Luciano Bittencourt, Jefferson Gonçalves e Júlio
Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior
Conheci o gaitista Jefferson Gonçalves por causa do blues. E conheci o irmãos Bittencourt por causa do Jefferson.
Trabalhei com Jefferson em algumas ocasiões e quando ele se juntou ao Bitencourt Duo para um novo projeto me chamou para mais uma parceria. Sim, o Bittencourt sobrenome é escrito com duas letras T. O Bitencourt do duo é escrito com um T só. Coisas da numerologia.
A primeira parceria foi a apresentação no Instrumental Sesc Brasil, o programa famoso gravado no Sesc Consolação, em São Paulo. Fizemos também o Santos Jazz Festival e o Sesc Taubaté. Nesse último aconteceu uma coisa engraçada.
Ao final do show, fui ao banheiro tirar cerveja do joelho e escutei o seguinte comentário: “Só faltava essa, misturar blues e jazz com batuque. Esses caras gostam muito é de inventar”.
Contei para o Jefferson e demos boas risadas sobre isso.
Explico. Há um pessoal purista que tem dor de barriga quando encontra as misturas musicais que derivam do blues e do jazz com os ritmos brasileiros.
Mas o Brasil é assim. Misturar está no nosso DNA. Foi a convivência entre indígenas nativos, brancos europeus e negros africanos que inventou o jeitinho musical brasileiro.
E a formação inusitada do grupo – harmônica tocada de forma percussiva pelo Jefferson, a percuteria Frankenstein do Júlio e a guitarra híbrida do Luciano – soa mesmo diferente.
Cajazz & Umblues é um tema fruto-musical que brinca com a língua e explica o que é esse “soa mesmo diferente”. Cajá e umbu, duas frutas recorrentes no norte e nordeste brasileiros inspiraram o tema.
Elas mesmos têm muitos nomes: umbu, imbu, ambu e cajá, acaiá, taperebá, escancarando a criatividade brasileira demonstrada pelo trio no álbum de estreia.
O trabalho gravado em 2023 traz ainda Nada Será Como Antes (Milton Nascimento), Arrasta Pé Alagoano (Hermeto Pascoal), Tenho Sede (Dominguinhos e Anastácia), as autorais Forró de Outono e Som e Tradição e ainda dão uma chegadinha em New Orlans com Cissi Strut (The Meters).
Júlio Bittencourt e seu kit
Eugênio Martins Júnior - Fale sobre a tua infância musical.
Júlio Bittencourt – Falar sobre a minha infância musical é falar um pouco sobre meu avô. Tive a oportunidade de ter na família um avô ligado à música. E Sebastião Pinto foi um grande cantor da “Era do Rádio” no Brasil. Contratado da Rádio Nacional do Rio Janeiro. Teve um grande destaque na geração dele, gravou vários discos. Na infância morei um pouco na casa dos meus avós, com meus pais. Os ensaios de meu avô com o violão, as serestas, eram a realidade da casa. Ele era empresário, dono de loja, mas a alma dele sempre foi de artista porque cantou a vida toda. Esse avô era do lado da minha mãe. E pelo lado do meu pai, além de trabalhar na fábrica de pólvora, em Piquete (SP), ele tocava bandolim no cinema mudo. Temos o bandolim dele até hoje. São dois lados da família com influências musicais.
Estudei um pouco de piano erudito, o que era possível na época, acabei gostando muito. Estudei um ano e meio, mas desisti porque parecia muito devagar para o que eu imaginava sobre música. Era muito criança, decorava as músicas e depois não conseguia ler as partituras. Anos mais tarde, aos 17, tive o estalo de querer ser baterista. Até hoje não sei a razão, não tinha referência nenhuma. Montei uma banda de rock e comecei a tocar. Com tudo isso, a grande influência era a minha mãe ouvindo MPB, Chico Buarque e Roberto Carlos. E meu pai ouvindo a grande orquestra de Frank Sinatra.
EM - Tua bateria traz elementos diferentes. Como chegou a essa conclusão?
JB – Realmente a minha bateria tem muitas referências. E tudo começou por acaso. Muito antes de gravar alguma coisa com o Jefferson, esse projeto tão bonito que a gente vem tocando. Sempre gostei muito de pesquisar sonoridades diferentes e achar lugares para tocar que não são convencionais. Buscava muito elementos que não fossem tradicionais na bateria para poder agregar ao meu som. Achava que aumentaria meu mundo musical e que eu poderia oferecer alguma coisa diferente. Isso me estimulava a ir ao próximo passo, não ficar só no tradicional. Um belo dia ganhei de presente de um amigo uma alfaia de maracatu feita por um grande mestre aqui da nossa região, chamado Flávio Itajubá. Me deu vontade de adaptar essa alfaia como um bumbo de bateria. Um instrumento extremamente relacionado à cultura brasileira. Um djembê, no lugar do ton 2, e no lugar do ton 1, deixei um tambor realmente pequeno, de 10’. Volto para o surdo de 14’ da bateria Gretch, que é a sonoridade que eu mais amo. E coloquei uma caixa vintage, da década de 60, que também tem uma sonoridade muito legal. Coloquei uma conga, ao lado esquerdo, pensando em algo do lado cubano, e misturas de pratos feitos na Turquia, pratos americanos e outros criados aqui mesmo, quando peço para um amigo cortar um pedaço de prato e fazer outra coisa. E alguns elementos de mão. Consigo misturar tudo isso e minha assinatura musical ficou bem mais fácil de ser compreendida. Esse molho facilitou a mistura da música brasileira com a improvisação do jazz, que é onde mais trilho, mais gosto de fazer e onde tenho a possibilidade de criar. Não sou um baterista ligado em repetir as coisas. Gosto muito de criar. Isso me ampliou o mundo.
Júlio Bittencourt
EM – Além do samba isso tudo agrega outros elementos culturais na tua música, caribenhos e africanos. Fale sobre isso.
JB – Quando trago esses elementos, busco um caminho específico. O da cultura do instrumento. Mas levando para uma forma pessoal de tocar. Não sou aquele baterista que carrega o peso de usar uma conga com a técnica do congueiro. Gosto de colocar esses elementos no meu kit e usar da forma que funciona bem para mim. Com isso tiro um pouco do peso de ser o mantenedor da cultura daquele tambor, sabe?
Que tem pessoas que fazem lindamente e eu admiro, mas não é minha onda. Minha praia é pegar instrumentos que se transforme na minha arte, minha forma de pensar, minha música. Trazer elementos de fora e transformar em uma coisa pessoal.
EM – Antes dessa parceria com Jefferson você gravou alguns discos bem diferentes. Em um deles me chamou a atenção, o Deslimites, cujas músicas foram compostas na hora que estavam sendo tocadas. Como foi a escolha dos temas e dos músicos, como fez essa relação?
JB – Gravei muita coisa. Toco com meu irmão há muitos anos. Mas temos diferentes pontos de vista em relação à música e ao que cada um gosta de forma mais específica. E sempre estive ligado a essa expressão do jazz tocada de uma forma muito livre. Para falar sobre o Deslimites, e até esse nome eu gosto de explicar, sou muito fã de um poeta chamado Manoel de Barros, um grande poeta brasileiro. E ele usa palavras com outros sentidos. Consegue fazer isso de forma maravilhosamente poética. Então pego dele o termo Deslimites e trago para meu disco. E ele nasce quando encontro o saxofonista Loran Brunet, um parisiense muito bacana. Ele esteve no Brasil e acabamos nos conhecendo e desenvolvendo uma afinidade sobre essa forma de tocar. A música livre, sem barra de compasso. Começa a tocar sem a necessidade de separar 4x4, 6x4, 6x8. A gente brinca que é uma música mais livre possível, sem a regra do espaço, do tempo e do compasso. O Loran passou por Cruzeiro e conversando sugeri gravar alguma coisa sem combinação nenhuma. Eu tocava meu instrumento e ele sentia o que eu estava tocando e seria uma conversa musical. Sem combinar nada. Aí ele falou: “Mas nada?! Não combina ritmo, tempo da música?”. Eu respondi: “Nada. A gente só toca”. Entramos no estúdio, microfonamos os instrumentos e começamos a gravar algumas coisas. Percebemos que isso foi extremamente rico em ideias. Saia direto da alma, sem passar pela lógica cerebral. Tentamos nos livrar dessas amarras e tocar o que era do nosso espírito livre. Gostei da ideia e chamei outros músicos. Cada vez que encontrava com um explicava a cena, trazia para o estúdio e gravava no máximo em três takes. A ideia era levar para o disco as originais, as autorais. Depois disso gravei mais dois discos, um com o Loran Brunet e depois com outro saxofonista chamado Hudson Bochard, Margens do Jazz. Estávamos tocando em uma pousada bem no alto da serra aqui em Visconde de Mauá e eu já tinha um equipamento de gravação. Então levei minha bateria para a margem de um rio, microfonamos e gravamos. Por isso chamei de Margens do Jazz, porque são todos os temas criados ali naquele lugar. Essa é uma das coisas que mais amo fazer, gravar com as pessoas de forma livre.
EM - Já no Caminho Natural o samba e o jazz rolam mais soltos. Gostaria que falasse sobre esses dois trabalhos distintos.
JB – Por quase 15 anos tive um projeto chamado Júlio Bittencourt Trio, com meu irmão, Luciano Bittencourt, e o Benjamim BJ Bentes. Investimos na nossa carreira de jazz pela região. Já havíamos gravados um disco de marchinhas de carnaval e depois gravamos um disco ao vivo em uma casa de shows chamado Jazz Village. Achei que estava na hora de gravarmos um disco autoral. O nome do disco surgiu disso, que era realmente o caminho natural do nosso trabalho. O Luciano é um grande compositor e o BJ também. Arrisquei colocar uma música minha. Dei pitaco em algumas coisas, lógico, mas as composições são deles. Vínhamos de uma influência muito grande tocando no Rio de Janeiro. Tocamos no Beco das Garrafas, tocamos samba jazz com diversos artistas. Sempre fui um apaixonado e esse disco tem essa pegada misturando o samba e o jazz. Mesmo que tenha uma música chamada Maranhão, que é outra onda. Depois disco gravamos outro projeto chamado Cores, cuja pesquisa apontava quais eram as vibrações, as frequências relacionadas às cores. Há pesquisas que dizem que as pessoas conseguem perceber a cor X com determinada vibração. Cada nota uma cor. Pesquisamos sobre cromoterapia, sobre pessoas ouvem um tambor relacionam aquele som com uma cor, uma coisa muito louca. Gravamos o disco, que para mim foi o melhor que já gravei com o Júlio Bittencourt Trio. Há diferenças entre os dois projetos. Um com a influência dos dois compositores e o outro que acho mais livre, não chega a ser free jazz, mas tem essa liberdade. Não se encaixa nos padrões tradicionais da música brasileira. Ou desse projeto do duo com o Jefferson.
EM – Aproveitando que você citou, como o público europeu recebeu essa formação inusitada, harmônica, tambores e aquela guitarra diferente do teu irmão?
JB – Tivemos oportunidade de visitar cinco países com esse repertório bem brasileiro e diferente. A guitarra do meu irmão é uma guitarra híbrida com três cordas de contrabaixo e três de guitarra. Minha bateria é uma mistura de bateria e percussão e levamos isso tudo lá para fora. Até uns bichinhos de apertar, um porco e uma galinha. A recepção foi muito boa. Nunca imaginamos que na Alemanha teríamos uma expressão de carinho tão grande. Pessoas dançando, batendo palma, comprando os discos, que até pagavam mais caros para ajudar a difundir. Foi uma grande revelação. Estivemos na Espanha, Alemanha, República Tcheca. Na Bélgica tocamos em um jazz clube maravilhoso, cujas paredes havia fotos dos grandes músicos europeus que já haviam tocado lá. Em Portugal tocamos em festivais de jazz e recebemos convites para voltar. As portas se abriram de uma forma que deu a certeza de que iremos voltar. Sou grato por essa química entre todos. A música vai muito além do combinado. Porque se fosse fácil só combinar elementos e isso desse certo muita gente poderia tocar qualquer coisa. Mas o que funciona na música é o além do combinado. É a química que acontece quando nos juntamos para tocar. Na minha concepção nós somos instrumentos da música que vem de Deus. Que usa o nosso corpo e nós projetamos isso aos nossos instrumentos físicos. A gente percebe que a música consegue curar e ajudar muito as pessoas, com depressão e uma série de doenças.
Luciano Bittencourt
Luciano Bittencourt
EM - Fale sobre esse instrumento estranho que você toca, a guitarra híbrida. E como ela cabe na música brasileira?
Luciano Bittencourt - Esse instrumento se chama guitarra híbrida, é uma mistura de baixo e guitarra em um instrumento só , são três cordas de baixo e quatro de guitarra, com duas saídas independentes. O criador foi o músico americano Charlie Hunter, com o qual tive a honra de estar e poder adquirir essa guitarra em 2020. Estive em sua casa na Carolina do Norte e tive oportunidade de fazer aula com ele que foi de extrema importância para mim.
Como sou pioneiro desse instrumento no Brasil, tive que transportar a técnica adquirida com Charlie para os ritmos brasileiros, tão ricos em harmonia e estilos. Mergulhei de corpo e alma nesse instrumento mágico e tive que reaprender quase tudo, foi e ainda é um grande desafio. Mas estou muito feliz e estudando muito.
O incrível é que a híbrida se encaixa perfeitamente na música brasileira, faço parte do Bitencourt Duo e nesse trabalho em parceria com o gaitista Jefferson Gonçalves posso explorar a música nordestina na mistura com jazz e blues. Lançamos vários álbuns com turnês no Brasil e Europa, principalmente por aplicar a híbrida na nossa rica cultura.
Com o Saxofonista Leo Gandelman que também temos uma parceria tenho a oportunidade de tocar o soul jazz mas sempre com um sotaque brasileiro. Enfim esse é um instrumento versátil e me sinto honrado por ser o primeiro a trazê-lo ao Brasil
EM – Qual a tua percepção sobre o público da Europa com a música que vocês apresentaram?
LB – Foi maravilhosa. Melhor impossível. A música brasileira sempre foi muito bem representada no mundo todo. Sempre vista como a melhor do mundo. Tocamos ritmos brasileiros tradicionais como o maracatu, baião, com a pegada jazzística. Isso fez com que os europeus sentissem o calor da nossa música. Uma experiência incrível.
EM - Você e teu irmão tocam (com trocadilho) um bar de jazz na cidade de Cruzeiro, onde moram. Como é essa dinâmica? Há público ou é só uma teimosia de vocês?
LB – Sim, temos uma escola de música que se chama Instituto Musical Bittencourt na cidade de Cruzeiro. Dou aula de guitarra e violão e o Júlio de bateria. Nessa escola temos um auditório onde todas as terças-feiras fazemos jam sessions com músicos que vêm de longe e músicos da região. Essas jams são de jazz e música brasileira. É um evento que cultivamos há 15 anos. Um público que vai para ouvir música e não ficar conversando e ter outro tipo de entretenimento. E temos outro local que se chama Espaço Luckys, com eventos mensais e bimestrais e shows de grandes artistas, Leo Gandelman, Tunai, Jefferson Gonçalves e o duo. É num ponto turístico da cidade. Como já disse, um público que nós estamos formando.
Jefferson Gonçalves
Jefferson Gonçalves
EM - Como aconteceu a parceria com os irmão Bittencourt?
Jefferson Gonçalves - Já conhecia os irmãos Bittencourt quando eram trio, com o BJ, o baixista que tocava com eles. Nos encontramos em um festival em Caldas Novas. Daí em diante passei a segui-los nas redes sociais. Vi uma postagem do Júlio tocando uma bateria bem percussiva e com bastante uso de tambores e o kit tinha uma composição muito interessante. Mandei uma mensagem dizendo que a levada estava ótima e merecia uma melodia e começou toda a história e lançamos nossa primeira composição chamada: Cajazz & Umblues.
Isso aconteceu no meio da pandemia de Covid 19 e como todos estavam em casa foi bem mais fácil organizar a música, o Luciano fez a harmonia em cima da melodia e o ritmo já estava pronto, foi o alicerce de tudo.
EM - A parceria com a marca de instrumentos que você representa rendeu uma turnê na Europa. Como se deu isso?
JG - Sim, a Seydel Harmonicas organiza um festival anual em Klingenthal, na Alemanhaa. Recebi o convite para tocar como convidado de uma banda alemã, mas queria levar meu som, tocar minhas ideias percussivas e as frases que tiro do pife e coloco na gaita. E tocar com uma banda que não conhece esse mundo, definitivamente não ia dar.
O convite chegou no meu e-mail e eu estava na praia com a família. Na hora falei com minha esposa, Juliana Longuinho, e ela me disse para tentar fazer um crowdfunding. Fiquei com aquilo na cabeça e conversei com os irmãos Bittencourt que toparam na hora.
E durante a divulgação nas redes recebi outro convite, dessa vez do gaitista espanhol Joan Pau Cumellas, um dos produtores do Calella Harmonica Festival. Entramos em contato com amigos produtores em Portugal, o brasileiro Cláudio Paula, que articulou todos os shows no país.
Na viagem tivemos o apoio do Felippão Santos que fechou os shows de Bruxelas (BE) e Sant Feliu de Guixols (ES), além da gravação que fizemos no estúdio da Thomann Music (AL).
EM – Como está sendo essa virada musical? Quero dizer, anteriormente você tocava com uma banda de blues com cinco elementos, com cantor e letras em inglês. E agora está em trio, fazendo música instrumental e com pegada mais brasileira. Mas ainda misturando elementos.
JG - Antigamente não (risos). Ainda toco com esses malucos e com o Pedro Friedrich em dupla. Cada projeto tem uma direção. Com a banda, hoje Mamooth Band, fazemos releituras de clássicos do’ blues e rock com essa pegada nordestina, além de composições próprias. Com o Pedro Friedrich faço uma onda mais roots, blues do delta, que também gosto muito. Além desses projetos, toco com Rosa Marya Colin e tenho um projeto com Eric Assmar e Gustavo Andrade. Não me fecho somente a um projeto, quero tocar com bastante gente, pois aprendo muito com isso.
EM – Você é um tijucano e projetou a tua carreira no Rio de Janeiro, cidade fundamental para a música e a cultura do Brasil. Recentemente se mudou para o interior da Bahia. Essa mudança de ritmo está influenciando na tua arte?
JG – Acho que sim, pois tudo que muda na sua vida vai mudar no seu trabalho. Aqui em Cumuruxatiba, Bahia, a vida é mais tranquila e simples. Isso me dá mais tranquilidade para tocar, estudar, escutar música. Sempre dou canja com músicos daqui e gosto disso.
Mas a minha mudança para cá não foi para pesquisa de música e sim pela qualidade de vida e isso com certeza afetou minha forma de compor e tocar.
EM – Vou desviar um pouco o assunto. Você teve uma parceria com o Laudir de Oliveira. Como o conheceu e como começou essa parceria. Essa pergunta é porque eu falo sobre alguns percussionistas brasileiros na introdução desse livro.
JG – Sim, Laudir de Oliveira tocou durante muito tempo na banda. Fizemos muitos shows e gravações, foi uma honra tocar e dividir esses momentos com ele.
Meu contato com Laudir foi o mais surreal que poderia ter sido. Fui em uma consulta médica e enquanto esperava para ser atendido a secretária ficou puxando papo comigo e perguntou o que eu fazia. Quando disse que era músico, ela na hora disse: “Tenho um irmão que é músico também, toca percussão”, e disse o nome dele. Na hora eu respondi: “Seu irmão é o cara!”. Ela riu e passou o número de celular dele para eu ligar. Guardei o número e lógico que não liguei. (risos).
No mês seguinte voltei para outra consulta e assim que cheguei ela disse: “Meu irmão está esperando você ligar até hoje”, e ligou para o Laudir na mesma hora e passou o telefone para eu falar.
Laudir me atendeu com calma e simpatia únicas. Conversamos rápido e disse que ligaria mais tarde, chegando em casa liguei e mais uma vez fui atendido por ele com muita simpatia e na hora ele fez o convite para ir até Ramos, bairro onde morava, para levar um som.
Uma semana depois cheguei na casa de Laudir acompanhado do cantor senegalês, Hampaté. Passamos uma tarde conversando e tocando, no final ele pergunta o que o Hampaté fazia no Brasil. Expliquei que ele veio conhecer músicos brasileiros e iria gravar um CD com minha banda. Na mesma hora o Laudir disse que queria gravar e aí começaram a nossa parceria e amizade.
Sou um cara de sorte, conhecer esses mestres e conviver com eles é uma honra e um privilégio. Outro grande percussionista e baterista que gravei e sou amigo é o grande Robertinho Silva.
Fotos IMB
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