segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

The blues had a baby and the name is Mud Morganfield. Entrevista exclusiva para o Mannish Blog

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: arquivo pessoal de Igor Prado

Não deve ser fácil ser filho do homem que mudou a história da música. Ainda mais quando se resolve cobrir as pegadas do pai no mesmo ramo. Mud Morganfield e Big Bill Morganfield, os dois filhos de Muddy Waters têm de conviver com isso. Se há um músico que merece a alcunha de lenda esse é Muddy Waters. Já era, quando vivo.
Após sua morte, com o passar dos anos, passou a ser reverenciado como o homem que mudou a música do planeta. Muddy Waters foi o elo entre os blues rurais que eram cantados nas fazendas do sul dos Estados Unidos e os blues das cidades grandes. Sua forja, um lendário combo de blues de Chicago equivalente à primeira grande banda de Miles Davis. O grupo de Muddy variava a formação com os seguintes músicos: Otis Spann (piano), Little Walter ou James Cotton (harmônica), Big Crawford ou Willie Dixon (baixo) e Elgin Evans (bateria). Na guitarra, às vezes se servia de Jimmy Rogers, outras de Buddy Guy.
Mas esse negócio de comparação parece não incomodar Mud Junior que reconhece a genialidade do pai e sabe da importância de McKinley Morganfield para a cultura norte americana.
Tanto que atualmente está fazendo o mesmo, ou seja, juntando uma banda de all stars para gravar um álbum que será lançado em breve. Em entrevista exclusiva para o Mannish Blog, Mud Morganfield fala sobre tudo isso.

Eugênio Martins Júnior – Sua aparência, seu tom de voz e até o seu repertório são muito parecidos com os de Muddy Waters. É claro, ele é o teu pai e influenciou a todos depois dele. A questão é o seguinte: isso ajuda a abrir portas ou você não gosta das comparações?
Mud Morganfield – Meu pai abriu muitas portas para mim e para minha família e eu certamente sei disso, é o que os pais fazem pelos seus filhos. Se as comparações ajudarem aos jovens que não tiveram chance de ouvir/ver meu pai será uma coisa boa para eles. Mas eu tenho o meu próprio estilo.

EM – Atualmente você e seu irmão Big Bill Morganfield se apresentam pelo mundo mostrando a música de Muddy Waters e fazem bem. Mas a sua carreira começou depois da morte dele. A presença de Muddy inibiu isso, quero dizer, você sentiu sob a sombra de Muddy no começo?
MM – Meu pai se foi há quase trinta anos e eu nunca quis ser ele. Mas eu era o filho que quer ser tão grande quanto seu pai. E eu tenho certeza que ele teria o mesmo sentimento com todos os seus filhos. A presença do meu pai sempre estará comigo.

EM – Você teve contato com os músicos da banda de Muddy qundo era criança? Quem costumava visitar sua casa naquela época? Como isso influenciou sua vida e sua música ou isso nunca aconteceu?
MM – Sim, tive contato com a banda do meu pai quando era jovem. Chamava o James Cotton de avô, falava com Buddy Guy quando precisava também, John Primer, Herbert e muitos outros. Acabei de terminar meu novo CD com Kenny Smith na bateria e com o último guitarrista do meu pai, Rick Kaher e Bob Corritone na harmônica. Não posso me lembrar de todos os nomes, mas sei que todos os grandes que visitarma meu pai cara, mas pode dizer o nome que ele esteve lá: os Rolling Stones, Eric Clapton, Chuck Berry e, claro, James Cotton e Buddy Guy, etc.

EM – Você live em Chicago atualmente? Como você vê a cena blueseira da cidade? Você consegue ver a influência de Muddy?
MM – Sim, vivi em Chicago minha vida inteira. Vejo a influência da música do meu pai em todo o mundo. Agora muito mais além dos oceanos… e eu amo isso.

EM – Você tocou no Brasil no ano passado, teve contato com os blueseiros brasileiros? Você tocou com a Igor Prado Band, o que achou da experiência? Achei a versão de Ninetten Years Old matadora.
MM – Sim, meu amigo Igor Prado. Eles são grandes músicos, cara. Na verdade...amo aqueles caras. Nesse momento estamos conversando para ver se eles me arrumam alguns shows para mim. Estou querendo voltar ao Brasil em abril, entre os dias 20 e 26. Essa banda é a melhor, classe A.


EM – Quando Willie Big Eyes Smith esteve no Brasil em 2009, ele me disse que Muddy Waters era como um pai para ele. Ensinou-o muitas coisas sobre música e sobre a vida. Como era McKinley Morganfield?
MM – Buddy Guy me contou muitas histórias, assim como Willie. Todos tinham meu pai como seu próprio pai. E eu os respeito e olho para eles do mesmo jeito.

EM – Gostaria que você me dissesse como vê a contribuição de Muddy para o mundo da música e como você vê o reconhecimento das platéias e das instituições nos Estados Unidos com relação a isso?
MM – Meu pai não teve o reconhecimento que merecia no fim de sua vida. Não posso dizer como é hoje nos estados Unidos, mas quero te dizer uma coisa, quando as pessoas de outros países dizem que amam Muddy Waters não é uma cortina de fumaça, elas realmente falam a verdade.

EM – O que você achou do filme Cadillac Records? Você assistiu?
MM – Cadillac Records? Bom entretenimento.

EM – Você tem dois CDs gravados: Fall Waters Fall e Live at Dirty Aces. Está vindo trabalho novo por aí?
MM Sim, tenho dois CDs, um ao vivo e outro no estúdio. O CD ao vivo foi gravado em Chicago com grandes músicos. Todas as músicas são composições minhas, menos uma, Same Thing, que é do Willie Dixon. O CD ao vivo foi gravado com uma banda da Inglaterra chamada Dirty Aces. Queríamos por um pouco de twist em algumas músicas minhas e do meu pai. Essa banda deu um sabor todo especial nessas gravações.

EM – Às vezes você e o Big Bill tocam juntos ao vivo, vocês já pensaram em gravar no estúdio? Digo, fazer um album colocando a tradição familiar com a antiga banda do Muddy? Seria um grande disco.
MM – Sim, eu e Bill conversamos sobre gravar um CD juntos, mas agora ainda não é o tempo. Nos já fizemos alguns festivais juntos, como o Westmont Blues Festival, um pequeno lugar onde meu pai morou nos seus últimos dez anos de vida. Vou te dizer uma coisa que poucas pessoas sabem. Acabei de passar cinco dias gravando com alguns dos melhores músicos de Chicago. Esperamos lançar o trabalho em agosto e eu prometo que você não vai acreditar. 


 
Interview with Mud Morganfield

Eugênio Martins Júnior - Your appearance, your voice tone, even your repertoire are very similar of Muddy Waters. Of Course, they're your father and influenced everybody after they. The questions is: the fact helps open the doors or you don't like comparisons?
Mud Morganfield - Pop has open so many doors for me and my family, and I think rightfully so. Its what all parents want and do for their children. If the comparison help the young people of the day, who may not of got the chance to hear/see my dad,the comparison could be a great thing for today's children. But I am my own blues man, with my own blues....

EM - Actually you and your brother Big Bill Morganfield are playing around the world spreadind the Muddy Water's music. And do well. But your carrer begining after Muddy passed away. How much Muddy's presence repress that? I mean, did you felt under the shadow of strong presence of Muddy in the begining?
MM - Pop has been gone almost 30 years. And there will never be another pop, but i am a son, and i want to be as great as my dad, and i am sure he would want the same for all his kids. Pop presence has always been with ME.

EM - Did you have contact with the Muddy's sidemen when you was a child? Who use to visit Muddy's home? Tell me if that influenced your music and your life. or it's never happened?
MM - Yes I had contact with my farther band when i was younger, James Cotton I call my grandfather, i talk with Buddy Guy, when i need to, John Primer, Herbert, and many many more. I just finish my new CD with Kenny Smith on drums and my dads last guitar player, Rick Kaher. Bob Corritore on harp. I can't remember all the greats who visits my dad, man, but you name it, and they have been there. The Rolling Stones, Eric Clapton, Bo Diddley, Chuck Berry, of course, James Cotton, Buddy Guy, etc.

EM – Do you live in Chicago today? How did you see the Chicago blues scene? Can you see Muddy's influence?
MM - Yes I live in Chicago, all my life. I see pops influenced all over the world, Eugen. More so over sea now...I love it.

EM – Did you had been playing in brasil last year. Did you had contact with brasilians blues players? I know that you play with Igor Prado Band. What do you thing about that experience? The version of She's Nineteen Years Old was a killer version.
MM - Yes my friend Igor Prado. They are great players man, I love them cats.... as a matter of facts. We are talking right now on some gigs for me. I really think I will be in Brazil on april the 20 unto the 26th. This band is the best...high class.

EM – When Willie “Big Eyes” Smith had been in Brasil in 2009 he talk to me the Muddy Waters was like father to him. Teach him a lot of thinks about music and life. How was Mckinley Morganfield as a father?
MM - Buddy guy has told me many story's, as have willie big eyes about being on the road.. All of them look at pops as being like a farther.and I respect and look at to them the same way

EM – Would you liked to describe how do you see the Muddy's contribution to the world music and how do you see the retribution of the United States audience and institutions at large. I mean, do you thing Muddy had a recognition that he deserve?
MM - Pop didn't not get all he had coming unto the last days of his life. I don't know it really was here in the states, but i can tell you this. When people over sea say, we love Muddy Waters, they are not just blowing smoke, they mean it.

EM - Did you saw Cadillac Records the movie? What do you thing about it?
MM Cadillac Records? Very entertaining..

EM - Did you recorded two albuns a few years ago: Fall Waters Fall and Live With the Dirty Aces. Tell me about it. and there's a new job came?
MM - Yes i have two CDs out,one live and one studio: the live CD was done in Chicago with some great players. All but one song/the same thing was Willie Dixon. The rest of the songs were wrote by me. The live CD is a live recording with a great England band called the Dirty Aces. We wanted to put a little twist on mine and dad songs. This band brought there own flavor to the cuts.

EM – Sometimes you and Big Bill playing together. Did you talk with him about record together? I mean, put the family tradition on record? Who knows, playing with the old Muddy's band. It will be a great blues record.
MM - Yes me and Bill has talked about recording together, but right now is not the time. We have done a few festival together, like Westmont Blues Festival, a little place my dad spend his last 10 years alive living. I will give you a head up,that many people don't know yet, Eugen. I just spend 5 days recording a new CD, with some of Chicago's best. We are looking to launch it august. I promise you this Eugen you will be blowed away.


Morre Eddie Kirkland o cigano do blues


Morreu ontem (domingo 27) aos 83 anos em decorrência de um acidente de trânsito o veterano do blues Eddie Kirkland. O Cigano do Blues, como era conhecido, teve seu carro colhido por um ônibus de viagem quando tentou fazer uma conversão em uma estrada em Crystal River, em Tampa, na Flórida. Segundo notícia confirmada pela polícia rodoviária local, o carro de Kirkland foi empurrado por 180 metros antes de o ônibus parar. Ninguém do ônibus ficou ferido.
Kirkland, que vivia em Macon, na Geórgia, se apresentou na noite do sábado na Dunedin Brewery, na cidade de Dunedin, a última parada de uma mini-turnê por quatro cidades da Flórida em fevereiro. A turnê continuaria no dia 8 de abril em Pensacola.
Nascido na Jamaica, Kirkland morou no Alabama e em Detroit antes de se mudar para o estado da Georgia no sul dos Estados Unidos. O multi-instrumentista – cantava e tocava harmônica e guitarra – trabalhou com grandes nomes do gênero antes de construir uma profícua carreira solo, entre eles, John Lee Hooker, Little Richard, bem E. King, Ruth Brown e Otis Redding. Redding o apresentou para um dos donos da Stax/Volt, Jim Stewart, que gravou The Hawg, um de seus primeiros sucessos.
Kirkland foi responsável pelos exor grandes discos de blues, como It's the Blues, Man!, Three Shadows of the Blues, Some Like It Raw, Tha Devil and the Others Blues Demons Where You Get Your Sugar e tantos outros.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Brazilian Kicks CD da Igor Prado Band e Lynwood Slim é o segundo mais tocado em rádio especializada em blues dos Estados Unidos


Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Marcos Rodrigues

É real. A Igor Prado Band é a primeira banda brasileira a ter um disco entre os mais tocados por uma rádio gringa especializada em blues. Foi na Living Blues Radio, da revista homônima, uma das mais respeitadas do país e que pode ser considerada a Bíblia do blues.
O CD Brazilian Kicks, gravado em parceria com Lynwood Slim, ficou atrás apenas de Living  Proof, novo trabalho de Buddy Guy, músico que é considerado uma lenda viva do blues. Brasilian Kicks bateu uma concorrência de peso, em terceiro lugar ficou Giant, do não menos lendário James Cotton. 
Claro, não se trata de uma competição, mas não podemos deixar de reconhecer que o CD produzido por brasileiros foi o segundo mais tocado em uma radio dos Estados Unidos especializada em blues, deixando pra trás Eden Brent, Charlie Musselwhite, Mavis Staples e muitos outros.   
A coisa toda aconteceu apenas duas semanas após a banda aparecer em uma matéria na também prestigiosa revista Blues Revue, tendo inclusive um artigo de Igor Prado co-assinado com o editor da revista.
Toda a exposição é fruto do trabalho duro e de muita qualidade que a Igor Prado Band vem buscando e, claro, a parceria entre os brasileiros e o californiano Lynwood Slim, que já dura alguns anos. 
Após a dissolução da Prado Blues Band, que contava com Ivan Márcio na harmônica e Marcos Klis no baixo, ambos ótimos músicos e que também continuam fazendo bons trabalhos. Ivan, em carreira solo, acaba de gravar seu segundo disco em Chicago, Klis atua como sidemen no Ari Borger Quartet.
A Igor Prado Band tem gravado um CD após outro aproveitando o estúdio caseiro e o tempo livre que não é muito devido consecutivas turnês internacionais. Além de Brazilian Kicks, os blueseiros paulistas gravaram Watch Me Move, The Blues Follow Me com o gaitista Flávio Guimarães, e ainda lançaram um CDcom coletâneas instrumentais. Três trabalhos de ótima qualidade.



Leia outras matérias sobre a Igor Prado Band no Mannish Blog
http://mannishblog.blogspot.com/2010/03/2010-vai-ser-um-ano-do-caralho-diz-igor.html
http://mannishblog.blogspot.com/2010/11/delta-groove-lanca-brasilian-kicks-com.html
http://mannishblog.blogspot.com/2009/11/entre-temas-e-timbres-classicos-igor.html
http://mannishblog.blogspot.com/2010/09/lynwood-slim.html

Living Blues Radio Chart

1. Buddy Guy, Living Proof, Silvertone
2. Lynwood Slim & Igor Prado Band, Brazilian Kicks, Delta Groove 
3. James Cotton, Giant, Alligator
4.Studebaker John's Maxwell Street Kings, That's The Way You Do, Delmark
5. Eden Brent, Ain't Got No Troubles, Yellow Dog
6. Various Artists, Louisiana Swamp Stomp, Honeybee
7. Rev. Raven & Chain Smoking Altar Boys,  Shake Your Boogie, Nevermore
8. James Kinds, Love You From The Top, Delmark
9. Robin Rogers, Back In The Fire, Blind Pig
10. Joe Louis Walker & Blues Conspiracy,  Live On The Legendary Rhythm & Blues Cruise, Stony Plain
11. Charlie Musselwhite, The Well, Alligator
12. Junior Wells & The Aces,  Live In Boston 1966, Delmark
13. Ronnie Earl & The Broadcasters,  Spread The Love, Stony Plain
14. Mavis Staples, You Are Not Alone, Anti-
15. Kenny Neal, Hooked On Your Love, Blind Pig
16. Lucky Peterson, You Can Always Turn Around, Dreyfus Jazz
17. Mel Brown, Love, Lost And Found, Electro-Fi
18. Chris Cain, So Many Miles, Blue Rock' It
19. Various Artists,  Crossroads: Eric Clapton Guitar Festival 2010, Rhino
20. Duke Robillard, Passport To The Blues, Stony Plain
21. Jim Byrnes, Everywhere West, Black Hen
22. Chrissie O'Dell, If I Had A Dime, Dime Time
23. Robert Cray, Cookin' In Mobile, Nozzle/Vanguard
24. John Primer, Call Me John Primer, Wolf
25. Kirsten Thien, Delicious, Screen Door


Matérias Blues Revue



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Robert Altman: como os diretores da safra sexo, drogas e rock'n'roll fizeram a revolução

Texto: Eugênio Martins Júnior

“Você leu o exorcista?”
“Li.”
“O livro é sobre o que?”
“Sobre uma menina que é possuída pelo diabo e faz um monte de coisas ruins.”
“Que tipo de coisas ruins.”
“Ela empurra um cara de uma janela e se masturba com um crucifixo e...”
“O que isso quer dizer?”
“É que nem tocar siririca, não é?”
“É sim. Você sabe o que é tocar siririca?”
“Claro que sim.”
“E você faz isso?”
“Claro. Você não toca punheta?”
O diálogo acima, entre a atriz Linda Blair, na época uma menina de doze anos, e o experiente diretor Willian Friedkin, ambos de O Exorcista, é apenas uma mostra do conteúdo de Como a geração sexo, drogas e rock’n’roll salvou Hollywood, (Easy Riders, Raging Bulls: How the Sex, Drugs and Rock'n'roll generation saved Hollywood) obra do jornalista Peter Biskind. A trdução é da jornalista Ana Maria Bahiana.
Contada com narrativa afiada, crua e cheia de malandragem a obra é fundeada em centenas de entrevistas com os próprios protagonistas das histórias. Muitas delas, sobre perseverança e muito talento. Algumas, fascinantes golpes de sorte. Todas, muito loucas, relatos fiéis de uma época de excessos.

E não são poucas. Recheando as paginas do livro, por exemplo, a tacada certeira de Dennis Hopper e Peter Fonda em Eazy Rider; o aparecimento do astro Robert De Niro; a insegurança de Steven Spielberg em realizar Tubarão, que antes da produção não passava de um mostrengo de ferro e espuma largado em um estúdio qualquer. Seu apelido era Bruce, nome do advogado de Spielberg. E como o filme Tubarão tornou-se o recordista de bilheteria, passando na frente de O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, o diretor mais badalado do momento.
Em mais de 450 páginas, Biskind conta a história de todos os filmes que amamos ver nos anos 70 e 80. Além dos já citados, também estão lá: Caminhos Perigosos, O Touro Indomável, Taxi Driver, New York, New York, O Último Concerto de Rock (Martin Scorsese); Operação França (Willian Friedkin); THX, Loucuras de Verão e Guerra nas Estrelas (George Lucas); M.A.S.H., Nashiville e Quando os Homens São Homens (Robert Altman); Lua de Papel e A Última Sessão de Cinema (Peter Bogdanovich); Shampoo e A Última Missão (Hal Ashby); O Céu Pode Esperar e Reds (Warren Beatty, que também atuou e produziu Bonnie e Clyde e Shampoo); Conversação e Apocalipse Now (Francis Ford Coppola); Cada Um Vive Como Quer (Bob Rafelson); Gigolô Americano e A Marca da Pantera (Paul Schrader), 1941, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e E.T. – O Extra Terrestre (Steven Spielberg); O Franco Atirador (Michael Cimino); Warriors (Walter Hill); Hair (Milos Forman); Chinatown, Dança dos Vampiros e O Bebê de Rosemary (Roman Polanski) e tantos outros.
Como a geração sexo, drogas e rock’n’roll ... relata, antes de tudo, como a produção cultural dos anos 60, o cinema incluído, passou a refletir o compromisso da juventude pela ruptura com antigos valores do “American Way of  Life”.


A convulsão social gerada com a guerra do Vietnã, a luta pelos direitos civis, a libertação sexual e a busca de realizações individuais foram os motivos da catarse comportamental ou foram suas conseqüências?
Mais do que apresentar os excessos da época, Biskind disseca os relacionamentos afetuosos entre os artistas e econômicos entre diretores, produtores e estúdios em uma período de transformação da indústria cinematográfica que, se não for a maior, com certeza, é a mais lucrativa do mundo.
Influenciada pelo cinema europeu, essa transformação tinha como ponto central a mudança de poder no set de filmagem, tirando-o das mãos do produtor para colocá-lo definitivamente nas mãos dos diretores/autores.
Enfim, Como a geração sexo, drogas e rock’n’roll... é um livro para cinéfilos inveterados que enxergam a década de 70 como o que melhor foi feito por Hollywood até agora. Uma explosão de criatividade, ousadia e quebra dos padrões que, em dias atuais, voltaram a ser estabelecidos. Daí, a mediocridade atual.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Santos comemorou aniversário com Hamilton de Holanda, Daniel Santiago e André Vasconcelos

 Show no Teatro Municipal de Santos

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos Santos: Luiz Fernando Costa Ortiz
Fotos Rio das Ostras: Cezar Fernandes

Foi uma noite para recordar. Dois dias após Santos completar 465 anos em  26 de janeiro. A comemoração foi com boa música com Hamilton de Holanda, Daniel Santiago e André Vasconcelos.  O Teatro Municipal, palco de tantos eventos culturais importantes, estava há um tempo fechado para  reformas de platéia e palco. Começou bem 2011.
A idéia de trazer Hamilton De Holanda surgiu quando assisti ao show do bandolinista e seu quinteto – Márcio Bahia (bateria), André Vasconcelos (baixo), Daniel Santiago (violão) e Gabriel Grossi (Harmônica) – no Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, em 2007.
Idas e vindas, as datas nunca batiam. Arriscar trazê-lo por conta própria nem pensar. Artista que não aparece na televisão, os empresários santistas não querem nem saber em patrocinar. Fazer o quê? 
Houve ainda, entre os moradores da cidade, aqueles que reclamaram junto à ouvidoria do município, porque a cidade optou em trazer o "desconhecido" Hamilton de Holanda em detrimento de um ou outro grupo da música Neo (ou New?) Sertaneja. Digo a essas pessoas: "Fiquem em casa assistindo o Big Brother enquanto a  caravana passa". Cabe aqui o desabafo.
Em setembro do ano passado encontrei com o Luiz Pires na Tarrafa Literária – outro evento realizado na raça pelo livreiro José Tahan – e disse a ele que gostaria de trazer o Hamilton de Holanda a Santos e queria uma parceria com o Clube do Choro. Luiz topou na hora.
A oportunidade real surgiu em dezembro de 2010 e 28 de janeiro de 2011 o trio pisou no palco do Municipal. A parceria entre a Secretaria de Cultura e o Clube do Choro proporcionou um show gratuito e histórico. A produção do espetáculo foi do Mannish Blog e a ousadia de fazer diferente foi  da equipe da Secretaria de Cultura que entende que arte, cultura e entretenimento andam de mãos dadas. Enquanto todas as cidades de Baixada Santista apostaram na mediocridade, Santos mostrou porque continua sendo o carro chefe da cultura na região.
É fácil pensar em superlativos depois de assistir a um show de Hamilton de Holanda: gênio e virtuose são alguns. Mas o motivo de tudo isso, além do talento, é claro, é trabalho duro. Nos dias seguintes ao show em Santos, Hamilton de Holanda já tinha compromisso. Lançamento do CD Gismonti Pascoal, em São Paulo. Uma semana depois já estava na Europa.
Também está sempre gravando, só no último ano foram três CDs, os dois acima citados, mais Sinfonia Monumental. Três trabalhos distintos. Gismonti Pascoal, como o nome revela, é uma homenagem a dois grandes nomes da música instrumental brasileira. Esperança foi gravado ao vivo em umas das turnês pela Europa. Sinfonia Monumental é uma ode a Brasília, cidade que o adotou. Conta com a participação de seu famoso quinteto, Orquestra Brasilianos e com a regência do maestro Gil Jardim. Uma obra em cinco movimentos.
No show do dia 28, Hamilton que pisava em Santos pela primeira vez, diversificou. Tocou temas seus: Um Byte 10 Cordas, Caos e Harmonia (quinto movimento da Sinfonia Monumental), Pros Anjos e Pedra de Macumba. E temas dos outros, maravilhosas versões dos afro sambas de Baden Powel e Vinicius de Moraes, entre eles, Canto de Iemanjá e Canto de Ossanha; também fez Beatriz, do Chico Buarque de Holanda e Edu Lobo e tantas outras belezas.
A intenção era fazer essa entrevista na volta do Aeroporto de Cumbica. Oportunidade ideal, pegar o artista na van, com a paisagem da descida da  Serra do Mar ao fundo, como já havia feito com Rosa Passos. Mas a conversa enveredou por produção cultural e depois para política e aí... Então, após o show, entre um copo de chopp e outro, em um bar barulhento, Hamilton gentilmente concedeu essa entrevista exclusiva ao Mannish Blog. 
Por último, mas não menos importante, gostaria de registar a presença na platéia dos músicos e amigos José Luiz Barbosa, Milton Medusa, Matheus Martins, Canduta, Débora Gozzoli, Izzy Gordon, Nadja Soares e respectivos maridos e produtores Edu Silva e Ademir. Abraços a todos.

 Passagem de som no Teatro Municipal de Santos

Eugênio Martins Jr – Começo com uma provocação porque sei que você não gosta de responder a essa pergunta. A música que você faz é choro, jazz ou samba? Onde entra nisso o teu lema: “O moderno é tradição”.
Hamilton de Holanda – A música tem o poder de cura, de te levar pra outras épocas, te lembra pessoas. Na verdade, uso a música pra isso, pra arrepiar o cabelo, pra emocionar. Confesso que não me preocupo em classificar se é rápida, se é lenta, se é rock. A verdade é que a energia que as melodias têm, elas passam no corpo, o corpo se mexe, as pessoas que vêem aquilo ficam com vontade de se balançar também. Mas tem as coisas mais lentas, enfim, naturalmente nasci no choro e mesmo que eu não queira a essência da minha música passa por aí. Acho que é tudo isso que você falou. Uma coisa que é importante é que como eu cresci em Brasília, sou brasiliense de cidadania, é uma cidade que não tem tradição, imagina. A tradição da cidade é não ter tradição, então a facilidade que a gente tem de misturar as coisas é muito grande. Deixe que os especialistas classifiquem.

EM – Você passa mais tempo na Europa do que no Brasil, como tem sido o retorno desse investimento, essa evolução da tua música no estrangeiro?
HH – Tenho sorte de ter ganhado um bandolim quando era pequenininho e ter podido levar essa música no bandolim pro mundo. E sou sempre muito bem recebido. E as pessoas têm a curiosidade em conhecer e os que conhecem “tietam” pra valer, sabe? E lotam os shows e existe uma simpatia pelo Brasil em primeiro lugar. Existe uma admiração pelas coisas sérias do Brasil. Porque tem essa coisa de que o Brasil é o país do futuro, o Brasil é aquilo, nós mesmos falamos mal do nosso país. O importante é que a gente veja o defeito para melhorar o país. Mas as coisas quando são feitas de maneira sérias, são admiradas, valorizadas. É sempre muito bom. A França é muito especial, a Holanda também. A Áustria, Itália, Finlândia.

EM – Há algum show em especial nesses lugares que você não esquece?
HH – São tantos, cara. O primeiro que me vem à cabeça foi um show que fiz em Jerusalem, na torre de Davi, dentro da cidade velha. Pô, foi demais, foi sensacional.

 Passagem de som no Teatro Municipal de Santos
 
EM – E no Brasil onde, na minha opinião, a música instrumental é considerada o patinho feio da música brasileira?
HH – Não sei se é o patinho feio Eugênio. Acho que, de alguma maneira, isso já está ultrapassado porque a juventude está se interessando a tocar um instrumento, em aprender a tocar o bandolim. Aprender a tocar cavaquinho, violão. Isso aí garante o futuro dessa música que o Pixinguinha inventou de alguma maneira, que o Hermeto deu continuidade, que o Egberto, o Baden, o Jacob (do Bandolim), não é...? Eu de alguma maneira estou dando a minha contribuição.

EM – Vi um show seu com o quinteto no festival de Rio das Ostras, foi em 2007, e vocês botaram as pessoas que estavam assistindo de pé. Acho que tinha ali umas 10 mil pessoas. Nunca havia visto isso antes.Por isso que eu falo que com o quinteto a tua música é heavy metal. Você se lembra desse show?
HH – Lembro claro, maravilhoso. Já tive a oportunidade de fazer alguns com esse tipo de pegada. Aberto assim, pra 5 mil, 10 mil pessoas. A gente tem de chegar com outro espírito, porque o som é mais alto, a coisa é mais dispersa também. Não aquele detalhe de um teatro, por exemplo. Tem de ser porrada. É uma coisa física também. O Som alto, o coração bate junto com o som. Tenho uma certa intimidade com esse tipo de show e gosto de fazer também. Aquele dia foi especial, foi muito bacana. 

EM – Você acaba de lançar um disco chamado Esperança, gravado ao vivo na Europa. E lança amanhã (29/11/2011) em São Paulo o Gismonti Pascoal, em parceria com o André Mehmari. Gostaria que você falasse sobre cada um deles.
HH – O Esperança é especial pra mim, porque registrou um momento de turnê na Europa que eu visitei países muito diferentes: Finlândia, Áustria, França. E, apesar de ser o mesmo repertório, como o público é diferente, eu também me comporto diferente no palco. Toco de uma maneira diferente. Tanto que na hora de escolher nem fui para ver qual era o melhor take de cada lugar. Escolhi um de cada e pronto. Porque pega essa atmosfera dos aplausos. Cada lugar tem um negócio da duração dos aplausos, né? Quando gosta mais, quando gosta menos. E foi bacana. Mostra um pouco a coisa do trabalho. Do lavoro mesmo com a música. Não só a coisa romântica, é claro que tem, mas tem a coisa do dia a dia, de acordar cedo, ir pro aeroporto botar mala, chegar no hotel tomar um banho, ir pro teatro passar o som. É mostrar um pouco disso assim, que estou sozinho.
O Gismonti Pascoal é uma espécie de reverência, um pouco de criatividade e ousadia. Pegar a obra dos caras que já são tão consagrados e fazer... no começo a gente pegou: “Temos que tocar a coisa mais certinha, os temas, aquelas melodias e tal”. Depois a gente falou: Não pô, a gente tem o que falar também. Então vamos dar nossa interpretação”. Foi ótimo, eles participaram também, o Hermeto fez uma loucura lá com a gente, o Egberto gravou um violão lindo. É um disco que tem um potencial comercial grande, porque os caras são muito conhecidos e a gente já tem uma história também. Estou esperando coisa boa aí.
 
EM – É o segundo disco que você grava com o André Mehmari. Gostaria que você falasse sobre isso, sobre essa parceria.
HH – Bicho, o som de piano com bandolim é tão bonito, né? Acho que parte daí, a música toca a gente de maneira muito especial e a conversa com o André, é conversa não é dialogo. Parece que a gente toca mais com o ouvido do que com os dedos, com as mãos. É mais ouvir o que o outro tem a dizer e aí fala e fala. O outro fala também, enfim o resultado musical é sempre muito saudável.

EM – Vocês ganharam o cenário da música brasileira relativamente na mesma época, após um prêmio importante da música brasileira, o qual o André ficou em primeiro e você ficou em segundo lugar. Rola algum tipo de brincadeira com relação a isso?
HH – Você acredita que a gente nunca falou disso? Ele não sacaneou até hoje e eu também não sacaneei, porque os jurados já o conheciam e não me conheciam. Acho que prêmio é sempre gostoso, por que, todo mundo quer ganhar, mas só um ganha. Mas o objetivo é que é o mais legal, todo mundo se encontrar e fazer música. Depois eu tive outras oportunidades de ganhar prêmio da música brasileira, prêmio na frança. Mas aquele Prêmio Visa pra mim, na carreira, tem uma importância porque foi o ano do meu primeiro disco solo. Depois dele abriu assim a carreira. Saiu matéria importante em um grande jornal. Foi bacana.

 Gabriel Grossi e Hamilton de Holanda em Rio das Ostras

EM – Você grava com freqüência e com muita facilidade, a ponto de gravar um CD com o gravador portátil em meio às turnês internacionais, o Íntimo. Você tem essa necessidade de registrar tudo?
HH – Olha, posso até parecer pretensioso, mas a história está sendo feita agora. A gente não pode esquecer que o que a gente está fazendo, o que eu estou fazendo, no caso, está influenciando uma juventude grande, entendeu? Todos os luthiers do Brasil já fazem bandolim de dez cordas depois que eu inventei. Então não posso me fazer de humilde demais e esquecer que isso também virá referência um dia para outras pessoas. Então tem que gravar. Algumas coisas são boas, outras são mais ou menos, outras são melhores e no final das contas, o conjunto da obra vai ser legal.

EM – Quanto tempo os brasilianos estão juntos e como você reuniu esse time?
HH – Somos amigos de infância, a moçada de Brasília. Tem foto do Gabriel com sete anos de idade com o André, na escola. Foi uma coisa que foi se fortalecendo no Rio, todos foram pro Rio e aí precisava tocar, precisava montar um grupo. A gente montou um quarteto e o Gabriel ia sempre como participação especial. Isso foi em 2003, já tem bastante tempo. O Bahia conheci antes, em Brasília também. Brasília é demais, né cara? É uma cidade onde é tudo perto. “Vamos tocar agora, vamos ensaiar!” Um estava na 905 norte, o outro estava na 103 sul, mas em cinco minutos um estava na casa do outro. Então, essa coisa ajudou muito para desenvolver o grupo, a gente tocar, composição.

EM – Uma artista que eu tive a oportunidade de trabalhar duas vezes e que mora em Brasília é a Rosa Passos. Além de uma grande artista é uma grande pessoa. Você a conhece pessoalmente?
HH – Ela mora no prédio em frente ao do meu pai, 308 norte. Quando eu estava começando a fazer uns shows grandes lá em Brasília, a Rosinha meio que “amadrinhou” o negócio. Depois aconteceram algumas coisas, participamos de um concerto com a Orquestra Filarmônica lá em Brasília, já nos cruzamos na Europa, acho que uma vez na Espanha e uma na França, então é uma pessoa das minhas queridas.

EM – E é uma das artistas que leva a música brasileira lá pra fora e tem a maior moral.
HH Sim, a música dela é sofisticada e simples ao mesmo tempo e o time dela também é maravilhoso.

Hamilton de Holanda e Daniel Santiago em Rio das Ostras 
 
EM – Eu conheço a história, mas eu quero registrar aqui. Como foi o nascimento desse instrumento, o teu bandolim de dez cordas.
HH – Via um violonista tocar, um pianista e morria de vontade de fazer com o bandolim a mesma coisa que eles faziam, que era fazer um concerto com um instrumento. Fazer melodia, fazer harmonia, fazer ritmo, tudo junto. Comecei a fazer em um bandolim normal, mas sentia a necessidade de um som um pouquinho mais grave, mais notas. Aí pedi pra um cara de Sabará, um amigo e um grande luthier, chamado Virgílio Lima, aí eu pedi pra ele que nunca tinha feito: “Bicho faz um bandolim de dez aí, mas usa aquelas madeiras mais baratas, porque se não ficar bom a gente joga pro alto”. (Risos). Sei lá, vai que dá errado. Mas ficou excelente o instrumento e virou meu instrumento oficial. Fez dez anos.

EM – Você só tem esse?
HH – Não, tenho três. Por ele tenho um e tenho mais dois feitos pelo Tércio, um luthier lá do Rio. O mesmo que faz o cavaquinho do Henrique Cazes, o violão do Yamandú, do Marcelo Gonçalves, faz instrumento de um monte de gente. Muito bom ele, criterioso, detalhista. É um artista.

EM – Estamos em janeiro de 2011 o que a gente pode esperar do Hamilton de Holanda pra esse ano?
HH – Olha, é fazer o que já tenho feito. Não tem muito mistério, não. Levar essa música bonita do nosso país, sabe, chegar ao palco e dizer esse é meu lugar. Fazer isso. E como ser humano tenho os meus desejos também. Fico pensando que será que um dia eu vou conseguir ver o mundo sem fome. As pessoas ter o que comer, escola, essas coisas básicas. Penso muito nisso Não sou um altista. Não fico pensando só na minha música. Faz parte do meu futuro. Fazer minha parte através da música e ver um mundo mais justo.

EM – Já que estamos falando nisso, uma vez eu perguntei ao Stanley Jordan o que ele achava da eleição do Barack Obama, nos Estados Unidos. Vou aproveitar a deixa e perguntar para você. O que achou e o que espera do governo da Dilma Roussef?
HH – Desejo sorte a ela e espero realmente que seja um ótimo governo. Tem um significado forte uma mulher presidente. Estava vendo a foto, a faixa presidencial em uma pessoa de vestido. É diferente ver isso no Brasil. Espero que o significado se transforme em ações verdadeiramente importantes para o nosso país.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Arte Supernova encena Vinicius de Moraes na Cadeia Velha de Santos


O espetáculo Para Um Amor de Vinícius, uma homenagem ao poetinha, estréia nos dias 17 e 18 de fevereiro. Sempre às 21 horas, na Cadeia Velha de Santos. A montagem, criada em 2005 em cima de extensa pesquisa, é do grupo santista Arte Supernova e a entrada é franca.
Próximo do centenário de Vinícius de Moraes, "ele se perpetua, na música, na poesia, nas artes cênicas, na dança, enfim, em todas as manifestações artísticas possíveis. Portanto, neste ano, o Grupo de Arte Supernova, revisita sua infinda obra", diz o diretor teatral Ricardo Menezes.
No enredo, uma seleção de cenas que retratam o cotidiano de casais apaixonados embalados por canções de Vinícius de Moraes. Emoções como a eloquência, a saudade e a sensualidade são despertadas nos diálogo das personagens, baseados nos românticos versos do poeta.
Com duração de 50 minutos, a peça tem a direção geral e sonoplastia assinados por Ricardo Menezes e com a coreografia e preparação corporal feitos pela bailarina profissional e professora de dança Fernanda Iannuzzi. A percussão é feita por Wendrek Santana, que também contracena com o elenco formado por Aline Fares, Ana Paula Santos, Filipe Resende e Thairiny Tibúrcio.
Vinícius de Moraes (1913 - 1980). Ilustre morador do Rio de Janeiro, também carinhosamente conhecido como o "poetinha", foi um dos principais nomes da bossa nova ao lado do músico Tom Jobim. Moraes era considerado como um eterno romântico e casou-se nove vezes ao longo de sua vida. Além de seus famosos sonetos, Moraes trabalhou como compositor, dramaturgo, jornalista e diplomata.

Serviço:
Espetáculo: Para um Amor de Vinícius
Direção geral: Ricardo Menezes
Elenco:
Aline Fares, Ana Paula Santos, Filipe Resende, Thairiny Tibúrcio e Wendrek Santana
Datas: 1
7 e 18 de fevereiro
Horário:
21 horas
Local:
Cadeia Velha - Praça dos Andradas, s/nº – Em frente à Rodoviária de Santos
Ingresso:
grátis

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Rick Estrin, Joe Filisko e Andy Just se apresentam em março no 10º Encontro Internacional da Harmônica


A harmônica, ou simplesmente gaita como é conhecida por aqui, é um dos instrumentos que mais cresce em popularidade no Brasil. É com esse gancho que o Sesc Pompéia realiza pelo décimo ano consecutivo o Encontro Internacional da Harmônica com grandes nomes do instrumento.
O evento acontece em março, entre os dias 17 e 20, e vai contar com a participação de Rick Estrin and the Nightcats, Andy Just e Joe Filisko dos Estados Unidos e Gonzalo Araya do Chile.
Representando os gaitistas brasileiros estarão Sérgio Duarte, Márcio Abdo, Flávio Guimarães, Ivan Márcio e Flávio Maresia. O evento conta ainda com as participações de Otávio Rocha (guitarrra), Beto Werther (bateria) e Ugo Perrota (baixo) acompanhando a galera. Confira a programação abaixo:

Dia 17, quinta feira:
Noite de abertura do Festival.
22:00 – Joe Filisko em Duo.
23:00 – Flávio Guimarães e Convidados
Com Ivan Márcio, Márcio Maresia e Joe Filisko.
Acompanhados por Blues Groovers (Otávio Rocha, Beto Werther e Ugo Perrotta).

Dia 18, sexta feira:
20:00 hs: Lareira com o Duo Benê Jr. e Marcelo Ricciardi.
22:00 – Márcio Abdo, Sérgio Duarte e banda.
23:00 – Rick Estrin and The Nighcats.

Dia 19, sábado:
18:00 – Intervenções com o grupo Harmônicos.
20:00 – Lareira com o Duo Benê Jr. e Marcelo Ricciardi.
22:00 – Gonzalo Araya.
23:00 – Andy Just.
Acompanhados por Thiago Cerveira Blues Band.
Nos intervalos entre os shows de sexta e sábado, intervenções rápidas de Joe Filisko solo.

Dia 20, domingo:
A partir de meio dia, Little Will e Marcio Scialis fazendo intervenções na Rua.
14:00 Workshop de Flávio Guimarães
15:00 Workshop de Joe Filisko
16:00 Open Jam

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Celso Salim e Rodrigo Mantovani lançam CD com releitura de clássicos do blues em março

Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: divulgação

Foi uma semana de fortes emoções musicais. Sábado e domingo acompanhando o Choro de Bolso no Bar Bohêmia, no Espaço Veja, na Riviera de São Lourenço. A dupla Canduta (violão) e Débora (flauta), chamou Mauro 7 Cordas e o percussionista Edinho para acompanhá-los em três apresentações.
Na quarta feira, dia 26, aniversário da cidade, o AB4, grupo do tecladista Ari Borger, veio a Santos para uma apresentação no Sesc. Final de tarde regado a cerveja e blues da melhor qualidade. Grátis.
E, finalmente, na sexta-feira, show com o Hamilton de Holanda no Teatro Municipal de Santos, também comemorando o aniversário de cidade, também com entrada franca.
Com o Choro de Bolso e o Hamilton de Holanda atuei como produtor, mas no show do Ari Borger fui para curtir a música. E claro, aproveitar que estava ali e fazer uma entrevista com o guitarrista Celso Salim que reproduzo abaixo. Mais uma exclusiva do Mannish Blog.
O quarteto é formado por figuras carimbadas do blues nacional. Além de Borger e Salim,  tem  Humberto Ziegler na bateria e Marcos Klis no baixo. Em pouco mais de uma hora de apresentação, os músicos tocaram os temas do mais recente CD do AB4, Backyard Jam. Entrosamento total.
Veja também entrevista com Ari Borger feita em no Rio das Ostras Jazz e Blues em 2009: www.mannishblog.blogspot.com/2009/10/ari-hammond-borger-cara-do-piano-blues.html



Eugênio Martins Júnior – Você toca, compõe, canta, produz, faz tudo. Blueseiro brasileiro tem de se virar nos trinta pra ganhar o pão de cada dia?
Celso Salim – Estou tocando bastante, além do meu trabalho ainda toco com o Ari e com o Sérgio Duarte. Acaba que pintar uns shows legais, mas tem que tocar com esse volume. Várias “gigs” rolando ao mesmo tempo. Mas os espaços para o blues são raros. O Sesc dá um espaço bom, mas é difícil ter espaços como esse, até em São Paulo, que as pessoas acham que rola blues, mas não tem tanto, não.

EM – Mas o Brasil tem um circuito, por exemplo, aqui na  Baixada Santista eu tento fazer alguma coisa, no Rio tem o Manfra, o Big Gilson que fazem um intercâmbio legal com os gringos, em São Paulo tem o Bourbon Street e o pessoal da Lucas Shows que fazem bastante coisa. Também tem o Igor Prado que está fazendo o nome do Brasil lá fora, tocando pra caramba e trazendo os gringos.
CS Tem algumas coisas. Eu, particularmente, ainda não consegui entrar na panela dos caras. Nunca toquei no Rio. Em vários festivais, sempre mando meu material, mas é difícil. Quem tem um espírito mais empreendedor talvez se dê melhor, mas é como você falou, produção, composição, não sei o quê. Se eu também for me produzir... Eu faço, mas não dou conta de ser tão eficiente (risos). Mas a gente está correndo atrás, tem muita banda também.

EM – Já que tocou no assunto, como você vê o cenário nacional de bandas de blues  no Brasil? Os músicos das antigas falam que nos anos 80 era melhor, mas eu discordo, acho que hoje tem muito mais gente fazendo blues.
CS – Com certeza tem muito mais gente tocando blues. Muito mais bandas em vários estados. Tem uma época dos anos 90, do Natu Blues, Nescafé, (n.r. festivais da época), o pessoal falava que tinha muita coisa acontecendo, mas eu acho que em termos de oportunidade, mas  em número de bandas hoje tem muito mais.

Hoje você toca com o Sérgio Duarte e com o Ari, além da carreira solo. Faz tempo que você não tem um trabalho seu lançado, o último foi o Big City Blues de 2007. Está vindo coisa nova?
CS – Acabei de gravar um CD em parceria com o Rodrigo Mantovani, baixista que toca com o Sérgio Duarte, com o Igor Prado. Ele gravou o Big City também, mas esse CD são só eu e ele. É baixo acústico e dobro e a gente faz algumas coisas bem antigas, sabe: Blind Willie McTell, Blind Boy Fuller, Muddy Waters e algumas nossas. A gente gravou no estúdio lá em casa, com estúdio móvel e vamos lançar agora. Espero que saia da fábrica daqui uns quinze dias.

EM – Hoje há essa possibilidade de gravar com um estúdio em casa. Facilitou muito, principalmente para o blues, como uma dupla, por exemplo. Ou é difícil gravar no Brasil?
CS – É difícil pra caralho. Gasta dinheiro e não vende. A gente está em uma era que não vende mais CD. A gente vende CD em show, mas também não faz tanto show. Foi em casa, mas não foi um estúdio simples. A gente trouxe um estúdio, não foi tão caseiro assim. A gente contratou um estúdio com todos os equipamentos. O Sérgio Duarte dá uma canja.


EM – Ele sempre tem boas participações no teu trabalho, não é?
CS – Sim, por exemplo, no Big City, ele faz umas três ou quatro músicas. Não tenho o que falar, ele é um puta gaitista. Tem de chamar ele. Blues de raiz tem de levar uma gaita.

EM – A produção é tua, também?
CS Produção minha e do Rodrigo, aliás, o CD vai ser Celso Salim e Rodrigo Mantovani, chama Diggin' the Blues. A capa já está quase pronta, a “master” a gente já está fazendo, já está encaminhado.

EM – Você ouviu o blues a primeira vez com o teu professor de guitarra que te mostrou várias coisas, mas qual foi o primeiro guitarrista que te chamou a atenção?
CS – Ele era um amante do blues animal, ele tinha muita coisa, então, ele me mostrou muita coisa ao mesmo tempo. Todos os Kings, Freddie King, Albert King, B.B. King. Ouvi bastante Magic Slim, depois fui pegando umas coisas mais modernas, Johnny Winter, Clapton. É difícil falar, tem coisas que gosto muito, Muddy Waters, talvez, Robert Johnson. Esses caras.

EM – É porque a gente está nos anos 2000, o blues está com pouco mais de cem anos e ele apareceu no Brasil com força nos anos 80, então é muita influência de fora. O blueserio brasileiro tem muita influência do rock and roll, tanto quanto os blueseiros verdadeiros, você não acha?
CS – É claro, aqui é muito recente. Com certeza muda um pouco. Tem muita banda de blues no Brasil que tem essa pegada mais forte. Johnny Winter, ZZ Top, que é blues mas é rock ao mesmo tempo.

EM – Aí acontece da Prado voltar e fazer uma coisa mais tradicional, o próprio Flávio Guimarães que antes apavorava todo mundo na gaita volta às raízes. É foda essa influência dos brasileiros.
CS – Pode crer (risos). Sempre busquei as raízes. Comecei a ouvir blues bem antes do rock. Depois começou a rolar um Led Zeppelin, Cream que também tem muit influência do blues.

EM – Você morou em Los Angeles, o que isso influenciou na tua música?
CS – Morei lá três anos, de 97 a 2000. Fui estudar outras coisas, música em geral. Estudei country, jazz, harmonia e teoria musical. Blues na escola não aprende mesmo. Aprende é tocando. Tinha uma banda de blues lá e eu tocava na noite. Fazia shows com os gringos, todos americanos e aí você aprende pra caralho. E vi muito show também. Você abre o jornal e fica doido com o que tá rolando. Vi muita coisa, B.B. King, RobertCray, Allman Brothers, maravilhoso, duas vezes. Vi show de rock and roll, Black Crowes. Nessa convivência com os americanos você absorve  muita cultura, tocar em botecos onde a galera dança. Você toca Hoochie Coochie Man e a galera dança. Aqui nego fica parado. A galera entende as letras também, né? 

EM – Você falou das letras, no Big City elas são em inglês. Você acha mais legal, tem mais facilidade em compor blues em inglês?
CS – Eu faço inglês porque morei fora e tenho intimidade com a língua. Faço assim porque sempre gostei. Blues em português  poucas pessoas conseguiram atingir um  lance legal. É complicado. Ainda mais quando querem traduzir a poesia do blues pra português fica bobo.  

EM – No Big City há somente uma cover, o resto das músicas são todas suas composições. Isso é raro acontecer, a maioria das bandas busca muita coisa lá de fora. Parece que há a necessidade de pagar um tributo aos criadores do negócio. Você sente isso?
CS – Os meus outros CDs vieram com a maioria de músicas próprias. O segundo é inteiramente autoral. O primeiro são quatro covers e seis próprias. Aposto  muito nisso, componho muito. Esse trabalho que vai sair agora tem muito pouco de coisas minhas. São só duas minhas e oito faixas gringas, mas são frutos de uma pesquisa que a gente fez intensa de coisa bem antiga. Mas mesmo assim estou com quarenta músicas próprias. Já tenho um CD inteiro elétrico pronto. Com letra, tudo certinho, com banda. Mas é difícil. A galera quer cantar em inglês, mas pra compor em inglês, tem que ter um vocabulário, senão vai ficar bobo.  Então isso já é uma dificuldade.

EM – Com relação aos músicos de blues dos Estados Unidos, você consegue fazer esse intercâmbio com eles, como o Big Gilson e o Igor Prado, por exemplo, que viajam pra caramba?
CS – Não consegui ainda. Tenho que focar um pouco mais na minha carreira. É difícil não ter um agente pra te vender.

EM – Mas eles também não tem, ou não tinham. Muitas vezes foram na raça. Eu sou prova disso porque converso sempre com os caras.
CS – Claro, eles conhecem, fazem intercâmbio. Mas eles têm espíritos mais empreendedores,.(risos). Eles têm muito mais anos de estrada também. Quantos anos o Big Gilson está fazendo som aí? A gente vai aos poucos tentando. Talvez eu volte aos Estados Unidos,  morar lá o ano que vem. Estou a fim de estudar engenharia de áudio, essas coisas. E aproveitar pra tocar mais blues lá. Vou pra Los Angeles de novo, se eu voltar já tenho uma base com o pessoal da banda que eu tocava. A gente volta a fazer algumas coisas.

EM – Uma coisa que eu achei interessante é que você usou três tecladistas no Big City Blues. São os três mais requisitados no Brasil, o Adriano Grineberg, o Ari Borger e o Flávio Naves. Foi pela identidade de cada um ou foi pra contemplar os amigos?
CS – (risos) Não, chamo os músicos que posso chamar por amizade, mas também que posso contar com a qualidade, que eu acho o máximo. Chamei o Igor também, mas chamo os caras que são bons instrumentistas. Se não tocar bem, não rola. (risos).

EM – Da cena atual de blues quem te chama a atenção?
CS – Não conheço muito a cena, mas o Larry McCray, já fiz show com ele aqui. Não estou ouvindo muita coisa nova mesmo, mas conheço os caras que vem aqui o Rick Estrin e os Nightcats, que são muito bons. Parei no tempo, ouço muita coisa antiga. (risos). Dos brasileiros gosto da banda do Igor, os caras tocam pra caralho. Tem o (Marcos) Otaviano, super guitarrista. Tem outros caras, mas os dois são os que me vêm primeiro.