Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Marcos Rodrigues
O cantor e instrumentista Pedro Mariano acaba de lançar Incondicional, o sétimo álbum de sua carreira solo. O trabalho é muito bem produzido e conta com músicos que já o acompanham na estrada por algum tempo, entre eles, Junior Vargas (bateria), Leandro Matsumoto (baixo), Conrado Goys (guitarras e violões) e Marcelo Elias (teclados).
Além de seu fiel parceiro Jair Oliveira, com
Colorida e Bela e
Memória Falha, o time de compositores conta com Frejat, George Israel e Mauro Santa Cecília (
Três Moedas), Marcos Valle e Lulu Santos (
Próxima Atração), Jorge Vercillo (
Quase Amor) e muitos outros.
Incondicional traz 14 faixas românticas e dançantes que podem ser ouvidas em tardes ensolaradas, prova que o artista está, pelo menos artisticamente, de bem com a vida. Digo pelo menos, porque Pedro Mariano não foge das polêmicas. Ele baixa a lenha no governo, nas companhias aéreas, nas gravadoras e nos jornalistas que vivem enchendo o seu saco com a seguinte pergunta: “Quando você e a Maria Rita vão trabalhar juntos?”
A seguir você confere a íntegra de uma entrevista exclusiva para o Mannish Blog concedida no dia das mães, ocasião da apresentação de Mariano no Sesc Santos.
Eugênio Martins Júnior: Qual é o cuidado que você tem quando pega uma música que já foi gravada por outro artista?
Pedro Mariano: Quando escolho uma música pra cantar, dependendo da fonte que originou isso, pode tomar vários caminhos diferentes. Às vezes ouvi a música de um interprete ou compositor com tudo pronto e fiquei apaixonado. O ideal nesse momento é achar uma coisa por outro caminho, uma coisa original, feita pra você, sobre o seu ponto de vista. Às Vezes a versão que você ouviu é bonita do jeito que está e o que você pode fazer é modificar o mínimo, como uma homenagem a eela. Mas às vezes a música chega pra mim com violão e voz. Aí parto do zero porque a hora que ouço a música vejo vários caminhos. Quando você regrava uma música que já é conhecida, e não precisa ser um sucesso, o ideal é que tome um caminho totalmente diferente. Partindo do principio que pra fazer igual eu fico com a original.
EM: Esse time de músicos já te acompanha há algum tempo. Fale um pouco sobre ele.
PM: Todo interprete tem sempre de estar acompanhado de bons músicos, e quando falo bons músicos não é necessariamente um cara que toque bem. Isso pra mim isso é premissa e não um ponto a favor. O cara pra tocar comigo tem de ser bom músico acima de tudo. Aí ele também tem de preencher outros pré-requisitos, outras qualidades. Tem de ter uma compreensão musical muito parecida com a minha, tem de ter um comportamento musical próximo daquilo que eu acredito que seja coerente com um músico. Tem de ter respeito pela arte, pela música, pela profissão dele. Tudo isso faz a diferença. Se eles estão comigo há quase sete anos significa que eles preenchem todos esses requisitos. E acima de tudo, tem convívio diário, por um longo período com pessoas sem ter qualquer vínculo familiar. É a mesma coisa que trabalhar num escritório fechado com essas pessoas. Portanto elas têm de ter a mesma noção de coletividade, de individualidade que a sua. E aqui graças a Deus, o clima é muito leve, acho importante isso ficar impresso no trabalho. E só fica impresso se você acredita em tudo isso. Se você está cumprindo tabela meu amigo, vai ficar igual a todo mundo, pra ser diferente tem o comprometimento.
EM: Você disse que é como se fosse um trabalho dentro de um escritório, mas na música não é bem assim. Música é arte, também tem o sentimento envolvido.
PM: Mas o sentimento rola na hora que acende a luz e vai tocar, dentro de um estúdio, na hora da criação. O dia-a-dia é burocrático. De negociação de show, passar som, montagem de equipamento, check-list, entrada e saída de hotel, chegada e saída de aeroporto. Não tem glamour nenhum.
EM: Mas essas coisas quem trata é o pessoal da produção.
PM: Músico que não trata disso não sabe se está sendo feito direito. Eu acompanho a minha equipe em todas as operações, até porque a produtora que gera todo o meu trabalho é minha. Aquele ditado que o porquinho só engorda aos olhos do dono é a coisa mais verdadeira do mundo. Hoje em dia não tem mais espaço pra artista que fica no carro esperando a hora de sair para as luzes. Ele só vai ter sucesso se botar a mão na massa. Eu só acredito em artistas que põe a mão na massa e não naquele que só aparece na hora de fazer o gol. É a mesma coisa que você falar que o centro avante, camisa nove, o craque do time, só entra em campo na hora de receber o passe pra chutar em gol. A minha equipe me respeita e trabalha comigo com vontade, com sangue no olho, porque eu estou ali no dia-a-dia, esticando cabo, levantando monitor, arrumando cenário. Pra mim, isso é uma postura de respeito com a arte.
EM: Esse disco tem 14 temas. Em alguns você canta e em outros você canta e toca instrumento. Como é feita essa escolha, como aparece essa divisão cantor e músico ?
PM: Nas gravações de um disco eu toco primeiro e depois eu canto, senão seria muito difícil de captar uma voz bem feita ou de tocar bem feito. Em estúdio você tem essa possibilidade. Um bom produtor, e eu sou o produtor de todos os meus discos, com exceção do primeiro, tem de conseguir fazer uma leitura do que aquela música pede e saber quais as peças que vai utilizar. Eu sei até onde eu posso ir como músico. Qual o meu limite, minha linguagem e minha contribuição, assim como eu sei com todos os profissionais que vou trabalhar no disco. Então, normalmente, trabalho em um disco com duas ou três opções de baixista, bateristas ou tecladistas. Já guitarrista, por sorte, o Conrado (Góis) cumpre todas as funções. Ele é formado em violão clássico, foi roqueiro quando moleque e hoje curte jazz e funk. Sabe fazer de tudo, de música brasileira a rock and roll, além de ser produtor, arranjador e saber escrever música. É um cara muito completo. Nos meu discos os únicos músicos que ficavam direto eram os guitarristas. Antigamente eu trabalhava com o Chico Pinheiro, hoje é o Conrado. Baixistas não, além do (Leandro) Matsumoto, tenho o Marcelo Mariano e o Edu Martins, um cara mais jazzista, que toca baixo acústico. Tecladista a mesma coisa, normalmente, estou com meu pai no estúdio, o produtor Otávio de Moraes também é tecladista e o Marcelo Elias que toca comigo na estrada. É como cozinhar, cada músico tem um tempero diferente e quando eu ouço a base eu digo: “Essa aí sou que quem vai tocar”. Porque já sei o que é pra fazer e vai ficar mais fácil tocar do que ficar explicando.
EM: A crise econômica já chegou ao mercado musical ou ele já está em crise há algum tempo? Como você vê esse negócio de baixar música na internet?
PM: Não existe um fator isolado. A crise mundial é ruim, mas afeta os investidores. Por exemplo, um evento grande, que tem quatro ou cinco patrocinadores e que todo ano acontece, com a crise mundial vai ter apenas dois ou três. Aí vai ter de reconsiderar as suas atrações e muita gente fica de fora. Agora, como artista, o que mais afeta não é a pirataria porque ela atrapalha, mas não faz você perder o jogo. Ela atrapalha a gravadora, as editoras os músicos porque faz arrecadar menos. Gera menos receita pra todo mundo. O que afeta muito são as empresas e governo jogando contra. Eu, por exemplo, aos olhos do governo não sou um artista, sou uma empresa. Eu pago nota, gero CNPJ, ISS, uma porrada em impostos. Eu invisto em cultura, que é um patrimônio altíssimo de qualquer país. Um país sem cultura é um país pobre e a pobreza não está relacionada ao poder aquisitivo e sim ao nível cultural das pessoas. Invisto em cultura e não tenho nenhuma contrapartida, não tenho isenção de impostos, nem para me movimentar pelo país, as empresas aéreas cobram o que querem, dificultam o nosso trabalho cobrando cada vez mais taxas para transportar os equipamentos. A gente trabalha a vida inteira pra comprar um bom equipamento e na hora que vai viajar com ele não pode porque os caras não querem levar, e quando resolvem levar sobretaxam. Então, você tem de repassar esses custos para quem contrata. Aí você tem um acúmulo no preço final de seu show e de seu disco de 40% ou 50% que inviabilizam sua atividade. Por terra não dá pra levar tudo, o Brasil é um país com dimensões continentais. A ponte aérea entre São Paulo e Rio de Janeiro a passagem está quase quinhentos reais e são só quarenta minutos de viagem. Na Europa, qualquer vôo com menos de quarenta minutos, gastam-se trinta Euros. O mesmo preço que um trem e lá ainda há essa opção.
EM: Mas o que você está dizendo afeta a todos e não só o mundo da música.
PM: Exatamente, mas no mundo da música você acaba refém das estruturas. Só quem é blockbuster, quem vende mais de um milhão de discos e bota mais de cinqüenta mil pessoas em show é que consegue ter uma estrutura gigantesca com carretas e caminhões cobrindo o país e viajando de jatinho. Ou seja, essas posturas só aumentam as distâncias de quem tem cultura e quem não tem. A culpa disso é do governo que só mama na gente, só quer cobrar imposto. Eu gero imposto, gero emprego e não ganho nada em troca. Um CD que é comprado na loja vem atrelado a mais de 40% em impostos. Então, não é a pirataria, mas o governo que está quebrando as pernas. Aí o cara não compra e está certo de não comprar, só não está certo de comprar o pirata ou ficar copiando pela internet. Não podemos justificar um erro com outro. Mas a gente tem de continuar brigando, existe um movimento de músicos que pede isenção fiscal pra música que eu sou favorável, vou assinar um abaixo assinado. As editoras de livros conseguiram, o cinema conseguiu e a música? No Brasil ninguém trata a música com respeito. Nem o público, nem o governo.
EM: Por que você acha isso?
PM: Porque vê a música de maneira casual e esquece que quem leva a música é um profissional. Um cara que depende daquilo pra viver. Eu conheço músicos que viraram taxista. Dizem que com três ou quatro corridas por dia botam comida em casa.
Tudo isso que a gente esta conversando aqui é resultado de eu ter largado uma multinacional, larguei as independentes e montei o meu selo. Estou trabalhando por conta. Vou onde acredito que vai dar certo. Por um lado, há um sentimento de que algumas coisas não me incomodam mais, o preço do CD, por exemplo. Está caro, mas eu estou brigando dentro do meu selo, onde tenho gerência sobre isso e junto com minha distribuidora quero um preço justo. Acho que R$ 19,50 é um preço justo. Dá e sobra, tem imposto, mas eu sei a conta que estou fazendo. Aí eu vejo em alguns magazines que, infelizmente, não posso falar o nome, o meu DVD a R$ 85,00. Aí não vende e a multinacional diz que eu não dou resultado. Mas, desculpa, quem não dá resultado é o teu departamento comercial, digo. A realidade do brasileiro é escolher entre assistir o show ou comprar o disco. O DVD estava catalogado pra chegar a R$ 45,00 e o cara põe R$ 85,00 e diz que eu não dou resultado. Agora eu tenho gerência. Se a loja cobrar R$ 85,00 eu vou tirar dessa loja, não vai vender o meu disco. Aí vai dizer: “Ah, não quero nem saber”. Quem não quer saber sou eu. Vou vender onde dá, em lojas digitais, em shows. Nem que tenha que montar uma banca na rua. Vou criar ferramentas pro público comprar o meu disco. Foi pra isso que eu fui atrás do meu selo. Estou de saco cheio. Nunca fui àquele artista que fica sentado em casa reclamando: “Pô, gravadora é foda. Pô, gravadora não faz nada. Pô, gravadora não me trabalha”. Quando não dá certo cancelo o contrato e vou cuidar da minha vida. Tive três gravadoras na minha vida. Infelizmente tive uma quarta que mal pude curtir o momento.
EM: É um formato ultrapassado?
PM: As três gravadoras quando me encheram o saco eu “vazei” e tinha sempre uma me esperando. Só que eu não acredito que as gravadoras tenham hoje, e não é culpa delas, a agilidade para trabalhar comigo. Precisa ser mais ágil, não dá certo aqui vamos trabalhar ali, eu preciso hoje de um marketing customizado. Elas não têm como fazer esse tipo de serviço, o marketing é pasteurizado, tudo igual. Ou seja, jogam dez na bacia o que nadar é peixe. O que não nadar cancela o contrato ou coloca na geladeira. Infelizmente é assim que funciona. Eles seguem diretrizes e metas como toda empresa e nós somos o ativo da empresa, temos de dar lucro. Se o bombom Sonho de Valsa não dá lucro ele sai da prateleira ou eles vão mudar a embalagem. O artista dentro de uma gravadora tem o mesmo status.
EM: Quando Cesar Camargo Mariano, Marcelo Mariano, João Marcelo Bôscoli, Maria Rita, Luiza Camargo Mariano e Pedro Mariano se encontram qual é a conversa, música?
PM: Quando a gente se encontra a gente não fala de música. É muito raro.
EM: Nem como anda o cenário nacional?
PM: Não precisa, a gente sabe como anda, é chover no molhado. A gente não tem de ficar comentando em casa, tem de comentar na rua, tem de comentar com você o que eu acho do cenário nacional. Meu pai já sabe, ele tem 65 anos e 50 de janela. Ele já sabe o que está rolando e o que tem de fazer, mas ninguém houve. Ele está cansado de falar. Quando nos encontramos é pra descansar. Eu falo de música em casa, com minha mulher que é minha empresária, meus melhores amigos que trabalham comigo, é um ambiente que você está sempre ligado à música. Mas quando eu relaxo falo de outra coisa. Sobre futebol. Quando falo de música é pra trabalhar.
EM: Você já trabalhou com o seu pai, Cesar Camargo Mariano e com seus irmãos João Marcelo Bôscoli e Marcelo Mariano. Há a possibilidade de alguma colaboração entre você e Maria Rita que hoje é uma das cantoras mais requisitadas do país?
PM: Olha, justamente por essa posição de ela ser uma das cantoras mais requisitadas do país, quem tem de receber o convite sou eu? A realidade é nua e crua, um artista só se junta com outro por afinidade. Eu não chamei o meu pai pra trabalhar comigo por que ele é meu pai, chamei porque ele trabalha bem pra caramba e é um dos melhores arranjadores e produtores que já passou por esse país. Por uma sorte ele mora na minha casa e eu estou a um telefonema dele. Se tivesse esse acesso ao Quincy Jones eu teria feito um disco com ele também. O Marcelo Mariano idem. Ele tocou comigo durante três anos, fez dois discos comigo, mas não porque ele é meu irmão. É porque o Pedro Mariano é fã do Marcelo Mariano e a gente se dá bem trabalhando juntos. O João Marcelo morou comigo na época da Trama e veio me convidar pra ser artista da gravadora. Eu poderia ter dito não, eu estava na Sony, mas eu acreditava naquele projeto e achava que poderia dar certo. Pra mim deu certo em um disco. Eu apanhei em dois discos, eles não souberam mais me trabalhar, tiveram uma postura totalmente errada e eu saí da gravadora, em litígio, não saí numa boa e quem era presidente era o meu irmão, simplesmente não concordei com mais nada e fui embora. Então é assim, é uma questão de oportunidade e casualidade. As coisas têm de fluir. Eu mal encontro com a Maria Rita, ela mora no rio.
EM: Mas como você disse antes, também está a um telefonema de acesso da Maria Rita. Parece que esse tipo de pergunta te deixa um pouco nervoso.
PM: Mas o telefonema também é de outra parte. Pô, todo mundo fica falando, vocês não vão se juntar. Sabe o que enche o saco? É a pessoa não parar e pensar sobre a pergunta que está fazendo. Se não se juntou até agora é porque a gente está fazendo “cú doce” ou porque a gente não quer? Há quem interessa isso? É um desejo nacional, é. Mas se os caras não se juntaram de duas, uma, ou não é um desejo deles ou tentaram e não deu certo. Quer dizer, tenho o senso crítico, algumas coisas dão certo, outras não. Entra na internet e você vai ver uma foto comigo e a Maria Rita cantando com meu pai tocando piano. Ninguém viu isso? A gente já subiu no palco uma vez. A gente já fez algumas coisas juntos. A Maria Rita foi da minha banda. Eu tinha uma banda chamada Confraria e ela era backing vocal. Eu tenho uma foto ganhando o disco de ouro e ela do meu lado. As pessoas esquecem que ela é minha irmã. Ela não é minha inimiga, não é a minha melhor amiga.
EM: Mas é só por isso que as pessoas perguntam?
PM: Mas o fato de ela ser a minha irmã, não gera nada. O fato de o Marcelo ser meu irmão não o credencia pra tocar comigo. O que vai credenciá-lo é eu achar ele bom pra caramba e vice e versa. Você me faria a mesma pergunta se a Maria Rita fosse a Rita Lee? Ana Carolina, você me perguntaria? Um cara me perguntou no Rio de Janeiro: “Pô, você convidou a Sandy e a Luciana Melo pra cantar no seu DVD. Porque não a Maria Rita?”. E eu respondi que ela convidou o Rappa e não me convidou pra cantar no DVD dela e você perguntou a mesma coisa pra ela ou só eu que tenho de responder isso. Aí o cara não soube me responder.
EM: A tua música é muito influenciada pela black music norte-americana, o que você está ouvido atualmente?
PM: Tenho ouvido uns negócios bem diferentes. Nem atuais e nem muito antigos. São coisas que às vezes você tromba navegando na internet. Esse lance é muito legal, você procura uma foto do Caco, do Muppet Show, e cai em um cara que faz um som bem louco. Por exemplo, o Conrado foi pra Argentina tocar com a Tatiana Parra e me falou de um trio chamado Aca Seca, que eu não conhecia. Vi o trabalho dos caras no Youtube e achei muito legal. Ultimamente também tenho ouvido o Daniel Black. Aí o Conrado me mostrou uma cantora de jazz chamada Lizz Wright, um disco de 2003, tem duas músicas que eu não consigo passar um dia sem ouvir. Tem o Oren Lavie, fiquei apaixonado pelo trabalho dele por causa de um vídeo clip que está no Youtube que é em stop motion, que eu também adoro.
EM: E esse pessoal que faz um jazz com groove, o Soulive, Bad Plus, Rudder, Medeski, Martin Wood, você curte?
PM: Curto, mas me cansa um pouco. É legal, mas pra mim é um pouco volátil, eu estou mais pra uma coisa mais criativa, mais emotiva, o Soulive eu acho legal, mas não consigo ouvir o disco inteiro. Sou da escola do Earth, Wind & Fire, Tower of Power, que pra mim aquilo lá é quebradeira, é grooveria. O que veio depois é legal, mas não faz a minha cabeça. Gosto dessa coisa de melodia, harmonia bonita e o pau comer. Então, os trabalhos atuais têm uns grooves legais, mas fica faltando o resto.
EM: Hoje é dia das mães, quando a Elis Regina morreu você tinha quase seis anos, qual a imagem ou lembrança mais remota que você guarda da tua mãe?
PM: Infelizmente nenhuma. Era muito novo e não sobrou nada. Na verdade, muitas coisas que ficaram na minha cabeça não sei se são lembranças minhas ou histórias que me contaram. Então, não cultivo como lembrança, porque posso estar cometendo um deslize e alimentando uma coisa que não é minha. Conheço as histórias, mas não são coisas que eu vivenciei. A mim me basta uma entrevista que vi, comigo ao seu lado, tinha três anos, e ela já dizendo que eu ia ser o cantor da casa. Ou era corujisse ou era profecia, porque eu não lembro de cantarolar desde pequeno, um pouco mais velho talvez. E outra coisa que ela dizia era que ela queria que eu fosse feliz, que eu fosse leve. Vivesse de forma leve e feliz e é o que eu busco fazer pra minha vida pra não desapontá-la e porque eu acredito que seja o melhor jeito de viver. Leve no sentido de não fazer e não desejar mal a ninguém. Acredito na educação, na família, na casa nosso porto seguro, na minha filha, na minha esposa. Eu ganho minha vida com música e não como artista, que é um status que eu adquiri com o tempo. Foi a profissão que eu escolhi e eu vou ficar vivendo levemente leve e feliz assim.