terça-feira, 4 de janeiro de 2011

James Wheeler, Igor Prado Band e Donny Nichilo trouxeram a Santos o verdadeiro som de Chicago


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Sérgio Cladera

Mais uma entrevista que publico com quase um ano de atraso. Mas para os verdadeiros amantes do bom e velho blues não faz diferença. O importante é ouvir e ler tudo a respeito sobre esse gênero musical que nasceu no sul dos Estados Unidos há mais de cem anos e acabou se espalhando pelo mundo.
Para nossa sorte, o blues chegou no Brasil pra ficar. Há uns 20 anos inúmeros artistas do gênero passaram pelo país e uma pá de bandas e artistas brasileiros seguem a trilha deixada por eles, fazendo às vezes o caminho de volta.
É o caso do Big Gilson, Big Joe Manfra, Ivan Marcio, Igor Prado e tantos outros que vivem tocando lá na gringa e trazendo os caras para tocar aqui.
Um verdadeiro expoente do gênero, que costumamos chamar de bluesman, James Wheeler, tocou em Santos em 27 de fevereiro de 2010, acompanhado pela Igor Prado Band e Donny Nichilo (teclados) em casa lotada. A entrevista aconteceu nesse dia. Dois meses depois, fiquei sabendo pelo Igor Prado que  Wheeler havia sofrido um acidente vascular cerebral, que o impediu de tocar sua guitarra.
A produção do show ficou por conta de Mannish Blog, Agência Urbana e Thiago Krieck. As fotos dessa matéria são do dia do show. Veja as imagens: http://www.flickr.com/photos/mannishblog/sets/72157624311409619/

EM - Sempre começo com a mesma pergunta que é inspirada em uma música do Buddy Guy: Quando foi a primeira vez que você ouviu blues?
JW – A primeira vez foi quando meu irmão me levou a Chicago. Eu tinha 19 anos, foi em um clube onde tocavam Howlin' Wolf e Freddie King. Freddie King foi o primeiro guitarrista que ouvi e pensei que queria tocar igual, mas naquela época eu nem sabia tocar. Foi em 1956.

EM – Qual foi sua primeira impressão de chegar a uma cidade grande como Chicago?
JW – Tudo era muito excitante. Eu vim de uma cidade pequena do sul, estava estacionado e nunca havia pensado em sair de lá. Eu não tinha motivos para sair de lá e de repente me vi em um lugar como Chicago, um outro mundo.

EM – Como era a cena blueseira no famoso lado oeste de Chicago?
JW – Era boa, mas eu era do lado sul de Chicago. De vez em quando eu e meu irmão íamos à casa de amigos para tocar guitarra e harmônica. Aprendi tocar com uma dupla de amigos de meu irmão, Willie Black e Eddie King. Costumávamos tocar juntos por horas, você sabe, eu estava começando.

EM – Você chegou a tocar com nomes consagrados como Otis Rush, Billy Boy Arnold e outros. Hoje você é considerado como um desses autênticos representantes do som de Chicago, fale um pouco sobre isso.
JW – No começo toquei com o grande J.B. Lenoir. Quando fui convidado por Otis Rush já tocava há um bom tempo, foi em 1986. Nessa época tinha um empresário que me colocou para tocar com grandes nomes. Ele era um dono de clube e tinha também um programa de rádio que divulgava todos os músicos. Era uma casa de show das grandes. Então quando toquei com Otis Rush, um grande ídolo, foi demais. Precisavam de um guitarrista para acompanhá-lo em um final de semana no Kingston Mines e começaram ligar para todo mundo e acabaram ligando para mim. O que era para durar um final de semana acabou levando seis anos. Bons tempos.


EM – Nos anos sessenta J.B. Lenoir fazia músicas de protesto contra o governo e contra a guerra do Vietnã. Você tocou com ele nessa época.?
JW – Não, foi antes disso. Acompanhei-o três ou quatro vezes, ele não vivia em Chicago, viajava por várias cidades. Nessa época ele não fazia as canções de protesto e eu toca nos clubes de blues como Bonanza Club. Fiquei nisso uns 14 meses.

EM – Estamos em 2010 e ele que já viveu décadas no blues toca hoje com uma banda de jovens músicos brasileiros. O que acha disso? O que você pode dizer sobre a cena de blues brasileira?
JW – Minha opinião é que esses caras tentam fazer hoje o que fazíamos há muito tempo. E é muito diferente dos caras que fazem blues-rock. Esses caras estão tentando fazer a coisa real. É muito divertido tocar com eles. Começamos a tocar e não sabemos onde vamos parar. Deixamos a música fluir e quando vemos estamos juntos de novo. O que mais posso dizer, é muito divertido.

EM – Como você vê a cena de blues nos Estados Unidos atualmente?
JW – Atualmente há o blues rock e caras como eu e meus amigos ficamos no tempo. Somos como os dinossauros. A coisa está morrendo. As pessoas não escutam mais, porque blues fala sobre experiências de vida. Um dia na vida, situações que você pode passar, tudo pode se tornar um blues. E as pessoas estão se afastando do som que fazemos.

EM – Como um verdadeiro bluesman, gostaria que falasse sobre a importância dessa música para a cultura norte americana?
JW – O jazz continua se desenvolvendo, não é como era antes, claro, nada é como era antes. Mas o blues, não creio que traremos de volta no tempo, como costuma ser nos anos 50 ou 60. Não acho que o verdadeiro sentimento do blues será resgatado.

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