sábado, 28 de maio de 2011

Morre o subversivo Gil Scott Heron

Morreu ontem em Nova York, cidade onde vivia, o músico e poeta Gil Scott-Heron. aos 62 anos. A notícia foi pelo seu agente, Jamie Byng, em sua página no Twitter. "A morte de Gil Scott-Heron NÃO é boato. Estou tão triste", ele escreveu, acrescentando que Gil era "uma das pessoas mais inspiradoras que eu já conheci".
Segundo Byng, o artista morreu por volta das 16h (horário local) no St Luke's - Roosevelt Hospital. A causa da morte não foi revelada. Heron tem um histórico em abuso de drogas pesadas, incluindo heroina e era portador de HIV.
Considerado um dos precursores do hip-hop por misturar poesia cantada com jazz, funk, soul e ritmos latinos, Gil Scott-Heron ficou conhecido depois de The Revolution Will Not Be Televised.
Gil Scott-Heron nasceu em Chicago em 1949 e cresceu nas ruas do Bronx, bairro barra pesada de Nova York, portanto, forjado nas ruas do que há de pior na América. Cresceu sabendo disso e lançou seu primeiro livro quando ainda cursava o curso secundário aos 19 anos. The Vulture permaneceu como um de seus principais poemas. Ambos, The Revolution e The Vulture, constam na coletânea abaixo lançada no Brasil nos anos 90.


A carreira musical começou em 1970 com o lançamento de Small Talk at 125th and Lenox, com a primeira versão de "The Revolution Will Not Be Televised". Seu último trabalho foi I'm New Here, em 2010.
Por abordar as lutas cívicas e as convulsões sociais dos anos 60 e 70, por muitos anos Heron foi apresentado como como o Bob Dylan negro. Atitude típica da imprensa branca.
Heron era um esteta e poucos versaram como ele sobre o período citado. Cruzou informações e criou o Rap sem saber onde ia chegar. Mas não é assim que as revoluções acontecem? 
Foi no final do anos 70 e primórdios dos 80, grupos como Public Enemy ou Disposable Heroes Of Hiphoprisy citavam-no e novas gerações redescobriam e reverenciavam-no. Mesmo assim, não apreciava o título. Preferia dizer que o que fazia era "bluesology", a junção entre poesia, soul, blues e jazz, com uma grande consciência social e fortes mensagens políticas.
Atuava para as platéias negras influenciado pela “spoken-word” do poeta e ativista Amiri Baraka ou com o jazz de Coltrane e Miles Davis. Homenageou ambos e também Jimi Hendrix, Charlie Parker, Eric Dolphy, Lee Morgan em Ain't No New Thing onde declara guerra ao ícones brancos que, dizia ele, ter tirado tudo de seu povo. John Coltrane e Billie Holiday mereceram uma homenagem especial com Lady Day and John Coltrane.


Dizia-se marcado pela sua avó, que viu morrer no sul dos Estados Unidos quando tinha apenas 15 anos. “Ensinou-me a não esperar que as pessoas descobrissem o meu pensamento, mas a exprimir-me por mim próprio. Quando penso nela, vejo-me a mim”, disse uma vez o cantor, numa entrevista. Depois da morte da avó, mudou-se para o Harlem, Nova Iorque, onde ainda habitava. Foi já em Nova Iorque, na Universidade Lincoln, que conheceu outra personalidade importante na sua vida, o poeta e escritor Langston Hughes.
Ao longo de quatro décadas, o cantor lançou mais de 20 discos. "We're New Here", lançado já este ano, foi o seu último álbum, tratando-se de uma recriação do álbum "I'm New Here" de 2010, concretizada por Jamie xx (do grupo The xx) e Gil Scott-Heron. O trabalho do ano passado foi lançado 16 anos depois do seu último registo de originais e numa altura em que tinha estado envolvido em algumas polémicas com a polícia por pose drogas e violação da liberdade condicional.
No final do ano passado, Gil Scott-Heron viria ao Brasil para participar da Mostra Sesc de Artes, mas cancelou sua vinda ao país por causa de um problema crônico na perna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário