domingo, 31 de janeiro de 2010

Kirk Hammett, James Hetfield, Robert Trujillo e Lars Urich incendiaram o Morumbi


Deve ter rolado uma intima: “Olha aqui meu chapa, tá chovendo há mais de um mês na minha cidade, já morreu uma pá de gente e cê tá ligado que eu nunca me meti nessas tuas paradas aí com o tempo. Mas olha só, amanhã tem rock and roll no estádio do meu time e tu não vai embarreirar, senão eu rogo uma praga e todo mundo em Águas de São Pedro vai virar bambi!”.
O fato é que após mais de um mês de chuvas que devastaram São Paulo nos últimos trinta e seis dias, a cidade não viu uma gota de chuva no sábado, 29 de janeiro, dia da primeira apresentação do Metallica. Valeu, São Paulo, a ameaça deu certo.
O Sepultura subiu ao palco às oito para o show de abertura. De cara tocou Moloko Mesto, tema que também abre o CD A-Lex, seu mais recente trabalho. E apesar de fazer um show empolgante e sincero, como sempre, foi prejudicado pelo som abaixo da potência para cobrir todo o Morumbi. A banda empolga mesmo quando vem com os temas clássicos: Refuse/Resist, Arise, Territory, Dead Embryonic Cells e Roots Bloody Roots.
O Sepultura levou um pouco mais de uma hora para liquidar a fatura e em alguns minutos o set do Metallica começou a aparecer e o bumbo da bateria de Lars Ulrich já estava soando pelo estádio, mostrando o que vinha adiante.
Às nove e quarenta as luzes do estádio apagaram e a tradicional música de abertura começou a soar nos P.A.s, e um trecho de The Good, The Bad & The Ugly, western clássico dirigido por Sergio Leone e estrelado por Clint Eastwood, Lee Van Cliff e Lee Wallach, apareceu nos telões.
Parênteses: O tema de abertura é o mesmo desde a primeira vez em que o Metallica veio ao Brasil, em 1989. O primeiro show foi no Ginásio do Maracanãzinho e os outros dois foram no Ginásio do Ibirapuera dias 4, 6 e 7 de outubro, respectivamente. Eu e meu companheiro de shows Werner Brucha estávamos lá para conferir.
Após anos como banda underground, o Metallica começava a ficar grande com o recém lançado ...And Justice For All, disco duplo e de temas longos e trabalhados, porém, com porradas inesquecíveis como Blackened e ...And Justice for All. Além do tema que levou a banda ao (quase) grande sucesso comercial, One.
Foi a primeira turnê com a participação do baixista Jason Newsted, vindo do Flotsam na Jetsam. Por muitos anos esse show ecoou em minha cabeça como um dos melhores shows da minha vida. E olha que a lista inclui Motorhead, Kiss, Nirvana, Red Hot Chili Peppers, New Order, Siouxie and the Banshees, Albert Collins, B.B. King, James Brown, Bob Dylan, Buddy Guy, Chuck Berry e mais uma porrada de gente boa.
O show de 1989 marcou pela competência dos músicos em executar os temas exatamente como eles eram no CD, pela qualidade do som – apesar da acústica do Ibirapuera ser ruim – pela garra dos caras e porque eu gostava do Metallica pra caralho. Acompanhava a banda desde o início e tinha todos os discos, em vinil, claro: Kill’Em All, Ride The Lighting, Master Of Puppets e o ...And Justice.
Também foi a primeira vez que uma das bandas da Santíssima Trindade do thrash metal se apresentava por aqui. Para quem não sabe, Slayer e Anthrax são as outras duas.
Voltando à São Paulo 2010: Creeping Death abriu o espetáculo e, finalmente, após 11 anos de espera a maior banda de thrash do mundo aterrissou no Brasil.
A primeira música de um show desses é para lavar a alma, mas a segunda foi para avacalhar. Sinos começaram a soar e um dos riffs mais matadores do metal criado, quem, diria, por um baixista, Cliff Burton, ecoou nos quatro cantos no Morumbi, que é redondo.
Parênteses 2: Apesar de ter chegado depois de Hetfield e Lars, Cliff Burton era a alma da banda no começo. Tocava ensandecidamente e criava linhas melódicas poderosas. Em uma excursão pela Europa, em 1986, Cliff dormia no ônibus quando o motorista perdeu a direção arremessando-o para fora do veículo que tombou sobre ele. O baixista tinha 24 anos. Depois dele vieram Jason Newsted e agora Robert Trujillo, um menino de ouro para o metal, cuja ficha corrida conta com passagens pelo Suicidal Tendencies, Infectious Grooves e Ozzy.
2010: Como ia dizendo, o riff de For Whom the Bell Tolls levou a platéia à emoção. Com a terceira da noite, Four Horsemen, outro clássico do primeiro disco, o Murumbi cantou o refrão em uníssono com os punhos levantados: “Die, die, die”. Foram raros os momentos em que o público não cantou as letras inteiras.
Um dos passatempos mais legais de um show com uma banda que tem tantos clássicos como o Metallica, é tentar adivinhar as músicas que serão tocadas. Confesso que Harvester of Sorrow, - a quarta - e Blackened, do …And Justice não estavam na minha lista e nem Sad But True, do Black Album.
Fade to Black começou acústica, com Kirk Hammett dedilhando um violão com corda de aço, mas como todas as lentas da banda, acabou virando porrada. Maravilhosa.
A partir da sexta música começou o bloco com as novas de Death Magnetic, That Was Just Your Life, The Day That Never Comes e Broken, Beat & Scarred. Como é bom ver e ouvir Kirk Hammett voltar a solar com a rapidez de um raio. Um dos melhores guitarristas do metal.
Sad But True veio em seguida: “For our friends of Sepultura”, diz Hetfield. Após uma artilharia e fogos de artifício começa One, seguida por Master of Puppets e Blackened. Nessa, cada vez que a palavra “fire” era cantada, subiam duas colunas de fogo ao lado do palco.
Nothing Else Matters e Enter Sandman, essas sim, as duas músicas que içaram o Metallica ao mainstream, foram as próximas. O estádio inteiro cantou com primeira e pulou com a segunda. A banda saiu para uma água, mas voltou em poucos minutos para o bis.
Stone Cold Crazy foi a escolhida para representar aquele disco lá das covers. Motorbreath foi a penúltima a ser tocada, fazendo as rodas de mosh se multiplicarem e aumentarem. E para o grand finale a música escolhida foi Seek and Destroy que, com todos aqueles riffs e variações de dinâmica, mudaram toda a história do rock and roll. Seek and Destroy é música que mais representa o Metallica: em alguns momentos rápida, em outros rítmica, mas sempre carregada de chumbo. Pra dizer o que foi ruim, os telões da lateral estavam uma merda, um viado vomitou vinho puro do meu lado e um outro mané fumetado e bêbado encheu o saco até a metade do show. Depois apagou.

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