quinta-feira, 22 de novembro de 2012

De Pagu a Patrícia – o último ato

Livro revela a produção cultural e jornalística de Patrícia Galvão nos seus últimos anos de vida



Texto: Márcia Costa

Nos anos 50 ela já não mais queria ser chamada de Pagu. Depois de trocar a militância política pela militância cultural e pelo jornalismo, Patrícia Galvão chega a Santos (SP) em 1954 para incendiar a cena, atuando como jornalista em A Tribuna, produzindo peças de teatro e eventos literários e difundindo a vanguarda. Esta história écontada no livroDe Pagu a Patrícia – o último ato (Dobra Editorial/Fundo de Cultura de Santos), da jornalista e pesquisadora Márcia Costa, cujo objetivo é revelar a intelectual por trás do mito.
O lançamento será realizado nos dias 05 de dezembro na Casa das Rosas, em São Paulo, e no dia 08 de dezembro na Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos, com debates e apresentações artísticas que vão lembrar a produção jornalística e cultural de Patrícia Galvão, cinquenta anos após sua morte, em 12 de dezembro de 1962, em Santos.
Não se trata de uma biografia, mas de uma contribuição para a História Cultural dos anos 50 e início dos 60. A pesquisa iniciou-se durante o curso de mestrado (2006-2008) em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, onde Márcia Costa estudou a coluna Literatura, produzida por Patrícia em A Tribuna, e se estendeu com o estudo da relação de Patrícia com o teatro, registrada na coluna Palcos e Atores,eno levantamento dos fatos históricos que compuseram a cena cultural em Santos e no Brasil daquele período. O projeto do livro foi selecionado pelo Fundo Municipal de Cultura de Santos, que financia a publicação. A obra tem prefácio do compositor Gilberto Mendes, amigo de Patrícia, capa produzida pelo artista plástico Fabrício Lopez (xilogravura) e orelha assinada pelo escritor Flávio Viegas Amoreira.
No jornal A Tribuna Patrícia imprimiu as marcas do seu último ato, onde estão registradas a produção artística da época sob uma visão moderna e cosmopolita.A análise dos artigos de Patrícia e as entrevistas com testemunhas de época permitirama Márcianarrar a força de Patrícia na luta apaixonada pelo teatro, marcada pelaparticipação na vitoriosa campanha pela construção do Teatro Municipal, na criação da União de Teatro Amador de Santos, no apoio à realização de importantes festivais, no incentivo aos jovens talentos como Plínio Marcos, na formação de grupos amadores e na divulgação e na produção de peças de vanguarda, como Fando e Lis (Fernando Arrabal) eA Filha de Rappaccini (Octavio Paz).“Acoluna Literatura também mostra uma Patrícia antenada com as vanguardas da época, e serve de guia para se entender a literatura moderna nacional e internacional, onde ela já destacavaautores poucos conhecidos como Clarice Lispector e Fernando Pessoa, e onde traduziu nomes como Blaise Cendrars, Henry Heine ePaul Valéry”, diz a autora.
Pelo mundo da cultura – Para escrever suas colunas sobre literatura e teatro, Patrícia mantinha contato estreito com grandes artistas e intelectuais do período. No prefácio da obra o compositor Gilberto Mendes lembrao interesse dela pelaMúsica Nova, produzida por ele e Willy Corrêade Oliveira (autor da partitura da peçaA Filha de Rappaccnini). Por meio de visitas, correspondências, entrevistas, encontros, resenhas ou envio de livros, Márcia traçou um panorama de contatos de Patrícia Galvão que passava por Sábato Magaldi, Alfredo Mesquita, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Casais Monteiro, Cacilda Becker, Sérgio Milliet, Flávio de Carvalho, Lygia Fagundes Telles, Fernando Arrabal, Jean Paul Sartre, Eugène Ionesco, entre muitos outros citados pela jornalistaem a Tribuna.
O vasto material publicado por Patrícia no jornal (que então era editado por Geraldo Ferraz, parceiro amoroso e intelectual) e a sua própria prática no campo cultural se traduzem em verdadeiras aulas. “Ela discutiu o país por meio das vanguardas culturais e artísticas”, explica a autora.“Aprende-se muito com Patrícia Galvão, mulher generosa, forte e polivalente, intelectual por vezes ofuscada pelo mito”.
No blog http://depaguapatricia.blogspot.com.br/ o leitor tem acesso a textos jornalísticos de Patrícia Galvão e fotografias do contexto cultural da época. A partir do dia 05 de dezembro o livro poderá ser adquirido no site da Dobra Editorial http://www.portaleditora.com.br/ pelo valor de R$ 35,00.
Sobre a autora: Márcia Costaé jornalista e pesquisadora, graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), com atuação em veículos de comunicação, produção cultural e docência. Há dez anos dedica-se à pesquisa sobre imprensa, história e cultura e atualmente prepara doutorado sobre as relações entre comunicaçãoe arte.

Programação do lançamento

Dia 05 de dezembro, às 19h - Casa das Rosas, em São Paulo
Apresentação do evento: Flávio Viegas Amoreira.
Releitura de um texto jornalístico de Patrícia sobre o teatro com a atriz Marisa
Matos.
Debate com Márcia Costa, Geraldo Galvão, Terezinha de Almeida e Sérgio
Mamberti (nome a confirmar).
(Endereço: Av. Paulista, 37, Bela Vista).

08 de dezembro, às 16h - Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos
Apresentação do evento: Flávio Viegas Amoreira.
Alice Mesquita (canto).
Performance O Jardim de Patrícia, do Núcleo de Pesquisa do Movimento –
Imaginário Coletivo de Arte (com Célia Faustino, Márcio Barreto, Marília
Fernandes, Maria Tornatore e Alessandro Atanes).
Debate com Márcia Costa, Geraldo Galvão, Lúcia Teixeira Furlani e Sérgio
Mamberti (nome a confirmar).
Tarso Ramos (piano).
(Endereço: Av. Bartolomeu de Gusmão, 15).

Veja também: http://mannishblog.blogspot.com.br/2009/12/o-resgate-de-pagu.html

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