Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos: Cezar Fernandes
Romero Lubambo
É óbvio que em um festival como o Rio das Ostras Jazz e Blues (ROJB), onde os shows acontecem durante todo o dia e em várias partes da cidade, algum show você vai ter de sacrificar.
É uma questão de escolha. A minha foi deixar de ver o Gabriel Silva Blues no palco São Pedro. Fiquei aqui na pousada escrevendo o diário e batendo papo com a galera do Vox Sambou.
Big James e Danilo Simi
Saí direto para o Palco Iriry, onde tocaram o trombonista Big James e os Simi Brothers. Repetindo exatamente o show da noite anterior, achei que estavam mais soltos. Não sei, só achei. Talvez o palco da lagoa, que é em formato de concha acústica, garantindo a proximidade com o público, o sol em cima e a cerveja artesanal tenham garantido esse climão. Lembrando que quando o festival começou, há quase duas décadas, ninguém sonhava com essa febre de cerveja artesanal. Confesso que tudo ficou mais gostoso. Até a música.
The Jig
Roy Rogers não chegou e a banda holandesa de jazz funk The Jig foi chamada para apagar o incêndio. E o que eles fizeram? Tocaram fogo no bagulho, com temas funkeados notadamente inspirados em Prince e George Clinton. Os branquelos de Amsterdã tocam bem e metem porrada nos instrumentos, fazendo a galera dançar de verdade.
E mais uma vez as pedras da Praia da Tartaruga estavam interditadas ao público pelo Corpo de Bombeiros. Olha só, se for pra fazer esse papelão, é melhor não liberar. Ou proíbe de vez e não cria expectativas falsas. Minha sugestão, colocar cercas limitando o acesso somente nas laterais, liberando a frente do palco. E bota efetivo pra garantir a segurança da galera.
Resumo, causou desgaste da produção com a plateia. Vi gente querendo invadir, peitando segurança, vaiando, e em cima das pedras que ficam ali na praia, correndo o mesmo risco de escorregar. Inclusive crianças. Em decisão sensata, a direção do festival transferiu todas as atrações do palco Tartaruga para o Iriry.
Praia da Tartaruga
Com pausa para descanso e o trânsito infernal da cidade, perdi o primeiro show da noite no Costazul. Cheguei quando o Romero Lubambo estava entrando no palco com uma super banda: Marcelo Mariano (baixo), Paulo Calasans (baixo) e Cláudio Felix (bateria). O Romero, como todo mundo sabe, é um dos maiores guitarristas e violonistas do mundo de todos os tempos. E falar sobre isso é chover no molhado, O começo do show foi jazz fusion e samba jazz da pesada. Quebradeira mesmo. Até a entrada de Dianne Reeves com suas vocalizações e interpretações de temas de Peter Gabriel e Milton Nascimento. De arrepiar? A Tarde, do disco Native Dancer de Wayne Shorter com Miltão. Me desculpem todos os músicos que passaram e vão passar pelo festival, mas a aparição de três mulheres, Dianne, Malinka Tirolien (Vox Sambou) e Tamara Tramell (Lucky Peterson) mostraram que a testosterona de vocês não faz frente a delicadeza dessas mulheres poderosas. Sim, delicadeza é poder.
Dianne Reeves
Não conheço o trabalho do Bob Franceschini, a não ser que é colaborador frequente de Victor Wooten. Só sei que é um aproveitador. Aproveitou que o Romero Lubambo estava ali e o chamou para seu show. Classe A. Pra quem gosta, e eu gosto, free/fusion jazz com o saxofone levado às últimas consequências. O destaque vai para o tecladista que ainda não descobri o nome. Mas vou.
Bob Franceschini
O Bixiga 70 já entrou com o jogo ganho. O crowd em frente ao palco logo se formou para ouvir a banda paulistana. E de massa eles entendem. Como o nome entrega, o grupo se formou em um estúdio da rua 13 de Maio, no tradicional bairro de sampa conhecido como reduto das cantinas italianas. É eu sei, o trocadilho não foi bom. Mas o show sim, esse foi massa.
O show foi baseado no disco mais recente da banda, o Quebra Cabeça, com Primeiramente, Quebra Cabeça, Torre e Ilha Vizinha na lista. Os caras fizeram chover, mas ninguém arredou pé. A galera surtou com Mil Vidas, abrindo rodas de dança no meio da multidão num ritual tribo/musical. Quem viria depois iria ter trabalho para superar a massa sonora do Bixiga. hehe
Bixiga 70
A chuva apertou, o Bixiga saiu e ficou aquele clima de fim de festa. Quem será o coitado que vai entrar depois?
O senhorzinho sentado na cadeira de plástico, encostado, falando baixo com um dos seus músicos, aparenta ser mais velho do que a sua idade real, 54 anos. Talvez os anos de estrada tenham cobrado cedo a dívida que todos pagamos um dia.
Eu não tinha dúvida que aquele tiozinho ali daria conta do recado. Conhecia o time que ia subir ao palco com ele. Melhor, já trabalhei com os caras: Fred Barley (bateria), Bruno Falcão (baixo) e Flávio Naves (teclado). Com os dois últimos, saí em mini-turnê com o Larry McCray. Conheço o potencial destruidor dos malandros e nunca tive dúvidas de que dariam conta do recado.
Lucky Peterson
Acompanho a carreira de Lucky Peterson dos discos. O cara é filho de James Peterson, mas venceu no blues por seu próprio talento de cantor, guitarrista e tecladista. Dos bons.
Duas surpresas. Shawn Kellerman, guitarrista canadense que acompanha Peterson desde 2012. Seu ataque é impressionante. O cara sobe no palco com um lutador sobe no ringue. E Tamara Tramell, mulher de Peterson que cantou dois temas super soul que desconheço. Sua presença de palco é forte e as partes cantadas em uníssono com o marido vão ficar marcados na alma por um bom tempo. A banda atacou Funk Broadway, I Wanna Know, I Pity the Fool. O coroa desceu do palco e enlouqueceu a multidão fazendo um medley com Cold Shot e Johhny B. Good. No “mais um”, jogou pra torcida, Sweet Home Chicago. Aí sim, a festa acabou.
Shawn Kellerman
Gabriel Silva Blues
Big James na Lagoa do Iriry
Praia Tartaruga
Já ia esquecendo, rolou “Lula Livre” e “Bolsonaro vai tomar no cú”.
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