quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Desejo que os carnavais de Santos sejam como antigamente, diz Pepeu Gomes


Essa entrevista foi publicada originalmente no dia 27 de novembro de 2004, em um jornal semanal de Santos, onde trabalhei por alguns anos. Aconteceu pouco antes de Pepeu Gomes subir ao palco do Sesc para comemorar o Aniversário do Projeto Arte no Dique.
Foi a minha primeira conversa com um musico de peso. Passados cinco anos, muitas outras entrevistas aconteceram. Acabei me tornando produtor e tendo acesso aos artistas que vinham se apresentar em Santos. Ocasiões especiais, as quais tive o tempo e a liberdade para perguntar o que bem entendi.




Músico conhecido internacionalmente por ter forjado um estilo prórpio, o guitarrista Pepeu Gomes emprestou seu prestígio ao projeto Arte no Dique. Convidado por Zé Virgílio, responsável pelo projeto e seu amigo há trinta anos, Pepeu fez um show totalmente acústico acompanhado pelo guitarrista Ricardinho, de sua banda atual.
Em clima intimista, o músico tocou as clássicas Mil e Uma Noites de Amor, Masculino e Feminino, Garota Dourada, E Foi Assim, Preta Pretinha e Blues Midnight.
Com 52 anos, no segundo casamento, pai de seis filhos (com o sétimo a caminho), 37 discos gravados e consciente do papel de um artista na sociedade, elogiou iniciativas sociais como o Arte no Dique, o governo Lula e o ministro da cultura Gilberto Gil e, claro, falou sobre música. Esses são os principais momentos da entrevistas.

Arte no Dique
Sempre fui uma pessoa politizada, cultural e socialmente. Quando o Zé Virgílio, que é meu amigo há trinta anos, me convidou para conhecer o projeto eu aceitei na hora, pois sabia dessa importância. Além disso, eu tenho uma afinidade muito grande com Santos, estive aqui em 93 e 94, participando dos carnavais. Aliás, um desejo que eu e o Zé temos, é que os carnavais de Santos sejam como antigamente, soa que agora misturando a música baiana do Arte no Dique com o samba santista.

Governo Lula
Estou muito confiante no futuro do Brasil, país riquíssimo em todos os aspectos. Não podemos esquecer que ele pegou o país em uma situação muito difícil e juntar todos os cacos levará algum tempo. Sua eleição foi uma ruptura com toda a história, e digo isso nem tanto pelo que o Lula é, mas pelo que ele representa, um governo popular. Só o fato de o Ministério da Cultura ter liberado verba para projetos feitos por pessoas humildes como o Arte no Dique já sinaliza que está no caminho certo.

Música Instrumental
Considero o choro o jazz brasileiro, mas o Brasil não tem uma cultura de música instrumental como nos Estados Unidos, que tem um público mais segmentado. Na cabeça dos caras da indústria musical brasileira, a música instrumental não dá retorno imediato. É preciso criar uma cultura. É preciso criar uma cultura, então, preferem investir nos conjuntos “boquinha na garrafa”. Mas parece que, de uns tempos para cá, o Brasil está mais aberto para esse gênero. O músico brasileiro é respeitado no mundo inteiro, porque não será respeitado no Brasil? O Arte no Dique leva a tradição, os melhores percussionistas do mundo são brasileiros.

Jimi Hendrix
Com o Eric Clapton, é minha maior influência. Foi o guitarrista mais criativo que existiu. Se quebrasse uma corda de sua guitarra enquanto estivesse tocando, aquilo não se transformava em dificuldade, mas em um estímulo a mais para sua criatividade. Os digitadores de hoje em dia não acrescentam nada à música, porque a técnica tem de vir aliada ao sentimento. Esses caras deveriam estar nas olimpíadas, porque o que eles fazem não é música. Eu costumo dizer em meus workshops para a garotada achar o próprio jeito de tocar e não tentar imitar o estilo de outra pessoa, que não vai soar legal.

Imprensa
Veja, tenho contato com jornalistas de todo o mundo, estou sempre bem informado e acho que a imprensa no Brasil precisa apoiar mais as causas sociais. Em termos de música, também vejo muitas deficiências. Antigamente, jornalistas especializados em música eram estudiosos, alguns eram músicos e a maioria conhecia a história da música brasileira. O jornalista tem uma responsabilidade social muito grande, maior do que os artistas, jornalistas são formadores de opinião.

Pirataria
Boa parte da culpa de toda essa pirataria é dos próprios músicos. Se eu quiser gravar um CD por uma grande gravadora hoje, eu vou gastar 50 mil dólares, mais divulgação e distribuição, o que eleva o preço do CD para 30 ou 40 reais. Então, faz independente.

Bahia
A Bahia é uma terra maravilhosa, mas para quem quer ser um cidadão do mundo como eu, que sempre tive um espírito inquieto, acaba ficando um lugar pequeno. Estou baseado (sem trocadilho) no Rio há trinta anos, mas, devez em quando, visito os amigos e vou ao carnaval baiano.

Planos para 2005
Em janeiro começo uma excursão pelo Brasil com uma banda com 11 músicos: baixo, bateria, percussão, metais para divulgar os novos CD e DVD, que conta com a participação de Zélia Duncan, Gilberto Gil, Armandinho, Jorge Vercilo e SNZ. Também vou produzir o show do meu irmão, Jorginho Gomes, que é um músico experiente e que já passou da hora de se lançar em carreira solo.

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