terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Sweet Tea – 2001 – Buddy Guy


Quando Sweet Tea foi lançado Buddy Guy era o "príncipe" do blues. O rei, claro, o velho BB. Sempre mais popular e mais rico. Isso ninguém duvida. 
A diferença é que a partir dos anos 90 Guy passou a lançar um disco atrás do outro, uns geniais, outros menos, mas todos bons discos. Ao passo que King já havia atingido o auge na carreira e passado a lançar albuns repetitivos e não tão legais. Mas BB sempre será eterno.
Então, Sweet Tea, lançado pela gravadora Silvertone, veio no rastro desses trabalhos, mas é completamente diferente. E o que ficou constatado ao ouvi-lo, é que Buddy Guy não passa de um enganador. Explico.
Em Done Got Old, a primeira faixa do álbum, Guy canta que está ficando velho e que não faz mais as coisas que costumava fazer, isso leva o ouvinte a pensar que a coisa vai continuar calma porque o tema é mesmo um blues de raiz e, levando em consideração a quantidade de discos gravados antes de Sweet Tea, talvez ele quisesse um pouco de sossego. 
Mas é aí que está a enganação. A segunda música, Baby Please Don’t Leave Me, é um petardo de 7m30 com Guy cantando e mandando ver na guitarra, ancorado pela ótima banda de apoio, todos músicos feras de estúdio – Spam (Tommy Lee Miles, na bateria), Davey Faragher (baixista, colaborador frequente de John Hiatt), Jimbo Mathus (guitarra base) e os convidados Bobby Whitlock (piano, co-fundador dos Derek & The Dominos), Sam Carr (baterista lendário que tocou com Paul Butterfield), Pete Thomas (bateria), Craig Kampf (percussão).
Seguindo em frente, perdemos toda a confiança no ídolo, fomos mesmo enganados. É claro que ele está envelhecendo e ná época Guy havia completado 65 anos, mas continuava fazendo as coisas que costumava fazer, só que melhor. Pelo menos cantar e tocar guitarra em Look What All You Got parece não ter sido tão difícil. 
A partir dali, não existe mais calmaria, só tempestade em solos de guitarra sobre uma base crua, repetitiva, mas segura que remete aos inferninhos dos cafundós do Mississippi. Remete também a Muddy Waters e, principalmente, RL Burnside. Tanto no instrumental como nas letras que falam de amor, aliás no disco inteiro só se falha em mulher. 
Stay All Night combina perfeitamente aquele riffão pesadão, uma batida seca e voz de Guy com efeito seguida por Tramp, uma boa regravação de Lowell Fulson, outro medalhão do blues. She’s Got Devil in Her vem com o timbre conhecido de Guy com ele solando logo de saída e I Got You Try You Girl tem incríveis 12m09 sustentando uma batida hipnótica em uma viagem ácida ao fundo do blues. Podemos chamar Who’s Been Foolin’ You de um boogie que alegra a alma antes da reflexiva que é It’s a Jungle Out There, do próprio Guy.
No final da audição, enganados mas felizes, constatamos que o velhinho cometeu uma obra prima daquelas. 

Músicas: 
1 - Done Got Old
2 – Baby Please Don’t Leave Me
3 – Look All What You Got
4 – Stay All Night
5 – Tramp
6 – She’s Got The Devil In Her
7 – I Got a Try You Girl
8 – Who’s Been Foolin’ You
9 – It’s A Jungle Out There

2 comentários:

  1. Poxa! Eugênio, eu te juro que havia procurado em seu blog alguma matéria sobre o Buddy Guy, e procurei torcendo pra que vc falasse sobre este álbum! Vc me deu um presente cara!
    Obrigado, ouvi tanto este album, vc dichavou suas faichas ! Grande e única resenha!
    Valeu!

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  2. Parabéns pela matéria!
    Keep the blues alive!

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