sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Banda seminal do punk/eletrônico brasileiro, a santista Harry, ganha documentário



Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos: Divulgação

Em março de 2017, últimos dias de vida de Johnny Hansen, cultuado e controverso vocalista da banda santista Harry, nos encontramos algumas vezes para juntar a documentação necessária para produzir o documentário que até então só existia na nossa cabeça, O Caos no Céu Cinza – nome dado pelo Hansen. 
Alguns dias depois de entregarmos o projeto na Secretária de Cultura, dentro do Facult, edital de financiamento local, Hansen sofreu um ataque cardíaco fatal que lhe tirou a vida.
Meses se passaram até o dia que recebi o telefonema do Dino Menezes, o co-produtor do filme me dando os parabéns por ter conseguido o financiamento. 
Confesso que já havia esquecido desse lance e fiquei alguns minutos olhando pra TV e pensando: “E agora, que porra que eu vou fazer?”.  
Marquei com a banda que estava juntando os pedaços após quase um ano sem tocar juntos e contei toda a história. A galera curtiu a ideia e toparam fazer. Meti as caras. 
Dois anos depois o documentário está aí. Recheado de entrevistas com os músicos originais e os atuais, contando a história da banda, falando sobre os discos iniciais que arranharam a pureza do pop rock nacional dos anos 80 e falando sobre o Hansen. 
Sou novato nesse negócio de fazer filme e assumo todas as falhas. Mas, assim como elas vão aparecer, meu coração também vai estar lá na tela. Agradeço à banda, aos entrevistados, ao Digo Maransaldi, parceiro incansável, e ao Dino Menezes pela paciência em me aturar e, por último, agradeço à minha paciência por ter de aturar o Dino.    
Harry foi uma banda santista criada na época em que o maior porto do país também era o maior exportador de vírus HIV do Brasil. Muito por causa das drogas consumidas pela galera.
Cubatão era uma das cidades mais poluídas do mundo, onde o nascimento de crianças com anencefalia, principalmente na Vila Parisi, vinha aumentando e onde aconteceu uma das maiores tragédias do país naquela época, o incêndio da Vila Socó, vitimando centenas de moradores. 
O crescimento das favelas era proporcional com o aumento dos assassinatos em São Vicente. Sem contar o descarte criminoso pela empresa Rhódia de pentaclorofenol, o pó da china, composto químico altamente tóxico, nos bairros da Área Continental de SV.    
Em meio essas tragédias nasceu o Harry e muitos de seus temas refletem essa barra pesadíssima que era a Baixada Santista. 
As paredes de guitarras, e depois de aparelhos eletrônicos que ao longo do tempo também serviu para separar os integrantes por divergências musicais, ficarão marcados na história torta do rock nacional eternamente como seu lado B.
Com o recurso que recebi, e ainda pondo algum do próprio bolso, consegui contar um pouco dessa história. Antes de qualquer coisa, sou fã da banda e acho que devia esse tributo ao Johnny Hansen que, como o amigo Werner Brucha diz no filme, não recebeu em vida o valor que merecia como músico.
Esperar o que no país  do monopólio das cinco emissoras de TV e dos cinco jornais?
Hoje, Cesar Di Giacomo (bateria e vocal) Johnson (teclados e vocal), Lee Luthier (baixo e vocal) e Marcelo Marreco (guitarra), continuam sem o Hansen e se preparam para lançar um novo CD, ainda com músicas compostas, cantadas e tocadas por ele. O CD se chama Dark Passenger e foi produzido pelo selo Fiber Records. 

Por exigência do edital do Facult e pedido da banda, os locais escolhidos foram o Museu da Imagem e do Som de Santos, duas sessões, e o Cine Arte Posto 4, uma sessão. São lugares com pouca capacidade de público, mas caso seja necessário faremos em mais datas. As exibições serão em 16 e 23 de agosto no MISS e 30 de agosto no Cine Arte. A entrada é gratuita.

Documentário Caos no Céu Cinza 2019 - arte; Digo Design

Show Caos no Céu Cinza - Sesc Santos 2018 - arte Digo Design

Nenhum comentário:

Postar um comentário