em formato power trio, com o Junior na bateria, vindo a cantar depois. Cantava pouco ainda. O frontman era o Alan. Então, o que aconteceu? Fazíamos jams, a Companhia e o Blue Jeans, no Aeroanta, num bar que tinha na Pompéia, e rolaram as afinidades. O Alan já era descolado, cantava mais, tinha inglês fluente, é filho de irlandês, tinha um bom equipamento e uma pegada mais Johnny Winter. Ele se dava muito bem com o pessoal do Blues Etílicos nessa época, faziam shows juntos. Então, pra mim foi um salto porque o Blues Jeans já era uma banda conhecida e respeitada. Era o Toninho Fonseca (baixo), Junior Moreno (bateria) e quando o Alan foi para os Estados Unidos me indicou.

EM – Então quando o Alan saiu você entrou? E o Junior começou a cantar?
MO – O Junior queria colocar um vocal, mas ele cantava bem e eu o convenci a cantar. No fim acabou tocando gaita também, ele é multinstrumentista. Acabou virando o melhor baterista e vocalista do Brasil. Passaram-se dois anos e lançamos o primeiro disco, gravado no Estúdio Camerati, onde também gravou o Blues Etílicos. Foi lançado em 1996, no festival Nescafé & Blues, no Palace, que também não existe mais. Depois de passar pelo lançamento, fizemos o programa do Jô Soares e eu resolvi sair da banda. Brigas internas, aquelas coisas. Fui fazer carreira solo, gravar um disco, o November 12 Sessions, e voltei para a banda em 2000. Me arrisquei nos vocais, mas depois nunca mais cantei. Mas foi bem aceito, acho que a maior matéria que fizeram comigo na imprensa depois da capa da Guitar Player. Bendita hora que voltei ao Blue Jeans, fizemos até 2010 tudo o que poderíamos fazer, rodamos o Brasil. Inclusive gravamos o Come Back Home em 2002, lançado no ano seguinte.

EM – Gostaria que falasse sobre o Come Back Home. Gosto muito desse trabalho, porque além do blues ele tem uma pegada soul muito incomum para uma banda brasileira. 
MO – Esse disco sempre foi muito elogiado. O Martin Salzman, que foi empresário do Buddy Guy e do Magic Slim, disse que a gente tinha a linguagem do blues por causa desse trabalho. Gravamos em 2002 e até hoje é um som atual. Tem balada que parece até pop, mas com qualidade, influenciou muita gente.
O Ricardo Coutinho, empresário de Campinas, já falecido, nos chamou para tocar, como você fez com a gente e o Magic Slim em 2007, mas na hora do jantar ele disse que não era empresário, disse que era fã da banda e que achava que a gente tinha de gravar e bancou o novo disco. E ainda disse que a gente poderia pagar como pudesse. Acabamos pagando pouca coisa do disco. Era virou um irmão e não era o que ele queria e nem precisava. Foi uma produção luxuosa, o Fontanetti que na época ele era sócio do Carlos Sander, tinha um equipamento de cair o queixo. Poucos estúdios em São Paulo tinham. Foram trezentas horas de gravação, não demorou porque a gente trabalhava duro, gravava todo dia. Foi um esmero, pensamos em fazer um disco pra gente gostar de ouvir depois. O Flávio (Guimarães, gaitista do Blues Etílicos), gravou When the Music Stops, e já gostou de cara do resultado. Tinha letra do André Christovam, o Ari Borger gravou o Hammond, o Fender Rhodes. O Bocato fez arranjo de metais para Sing a Simple Song, olha o time. O Igor Prado, que na época era meu aluno, não tinha mais do que 20 anos, não tirava o disco do carro. Foi um trabalho que influenciou a galera. O Blue Jeans não é uma banda tradicional de blues, a gente sabia fazer Muddy Waters, Elmore James, mas tinha a coisa da composição própria que sempre foi o forte e as influências do rock e do que estava rolando no momento, a levada da música See The Future, do Júnior, foi inspirada em um disco recém lançado do John Scofield. A mente estava aberta para esses sons. O blues estava no nosso DNA, só que tínhamos essa visão. Ele abriu novas portas, as terças blues do Bourbon começou com a gente, fizemos aquela jam fantástica com o Ron Wood que elogiou a banda. É legal vir um cara de fora e nos elogiar em público.


EM – Fez o que o Muddy Waters fez com os Rolling Stones nos anos 60.            
MO – Exatamente. Só que estamos no Brasil, se o Blue Jeans e outros músicos fantásticos de blues que foram elogiados morassem nos Estados Unidos e na Inglaterra não parariam mais de tocar. Pô, elogio do BB King dizendo que a gente era legal, o que mais você precisa? No Brasil não é suficiente, não vira nada. É uma cena restrita. Mas abrimos três shows do BB King, três shows do Buddy Guy.

EM – Depois disso tudo, como surgiu a ideia de gravar um DVD com Magic Slim e como foi a experiência? Eu levei esse show pra Santos, na Virada Cultural e ganhei o DVD naquela época. 
MO – O Blue Jeans faria 20 anos em 2006. Decidimos fazer alguma coisa, porque ninguém, produtor, gravadora iria fazer nada. O Magic Slim havia gostado da gente quando nos conheceu no festival Natu Blues, em Curitiba, onde também tocaram o Coco Montoya e a Big Time Sarah com a gente. Ele encerrou a noite. Na sequência, o Cezar Castanho trouxe o Magic Slim pra tocar no Olympia e o Blue Jeans abriu os shows. Tocamos em trio e no começo foi interessante, ficaram um pouco descrentes com os moleques branquelos tocando blues. Mas quando começamos a tocar Who Knows, do Jimi Hendrix, com aquela formação diferente de palco, o Junior na ponta, o Andrei no meio e eu na outra ponta. O Júnior ficava de lado para o público, de costas para o backstage, então o público não via os caras da banda em pé, vendo a gente tocar. Quando acabou eles foram ao nosso camarim convidar para fazer uma jam no final. Mudou tudo. Eles viram que a nossa música era verdadeira. 
Bom, lembrei de tudo isso  e sugeri chamar o Magic Slim. O Martin Salzman fala português e, por indicação do André Christovam, havia trazido a Sarah pra tocar com a gente, então nos conhecia. Ele disse que o Magic havia gostado da gente e que iria perguntar a ele. Deu um tempo e ele ligou de volta dizendo que ele faria o DVD. Depois de tudo isso fui falar com um profissional que poderia viabilizar isso, o Sílvio Alemão. A ideia era gravar no teatro do Sesi da Paulista, mas não deu certo. O Junior deu a ideia de fazer em estúdio por causa do recém lançado DVD do Clapton em homenagem ao Robert Johnson. Então fizemos no estúdio, foi uma coisa pioneira para o Brasil, uma sessão no estúdio. Foi feito na pressão, o Magic Slim mandou as músicas e disse que não ia repetir o take, que ia gravar tudo de primeira. Você vê que uma hora lá eu erro e ele me chama a atenção. Não teve esse negócio de escolher o melhor, foi um take pra cada música. Foi fantástico, um puta cara bom, não reclamava de nada. Aproveitamos a época pra viajar, fizemos interior de São Paulo, Rio Preto, Sesi na Paulista e Santos.

EM – Com quase 30 anos de carreira, qual a leitura que você faz sobre a cena brasileira de blues, levando em conta todos os esses anos de estrada?
MO – Dou aula desde 1991, nunca parei, mesmo com o Blue Jeans. Teve uma época que eu tocava em quatro bandas, com o Sérgio (Duarte), o Ari (Borger), Nasi, tudo ao mesmo tempo, mas o Blue Jeans era o principal. Acho que teve um crescimento de pessoas interessadas em tocar blues, tendo em vista que dou aula todos os dias, de segunda a sábado. Muita gente tocando bem. Principalmente guitarristas. O número de casas diminuiu. Mas havia o interesse em estar juntos, fazer jams, mesmo tendo a competição. Isso se perdeu. Não vejo mais acontecer. Os grandes festivais estão voltando e isso é legal para a cena. Antes havia os casas que só tocavam blues, hoje não existem mais, as casas tocam de tudo pra sobreviver. Mas eu entendo, enquanto tiver público eles tocam de tudo. Mas sinto falta de casas com programação organizada. Com o pessoal capacitado que tem por aí pra tocar blues a casa teria uma semana interia de programação fechada. Se houvesse cinco ou seis casas dessas a gente ia poder girar. Produtores desse estilo, que assuma uma banda, precisa gostar, né? Não existe esse pacote. Dou aula para gente jovem, meu livro está na quarta edição, é um livro segmentado, só blues, então existe o interesse. 

EM – Olha, deixa eu te falar uma coisa sobre a produção. Eu abri uma produtora chamada Mannish Boy Produções, o nome é derivado do Mannish Blog, só para trabalhar com blues, jazz e MPB. E no começo, cheio de boas intenções, fiz contatos com muitos artistas de blues que não vou citar os nomes. Com alguns, conversei aqui em São Paulo. Outros foram até Santos conversar comigo no sentido de fazermos um acordo para eu só vender suas bandas nos festivais, circuito Sesc, Sesi, essas coisas. Mas o que aconteceu, do outro lado, quando o cara vendia o show, eu não fazia parte dessa venda. Aí ficou uma coisa estranha, porque eu gastava em telefone, tempo, viagens, fazia inúmeros contatos, e não é sempre que a gente vende, mas o trabalho está ali, e às vezes o artista era chamado devido ao meu contato, no Sesc, por exemplo, aconteceu muito isso, mas eles não me comunicavam. E sempre fui um cara honesto, nunca devi pra ninguém. E desafio qualquer um dizer o contrário. Isso é o outro lado da moeda. 
MO – É, isso não pode acontecer. Parceria é de mão dupla. 

EM – Você afirmou que está dando mais aula e tocando menos. Não sente vontade de ter uma banda com o trabalho próprio? Não há a possibildade da volta do Blue Jeans que é uma banda referência ?
MO – Sim, sinto saudade, porque toquei tudo o que queria tocar na banda. O Andrei participou do disco que gravei com o Kiko Moura. Disco de música instrumental elogiadíssimo pelo Roberto Menescal. Tentamos voltar, mas acabou não rolando. Quem sabe uma hora. Nem que seja uma série de shows. Não sei. Mas me interessa fazer, sim.

sábado, 19 de maio de 2018

Tudo grátis na 4ª edição do Festival BB Seguros de Blues e Jazz

Em 26 de maio (Curitiba) e 10 de junho (Belo Horizonte), festival recebe Stanley Jordan e Dudu Lima Trio, Hermeto Pascoal, Pepeu Gomes, Nuno Mindelis, O Bando, BB Seguros Jazz Band’s e a banda mineira As Ablusadas

Hermeto Pascoal

A quarta edição do Festival BB Seguros, que até 2017 era BB Seguridade, e que esse ano começa em Curitiba, no dia 26 de maio, das 11h às 19h, no Parcão, Museu Oscar Niemayer, vem cercada de grandes expectativas já que na edição anterior os shows atraíram cerca de 103 mil pessoas. Segundo a organização do festival, 22 mil pessoas em Curitiba, 12 em Belo Horizonte, 17 em São Paulo; 18 em Brasília; 20 em Recife e 14 em Porto Alegre.
Desde 2015, em sua edição inaugural, o Festival BB Seguros de Blues e Jazz apresentou grandes nomes, como Larry McCRay, produzido pelo Mannish Blog em parceria com Lucas Shows, Stanley Jordan, Hermeto Pascoal, Nuno Mindelis, Louis Walker, Wallace Roney Quintet, Blues Etílicos, Hamilton de Holanda, Maria Gadú, Steve Guyger, Marco Lobo Quinteto, David Liebman, Toninho Horta e outros.

Programação

11h - BB Seguros Jazz Band
12h - Banda curitibana a ser definida (Em BH As Ablusadas)
13h10 - O Bando
14h10 - Nuno Mindelis
15h15 - Pepeu Gomes
16h20 - Hermeto Pascoal
17h40 - Stanley Jordan e Dudu Lima Trio

Atrações programadas para as crianças:
Oficina de desenho e colagem
Oficina de malabares
Pintura artística facial
Escultura de balão
As atividades infantis começam às 11h e vão até às 16h.
E são gratuitas e por ordem de chegada.

Próximas datas doFestival BB Seguros de Blues e Jazz
10/06 - Belo Horizonte
28/07 - São Paulo
04/08 - Brasília
17/11 – Recife
24/11 – Porto Alegre

Serviço das duas primeiras datas:

Cidade: Curitiba:
Museu Oscar Niemeyer- Parcão
Endereço: Rua Marechal Hermes 999 - acesso tb pela Rua Manoel Eufrásio
Dia: 26 de maio (sábado)
Horário: das 11h às 19h
Classificação Indicativa: livre
Gratuito

Cidade: Belo Horizonte
Local: Praça JK
Endereço: Av. dos Bandeirantes, 240
Dia: 10 de junho
Horário: das 11h às 19h
Classificação Indicativa: livre
Gratuito

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Festival de Rio das Ostras completa 15 anos e resiste

Em 2018, Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras, na Região dos Lagos do RJ, completa 15 anos e se consolida como destino obrigatório para os amantes de jazz. O evento acontece no feriado de Corpus Christi, de 31 de maio a 3 de junho

Vanessa Collier

Serão 29 shows gratuitos com artistas nacionais e internacionais em palcos localizados na Praça São Pedro (11h15), Lagoa de Iriry (14h30) e Costazul (20h).
A abertura será com a big band Onda De Sopros de Rio das Ostras liderada pelo flautista e saxofonista Luiz Felipe Oliveira. A 15ª edição do festival ainda promove o encontro dos guitarristas Stanley Jordan e Armandinho, acompanhados por Ivan “Mamão” Conti, na bateria e Dudu Lima, no baixo; apresenta a saxofonista americana Vanessa Collier e Fred Sun Walk & The Dog Brothers; o pianista pernambucano Amaro Freitas, vencedor do prêmio MIMO instrumental de 2016; o compositor, arranjador e trombonista Marlon Sette, acompanhado de uma super banda com a participação de Kassin, Rogê e Davi Moraes, entre outras feras.
Também tocam a banda gaucha Delicatessen com recriações de Standards do jazz americano; a voz potente de Leon Beal Jr. com Igor Prado & Just Groove; a Banda Black Rio; a cantora Rosa Marya Colin convida o gaitista Jefferson Gonçalves; o saxofonista italiano Maximo Valentini; o quarteto “Com Alma”; o guitarrista Big Gilson, um dos ícones do blues carioca; o acordeonista Chico Chagas e a banda Azymuth em parceria inédita com Dj Nuts.
No Palco São Pedro, dedicado a novos talentos, se apresentam Vitor Karyello Trio, Eduardo Ponti Jazz Fusion e a banda de blues Laranjeletric Blues Band.
A programação paralela, na Casa do Jazz e do Blues, em Costazul, traz shows de novas bandas que estão se destacando no Estado do Rio de Janeiro, com apresentações nos intervalos dos shows principais. O festival traz ainda o Clube do Vinil espaço onde os aficionados e colecionadores das famosas “bolachas” poderão trocar ideias, comprar e trocar seus discos.
Desde a criação, em 2003, o evento realizou mais de 500 shows, palestras e workshops gratuitos para cerca de um milhão de pessoas, ajudando a estimular a música de alta qualidade e a criar oportunidades para o público ver de perto grandes nomes do jazz, do blues e da música instrumental.

Programação

Quinta 31/05  
Lagoa de Iriry
14h - Onda de Sopro Big Band R.O.
16h - Vanessa Collier e Fred Sun Walk e Dog Brothers

Costa Azul - a partir de 20h
Mássimo Valentini (Itália)
Quarteto Con Alma
Big Gilson Blues Band
Vanessa Collier e Fred Sun Walk e Dog Brothers (EUA/Bra)

Sexta 01/06
Praça São Pedro - Palco Novos Talentos - 11h15
Laranjeletric

Lagoa de Iriry - 14h30
Fred Sun Walk e The Dog Brothers com past. Big Gilson

Costa Azul - 20h
Delicatessen
Amaro Freitas
Stanley Jordan e Armandinho (EUA/Bra)
Marlon Sette e Banda

Sábado 02/06
Praça São Pedro - Palco Novos Talentos - 11h15
Vitor Karyello Trio

Lagoa de Iriry - 14h
Kynnie Willians
Azimuth e Dj Nuts

Costa Azul - 20h
Chico Chagas Acordeon Trio
Rosa Marya Colin in Blues com part. Jefferson Gonçalves
Banda Black Rio
Leon Beal e Igor Prado e Justgroove

Domingo - 03/06
Praça São Pedro - Palco Novos Talentos - 11h15
Eduardo Ponti - Jazz Fuzion

Lagoa de Iriry - 14h30

Leon Beal e Igor Prado e Justgroove

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Bourbon Festival Paraty chega ao 10º ano

No ano que comemora dez anos de existência, o Bourbon Festival Paraty reúne o melhor do jazz, blues e da música brasileira nos dias 25, 26 e 27 de maio


Todos os shows são gratuitos e acontecem em dois palcos, na Praça da Matriz e Santa Rita, em frete a igreja do mesmo nome situados no centro histórico da cidade. Além da programação principal, há também dois buskers (apresentações de artistas de rua): Busker Rosário (ao lado da Igreja Nossa Senhora do Rosário do Pretos) e Busker Quadra (ao lado da Igreja da Matriz) onde terão apresentações de artistas em horários alternados.
A edição especial dos dez anos reúne grandes nomes da música mundial que participaram de edições anteriores do evento, como o saxofonista de New Orleans, Gary Brown, o guitarrista Stanley Jordan, que se apresentou em 2010 e chega com o trio formado por Ivan “Mamão” Conti (bateria), integrante do lendário grupo Azymuth, e o talentoso baixista Dudu Lima. e também Ed Motta com o show Ed Dançar!
Pela primeira no festival, Cesar Camargo Mariano divide o palco com a cantora Madison McFerrin (filha de Bobby McFerrin). 
Já a norte-americana Vanessa Collier, nomeada entre as cinco melhores saxofonistas do gênero pelo Blues Music Awards, sobe ao palco com Fred Sunwalk e, juntos, apresentam uma poderosa mistura de blues, funk, rock e soul. 
O baixista Rubem Farias, radicado na Suécia, com carreira internacional, estreia no festival acompanhado de sua convidada Live Foyn Friss, vocalista que se destaca na cena jazzística Europeia.
A banda Blackalbino, tem a participação de um dos precursores do funk no Brasil, o cantor Tony Tornado. E quando o funk encontra o jazz com o Deep Funk Session, conhecida na cena paulista de jazz, o talento e improviso dão o tom no festival.
Homenagens também estão na programação em Paraty, como o Tributo a B.B.King - padrinho e parceiro do Bourbon em muitos festivais e turnês pelo Brasil - com Nuno Midelis, Victor Biglione e Fred Sunwalk. A bossa nova ganha homenagem com a participação luxuosa de Roberto Menescal, no show Bossa Hits, do guitarrista Andy Timmons e o cantor Sydnei Carvalho.
John Wesley, violonista radicado em Paraty, que já gravou com grandes nomes da música como Hélio Delmiro e Gilson Peranzzetta, recebe nessa edição o premiado violonista Carlos Barbosa Lima, reconhecido mundialmente como um dos grandes mestres do violão. A Orquestra Popular de Paraty, composta por músicos da cidade, apresenta repertório de releituras de samba, choro, baião e obras canções de poetas paratienses e clássicos da música popular brasileira em arranjos originais. 
A cantora Taryn Szpilman resgata em seu show a história do jazz e do blues desde os anos 20, com figurino característico e performance. Pelas ruas da cidade a Orleans Street Jazz Band, que circula pelo Centro Histórico e a presença do DJ Crizz nas pick-ups, que abre e fecha a programação dos dois palcos todos os dias.
É Bourbon Festival Paraty, é música pela cidade e por toda parte, em Paraty, claro!

Programação 2018

Palco Matriz
Sexta-feira - 25/05
21h - Banda Black Rio - 40 anos (BRA - Sambasoul / Sambajazz) 
Part. Especial Gary Brown (USA)
22h30 - Tributo a B.B.King com Nuno Midelis, Victor Biglione e Fred Sunwalk (ANG/ARG/BRA - Blues)
Part. Especial Vanessa Collier (USA)
00h00 - Ed Motta (BRA - Black/Soul)
01h30 - DJ Crizz (Brasil)

Sábado - 26/05
21h - Cesar Camargo Mariano & Madison McFerrin (BRA/USA - Jazz / Soul)
22h30-Vanessa Collier & Fred Sunwalk (USA/BRA - Blues/R&B)
00h - Blackalbino (BRA - Soul/R&B)
Part. Especial Toni Tornado (BRA)
01h00- DJ Crizz (Brasil)

Domingo - 27/05
21h - Stanley Jordan Trio (USA - Jazz)
22h30 - Taryn Szpilman (BRA - Jazz/Blues)
00h - Gary Brown (USA - Soul/R&B)
01h - DJ Crizz (Brasil)

Palco Santa Rita
Sábado 26/05
15h - John Wesley & Carlos Barbosa Lima (BRA - Música Brasileira)
16h30 - Orquestra Popular de Paraty (BRA - Música Brasileira)
16h30 - Rubem Farias convida Live FoynFriis (BRA/NOR - Jazz)

Domingo - 27/05
16h30 - Deep Funk Session (BRA - Jazz/Groove)
18h - Andy Timmons & Sydnei Carvalho (USA/BRA - Bossa/Jazz)
Part. Especial Roberto Menescal (BRA)

Busker Rosário
Sexta-feira - 25/05
19h - Orleans Street Jazz Band

Sábado - 26/05
14h - Madmen´sClan
16h30 - Trinca Acústica
19h - Carolina Zingler

Domingo - 27/05
14h - Carolina Zingler
16h30 - Madmen´sClan
18h30 - Trinca Acústica

Busker Quadra
Sábado - 26/05
16h - Madmen´sClan
17h - Carolina Zingler
18h - Trinca Acústica

Domingo - 27/05
14h - Trinca Acústica
16h30 - Carolina Zingler
18h30 - Madmen´sClan

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