quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A morte do Antoninho Navalhada

Por Eugênio Martins Júnior

Branco, forte e valentão,
Navalhada estivador
Temido e respeitado
E bom atirador

Pau de fogo na cintura
Curto de pavio
Traição e malícia
Espreitam no porão do navio

O outro não ficava atrás
Conhecido por Simião
Moreno e parrudo
E com disposição

Qualquer dia o destino
Os colocaria frente a frente
No costado do CAIS santista
Tava sobrando valente

Como a arenga começou
Na estiva ninguém sabe ao certo
O trabalho era escolhido na fé
E Navalhada era metido a esperto

Simião era boxeador
Dizem, estava com a verdade
Mas sabia que mexer com o Navalha
Era irresponsabilidade

Não valia facilitar
Havia sido avisado
Passou a andar armado
E olhando para os lados

Foi no armazém quinze
Onde o encontro aconteceu
O tiroteio começou
Quando o dia amanheceu

Navalhada trairagem
Baleou o Simião
Acertou ele na perna
Derrubando o valente no chão

Quando se aproximou
Pro tiro de misericórdia
Foi pego de surpresa
E Simião matou a discórdia

Acertou Toninho na barriga
Que virou pra correr
Levou mais uma nas costas
E sentiu que ia morrer

Simião não foi em cana
Não tinha culpa nenhuma
E no CAIS ninguém sabe de nada
Muita gente e pouca testemunha

Valentão é valentão
Todos têm a sua história
Mas aqui no cais do porto
Também têm a sua hora

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Cold Hot retrata o som dos Estados Unidos


Jornalista que viajou e retratou o som das cidades lendárias do Estados Unidos, Sérgio Poroger,  aporta na Realejo Livros para lançamento de Cold Hot. O fim de tarde do dia 03 de dezembro terá música e cerveja artesanal CAIS


Fotos: Sérgio Poroger

Imagens podem gerar sons, ainda que imaginários. Partindo dessa constatação, o fotógrafo e jornalista Sérgio Poroger registrou, numa jornada através do sul dos Estados Unidos, em dezembro de 2014, a obra fotográfica agora transformada no livro Cold Hot, que conta com a curadoria de Eder Chiodetto, especializado em fotografia, com mais de 70 exposições realizadas nos últimos 10 anos no Brasil e no exterior.
“Pesquisei a região por quase dois anos, pautado pela vontade de fotografar puramente a musicalidade da região. No entanto, acabei sendo surpreendido por uma parte diferente do restante dos Estados Unidos, onde a música influencia totalmente suas paisagens, arquitetura e os costumes de seus moradores, que também são diferentes – gostam de falar, gostam de conversar, são felizes e descontraídos. Um lugar, afinal, onde tudo vira música!”, explica Poroger.
Além das fotos, ele escreveu o texto de apresentação e pequenos apontamentos que costuram as imagens.
Circulando por mais de 3000 quilômetros, Poroger percorreu os Estados da Georgia, Tennessee, Mississipi, Louisiana e Texas, e colocou o pé na lendária Blues Highway, a Rota 61, numa paisagem que alternava o humilde estilo de vida de certas populações com cidades ostentando arranha-céus opulentos, mas que ofereciam uma percepção constante: a musicalidade que exalava em qualquer parte. Raras regiões do país oferecem tamanha diversidade musical, abrangendo do velho e sagrado blues ao country, passando pelo jazz clássico e pelo rock and roll dos anos 50.
O roteiro da viagem mostra exatamente isso: em Nashville, o Country Music Hall of Fame é um local de peregrinação obrigatório, assim como o Wild Bill’s, deliciosa casa de shows nos subúrbios de Memphis, que revelou, por exemplo, um rapaz chamado Elvis Presley. Ou então o cruzamento das estradas 61 com 49 em Clarksdale, no 
Mississipi, onde a lenda do blues Robert Johnson teria feito o famoso pacto com o diabo, hoje parte obrigatória de qualquer história da música. Ou ainda no Preservation Hall de Nova Orleans, lendário templo do jazz tradicional.
Tudo isto está registrado em Cold Hot, comparado por Eder Chiodetto, “à cartilha que remete às heroicas incursões dos fotógrafos viajantes, personagens responsáveis por nos levar a lugares desconhecidos descortinando atmosferas, intimidades, bastidores, culturas”. E por que este título? Chiodetto explica: “Rompendo com a cronologia e a geografia, as imagens se conectaram pela composição, pelos intrincados jogos de luz e cor, pela recorrência dos referentes e também pelas tonalidades que conotam aquecimento extremo ou certa frieza e, metaforicamente, trazem a ambivalência dessa região que oscila entre períodos de intenso calor e frio rigoroso.”
O livro conta ainda com a apresentação do crítico musical e autor Carlos Calado, que o define como uma espécie de trilha sonora imaginária por meio de expressivas imagens. “Para sentir essa música, nem é preciso ter conhecido pessoalmente as várias cidades do Sul dos Estados Unidos que ele retratou, em visitas a bares, clubes noturnos, cafés, restaurantes, estúdios de gravação e museus. Essa música silenciosa está presente até mesmo nas imagens que as lentes de Sergio captaram nas ruas”, observa Calado.
Cold Hot teve patrocínio do Lafayette Convention and Visitor Center, no Estado de Lousiana, entre outros apoiadores.

Serviço: 
O quê: Lançamento de Cold Hot
Onde: Realejo Livros - Av. Mal. Deodoro, 02
Quando: 03 de dezembro a partir da 18h
Quanto: Grátis












sábado, 5 de novembro de 2016

Inversão

Por Eugênio Martins Júnior

Com boa vontade, ocupação
Com má vontade, invasão

Com boa vontade, liberdade de expressão
Com má vontade, desacato

Com boa vontade, funcionário público
Com má vontade, autoridade

Com boa vontade, guerrilha
Com má vontade, terror

Com boa vontade, golpe de 64
Com má vontade, revolução de 64

Com boa vontade, movimentos sociais
Com má vontade, comunistas

Com boa vontade, feminismo
Com má vontade, feminazi

Com boa vontade, reparação histórica
Com má vontade, vitimismo

Com boa vontade, artistas
Com má vontade, vagabundos

Com boa vontade, perifa
Com má vontade, gueto

Com boa vontade, transgênero
Com má vontade, viado

Eu com boa vontade, paciência
Com má vontade, desprezo

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Um fim de semana, duas manifestações. Jesus e a PM no comando.

Blitz - o império nunca dorme

Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos: Internet (Trupe Olho da Rua) 

Duas manifestações bem diferentes aconteceram em São Vicente e Santos no fim de semana passado. Sábado e domingo, respectivamente. Presenciei a primeira e acompanhei os desdobramentos da segunda. Duas medidas bem diferentes adotadas pela polícia militar mostraram que há parcialidade nas situações de rua.  
A de sábado, acabou bem para os manifestantes e nem tanto para as pessoas em volta. A de domingo, não acabou mal só para os manifestantes, acabou mal para todo mundo.
A partir do relato a seguir, você pode tirar suas conclusões. Ainda é livre para isso, mas eu vou fazer de tudo pra te influenciar. 

Manifestação 1 - Sábado, 29 de outubro, passei ali na praça Coronel Lopes em São Vicente, ou praça do camelódromo, ou para os mais antigos, praça do Correio.
Era seis da tarde, alguns jovens portavam faixas e cartolinas em uma manifestação religiosa. Vamos chamar assim por enquanto. 
A faixa trazia alguma coisa escrita sobre o grupo: “Jovens a serviço de Jesus”. Ou algo nesse sentido. Nas cartolinas estava escrito: “ Se você acredita em Jesus, buzine”.
A manifestação era a seguinte, quando o semáforo fechava, alguns jovens se posicionavam em frente aos carros exibindo a tal faixa e outros desfilavam entre eles exibindo as cartolinas com os dizeres: “Se você acredita em Jesus, Buzine”. 
Segundo uma das balconistas que trabalham no camelódromo, eles estavam ali há horas. Estive no local, umas quatro ou cinco fechadas de semáforo, o suficiente pra comprar um fone de ouvido. E a parada já me irritou. Imaginem quem estava trabalhando ali o dia inteiro.
Acreditem, não são poucas as pessoas que acreditam em Jesus em São Vicente e dispostas a buzinar para mostrar isso. Nas cartolinas estava escrito: “Se você acredita em Jesus, buzine”.
São Vicente é terra do prefeito Bili, aquele que por coincidência, ou não, foi o candidato escolhido por Deus há quatro anos. Pelo menos era o que dizia o seu slogan de campanha. Mas Deus, também conhecido pelo nome terrestre de Márcio França, parece não ter dado muita bola para o candidato que derrotou o seu filho na eleição. Não, não foi Jesus, foi o outro filho, o Caio. 
Mas esse é outro assunto. Voltando ao sábado, eram dezenas de motoristas buzinando a cada semáforo fechado, pois nas cartolinas estava escrito: “ Se você acredita em Jesus, buzine”.
Não satisfeitos com o ruído infernal (hehehe) que as buzinas provocavam, os jovens ainda gritavam para os motoristas. “Aleluia”, “Jesus é nosso rei”, “Deus seja louvado”, e outras.
A polícia? Assistia tudo ali do lado. Impassível. Apesar de toda a pentelhação. Imaginem, uma buzina já enche o saco. Mais de vinte é de matar. 
Em seu artigo 41, capítulo 3, o Código de Trânsito Brasileiro diz que o condutor de veículo só poderá fazer uso de buzina, desde que em toque breve, nas seguintes situações: I - para fazer as advertências necessárias a fim de evitar acidentes; II -fora das áreas urbanas, quando for conveniente advertir a um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo. 
Percebam que mesmo que você acredite em Jesus, não pode buzinar pra ele. A não ser nos casos em que não queira atropela-lo. 
Errada estava a polícia, errados estavam os motoristas e errados estavam os jovens que, sinceramente, não sei o que estavam pensando quando planejaram a zona religiosa desastrosa e desrespeitosa com as pessoas ao entorno. Escrevendo em cartolinas: “Se você acredita em Jesus, buzine”.
Mais bonito seria se nas faixas estivessem escrito: “Se você acredita em Jesus, dê seta”. Se você acredita em Jesus, respeite a faixa de pedestres”. Se você acredita em Jesus, não corra”. 
Sou ateu. Me sinto bem. Sem obrigação nenhuma. Leve. E não fico alardeando isso e nem querendo convencer ninguém que ser ateu é bom. Mas esse negócio de colocar Jesus em tudo tá enchendo o saco. E mais do que isso, esse fanatismo está passando dos limites. Invadindo a vida de quem não tá nem aí para religião, Jesus, Deus, Alá, sei lá. 
Volto a repetir, uma ação invasiva, egoísta e sem educação. E a polícia não fez nada.

Jovens atores na porta do Palácio da Polícia

Manifestação 2 - Domingo, dia 30, a Trupe Olho da Rua, um grupo de teatro de Santos fazia o que faz há mais de dez anos, como o nome diz, peças de teatro para as pessoas assistirem na rua. 
Estavam na Praça dos Andradas, local onde ocupam um imóvel que chamam Vila do Teatro, onde há o Centro Cultural Pagu (Cadeia Velha) e o Teatro Guarany. Um local com vocação cultural e que vem ganhando destaque nos últimos meses por causa de outras ocupações culturais.
Encenavam a peça Blitz – O Império Que Nunca Dorme, um protesto bem humorado à truculência da polícia militar. Se a peça é boa ou não, foda-se. Assista e tire suas conclusões. E você tem o direito de não gostar. 
O que aconteceu domingo é o que interessa. A polícia chegou chegando com pistola na mão, interrompeu o lance e levou um dos atores preso. Caio Martinez foi algemado, colocado no camburão e levado ao primeiro distrito policial, com o pomposo nome de Palácio da Polícia. 
E é aí que os dois fatos se encontram. Crentes em Jesus podem fazer o que querem em praça pública em São Vicente. Praça pública não, no meio do trânsito. Atores em Santos não podem criticar uma instituição terrena mantida por nós e que tem o dever de prestar serviço a nós.
Se liga. Estudos da Anistia Internacional e do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que as polícias brasileiras, civil e militar, são rápidas no gatilho.
Em um relatório publicado em março de 2016, a especialista independente da ONU sobre minorias, Rita Izsák, alertou: cerca de 23 mil jovens negros morrem por ano, muitos dos quais, vítimas de violência pelo Estado. Se isso não é genocídio, qual o nome que você daria? 
Mas como dizia a música do Rappa, também morre quem atira,  e nossos policiais são os que mais morrem. O que falta para os governos reconhecerem que vivemos em uma guerra declarada entre os pobres? 
Sabemos que o policial não pode se manisfestar sobre as péssimas condições de trabalho. Então, resta a sociedade civil fazer isso. E era isso que a Trupe Olho da Rua estava fazendo na praça batizada em homenagem aos libertários irmãos Andradas. 
Os policiais que estavam no local passaram atestado de burrice. Com truculência policial, acabaram com uma peça teatral que tratava da truculência policial. Se tivessem ficado, assistido até o final e depois aplaudido, teriam mostrado alguma compreensão de sua própria situação. Funcionários públicos que trabalham em uma corporação que também os oprime, com uma disciplina desumana pagando salário de fome. 
As posturas distintas da polícia nas duas ocasiões mostram por que está cada vez mais difícil se falar o que pensa no Brasil atual. A não ser que você apoie as bancadas da bíblia e da bala. 
VIVA A TRUPE OLHO DA RUA.


sábado, 22 de outubro de 2016

Os grandes Bob Dylan e Chico Buarque... e o pobre Lobão.

Bob Dylan ladeado por Pete Seeger e James Baldwin

Texto : Eugênio Martins Júnior
Fotos: Internet

Na quinta-feira, dia 13 de outubro de 2016, a academia sueca responsável pelo Prêmio Nobel de uma porrada de coisas anunciou que Bob Dylan, grande compositor... e cantor mais ou menos, ganhou o prêmio em literatura.
Adoro o trabalho do Dylan. Tenho vários discos em vinil e em plástico e alumínio (CD pô). 
Bom para ele. Ruim para a galera que escreve livros. Houve um certo celeuma. Como um cara que grava discos pode ganhar um prêmio desses? O que foi alegado é que suas letras estrapolaram e deram importância ao gênero canção. Eu mesmo não tenho opinião formada sobre isso, e na verdade, whatever.
O que me chamou a atenção é que o trabalho de Bob Dylan foi reconhecido. Foi, é, e sempre será. Não vejo os americanos, britânicos e outros países de língua inglesa desdenhando a obra do artista. Diferente do que acontece aqui no Brasil com o Chico Buarque. E não adianta ficar nervosinho! Lê a parada até o fim que eu vou explicar. 
Dylan é considerado um dos pilares da cultura norte americana. Chico Buarque, filho do escritor Sérgio Buarque, construiu sua carreira e ganhou dinheiro pelos próprios méritos. Se assumiu posições políticas é por que vivemos em um país onde as pessoas têm essa escolha. Pelo menos até agora. Mas o país está ficando bem sinistro nesse sentido.  
É inimaginável pensar que o que aconteceu com o Chico Buarque no Rio de Janeiro, sendo abordado e ofendido por playboys na porta de um restaurante, possa acontecer com Bob Dylan por assumir suas posições, políticas ou até religiosas.  
Em entrevista na Isto É dessa semana, uma revista  que ninguém compra e não sei como sobrevive - aliás, por que a turma da Lava Jato não investiga as empresas de comunicação como fazem  com as empreiteiras e os partidos inimigos – o cantor e compositor Lobão diz que o Chico Buarque "come capim". Com todas as letras. 
Acho que isso merece resposta. Não que o Chico precise de alguém que o defenda, quanto mais eu, um redator de blog independente, um zé mané. Mas, como fã da boa música, deu vontade de fazer. Até porque os dois fatos aconteceram na mesma semana. E depois dessa me comprometo a nunca mais dar espaço para o que o porra do Lobão fala. 

Chico Buarque e João Pedro Stédile,  
líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Olha só. Robert Allen Zimmerman, sacou que aquela vida de judeu era um saco. Deve ter pensado: “Eu quero mesmo é fumar maconha, pegar estrada e no meu prepúcio ninguém põe a mão, tá ligado?”.
Isso acontece toda hora. Com qualquer um. É só encarar a vida com um pouco de mente aberta. Quando descobri o Cartola, aprendi tocar surdo, tarol, repique e tamborim. Quando descobri Bob Marley fiz uma tatuagem dele na perna. Quando descobri Muddy Waters e Buddy Guy resolvi viver de blues e abrir uma produtora com o nome de Mannish Boy Produções. Quando fiquei fã de Lou Reed, passei a só usar roupa preta. Quando descobri Frank Zappa comprei quase todos os discos do cara e um puta cartaz lindo do meu amigo Rogério Baraquet. O Frank Zappa Monalisa.
Não estou me comparando a ninguém, por favor! Se você acha isso pode parar de ler. Só estou dando um exemplo de como a arte pode mudar as pessoas a toda hora. 
Quando Zimmerman descobriu o folk e o blues acústico  do Mississippi resolveu levar a vida na estrada e mudou seu nome para Bob Dylan. 
Lobão gosta de criticar a música A Banda, mas quando rolou o Golpe de Estado de 1964 e o AI-5 em 1969. o Chico mudou as suas letras. E os discos mostram isso. 
Buarque e Dylan ostentam em suas carreiras o verdadeiro “conjunto da obra”.  
Se Bob Dylan tem The Times They’re a Changin’, Masters of War, Everything Is Broken, Blowin’ in the Wind, Like a Rolling Stone, Tangled Up In Blue. Chico Buarque compôs e gravou Construção, Acorda Amor, O que Será?, Apesar de Você, Cálice e tantas outras músicas de protesto maravilhosas e relevantes. Sem contar sua carreira literária, diga-se, mais consistente que a do Bob Dylan.
Lobão gravou algumas músicas legais, mas convenhamos, de importância artística e social nula. Bobeirinhas como Cena de Cinema, Corações Psicodélicos, Me Chama e rocks com letras bem sacadas, Rock Errou, Revanche, Canos Silenciosos, Vida Bandida, Vida Louca Vida e Decadence Avec Elegance. Nos anos 90 fundou uma revista que vinha com CDs de bandas novas levantou a bandeira dos CDs numerados com o objetivo de proteger o artista das gravadoras, o que foi ótimo. Após isso, compôs e gravou temas mais elaborados como Universo Paralelo, A Vida é Doce e a impressionante A Queda. Ou seja, o Lobão musical é legal como passatempo. Se tivesse ficado nisso, estaria muito bom. Deveria. 

Lobão e ele mesmo, o João Bobão

O Lobão Blá Blá Blá é ridículo. Retornou ao nome João Luiz Woerdenbag Filho, falastrão, raso e inconsequente. Lendo com perplexidade seus pensamentos impressos a gente entende de onde vem tanta vontade em querer fazer peso na discussão política nacional. Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: ele quer ser levado a sério o só quer aparecer? Aposto na segunda. 
Fruto de um lar disfuncional – conforme conta em 50 Anos A Mil – que criou no menino uma carência de atenção e no adolescente um cérebro fritado pelo uso abusivo de diversas drogas, que deve ter prejudicado ainda mais seu ego, o que deixou mesmo o Lobão ruim dentro da roupa foram os anos de ostracismo na mídia nacional. Sim, isso explica muita coisa.
Bob Dylan e Chico Buarque fogem dos noticiários como o tinhoso foge da água benta. 
Já Lobão, que cresceu ouvindo ambos, e mais do que isso, querendo ser eles, vai para a luz assim como os cupins no começo da primavera voam para a lâmpada da sala. E como eles, verdadeiras pragas, destrói tudo o que vê pela frente. 
Fala mal de Caetano  Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Tom Jobim. E depois, quando a polêmica deixa de ser polêmica, ele escreve uma cartinha se desculpando com os caras. E dá-lhe espaço na mídia. . Nunfódi a porra da minha paciência Lobão. 
Teria graça, por exemplo, eu que votei no Lula e na Dilma, xingar Milton Nascimento que fez campanha para Aécio Neves? Desdenhar de sua grande obra? Poupem meu tempo, babacas. Muito ao contrário, Miltão tá do outro lado e eu o respeito mais ainda. Amo sua música e pauto a minha vida por ela 
Já ouvi pessoalmente  o Lobão proferir seus impropérios. Foi em um jantar num restaurante japonês aqui em Santos. Após o show de abertura de um festival literário que eu mesmo produzi. Digo isso pra mostrar que minhas posições não interferem no meu lado profissional. Sugeri a vinda do Lobão ao festival e ele pôde falar o que quis em uma das mesas de debates. 
O Luiz Woerdenbag Filho estava careta, não bebeu nada alcóolico e não parava de falar. Insuportável. Total falta de educação com as pessoas da mesa. Não aguentei ficar até o final.  
Pois bem. Luiz Woerdenbag Filho viu nas distorções do Facebook uma estrada que percorre batendo em tudo e em todos. É seguido por um bando de videotas semianalfabetos que ofendem a língua e a história. 
Pobre Lobão. Virou o João Bobão. De origem classe média como Chico e Dylan, não conseguiu chegar onde queria dentro da sua megalomania. Hoje vaga nas trevas, na companhia de Michel Temer, Eduardo Cunha, Beto Mansur, Ronaldo Caiado, Jair Bolsonaro, Blairo Maggio, Sérgio Moro, Marco Feliciano, Paulinho da Força, Janaína Paschoal,  Kim Kataguiri, Raquel Sherazade, Reynaldo Azevedo, Olavo De Carvalho, Rodrigo Constantino, Paulo Skaf, Silas Malafaia, Danilo Gentili, Alexandre Frota, e quem diria, a maior defensora de Dilma, Katia Abreu. Com certeza, o rock errou.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A música Singular de Badi Assad no Sesc Pompéia

O CD Singular traz músicas autorais e versões inusitadas de Mumford & Sons, Hozier, Alt-J, Skrillex e Lorde, comemorando seus 25 anos de carreira


Singular chega ao Brasil como parte das comemorações aos 25 anos de carreira da Badi Assad, com nove canções que misturam ritmos, batuques, gêneros e atribuem roupagem brasileira à músicas do pop alternativo internacional. O show de lançamento acontece dia 7 de outubro, sexta-feira, às 21h, no Teatro do Sesc Pompeia. Badi sobe ao palco acompanhada pela percussão da Simone Sou e pelo baixista Rui Barossi.
O 14º álbum na discografia da cantora, compositora e violonista tem repertório em inglês e português, com músicas autorais e de artistas internacionais selecionados a dedo. Badi escolheu nomes como os ingleses Alt-J e Mumford & Sons, o Irlandês Hozier, a Neozelandesa Lorde, o produtor e DJ norte-americano Skrillex, e fez versões inusitadas.
Como é característico no trabalho da artista brasileira, Badi coloca sua assinatura musical nas canções. Skrillex secretamente dança ao espírito do maracatu, Lorde recebe batidas afro-baianas em seu hit ‘Royals’, enquanto "Little Lion Man", do Mumford & Sons, transforma-se em bossa nova, ambas já ganharam videoclipe. A misteriosa ‘The Hanging Tree’, trilha do filme ‘Jogos Vorazes - A Esperança Parte 1’, ganha cadência distintamente brasileira sem perder a simplicidade do arranjo original. "Queria algo mais orgânico", reflete Badi.
"Essas músicas me surpreenderam, tanto pela profundidade de seus conteúdos quanto pelo engajamento que provocaram em jovens ouvintes. Dentro do universo pop há tanta música rasa explorada ao máximo pela indústria do entretenimento, carregadas de temáticas ligadas ao sexo, fama e ostentação, que por vezes podemos ter a falsa impressão de que não mais encontramos músicos jovens que se propõem a vasculhar a vastidão humana em todas suas nuances, explorando questões significativas e complexas. Artistas como Hozier, Mumford&Sons e Lorde vieram para contrapor isso tudo”, comenta a cantora.    
Entre as composições autorais, Badi assina sozinha ‘Entrelaçar’, mostra a profunda ‘Spirit Dog’ ao lado de seu irmão Sérgio Assad e do norte-americano Daved Levitan, em parceria com Zélia Duncan encerra o disco com a balada 'Vejo Você Aqui'.
Singular foi gravado e produzido no estúdio YB, com produção de Ruriá Duprat (vencedor do 51º Grammy) e direção musical de Carlinhos Antunes. O projeto traz um pequeno núcleo de instrumentos e voz, acrescentado pelos talentosos Rui Barossi no contrabaixo e do russo Oleg Fateev no bayan (acordeon com botões). No diálogo com a magistral percuteira, Simone Sou, afloraram muitos dos ritmos brasileiros. Ruriá Duprat participa também com o sintetizador e Carlinhos Antunes no quatro venezuelano. 
O belo ensaio para a capa de Singular foi feito com a técnica "powder photography", por Alfredo Nagib Filho e equipe, o figurino foi confeccionado em papel e plástico, criação da estilista Iza Graça.

Leia entrevista de Badi Assad no Mannish Blog: http://mannishblog.blogspot.com.br/2009/11/mulher-musicista-e-mae-os-talentos-de.html


Serviço:
Badi Assad – Lançamento “Singular”
Local: Sesc Pompeia, Teatro 
Dia: 7 de outubro, às 21h
Acesso para deficientes
Endereço: Rua Clélia, 93 - Pompeia - São Paulo/SP 
Telefone: 11 3871-7700 
Ingressos: R$16,00 [inteira] R$8,00 [usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante] R$4,00 [trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes] 
Funcionamento da bilheteria: Terça a Sábado, das 9h às 21h e Domingos, das 9h às 19h.
Venda online a partir de 27 de setembro, terça-feira, às 17h30. 
Venda presencial nas unidades do Sesc SP a partir de 28 de setembro, quarta-feira, às 17h30.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Projeto Piano + 1 do Sesc Santos recebe Gustavo Figueiredo e Alex Buck

Gustavo Figueiredo Trio

Na terça-feira, dia 04 de outubro, dentro do projeto Piano + 1, o Sesc Santos recebe o pianista Gustavo Figueiredo e o baterista Alex Buck.
No repertório, os excelentes temas do CD Trio que conta com Márcio Bahia (bateria) e Pablo Souza (baixo), incluindo Brasil Fest, Manuela, Mark 1, Thelonius Groove, Emily, Canção do Sal, Passeio no Parque e outros.
Gustavo Figueiredo - Nascido em Belo Horizonte em 1981, Gustavo Figueiredo teve suas primeiras aulas de música aos 12 anos de idade, estudando com vários professores até ingressar na escola de música Pró-Music.
Em 1998 participou da banda gospel Raha e em 1999 se profissionalizou, lecionando, gravando e tocando com diversos artistas. Também atuou nas bandas Confusion e Samambaia.
Tocou com Vander Lee, Beto Guedes, Toninho Horta, Gilvan de Oliveira, Marku Ribas, Nivaldo Ornelas, Juarez Moreira, Celso Moreira, Marcio Bahia, Antônio Villeroy, Esdra Ferreira “Nenem”, Armandinho, Elza Soares, Luiza Possi, Emmerson Nogueira, George Israel, Paula Lima, Marquinhos Gomes, Cadu de Andrade, Max de Castro e tantos outros.
Gravou o programa Instrumental Sesc Brasil e participou de dois shows de lançamento do CD Experimenta do Duofel.
Em 2014 na “Mostra de Cinema de Tiradentes”, “Festival de Inverno de Itabira” e “Savassi Festival”, lançou o seu CD Trio.
Alex Buck – começou a estudar flauta doce aos seis anos de idade, passando para o piano aos dez e para a bateria aos doze.
Seu tio tocava bateria num grupo de rock e seu avô tocava jazz ao piano, mas dentre suas lembranças musicais mais antigas estão as aulas de iniciação musical no CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical, fundado e dirigido em São Paulo pelos músicos do Zimbo Trio) e o coral da Escola Nova Lourenço Castanho, onde estudou.
Foi aluno de Giba Favery, Pércio Sapia e Giba Estebez. Preferia estudar tocando junto com os discos, prática à qual atribui a maior parte de suas descobertas e de seu aprendizado.
Dos músicos com quem convive, os mais importantes para o baterista são Thiago Espírito Santo com quem desenvolveu sua maneira de tocar bateria. "Ficávamos horas tocando no meu estúdio, estudando baixo e bateria, conversando e ouvindo discos, além de irmos ao Sanja (famoso bar paulistano dedicado à música) para ver os músicos mais velhos tocando."
Além dele, o guitarrista Michel Leme, a pianista Silvia Goes, o baixista Arismar do Espírito Santos e, mais recentemente, Dominguinhos também exerceram fortes influências no baterista.

Serviço:
Show: Piano + 1 = Gustavo Figueiredo e Alex Buck
Data: 04 de outubro
Horário: 20h
Ingresso: grátis
Endereço: Rua Conselheiro Ribas, 136.



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Santos recebe entre os dias 21 e 25 de setembro autores para a 8° edição da Tarrafa Literária

Mino Carta, Paulo Henrique Amorim, Laerte e Gregório Duvivier são presenças confirmadas

Mino Carta - Carta Capital

Em tempos de polarização política e véspera de eleição o festival santista Tarrafa Literária dá uma guinada e convida autores de orientação política à esquerda para participar de suas rodadas de reflexão.
O festival que já recebeu Luiz Felipe Pondé, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e Ricardo Amaral, dessa vez contará com Paulo Henrique Amorim, Mino Carta e Gregório Duvivier.
O pop e polêmico ator, humorista e colunista do jornal Folha de São Paulo, Gregório Duviver, coloca sua opinião sobre o gênero crônica, linguagem criação e conteúdo, bem como o seu método próprio de escrita, numa mesa de discussão nomeada “O Prato do Dia, a Crônica”, no dia 22, quinta-feira, às 19h
Ao lado de Gregório, participa Marina Moraes, jornalista  e escritora, que na ocasião lança o livro “Água para as visitas” (Editora Realejo) - que reúne textos breves, escritos nas redes sociais, sobre amores, maternidade e outras questões femininas - com mediação da atriz e apresentadora Juliana Araripe.
O festival também recebe Amara Moira, Laerte, Arthur Veríssimo, Amorim e Eduardo Gianetti, além dos estrangeiros Arnon Grunberg, holandês;  David Toscana, mexicano, que na ocasião lança o livro “Lontananza Bar”, com breves histórias de botequim; e o angolano Pepetela, que descreve, em suas obras, os problemas sociais de seu país. Em todas os bate papos, o público terá um momento para realizar perguntas aos participantes.
A programação inclui ainda bate-papo, atrações infantis e o espetáculo de abertura, e se divide entre o Teatro Guarany e o SESC Santos.
O Sesc Santos fica na rua Conselheiro Ribas, 136, no bairro de Aparecida. O Teatro Guarany fica na Praça dos Andradas, S/N no Centro de Santos.

Programação  em www.tarrafaliteraria.com.br.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Setembro chega com o FESTA 58

Criado há 58 anos por Patrícia Galvão, começa hoje em Santos o mais importante festival de teatro amador do Brasil


Com o tema "Que Democracia Queremos?", o FESTA 58 - Festival Santista de Teatro ocupa entre os dias 1º e 7 de setembro a Praça dos Andradas e seus edifícios, como o Centro Cultural Cadeia Velha, o Teatro Guarany e a Vila do Teatro. 
Ao todo, o evento realizado pelo Movimento Teatral da Baixada Santista conta com mais de 40 atividades de teatro, circo, dança, música, hip hop, capoeira e literatura são oferecidas gratuitamente à população. O Mannish Blog estará presente com projeto o Blues and Beer na praça, com a dupla Mauro Hector e Marcos Paulo e a Kombi Mar de Cerveja matando a sede da galera. 
O FESTA 58 é o festival de artes cênicas mais antigo em atividade do Brasil, reconhecido pelo Governo Federal com a Ordem do Mérito da Cultura. Criado em 1958 por Patrícia Galvão, a Pagu, o evento já despontou nomes como os dramaturgos Plínio Marcos e Carlos Soffredini, além de promover o debate e a reflexão sobre as artes e políticas culturais nestas décadas com vários outros artistas de diversos segmentos do cenário local e nacional. 
O FESTA 58 é uma realização do Movimento Teatral da Baixada Santista, conta com apoio da Prefeitura de Santos e Governo do Estado de São Paulo, apoio institucional do Sesc Santos e com os parceiros a Cooperativa Paulista de Teatro, a Rede Brasileira de Teatro de Rua, a Vila do Teatro e o Ferreira Filmes. Confira a seguir a programação completa.

Programação

Dia 1º de setembro (quinta-feira)
19h | Praça dos Andradas | Festa ao ar livre ‘A Praça é Nossa’ (O Coletivo 15/Santos);
A partir das 19h | Praça dos Andradas e Centro Cultural Cadeia Velha
Intervenção teatral ‘Zig Zaa Zaa‘ (2º ano da EAC Wilson Geraldo/Santos)
Cena teatral ‘Querô – Uma Reportagem Maldita‘ (Cia. Veritas Produções Artísticas/Bertioga)
Cena teatral ‘A Mancha Roxa‘ (Cia Teatral Libero/Santos)
Hip hop ‘Cypher Night‘ (Mad Feeling Crew e Projeto “Muito Prazer! Meu nome é HIP HOP”/Santos)
Roda de capoeira (Coletivo Santista de Capoeira/Santos)
Exposições de ‘Santa Trip com HIGH!‘, Salve, WALLA, Bertuola, B-arte e Gabriela de Miranda, e Banda Chico Melo, João Mazagão, entre outros
Show da Banda Vish (Vish/São Vicente)
Apresentação do ‘Circo Infimocom’ (Coletivo Percutindo Mundos/São Vicente)
Dança contemporânea ‘Diálogos Ocultos‘ (Natasha Mello)
Intervenção circense (alunos de Os Panthanas – Núcleo de Pathifarias Circenses de Santos/SP);
21h | Teatro Guarany | Teatro ‘Processo de Conscerto do Desejo‘, com Matheus Nachtergaele;
22h | Teatro Guarany | Lançamento do livro ‘A Mariposa‘, de Maria Cecília Nachtergaele;
22h30 | Praça dos Andradas | Festa ao ar livre ‘A Praça é Nossa’ (O Coletivo 15/Santos);
22h30 | Vila do Teatro | Hip hop ‘Cypher Night‘ (Mad Feeling Crew e Projeto “Muito Prazer! Meu nome é HIP HOP”/Santos).

Dia 2 (sexta-feira)
19h | Centro Cultural Cadeia Velha | Mostra Paralela | ‘Liberdade Prisioneira’ (Cia Teatral Carcarah Voador/Santos);
20h | Praça dos Andradas | Mostra Paralela | ‘De Repente Thiago’ (Esquadrilha Marginália de Teatro de Rua/Cubatão);
21h | Teatro Guarany | Mostra Paralela | ‘Mãos de Ferro’ (Grupo TNQ/São Vicente);
21h | Vila do Teatro | Debate | ‘Que Democracia queremos para o Hip Hop Santista?’ (com Rap Caiçara, Roda de Mina, Mad Feeling Crew, Projeto “Muito Prazer! Meu nome é HIP HOP”, DynamicBreakers e Crew OGS);
22h | Baixada Carioca (Av. Almirante Saldanha da Gama, 184) | Festa com entrada de R$ 10 a R$ 20 | ‘Celebrando! Dançando! Resistindo! 8 anos de Futuráfrica’ (Futuráfrica Afrobraziliangrooves/Santos)

Dia 3 (sábado)
15h | Centro Cultural Cadeia Velha | Mostra Paralela | Debate literário sobre ‘Paixão Pagu’ (Clube de Leitura Leia Mulheres em Santos);
15h30 | Praça dos Andradas | Mostra Paralela | Circo ‘Um Pouco de Tudo um Pouco’ (Núcleo Os Panthanas/Santos);
16h | Praça dos Andradas | Mostra Regional | ‘Circo Bella Cia’ (Bella Cia/Santos);
17h | Praça dos Andradas | Mostra Regional | ‘Furdunço no Casamento de Marieta’ (Cia Animalenda/Itanhaém);
18h | Praça dos Andradas | Mostra Paralela | Circo ‘Um Pouco de Tudo um Pouco’ (Núcleo Os Panthanas/Santos);
20h | Centro Cultural Cadeia Velha | Mostra Regional | ‘Negrinha’ (Cia do Imaginário/Santos);
21h | Teatro Guarany | Mostra Estadual | ‘Entre a Coroa e o Vampiro – Terror e Miséria no Novo Mundo’ (Cia Antropofágica/São Paulo);
22h | Embarque das catraias da Praça Iguatemi Martins | Mostra Regional | ‘Zona!’ (O Coletivo/Santos);
22h | Praça dos Andradas | Mostra Paralela | Festa ‘Circuito Noize Rock Festival’ (Circuito Noise/Imaginária Cultural)

Dia 4 (domingo)
16h | Teatro Guarany | Mostra Regional | ‘É Proibido Sonhar’ (Caramba Carambola/Santos);
17h | Centro Cultural Cadeia Velha | Mostra Paralela | ‘A Ilha Desconhecida’ (Grupo Janela de Teatro/Santos);
18h | Praça dos Andradas | Mostra Estadual | ‘Pão e Circo’ (Coletivo Menelão/São Paulo);
19h30 | Teatro Guarany | Debate com Prefeituráveis de Santos sobre Políticas Públicas Culturais;
22h30 | Vila do Teatro | Sarau da Vila com apresentações da Banda Anifron, DJ Nanne Bonny, mais DJs e músicos convidados e sessão de curtas-metragens.

Dia 5 (segunda-feira)
19h | Centro Cultural Cadeia Velha | Mostra Paralela | ‘De Volta ao Luto’ (Cia Lorena/Cubatão);
20h | Centro Cultural Cadeia Velha | Mostra Paralela | Ensaio aberto ‘Já que sou, o jeito é ser’ (Cia 5/Santos);
21h | Teatro Guarany | Mostra Estadual | ‘Abnegação II – O Começo do Fim’ (Tablado de Arruar/São Paulo).

Dia 6 (terça-feira)
16h | Teatro Guarany | Mostra Regional | ‘É Doce ou Salgado?’ (Coletivo Sanatório Geral/Santos);
17h | Praça dos Andradas | Mostra Estadual | ‘Rua Sem Saída’ (Grupo Teatral Nativos Terra Rasgada/Sorocaba);
18h | Teatro Guarany | Bate-papo ‘Breve Histórico sobre o Teatro Social Anarquista em Santos e São Paulo’ (com pesquisador Marcolino Jeremias);
19h30 | Centro Cultural Cadeia Velha | Mostra Paralela | ‘Zero à Esquerda’ (Teatro Elipsoidal/Guarujá);
20h | Centro Cultural Cadeia Velha | Oficina livre de capoeira (Coletivo Santista de Capoeira/Santos);
22h | Praça dos Andradas | Mostra Regional | ‘Blitz – O Império que nunca dorme’ (Trupe Olho da Rua/Santos);
0h | Praça dos Andradas | Festa ao ar livre ‘Blues and Beer na Praça’ (Mannish Boy).

Dia 7 (quarta-feira)
18h | Praça dos Andradas | Mostra Regional | ‘Marulhos’ (Marulhos Cia Teatral/Santos);
19h | Praça dos Andradas | Mostra Estadual | ‘Antígona’ (Cia Fábrica São Paulo/São Paulo);
21h30 | Praça dos Andradas | Festa ao ar livre | ‘Espanta Muertos – La Ginga Clandestina’ (Espanta Muertos/Santos).

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Alex Rossi, músico brasileiro radicado na Holanda fala sobre disco em homenagem ao maior nome da harmôncia, Toots Thielemans


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Arquivo pessoal Alex Rossi, Getty

Na segunda-feira, dia 22 de agosto, morreu enquanto dormia, aos 94 anos, Toots Thielemans, o principal nome da gaita cromática de todos os tempos. 
O mundo inteiro lamentou a perda do jazzista belga que tocou com os principais músicos do gênero, entre eles, Ella Fitzgerald, Quincy Jones, Bill Evans, Frank Sinatra, Ray Charles, Larry Schneider e Oscar Peterson. 
Aventurou-se também pela música pop tocando com Nick Cave, Paul Simon, Billy Joel e Stevie Wonder, sempre imprimindo seu toque de midas. Com Elis Regina, por quem se encantou, gravou Elis e Toots. 
A harmônica cromática está para a trilha sonora de cinema assim como as cervejas belgas estão para nosso paladar: Perdidos na Noite, de John Schlesinger (1969) e, Jean de Florette, de Claude Berri (1986), foram algumas trilhas compostas e gravadas por ele.
Thielemans descobriu o instrumento em 1938. Atraído pela música de Ray Ventura, conheceu o jazz durante a Segunda Guerra Mundial, sendo  o cigano Django Reinhardt sua primeira grande influência. No fim da década de 1940 mudou-se para os Estados Unidos, onde acompanhou Charlie Parker. Por lá fez história. 
Para falar mais sobre esse que é considerado a maior referência em seu instrumento, Alex Rossi, gaitista brasileiro radicado na Holanda, onde dá aulas, toca no circuito jazzístico e que, com Gabriel Grossi, produziu um disco em homenagem a Thielemans com outros gaitistas. 
Recentemente lançado, We Do it Out of Love ainda pode ser encontrado por aí. Uma comovente homenagem. 


ALEX ROSSI
Conhecia Toots Thielemans sem saber, ouvindo sua harmônica na trilha de abertura do programa infantil Sesamo Street. Depois um amigo me apresentou o tema de Midnight Cowboy. 
Com o tempo fui adquirindo outras coisas,  até um amigo me emprestar West Coast East Coast  que, na minha opinião, é um de seus melhores discos.
Desde então passei a escutá-lo diariamente, sem folga. Devolvi o disco do amigo e comprei meu próprio exemplar.
No início era difícil entender como ele fazia aquilo na harmônica - e ainda é.
Um gênio, demorei para assimilar as primeiras frases, super emocionantes e complexas, com o tempo fui adquirindo mais  e mais discos e ouvindo todos os dias, dividindo  as audições com os outros mestres da harmônica blues.
Quando mudei para Dallas (EUA), tentei assisti-lo ao vivo mas nunca dava certo, vi na TV uma vez, fiquei chocado com tanta virtuose mas, de certa forma, também com a  simplicidade contagiante. Com a chegada da internet ficou mais fácil adquirir material CD, DVD, mp³, etc… em um momento cheguei a ter a discografia completa.
Quando Toots tocou no Rio e São Paulo eu morava na Argentina e mais uma vez não consegui assisti-lo ao vivo.
De volta ao Brasil me restava assistir aos vídeos e discutir com os amigos sobre sua maneira de tocar. Lembro das tardes de sábado com os maestros Maurício Einhorn e Emílio Damasceno, quando nos reuníamos para tocar e ouvir alguns de seus temas e tentar descobrir como ele fazia aquilo.
Veio minha primeira turnê na Europa  e os ventos me levaram para a Antuérpia (Bélgica). Sábios ventos. 
No primeiro dia me dei conta que o Toots, que morava nos EUA e era naturalizado americano, era de origem belga. 


Não custava dar uma olhada na sua agenda.  E não é  que ele tinha um show na na próxima semana na cidade onde eu estava!? Estava sem rumo e decidi ficar mais uma semana para poder assistir a esse show, uma semana que viraram cinco anos.
Um amigo ligou para o Dirk, manager na época (falecido há alguns anos, um gordão gente finíssima), agitando para que eu pudesse assistir a passagem de som e conhecer o Toos pessoalmente, não estava acreditando, difícil conter a emoção, passei a mão na magrela e fui pedalando feliz ao encontro de um herói, um ídolo, parecia um sonho. 
Chegando ao local me apresentei, seu manager me atendeu dizendo que Toots não estava bem e que o show poderia ser cancelado. 
Fiquei esperando até a hora do show que, por sorte,  aconteceu . Como havia chegado muito cedo, me sentei no meio da primeira fila, bem na frente do palco, a uns três metros do super herói Toots Thielemans.
Assisti e gravei o show com uma felicidade enorme, escutando com muita atenção cada nota, dele e da banda. Esse  primeiro show foi incrível. 
O show terminou e todos foram embora. Sou músico e sei como as coisas funcionam, me plantei ao lado da porta do camarim cujo entra e sai era intenso. O tempo passava e nada, o gordão passava por ali várias vezes e nada dele me ver ou me chamar. Depois de uma hora que estava ali sozinho, parecendo uma criança pedindo bala, acho que ele se lembrou e disse: “come on in”. Que felicidade. Entrara no camarim do Toots e ali se encontrava um gigante de 86 anos.  Inacreditável a emoção, me ajoelhei e beijei-lhe os pés - ele não curtiu, mas foi o que me ocorreu no momento. Achei que ia ter um ataque cardíaco de tanta emoção.


No camarim se encontrava um senhor que havia feito o show de abertura, nada menos do que Philip Catherine, ele me chamou em um canto e tocamos Wave, de Tom Jobim, para o Toots e por ali fiquei mais uns minutos admirando aquele gigante da música.
Em cinco anos na Belgica tive várias oportunidades de vê-lo ao vivo, acho que estive em 95 % dos seus shows entre 2008 e 2014. Inclusive trabalhei em alguns festivais de jazz como voluntário no som do palco para poder vê-lo e ouvi-lo de perto, na passagem de som, etc.
Certa vez aconteceu um festival de Jazz e no dia do meu aniversário era o show do Toots. Falei com ele na passagem de som e disse: “Que legal que você está tocando hoje aqui no dia do meu aniversário, um super presente. Obrigado”. Ele disse: “É seu aniversário hoje? Espera aí”. E tocou feliz aniversário na passagem de som. A música saindo do PA, incrível! 
Depois deste episódio houveram outros shows nos quais estive presente. Não faltava em um, assistia e gravava para poder estudar o que ele tocava.


Certa vez, no backstage de um show desses me dei conta que estávamos sozinhos, o bom senhor me ofereceu um vinho, falávamos sobre Elis Regina e música brasileira. Pensei em perguntar se havia uma técnica, um truque ou um segredo para estudar, mas não tive coragem. No momento da depedida ele me disse com aquela vozinha de de um senhor de 86 anos: “You know what you have to do, you know what you have to do, you know what you have to do. YOU HAVE TO PLAY, YOU HAVE TO PLAY. Fui para a casa de magrela pensando naquilo e só depois me dei conta do que ele quiz dizer. 
Há dois anos, em uma das visitas de meu amigo Gabriel Grossi aqui em casa, colocamos uma ideia na mesa, fazer um disco em homenagem a esse gigante da música. Iniciamos os contatos e a produção do disco We do it out of love, um disco com seis gaitistas de várias partes do mundo: Franco Luciani (AR), Olivier Ker Ourio (FR), Antonio Serrano (ES), Gregoire Maret (SW), Gabriel Grossi e eu do Brasil. A ideia era cada um colocar duas músicas, algo do Toots escrito por ele ou escrito para ele.
Depois de muito trabalho o álbum ficou pronto e tivemos  a  oportunidade de entregá-lo em sua casa em Bruxelas. Uma pessoa incrível, super generoso, amável, ficou emocionado e gostou muito do disco. 
Me sinto super afortunado em poder dividir essa produção com o amigo Grossi e de poder dividir o disco com outros cinco top harmônica players de todas as partes do mundo. 
E realmente foi uma oportunidade linda poder entregar o álbum ao Toots enquanto ele ainda estava entre nós.
Sou de uma sorte imensa, ter conhecido pessoalmente este gigante, um gênio, um ser humano incrível, doce, amável, sensível, carinhoso. Faltam adjetivos para descrever este senhor, para mim não somente um harmonicista de primeira, mas um músico e pessoa incrível, que tinha o poder de tocar a alma das pessoas com uma nota, além da técnica que é a melhor do mundo no instrumento, uma maneira de tocar incrível. O mundo precisa de mais pessoas assim.
VIVA Toots Thielemans.


Leia também entrevista com Alex Rossi para o Mannish Blog: http://mannishblog.blogspot.com.br/2013/08/alex-rossi-lanca-disco.html


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Nascido no norte da França, Nicolas Krassik adota o nordeste do Brasil


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Cláudio Vitor Vaz

Essa entrevista foi realizada às vésperas das Olimpíadas do Rio de Janeiro. A despeito do ufanismo que um evento desse provoca no brasileiro, a festa de abertura até que foi bacana. Em decisão acertada, as feras Fernando Meirelles, Debora Colker, Daniela Thomas e Andrucha Waddington, diretores da cerimônia de abertura, optaram por economizar na grana e mostrar ao mundo, entre tantas belezas do Brasil, sua música.
Em poucas horas, cinco bilhões de pessoas ao redor do planeta ouviram Paulinho da Viola cantando o hino, Wilson das Neves batendo na caixinha de fósforo, Jorge Benjor, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elza Soares, Marcelo D2, Zeca Pagodinho e até Anita, que havia causado tanta controvérsia, se deu bem.
Nascido em Paris, que tanto nos influenciou e influencia com sua cultura, Krassik veio ao Brasil atraído pelo nosso canto das sereias. E por aqui ficou. Primeiro se estabelecendo no Rio, depois percorrendo o Nordeste atrás de seus ritmos.
E é essa música mítica que o francês busca e tenta reproduzir.
Se na fala seu sotaque pouco aparece, na música ele é evidente. Misturando a escola clássica com o jazz, Krassik entra de cabeça, e quadris, nos ritmos dançantes e históricos brasileiros.
Quem acompanha as diversas correntes da música brasileira sabe que lá fora muitos músicos são venerados. Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos, João Gilberto, João Bosco, Milton Nascimento são alguns.
Mas não foi por eles que veio Krassik. Apesar de ser fã da música de João Bosco, o francês se aliou aos desconhecidos Nelson da Rabeca, Luiz Paixão, Mestrinho e outros.
Já havia gravado os CDs Na Lapa e Caçuá quando criou o grupo e gravou Cordestinos. Sua terceira incursão ao estúdio trouxe a visão sobre nossas batidas ancestrais.
Cordestinos une o violino e a rabeca ao baixo e à percussão pra soar único. Apesar de instrumento genuinamente brasileiro, a rabeca é pouco conhecida abaixo da linha do preconceito. É o que mostram os rabequeiros do centro de São Paulo e dos forrobodós espalhados no sul maravilha. Vocês sabem quem eles são? Então, que venha um francês pra reforçar o que temos de melhor.


Eugênio Martins Júnior - Estava ouvindo você dizer que hoje se considera mais brasileiro do que francês. Você está no Brasil há quinze anos, já incorporou o jeitinho brasileiro?
Nicolas Krassik – Um pouquinho. Tenho quarenta e sete anos e moro no Brasil há quinze. Estou tentando pegar o lado bom e manter o lado bom do frânces também. Fazer essa mistura que é mais interessante. Acho que hoje tenho uma naturalidade mais brasileira do que francesa. Tanto que quando estou na França me sinto às vezes turista. Me sinto diferente.

EM - Você tem formação erudita, mas se bandeou pro lado do Jazz. Como se deu isso?
NK – Comecei a tocar violino aos seis anos. Meus país tocavam, meu irmão mais velho tocava também. Então fui no caminho tradicional, violino clássico. Aprender a técnica e o repertório da música clássica. Quando tinha 15 ou 16 anos comecei a gostar de rock e da guitarra. Depois passei a me interessar por jazz e descobri um violinista, Didier Lockwood, que foi discípulo de Sthepane Grapelli, e depois Jean Luc Ponty. Tocavam um jazz bem rock and roll e era exatamente o que eu procurava.

EM – O Ponty tocou na banda do Frank Zappa, um dos maiores nomes do rock and roll.
NK – Isso. E o Didier trocou em uma banda importante chamada Magma. Era um tipo de música que eu achava incrivél fazer no violino. Pedi o conselho a um amigo baterista e ele me disse pra estudar jazz porque isso me possibilitaria tocar qualquer coisa. Entrei em uma escola e acabei gostando mais de jazz do que de rock. Toquei um bom tempo acompanhando os músicos de lá. Toquei com o Michel Petrucciani, no quarteto de cordas que o acompanhava. Toquei em uma banda com vários violinistas montada pelo Didier Lockwood. Fazia muitas coisas ligadas ao jazz quando descobri a música brasileira.

EM – No jazz você descobriu a música brasileira? 
NK – Não foi no jazz. Um Músico de jazz com quem eu tocava era apaixonado pela música brasileira. Ele era compositor e violonista e seu ídolo máximo era o João Bosco. Então comecei a escutar o João e a MPB em geral. Comecei a frequentar festas e lugares onde tocava música brasileira, onde se dançava. Então eu tocava jazz e meu lazer era curtir música brasileira. Jogava capoeira, dançava, dava canja e todo fim de semana estava lá com os brasileiros de Paris. Em um determinado momento decidi vir ao Brasil, passar umas férias. Vim na época de carnaval.

EM – Já tinha na cabeça que ia morar aqui?
NK – Não. Era impossível morar fora da França. Nunca fui de viajar muito, de ser mochileiro. Passava as férias com a minha família no sul da França, na Normandia, sair da França era totalmente surreal pra mim. Daí que um casal de amigos franco-brasileiros me chamou pra passar as férias e eu fui. Passei uns dias em Vitória, uns dias no Rio, uns dias na Bahia e adorei. Tive uma lembrança muito forte do Rio de Janeiro, querendo voltar. Mas de uma forma mais normal, não no carnaval. Não se toca a mesma música durante o ano no Rio do que na época do carnaval. Me preparei uns cinco meses pra voltar e passar mais tempo, guardar dinheiro, etc. Quando cheguei fui direto pra Lapa. Nessa época estava fervendo de novidades, movimentos musicais de choro e samba. Muita gente começando a aparecer, Yamandú, que conheci lá, Tereza Cristina, uma geração que explorava a música brasileira de uma forma que me interessava. De uma forma às vezes jazzística. Percebi que aqui tinha um material pra me desenvolver e enfim encontrar meu estilo de tocar.


EM– Nesse momento você percebeu que a música brasileira ia te dar o que precisava?
NK – Exatamente. Queria juntar a minha festa, meu lazer, ao que era o meu trabalho, um pouco mais cerebral, no jazz. Comecei a achar que não era normal escutar tanta música brasileira e não fazer aquilo. Essa foi a minha busca vindo pra cá. Encontrei músicos que faziam isso, repertório do Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Cartola. Com improviso pessoal, tocando como se fosse temas de jazz, mas misturando o jeito brasileiro. Claro, tudo é fruto de mistura.

EM – O povo brasileiro é o mais antropofágico do mundo.
NK – Sim, transforma tudo em produto nacional. (risos)
E não é fácil misturar e ficar interessante. O Brasil é um exemplo. Às vezes escuto uma música com elemento europeu, africano, daqui e no fundo dá uma música impar. É incomparável.

EM - Como é vista a música brasileira lá fora? O que aparece mais, os ritmos rebolativos da televisão ou a música instrumental brasileira, o jazz BR?
NK – Hoje não sei te dizer. Acho que melhorou em relação ao Choro. Mas vão muitas coisas que eu não curto. Refrões muito faceis de lembrar, não vou citar nomes, isso sempre chegou. Quando eu morava na França chegava muito mais a MPB. Não estou falando da música instrumental, isso era num meio muito fechado. Quem conhecia o Egberto Gismonti era o publico de jazz, que não é o maior público do mundo.

EM – A música instrumental brasileira sempre teve um presença forte na Europa. A Tânia Maria mora na França. O Raul de Souza morou lá. Os brasileiros têm sempre sua noite lotada no festival suiço de Montreux. 
NK – Sim, tem uma galera que faz sucesso com coisa boa. Mas chega a parte ruim também. Esse movimento do choro através do Hamilton de Holanda e Yamandú deu muita visibilidade à música instrumental brasileira. Eles não foram os primeiros, mas o choro teve mais repercussão lá fora.

EM– O que é mais difícil pra um gringo que chega aqui no Brasil? Digo, querendo se inserir no contexto musical?
NK – O que me ajudou muito é que havia acabado de participar em um festival na Alemanha que homenageava o Pixinguinha. Eu havia estudado algumas músicas dele e como improvisador inseria algumas coisas. Nessa parte musical, o primeiro contato foi fácil. Acho que o músico, de uma forma geral, se souber improvisar não é difícil de entrar. As pessoas são muito abertas no Brasil. Fui extremamente bem recebido. Sempre andava com meu violino e era chamado pra dar canja. Não tive dificuldade. Foi maravilhoso. O mais dificíl foi manter a comunicação, tocava muito bem, mas não sabia o que falar. A música já é uma forma de comunicação, mas o ser humano gosta de saber com quem está lidando. Se é uma pessoal legal ou não. A minha sorte foi saber falar um pouco do português. Quase não enfrentei essa barreira.


EM – Você quaae não tem sotaque.
NK – Hoje não. Naquela época conseguia falar com as pessoas, me tornar amigo e voltar. Amizade é muito importante. É claro que tive dificuldade musical. Tive de estudar muito repertório, muitas músicas, muitas notas. O difícil é pegar o sotaque da música. São referências diferentes.

EM – Acho que o brasileiro quando vai pra fora não vira gringo, mas o gringo quando vem pra cá vira brasileiro. Procede?
NK – (risos) O gringo vem porque gosta do Brasil e o contrário nem sempre é verdadeirao. A dificuldade na vida leva muitos brasileiros a sair. Não vão para um país porque adoram sua cultura. Vão pra abrir um mercado. Teve gente quase me agradecendo por estar aqui aprendendo a música brasileira. Não vim para procurar trabalho. Não era meu objetivo. Vim para aprender.

EM – A profusão de ritmos do Brasil?
NK – Minha dificuldade sempre foi essa? Pegar a ginga, a malandragem. Eu não nasci com esse ritmo. Quando você nasce tem mais facilidade.



EM – Já que você citou, o Hamilton de Holanda fundiu o choro com o jazz. Você colocou o violino no forró. Com os aparatos tecnológicos a globalização chegou na música pra ficar. O purismo morreu?
NK – Acho que não. O choro continua existindo. Quem quiser experimentar pode, mas não impede quem quer ficar no tradicional. O forró a mesma coisa. Misturar o jazz com outras coisas não mata a música original. Se der sorte vai nascer outra coisa. Acho que o buraco é mais embaixo. O que mata a cultura é o baixo nível musical. Adoro misturar tudo. Venho da música clássica e hoje nem penso no que estou tocando. Toco o que vem na minha cabeça. Mas também defendo a tradição. No meu repertório sempre tem choro, uma música do Dominguinhos, forró. Sempre toco coisas mais tradicionais, mas à minha maneira porque eu sou uma mistura. Mas o purimos não morre, não. Ele fica ali, sempre vigiando. (risos).

EM - Gostaria que você falasse sobre a rabeca, instrumento primo do violino. Pouca gente conhece esse instrumento, mesmo no Brasil. Como foi teu encontro com ela?
NK – Descobri a rabeca em um evento no Rio de Janeiro sobre a cultura alagoana. O Nelson da Rabeca era uma das atrações no Semente, um bar importantíssimo que frequentava na Lapa. Vi que ele estava tocando um instrumento pareceido com o violino, mas em outra posição. Era uma coisa muito mais rústica, menos elaborada na fabricação, mas um suingue incrível. Zabumba, triângulo, rabeca e a mulher dele cantando. Fiquei apaixonado, comprei um disco e comecei a estudar as músicas dele. Mas o contato mesmo, de pensar em montar um projeto com a rabeca foi na época do meu terceiro disco, o Caçua. Já estava quase todo gravado quando fui passar férias em Olinda. O Luiz Paixão, que é de Pernanbuco, estava hospedado na casa do amigo francês que me recebeu e a gente ficou lá tocando, ele violino e eu rabeca. Ele que é um mestre da rabeca me mostrou suas músicas, muitos rabequeiros foram influenciado por ele. Então aluguei um estúdio para gravar umas músicas dele, só para quando chegar ao Rio gravar algumas coisas em cima e tê-lo como participação no meu disco. Meu terceiro disco fecha com um popurri de rabequeiro, dele e do Nelson da Rabeca. Aí montei um grupo com violino e rabeca, contrabaixo e percussão, que é o projeto Cordestinos, inspirado no Pife Moderno do Carlos Malta. Essa coisa de juntar saxofone com flautas tradicionais, pífanos. Apesar de ser muito diferente me inspirei no trabalho dele. Falo abertamente isso. O nosso é mais forró mesmo. Vou mais no baião e no xote. Também comprei uma rabeca e tive a sorte de ser chamado pra gravar com o Gil, foi onde toquei mais essa rabeca.
No meu grupo não toco. É um instrumento que tem afinaçõs diferentes, fica no braço em vez de ficar no ombro, e apesar de eu tocar na posição do violino. É um som que parece que com apenas uma nota te leva direto para o Nordeste.

EM – É impossível ignorar o momento político traumático pelo qual a França está passando? Gostaria que comentasse.
NK – Não só a França, o mundo está uma bomba relógio. A França é mais visada porque tem um passado muito pesado. Não sou bom pra falar de política nem de história, mas a colonização, a imigração e o fato de os imigrantes não serem bem tratados, onde tem muita segregação, muito gueto aumenta isso. Estudei em um suburbio de Paris e lá tem uma concentração muito forte de africanos, árabes, onde há muita miséria. Não se compara à miséria de um subúrbio do Rio, mas convivi com isso e era bem pesado. Os filhos e netos de imigrantes não têm muito acesso às coisas, são isolados, são rejeitados, ficam entediados. Penso que essa revolta que eles nutrem contra o país o qual nasceram pode colocá-los como um alvo fácil para uma lavagem cerebral, alguém jogar veneno. Acho que lá existe um monte de soldados prontos para atacar. Outros países talvez tenham menos do que lá. E uma coisa vai piorando a outra. Isso está gerando o racismo, mais segregação, alimentando a raiva deles, que são franceses e não são reconhecidos como tal. Veja quantos jogadores do time que a França ganhou a copa eram franceses.

EM – Zinedine Zidane, o líder deles era argelino, onde a França tem uma história pesada.
NK – Exatamente. Então, eles são franceses. Acho que o inimigo número um do Estado Islâmico são os Estados Unidos, mas o segundo é a França. É dramático. É assustador.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Show de Eric Gales que colocou Santos na rota do jazz e do blues completa dez anos


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Leandro Amaral

Há dez anos, 28 de julho de 2006, produzi meu primeiro show internacional e o primeiro do reformado Teatro Coliseu aqui de Santos.
Em janeiro daquele ano, folheando a revista de sexta-feira do jornal Folha de S. Paulo, li que dois de meus ídolos viriam ao Brasil para tocar no Bourbon Street Music Club, o gaitista Charlie Musselwhite e, nada menos do que um dos maiores guitarristas de blues de todos os tempos, Otis Rush.
Aquilo não saiu da minha cabeça. Na época, trabalhava em um jornal e fiquei pensando em como poderia trazer os caras a Santos.
Num estalo peguei o telefone e liguei para o Bourbon e me passaram o diretor artístico da casa. O Herbert atendeu e disse que estava com viagem marcada para os Estados Unidos e que poderíamos fazer uma reunião quando voltasse.
A parada era a seguinte, o cara nem me conhecia e disse que dava pra fazer e já havia até agendado uma reunião. Não sou de ficar dando risada a toa, mas naquela semana fiquei sonhando com o negão e ouvindo Lost in the Blues, Right Place, Wrong Time e Screamin’ the Blues do Otis Rush sem parar.
Um mês depois, na data marcada, almoçamos num restaurante no centro de Santos, na histórica Rua XV. Sim, os caras ainda desceram pra falar comigo. O Herbert, a Thais e o Beto, seus dois sócios em uma produtora especialista em blues e jazz.
Na época eu ainda não sabia, mas no mundo da produção cultural existem dois tipos de gente, as que fazem e as que falam. Eu e o Herbert saímos daquela reunião com um nome na cabeça, Jazz, Bossa & Blues.
Por uma série de motivos, os shows de Charlie Musselwhite e Otis Rush não aconteceram no Brasil naquele ano. O Charlie encontrei na estrada um par de vezes, mas o Otis Rush nunca. Uma pena, uma mancha na minha biografia.
Mas o projeto andou e entre algumas opções de artistas, apareceu o nome de Eric Gales. Irmão do não menos famoso, Little Jimmy King, Eric Gales nasceu em 1974 em Memphis,  berço do Rhythm and Blues. A partir dos quatro anos aprendeu a tocar guitarra com o seu outro irmão, adivinhem o nome?! Eugene.
Sabe o que isso significa? Nada. Nem sabia disso naquela época, mas gostava muito do Eric Gales e assim ficamos. Começamos um projeto de música como deveríamos, com a mão esquerda.
Como disse antes, trabalhava em um jornal e fui falar com o diretor se ele encampava a ideia de buscar patrocinadores ou mesmo bancar o projeto e o show acabou vinculado à empresa. Não vou entrar em datalhes porque eles são desagradáveis, não vou arrastar corrente, mas financeiramente não foi bom pra mim.
O show rolou. Fizemos barulho. O teatro Coliseu havia acabado de ser reinaugurado após anos de uma reforma mal feita e incompleta. Cortesia do senhor Beto Mansur, prefeito de Santos na época e agora deputado federal.
A prefeitura estava tomando porrada na imprensa e nada como um showzinho legal pra trazer prestígio à casa. É, às vezes a gente serve o diabo sem saber.


No dia 28 de julho de 2016, um timaço subiu ao palco do teatro em Santos, Eric Gales (guitarra e voz), Ugo Perrota (baixo) Papel (bateria) e Fred Sun Walk (guitarra). 
Para abertura não poderíamos ter colocado outro músico senão Mauro Hector. Outro canhoto e discípulo de Jimi Hendrix.
Gales havia acabado de lançar o álbum Crystal Vision e estava em uma fase atribulada, fazendo o uso de drogas que estavam afetando sua vida e sua música. Não que o show tenha sido ruim, não é isso, foi ótimo, mas os rolos incluiram prostitutas na porta do Coliseu e várias rodas de substâncias ilícitas... e eu tendo de lidar com tudo isso porque as outras pessoas envolvidas estavam preocupadas em tirar fotos e aparecer na imprensa. Fuck’em all.
Antes do show do Mauro conversavamos todos no backstage quando surgiu a ideia de ele entrar no final do show de Gales para uma jam e surgiu a dúvida do que ambos deveriam tocar. 
Eu que estava na roda mandei logo essa: “Os dois são díscipulos de Jimi Hendrix porque não tocam Red House?”. E assim foi. Na hora do “mais um” Gales chamou o Mauro e os dois tocaram juntos. 
O negócio começou suave como Red House costuma ser, um tremendo slow blues, mas logo descambou pra violência. Todo mundo sabe que o Mauro não sabe brincar. Logo ele chutou a canela de Gales que retribuiu e os dois acabaram duelando e fritando. Essas histórias de bastidores é que dão prazer nessa profissão. 


Após esse show inicial tenho feito de tudo, ao meu alcance, para colocar Santos na rota de shows de jazz e blues, nacionais e internacionais. 
Ás vezes me surpreendo como consegui fazer tanta coisa sem dinheiro. Não tenho paciência para vender “meu produto”, convencer as pessoas de que ele é bom... sabendo que é bom e deveria se vender sozinho. Produtor independente sofre nesse país, produtor independente de jazz e blues nem se fala. Não só de blues, de música boa mesmo, o que é um conceito elástico. Melhorando a afirmação: “de música que eu considero boa”. 
Produzi de tudo, a lista inclui Leo Gandelman, Big Time Orchestra, Big Joe Manfra, Ana Caram, John Pizzarelli, Traditional Jazz Band, Blue Jeans e Magic Slim, Rosa Passos, Gilson Peranzzetta, Kenny Brown, Freddy Cole, Peter Madcat, Os Cariocas, Lô Borges, Francis Hime, Bad Plus, Mart’nalia, Badi Assad, Izzy Gordon, Vânia Bastos, Daisy Cordeiro, Igor Prado Blues Band, Robson Fernandes Blues Band, Caviars Blues Band, Big Chico Blues Band, Sepultura, Big Joe Manfra, Big Gilson e Arnaldo Antunes, James Wheeler e Igor Prado Band, Ary Holland e Maria Diniz, Bruna Caram, Adriana Peixoto, Giana Viscardi, Lynwood Slim e Igor Prado Band, Tom Zé, Maurício Sahady e Ivan Márcio Blues Band, Maurício Sahady e Ivan Márcio Blues Band, Lurrie Bell e Big Chico, Hamilton de Holanda, Big Jam – Tributo a Celso Blues Boy, Harry, Orleans Street Band, Giba Byblos Blues Band e Jon McDonald, Camisa Listrada, Zuzo Moussauer Trio, Larry McCray e Banda, Lurrie Bell, Lazy Lester, Peter Madcat, Los Breacos, Claudio Celso e Orquestra Sinfônica de Santos, Igor Prado Blues Band convida Tia Carroll, Koko Jean Davis e Igor Prado Band, Raphael Wressnig e Igor Prado Band, Osmar Barutti Trio, Divazz, Jefferson Gonçalves, Artur Menezes, Filippe Dias, Vasco Faé, acústico, Ivan Márcio e Roger Gutierrez, Sax Gordon e Igor Prado Band, Big Time Orchestra, Big Chico Tributo a BB King. Dentro do festival Tarrafa Literária produzi Arnaldo Antunes, Tom Zé, Wando Doratiotto, Lobão e Hamilton de Holanda. E ainda criei um monte de projetos. Com muitos desses artistas trabalhei mais de uma vez.   
Hoje Santos tem seu próprio festival de jazz que está no quinto ano. Muitas pessoas de fora pensam que sou eu quem agita a produção, o festival pertence unicamente ao Jamir Lopes e Denise Covas. Apesar disso, gosto de pensar que sou um pouco responsável por isso, por ter formado esse público.
Por coincidência, dia 28 de julho, dia do meu primeiro show de blues na cidade, Eric Gales no Coliseu, o Santos Jazz Festival estréia a sua quinta edição em 2016. Um absurdo de longevidade num páis onde a única coisa que atinge mais de cinco anos é mandato de político malandro. 
É isso, dez anos de blues e jazz em Santos. Salve a música brasileira, salve o blues, salve o jazz, salve a Lei Rouanet, Salve o Ministério da Culutra. E FORA TEMER.