Fotos: arquivo pessoal de Igor Prado
Não deve ser fácil ser filho do homem que mudou a história da música. Ainda mais quando se resolve cobrir as pegadas do pai no mesmo ramo. Mud Morganfield e Big Bill Morganfield, os dois filhos de Muddy Waters têm de conviver com isso. Se há um músico que merece a alcunha de lenda esse é Muddy Waters. Já era, quando vivo.
Após sua morte, com o passar dos anos, passou a ser reverenciado como o homem que mudou a música do planeta. Muddy Waters foi o elo entre os blues rurais que eram cantados nas fazendas do sul dos Estados Unidos e os blues das cidades grandes. Sua forja, um lendário combo de blues de Chicago equivalente à primeira grande banda de Miles Davis. O grupo de Muddy variava a formação com os seguintes músicos: Otis Spann (piano), Little Walter ou James Cotton (harmônica), Big Crawford ou Willie Dixon (baixo) e Elgin Evans (bateria). Na guitarra, às vezes se servia de Jimmy Rogers, outras de Buddy Guy.
Mas esse negócio de comparação parece não incomodar Mud Junior que reconhece a genialidade do pai e sabe da importância de McKinley Morganfield para a cultura norte americana.
Tanto que atualmente está fazendo o mesmo, ou seja, juntando uma banda de all stars para gravar um álbum que será lançado em breve. Em entrevista exclusiva para o Mannish Blog, Mud Morganfield fala sobre tudo isso.
Eugênio Martins Júnior – Sua aparência, seu tom de voz e até o seu repertório são muito parecidos com os de Muddy Waters. É claro, ele é o teu pai e influenciou a todos depois dele. A questão é o seguinte: isso ajuda a abrir portas ou você não gosta das comparações?
Mud Morganfield – Meu pai abriu muitas portas para mim e para minha família e eu certamente sei disso, é o que os pais fazem pelos seus filhos. Se as comparações ajudarem aos jovens que não tiveram chance de ouvir/ver meu pai será uma coisa boa para eles. Mas eu tenho o meu próprio estilo.
EM – Atualmente você e seu irmão Big Bill Morganfield se apresentam pelo mundo mostrando a música de Muddy Waters e fazem bem. Mas a sua carreira começou depois da morte dele. A presença de Muddy inibiu isso, quero dizer, você sentiu sob a sombra de Muddy no começo?
MM – Meu pai se foi há quase trinta anos e eu nunca quis ser ele. Mas eu era o filho que quer ser tão grande quanto seu pai. E eu tenho certeza que ele teria o mesmo sentimento com todos os seus filhos. A presença do meu pai sempre estará comigo.
EM – Você teve contato com os músicos da banda de Muddy qundo era criança? Quem costumava visitar sua casa naquela época? Como isso influenciou sua vida e sua música ou isso nunca aconteceu?
MM – Sim, tive contato com a banda do meu pai quando era jovem. Chamava o James Cotton de avô, falava com Buddy Guy quando precisava também, John Primer, Herbert e muitos outros. Acabei de terminar meu novo CD com Kenny Smith na bateria e com o último guitarrista do meu pai, Rick Kaher e Bob Corritone na harmônica. Não posso me lembrar de todos os nomes, mas sei que todos os grandes que visitarma meu pai cara, mas pode dizer o nome que ele esteve lá: os Rolling Stones, Eric Clapton, Chuck Berry e, claro, James Cotton e Buddy Guy, etc.
EM – Você live em Chicago atualmente? Como você vê a cena blueseira da cidade? Você consegue ver a influência de Muddy?
MM – Sim, vivi em Chicago minha vida inteira. Vejo a influência da música do meu pai em todo o mundo. Agora muito mais além dos oceanos… e eu amo isso.
EM – Você tocou no Brasil no ano passado, teve contato com os blueseiros brasileiros? Você tocou com a Igor Prado Band, o que achou da experiência? Achei a versão de Ninetten Years Old matadora.
MM – Sim, meu amigo Igor Prado. Eles são grandes músicos, cara. Na verdade...amo aqueles caras. Nesse momento estamos conversando para ver se eles me arrumam alguns shows para mim. Estou querendo voltar ao Brasil em abril, entre os dias 20 e 26. Essa banda é a melhor, classe A.
EM – Quando Willie Big Eyes Smith esteve no Brasil em 2009, ele me disse que Muddy Waters era como um pai para ele. Ensinou-o muitas coisas sobre música e sobre a vida. Como era McKinley Morganfield?
MM – Buddy Guy me contou muitas histórias, assim como Willie. Todos tinham meu pai como seu próprio pai. E eu os respeito e olho para eles do mesmo jeito.
EM – Gostaria que você me dissesse como vê a contribuição de Muddy para o mundo da música e como você vê o reconhecimento das platéias e das instituições nos Estados Unidos com relação a isso?
MM – Meu pai não teve o reconhecimento que merecia no fim de sua vida. Não posso dizer como é hoje nos estados Unidos, mas quero te dizer uma coisa, quando as pessoas de outros países dizem que amam Muddy Waters não é uma cortina de fumaça, elas realmente falam a verdade.
EM – O que você achou do filme Cadillac Records? Você assistiu?
MM – Cadillac Records? Bom entretenimento.
EM – Você tem dois CDs gravados: Fall Waters Fall e Live at Dirty Aces. Está vindo trabalho novo por aí?
MM – Sim, tenho dois CDs, um ao vivo e outro no estúdio. O CD ao vivo foi gravado em Chicago com grandes músicos. Todas as músicas são composições minhas, menos uma, Same Thing, que é do Willie Dixon. O CD ao vivo foi gravado com uma banda da Inglaterra chamada Dirty Aces. Queríamos por um pouco de twist em algumas músicas minhas e do meu pai. Essa banda deu um sabor todo especial nessas gravações.
EM – Às vezes você e o Big Bill tocam juntos ao vivo, vocês já pensaram em gravar no estúdio? Digo, fazer um album colocando a tradição familiar com a antiga banda do Muddy? Seria um grande disco.
MM – Sim, eu e Bill conversamos sobre gravar um CD juntos, mas agora ainda não é o tempo. Nos já fizemos alguns festivais juntos, como o Westmont Blues Festival, um pequeno lugar onde meu pai morou nos seus últimos dez anos de vida. Vou te dizer uma coisa que poucas pessoas sabem. Acabei de passar cinco dias gravando com alguns dos melhores músicos de Chicago. Esperamos lançar o trabalho em agosto e eu prometo que você não vai acreditar.
Interview with Mud Morganfield
Eugênio Martins Júnior - Your appearance, your voice tone, even your repertoire are very similar of Muddy Waters. Of Course, they're your father and influenced everybody after they. The questions is: the fact helps open the doors or you don't like comparisons?
Mud Morganfield - Pop has open so many doors for me and my family, and I think rightfully so. Its what all parents want and do for their children. If the comparison help the young people of the day, who may not of got the chance to hear/see my dad,the comparison could be a great thing for today's children. But I am my own blues man, with my own blues....
EM - Actually you and your brother Big Bill Morganfield are playing around the world spreadind the Muddy Water's music. And do well. But your carrer begining after Muddy passed away. How much Muddy's presence repress that? I mean, did you felt under the shadow of strong presence of Muddy in the begining?
MM - Pop has been gone almost 30 years. And there will never be another pop, but i am a son, and i want to be as great as my dad, and i am sure he would want the same for all his kids. Pop presence has always been with ME.
EM - Did you have contact with the Muddy's sidemen when you was a child? Who use to visit Muddy's home? Tell me if that influenced your music and your life. or it's never happened?
MM - Yes I had contact with my farther band when i was younger, James Cotton I call my grandfather, i talk with Buddy Guy, when i need to, John Primer, Herbert, and many many more. I just finish my new CD with Kenny Smith on drums and my dads last guitar player, Rick Kaher. Bob Corritore on harp. I can't remember all the greats who visits my dad, man, but you name it, and they have been there. The Rolling Stones, Eric Clapton, Bo Diddley, Chuck Berry, of course, James Cotton, Buddy Guy, etc.
EM – Do you live in Chicago today? How did you see the Chicago blues scene? Can you see Muddy's influence?
MM - Yes I live in Chicago, all my life. I see pops influenced all over the world, Eugen. More so over sea now...I love it.
EM – Did you had been playing in brasil last year. Did you had contact with brasilians blues players? I know that you play with Igor Prado Band. What do you thing about that experience? The version of She's Nineteen Years Old was a killer version.
MM - Yes my friend Igor Prado. They are great players man, I love them cats.... as a matter of facts. We are talking right now on some gigs for me. I really think I will be in Brazil on april the 20 unto the 26th. This band is the best...high class.
EM – When Willie “Big Eyes” Smith had been in Brasil in 2009 he talk to me the Muddy Waters was like father to him. Teach him a lot of thinks about music and life. How was Mckinley Morganfield as a father?
MM - Buddy guy has told me many story's, as have willie big eyes about being on the road.. All of them look at pops as being like a farther.and I respect and look at to them the same way
EM – Would you liked to describe how do you see the Muddy's contribution to the world music and how do you see the retribution of the United States audience and institutions at large. I mean, do you thing Muddy had a recognition that he deserve?
MM - Pop didn't not get all he had coming unto the last days of his life. I don't know it really was here in the states, but i can tell you this. When people over sea say, we love Muddy Waters, they are not just blowing smoke, they mean it.
EM - Did you saw Cadillac Records the movie? What do you thing about it?
MM – Cadillac Records? Very entertaining..
EM - Did you recorded two albuns a few years ago: Fall Waters Fall and Live With the Dirty Aces. Tell me about it. and there's a new job came?
MM - Yes i have two CDs out,one live and one studio: the live CD was done in Chicago with some great players. All but one song/the same thing was Willie Dixon. The rest of the songs were wrote by me. The live CD is a live recording with a great England band called the Dirty Aces. We wanted to put a little twist on mine and dad songs. This band brought there own flavor to the cuts.
EM – Sometimes you and Big Bill playing together. Did you talk with him about record together? I mean, put the family tradition on record? Who knows, playing with the old Muddy's band. It will be a great blues record.
MM - Yes me and Bill has talked about recording together, but right now is not the time. We have done a few festival together, like Westmont Blues Festival, a little place my dad spend his last 10 years alive living. I will give you a head up,that many people don't know yet, Eugen. I just spend 5 days recording a new CD, with some of Chicago's best. We are looking to launch it august. I promise you this Eugen you will be blowed away.
Ótima entrevista, Eugênio. Trabalho de fôlego.
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