sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Robert Altman: como os diretores da safra sexo, drogas e rock'n'roll fizeram a revolução

Texto: Eugênio Martins Júnior

“Você leu o exorcista?”
“Li.”
“O livro é sobre o que?”
“Sobre uma menina que é possuída pelo diabo e faz um monte de coisas ruins.”
“Que tipo de coisas ruins.”
“Ela empurra um cara de uma janela e se masturba com um crucifixo e...”
“O que isso quer dizer?”
“É que nem tocar siririca, não é?”
“É sim. Você sabe o que é tocar siririca?”
“Claro que sim.”
“E você faz isso?”
“Claro. Você não toca punheta?”
O diálogo acima, entre a atriz Linda Blair, na época uma menina de doze anos, e o experiente diretor Willian Friedkin, ambos de O Exorcista, é apenas uma mostra do conteúdo de Como a geração sexo, drogas e rock’n’roll salvou Hollywood, (Easy Riders, Raging Bulls: How the Sex, Drugs and Rock'n'roll generation saved Hollywood) obra do jornalista Peter Biskind. A trdução é da jornalista Ana Maria Bahiana.
Contada com narrativa afiada, crua e cheia de malandragem a obra é fundeada em centenas de entrevistas com os próprios protagonistas das histórias. Muitas delas, sobre perseverança e muito talento. Algumas, fascinantes golpes de sorte. Todas, muito loucas, relatos fiéis de uma época de excessos.

E não são poucas. Recheando as paginas do livro, por exemplo, a tacada certeira de Dennis Hopper e Peter Fonda em Eazy Rider; o aparecimento do astro Robert De Niro; a insegurança de Steven Spielberg em realizar Tubarão, que antes da produção não passava de um mostrengo de ferro e espuma largado em um estúdio qualquer. Seu apelido era Bruce, nome do advogado de Spielberg. E como o filme Tubarão tornou-se o recordista de bilheteria, passando na frente de O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, o diretor mais badalado do momento.
Em mais de 450 páginas, Biskind conta a história de todos os filmes que amamos ver nos anos 70 e 80. Além dos já citados, também estão lá: Caminhos Perigosos, O Touro Indomável, Taxi Driver, New York, New York, O Último Concerto de Rock (Martin Scorsese); Operação França (Willian Friedkin); THX, Loucuras de Verão e Guerra nas Estrelas (George Lucas); M.A.S.H., Nashiville e Quando os Homens São Homens (Robert Altman); Lua de Papel e A Última Sessão de Cinema (Peter Bogdanovich); Shampoo e A Última Missão (Hal Ashby); O Céu Pode Esperar e Reds (Warren Beatty, que também atuou e produziu Bonnie e Clyde e Shampoo); Conversação e Apocalipse Now (Francis Ford Coppola); Cada Um Vive Como Quer (Bob Rafelson); Gigolô Americano e A Marca da Pantera (Paul Schrader), 1941, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e E.T. – O Extra Terrestre (Steven Spielberg); O Franco Atirador (Michael Cimino); Warriors (Walter Hill); Hair (Milos Forman); Chinatown, Dança dos Vampiros e O Bebê de Rosemary (Roman Polanski) e tantos outros.
Como a geração sexo, drogas e rock’n’roll ... relata, antes de tudo, como a produção cultural dos anos 60, o cinema incluído, passou a refletir o compromisso da juventude pela ruptura com antigos valores do “American Way of  Life”.


A convulsão social gerada com a guerra do Vietnã, a luta pelos direitos civis, a libertação sexual e a busca de realizações individuais foram os motivos da catarse comportamental ou foram suas conseqüências?
Mais do que apresentar os excessos da época, Biskind disseca os relacionamentos afetuosos entre os artistas e econômicos entre diretores, produtores e estúdios em uma período de transformação da indústria cinematográfica que, se não for a maior, com certeza, é a mais lucrativa do mundo.
Influenciada pelo cinema europeu, essa transformação tinha como ponto central a mudança de poder no set de filmagem, tirando-o das mãos do produtor para colocá-lo definitivamente nas mãos dos diretores/autores.
Enfim, Como a geração sexo, drogas e rock’n’roll... é um livro para cinéfilos inveterados que enxergam a década de 70 como o que melhor foi feito por Hollywood até agora. Uma explosão de criatividade, ousadia e quebra dos padrões que, em dias atuais, voltaram a ser estabelecidos. Daí, a mediocridade atual.

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