sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O quarteto de Duke Robillard trouxe elegância ao Rio das Ostras Jazz e Blues de 2012


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Eugênio e Cezar Fernandes

Duke Robillard parece aquele tio que fica tomando goró na padaria falando sobre futebol com os aposentados. Só que ele nasceu nos Estados Unidos e com uma guitarra em punho. E tio Duke tem muita história pra contar. É guitarrista, bandleader, compositor, cantor, produtor, ganhador do prêmio Grammy e outros voltados exclusivamente ao blues.
Além disso, poucos podem dizer que sua lista de parcerias inclui Bob Dylan, Tom Waits, Jay McShann, The Fabulous Thunderbirds, John Hammond, Jimmy Witherspoon, Dr. John, Maria Muldaur e Roomful of Blues. Só para ficar nos mais famosos.
A guitarra do tio Duke é elegante. Suas cordas vibram fazendo com que as notas cheguem com leveza aos ouvidos. É de arrepiar. Mas quando quer, Duke rasga o couro com os dentes, como diria o Frejat.
Não bastasse tudo isso, Duke Robillard é uma enciclopédia de ritmos. Sua carreira mostra. Desde a fundação do grupo Roomful of Blues, em 1967, ou substituindo Jimmie Vaughan no Fabulous Thunderbirds, em 1990, sua carreira solo é recheada de discos de rockabilly, jazz, rock and roll e rhytmn and blues.
Em mais de 40 anos de carreira, gravou discos diferentes e arrebatadores: You Got Me, After Hours Swing Sessions, Dangerous Place, Strechin’ Out, Conversation in A Swing Guitar, Groove a rama são alguns.
Estive com Duke em Rio das Ostras esse ano. Encontrei-o sentado em uma cadeira de vime apanhando um sol e matando o tempo na beira da piscina do hotel onde imprensa e músicos se hospedam por conta do grande festival.
Tímido como sol daquele dia, Duke não é de falar muito. Pelo menos com estranhos. Depois de dois dias se cruzando pelo festival e que tive de ajudar o Jefferson Gonçalves proteger o órgão Hammond que estava apanhando uma chuva desgraçada no palco São Pedro durante o seu show (ver foto), Duke se mostrou um coroa bem legal. Como aqueles tios aposentados que ficam falando de futebol no bar da esquina.



Eugênio Martins Júnior – Quando foi a primeira vez que ouviu blues?
Duke Robillard – Provavelmente tinha dez anos de idade. Ouvi em um lado b do Chuck Berry, em um 45 rpm. Uma delas era Wee Wee Hours, um slow blues. Foi o primeiro blues de verdade que eu escutei. E eu amei aquilo.

EM – E quando a guitarra apareceu em sua vida?
DR – Desde cedo decidi que iria me tornar um guitarrista. Acho que com seis anos, mas meus pais não me deram uma guitarra. Aprendi a tocar sozinho em um instrumento que era do meu irmão. Vendo o seu jeito de tocar.

EM – Você tem um estilo muito elegante. Qual era a sua principal influência nessa época?
DR – Foi Hubert Sumlin, da banda de Howlin’ Wolf e Matt Guitar Murphy, da banda de Memphis Slim. E mais tarde todas as pessoas sofreram a influência de Muddy Waters, B.B. King e T Bone Walker.

EM – Roomful of Blues foi uma banda importante na cena blueseira. Fale sobre a fundação do grupo e seus anos na banda.
DR – Eu comecei na banda em 1967. A primeira formação era básica, guitarra, piano, bateria e harmônica às vezes. Concentrávamos no Chicago Blues. Alguns anos depois descobrimos o Rhytmn Blues dos anos 40 e nos apaixonamos. Então adcionamos os metais no começo dos anos 70. Fiquei na banda 12 anos, mas saí em 1979 para fazer carreira solo.


EM – Mais do que um músico, você é um estudioso dos ritmos norte americanos. Podemos dizer que foi essa versatilidade que o fez tocar com músicos tão diferentes como Bob Dylan, Tom Waits e Dr. John?
DR – Gosto de todas as variedades de blues, jazz, a origem do rock and roll e até as formas mais primitivas de country music. Todos os estilos de música são relativos ao blues. E todos eles me ajudam a construir o que eu faço.

EM – Como o Brasil, os Estados Unidos têm muitos ritmos e gênero musicais. Você conhece algum gênero musical brasileiro?
DR – Não conheço os ritmos populares do Brasil. Conheço o jazz dos anos 60, Jobim e pessoas como ele. Gostaria de aprender mais sobre isso. Estive por aqui três ou quatro vezes, mas nunca fui muito exposto. Toquei no Brasil em um festival e em alguns clubes. Em São Paulo toquei em um clube que parece New Orleans.

EM – Você vinha, tocava e ia embora?
DR – Toquei uma vez no Rio de Janeiro e eles não me deixavam sair do hotel porque diziam que era muito perigoso. E em São Paulo também.


EM – Mas nem é tanto assim, a ponto de não poder sair do hotel.
DR - Isso faz 15 ou 20 anos atrás, talvez naquela época as coisas eram piores. Gostaria de mencionar que estou produzindo um guitarrista de blues brasileiro pelo meu selo. Talvez até o final desse verão. Ele se chama Nuno Mindelis. Tenho sociedade em dois novos selos, um de jazz e outro de blues de raiz e vamos gravar o Nuno nesse selo de blues.

EM – Como surgiu essa parceria?
DR – Meu sócio já havia se envolvido com o Nuno em outras gravações e me convidou pra produzi-lo dessa vez.

EM – Você já conhecia o Nuno? O que achou de seu estilo?
DR – Sim, tenho alguns de seus CDs. Acho um ótimo guitarrista.

EM – Você tocou com Big Joe Turner que era um grande compositor. Ele escreveu Shake Rattle and Roll, Corrine Corrina, Honey Rush e outras. Na minha humilde opinião, ele nunca teve o reconhecimento merecido, talvez por ser muito velho, muito preto e muito grande. Você concorda?
DR – No tempo do rock and roll ele chegou tarde. Mas acho que as suas gravações foram populares. É claro que Bill Haley, por ser branco, ganhou mais atenção com Shake Rattle and Roll. Provavelmente também era muito mais jovem do que Joe Turner. Mas acho que ele teve o seu reconhecimento. As pessoas que tocam blues nos Estados Unidos não eram muito reconhecidas até B.B. King se tornar um dos maiores. Eles nunca tocaram para grandes audiências até alguns começarem a produzir hits e os guitarristas britânicos começarem aclamar caras como Buddy Guy e B.B. King. Isso fez toda a diferença em suas carreiras.

 

EM – Gosto de fazer essa pergunta para diferentes músicos de blues. Uma vez o Rod Piazza me disse que o blues é a música do banco de trás (back seat music). Você concorda?
DR – (risos) Acho que sim. Como no jazz, você não pode esperar ficar rico tocando blues porque isso não vai acontecer.

EM – Fale um pouco sobre essa banda que o acompanha.
DR – São quatro músicos, Bruce Bears no piano e orgão, Mark Teixeira na bateria e Brad Hallen no baixo. Realmente acho que é a melhor banda que já tive. Tocamos muito bem juntos. Eles são músicos completos em jazz, blues e outros gêneros. São muito versáteis.

EM – Qual é a importância do blues para a cultura-norte americana?
DR – É a música que fala da vida das pessoas, mas apesar disso, uma minoria escuta blues. Mas é o suficiente para nos manter viajando e tocando pelo país e pelo mundo. Sempre foi assim. Talvez ele tenha sido popular por um tempo. Mas dá para nos manter vivos, tocando em clubes pequenos e às vezes em clubes grandes. Acho que concordo com o Rod Piazza (risos). 

EM – Mas continua sendo a base da música norte-americana.
DR – Realmente foi, mas não é mais. Da década de 70 para trás, até o começo do século. Nos anos 80 a música popular começou a mudar e não e passou a não ter mais a influência do blues. Não sei de onde vem, mas não é do blues.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Bourbon Street Fest completa 10 anos e chama Henry Butler, Vasti Jackson e Preservation Hall para a celebração


Um dos maiores festivais de música negra americana no Brasil, o Bourbon Street Fest, chega à 10ª edição em grande estilo: 10 dias de shows com 10 atrações, em três cidades, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, entre 10 a 19 de agosto. Salvador, Ribeirão Preto (SP) e Buenos Aires também receberão algumas atrações. 
O evento, promovido por uma das melhores casas de jazz do mundo – o Bourbon Street Music Club, de São Paulo, trará nomes consagrados como a Playing for Change Band, formada por ex-músicos de rua, hoje verdadeiros popstars; Donald Harrison, grande nomes do sax alto contemporâneo, e a mais famosa e conceituada banda de traditional jazz do mundo, Preservation Hall Jazz Band, comemorando também seus cinquenta anos de carreira.
As outras atrações são grandes nomes que representam a diversidade musical da Louisiana e, particularmente de New Orleans: o grupo de trombones Bonerama; o acordeonista Dwayne Dopsie e seus Zydeco Hellraisers; o pianista de blues Henry Butler; o baixista Tony Hall com sua banda The Heroes, o grupo vocal Mahogany Blue e o grupo performático Zulu Connection. Completando a festa, a Orleans Street Band, de São Paulo.
Criado em 2003 para comemorar os dez anos da casa noturna, o festival apresentou, até 2011, 225 shows para um público total estimado em 320 mil pessoas, além de workshops, brunchs com pratos típicos da Louisiana e outras atividades.
Como sempre, todas as cidades terão shows com entrada franca, em amplos espaços abertos com capacidade para milhares de pessoas.
Em São Paulo, a comemoração trará uma mudança no palco mais emblemático do festival, o Bourbon On The Street, que é montado ao ar livre na rua dos Chanés, em Moema. Dessa vez ele estará no cruzamento em frente ao Bourbon Street, quase como um anexo da casa, cuja arquitetura é inspirada na de New Orleans, proporcionando assim um clima mais típico ao verdadeiro happening em que se transforma a área.
O palco no parque do Ibirapuera continuará sediando a abertura do festival. E o do Bourbon receberá de um a três shows por noite ao longo de sete dias, além de um jazz brunch.
No Rio de Janeiro, os shows serão novamente no Parque Garota de Ipanema e no Miranda, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Pela segunda vez em Brasília, o evento acontece no Complexo Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios.
Ação social - Haverá ainda um workshop de Donald Harrison para crianças e adolescentes que estudam música no Instituto Baccarelli, em Heliópolis, área carente de São Paulo.
Outra contribuição social do festival é destinar uma área especial nos shows ao ar livre para 300 meninos e adolescentes da periferia, que estudam música ou tocam algum instrumento. Ciente de que muitos deles, que gostariam de assistir aos shows, não têm como fazê-lo, o evento oferece transporte, monitores e lanche a esses jovens.
Para acompanhar a boa música, um menu inspirado na  gastronomia cajun e créole, que só existem na Lousiana, foi criado especialmente para o período do festival pelo chef Viko Tangoda. Os pratos levemente condimentados são resultado da combinação das culturas francesa, espanhola, africana e indígena, que formaram o grande caldeirão cultural da Louisiana.
História do festival – a fórmula consagrada de shows no palco do Bourbon Street, ao ar livre no parque do Ibirapuera, e na rua dos Chanés, onde fica a casa noturna, e um brunch com a culinária cajun apareceu no primeiro ano do festival.
Diante de sua dimensão e importância, foi incluído oficialmente na comemoração dos 450 anos da cidade de São Paulo.
A partir da quinta edição, em 2007, o festival chegou também ao Rio de Janeiro. Naquele ano, foram feitos quatro shows, em duas datas, ao ar livre e com entrada franca, em frente ao MAM, no Parque do Flamengo. Em 2011, Brasília foi incorporada ao roteiro com quatro shows gratuitos, em duas datas, no Museu da República.
Este ano, além das três cidades, alguns artistas serão levados a Salvador, Ribeirão Preto (SP) e Buenos Aires.
O festival já trouxe grandes nomes do jazz e de outros gêneros musicais de New Orleans, como Delfeayo Marsalis, do famoso clã Marsalis, e um dos maiores trombonistas contemporâneos; Dirty Dozen Brass Band, a mais importante brass band em atividade; Preservation Hall Jazz Band, a mais antiga e conceituada banda de traditional jazz do mundo; Marcia Ball, uma das maiores cantoras do blues contemporâneo; Marva Wright, a rainha do blues de New Orleans, e o badalado DJ Logic.

Faça a sua agenda:

Dia 10 – sexta-feira
21h30 – Storyville Jazz Band - Traditional Jazz
23h00 – (1ª entrada) Tony Hall & The Heroes - R&B / Soul
00h30 – (2ª entrada) Tony Hall & The Heroes - R&B / Soul
Local: Bourbon Street
Horário: 21h30
Abertura da Casa: 20h
Couvert Artístico: R$ 75,00

Dia 11 - Sábado
Parque do Ibirapuera - Grátis ao ar livre  
15h30 - Orleans St. Jazz Band -  Street Band / Dixieland    
16h00 – Preservation Hall Jazz Band - Traditional Jazz
17h30 – Bonerama - Brass / Rock / Funk
19h00 – Tony Hall & The Heroes - R&B / Soul
Local: Parque do Ibirapuera - Portão 10 – Av. Pedro Álvares Cabral s/n
Data: 11/08/2012 – sábado
Horário: 16h00
Grátis – ao ar livre

Dia 14 – Terça-feira
21h00 – Dwayne Dopsie The Zydeco  Hellraisers - Zydeco
22h30 – Preservation Hall Jazz Band - Traditional Jazz
Local: Bourbon Street
Horário: 21h
Abertura da Casa: 20h
Couvert Artístico: R$ 125,00

Dia 15 – quarta-feira
21h00 – Bonerama - Brass / Rock / Funk
22h30 – Playing for Change - World Music
Horário: 21h
Abertura da Casa: 20h
Couvert Artístico: R$ 125,00

Dia 16 – quinta-feira
21h30 – Donald Harrison - Jazz New Orleans / Indians – Feat: Shaka Zulu
23h30 – Mahogany Blue - R&B / Soul
Local: Bourbon Street
Horário: 21h30
Abertura da Casa: 20h
Couvert Artístico: R$ 55,00

Dia 17 – sexta-feira
21h30 – Storyville Jazz Band - Traditional Jazz
22h30 – Henry Butler feat.Vasti Jackson - Blues
23h30 – Dj Crizz - New Orleans Sounds
00h30 – Playing for Change - World Music  Dwayne Dopsie -  Zydeco
Local: Bourbon Street
Horário: 21h30
Abertura da Casa: 20h
Couvert Artístico: R$ 125,00

Dia 18 - sábado
21h30 – Storyville Jazz Band - Traditional Jazz
22h30 – Dwayne Dopsie The Zydeco  Hellraisers -  Zydeco
23h30 – Dj Crizz - New Orleasn Sounds
00h00 – (1a entrada) Mahogany Blue - R&B / Soul
01h00 – (2a entrada) Mahogany Blue - R&B / Soul
Local: Bourbon Street
Horário: 21h30
Abertura da Casa: 20h
Couvert Artístico: R$ 75,00

Dia 19 – Domingo
JazzBrunch
11h00 – Jazz Brunch - Início Brunch
13h00 – Preservation Hall Jazz Band - Traditional Jazz
Horário: 11h00
Abertura da Casa: 11h00
Couvert Artístico: R$ 295,00

Rua do Bourbon Street – 16 horas
Grátis ao ar livre
16h00 -  Bonerama - Brass / Rock / Funk
17h15 - Henry Butler feat. Vasti Jackson - Blues
18h30 – Playing for Change - World Music                          
20h00 – Dwayne Dopsie The Zydeco  Hellraisers - Zydeco
 *** Zulu Connection – intervenções entre as bandas

O Bourbon Street fica na Rua dos Chanés, 127, em Moema.
Telefone: (11) 5095.6100
A bilheteria abre nos seguintes horários: 2ª a 6ª feira, das 9h às 20h. Sábado, domingo e feriado das 14h às 20h.
Capacidade: 400 lugares
Censura: 18 anos - maior de 16 acompanhado de responsável
Formas de pagamento : cartões créditos todos e dinheiro
Estacionamento: R$ 17,00
Acesso deficientes

Atrações:


Bonerama – As brass bands foram um dos elementos formadores do jazz, no início do século XX e até hoje estão muito presentes na vida de New Orleans, seja desfilando no carnaval e em cortejos fúnebres ou tocando no French Quarter e nos vários festivais da cidade. Nos anos 70, o grupo Wild Magnolias inovou e atualizou o som dessas bandas, com uma levada mais funky. O Bonerama, formado em 1998, deu um passo adiante ao acrescentar o rock, mas com uma característica inusitada e particular: no lugar de trompetes e saxofones, a seção de metais é formada por três trombones. Guitarra, baixo e bateria completam a formação.
Longe de ser monótona e repetitiva, a overdose de sons graves induz o público à dança e gera uma vibração contagiante. O repertório, que inclui (ao lado de standards do jazz) clássicos do rock como “Helter skelter” (Beatles), “War pigs” (Black Sabbath”) e “Moby Dick” (Led Zeppelin).

Donald Harrison - Entre os músicos, esse filho de New Orleans goza de grande prestígio, que pode ser medido por três CDs gravados em trio com o maior baixista vivo do jazz, Ron Carter, e um dos melhores bateristas em atividade, Billy Cobham. A honra não é gratuita: ele é hoje também um dos maiores em seu principal instrumento, o sax alto (toca também o tenor e o soprano).
Donald Harrison faz um jazz sem fronteiras, que batizou de “noveau swing”, um jogo de palavras que, além de significar “novo suingue”, remete à herança francesa de sua cidade. Sem deixar de ser um jazz classudo e acústico, nesse “gumbo” musical entram soul, funk, hip hop, reggae e até MPB (ele gravou “Setembro”, de Ivan Lins e Gilson Peranzzetta, por exemplo).
Seu show terá participação especial do performer Shaka Zulu, outra atração do festival.

Dwayne Dopsie e Zydeco Hellraisers - Nascido na capital do zydeco, Lafayette (Lousiana), Dwayne iniciou-se na música tocando washboard (tábua de lavar), mas logo passou para o acordeon, principal instrumento do zydeco ao lado do frottoir ou rubboard (um avental de metal semelhante ao washboard). Aos 19 anos, já liderava seus Zydeco Hellraisers. Cresceu tanto que, ao 33 anos, excursiona pelo mundo todo, do Marrocos à Polônia, do Alaska ao Brasil.
Parente longínquo do forró, o zydeco surgiu na Louisiana nos anos 50, quando o rhythm & blues fundiu-se à música cajun (um tipo de country afrancesado). Altamente dançante e alegre, o ritmo contagia a todos. Um dos pioneiros do zydeco foi Rockin’ Dopsie, pai de Dwayne, que hoje, por sua vez, é um dos artistas mais carismáticos do gênero.

Henry Butler e Vasti Jackson - Representante do blues no festival, o cego Henry Butler é considerado por muitos o melhor pianista de New Orleans na atualidade. O mestre Dr. John, por exemplo, garante que ele toca como Art Tatum, o maior da história do jazz. Não por coincidência, Butler trabalhou com grandes nomes do jazz como Cannonball Adderley e George Duke. E talvez seja o único músico de blues a afirmar ter influência de Franz Schubert!
Mas as lições dos mestres do piano blues de New Orleans, Professor Longhair e James T. Booker, também foram absorvidas por ele. A música de Butler não é melancólica nem monocórdica, como muitos ainda rotulam o blues. Ele investe nos ritmos mais agitados e dançantes derivados do gênero: rhythm & blues, boogie woogie, soul e funk. “Let it roll”, “Basin Street Blues” e “Sittin’ on the dock of the bay” são alguns clássicos que ele interpreta de forma originalíssima, além de composições próprias.
Com ele vem um dos principais guitarristas de blues de New Orleans, Vasti Jackson, que participou de vários filmes, entre eles “Warming by the Devil’s Fire”, da aclamada série “The Blues”, coordenada por Martin Scorsese.

Mahogany Blue - A presença do duo vocal na comemoração de 10 anos do Bourbon Fest é praticamente obrigatória, pois Lanita Wise e Yadonna West já fizeram várias temporadas no Bourbon Street, sempre com grande sucesso. Influenciadas pela música gospel que cantavam na igreja,  e também por Aretha Franklin, The Supremes e Sister Sledge, elas interpretam sucessos da black music como “Proud Mary”, “Lady Marmalade”, “I will survive” e “Aint No Mountain High Enough”.

Playing For Changes Mais de 40 milhões de pessoas já viram um clipe do Youtube com artistas de rua de vários países tocando e cantando Stand by Me, clássico do soulman Ben E. King famoso também com John Lennon. O clipe fazia parte do CD/DVD “Playing for Change – Songs Around The World”, de 2009, com mais de cem artistas de 40 países. A historia já é bem conhecida: em 2004, um pequeno grupo liderado pelo produtor e engenheiro de som americano Mark Johnson viajou pelo mundo gravando um documentário para a televisão, no qual artistas de rua interpretavam clássicos da música com mensagens por um mundo melhor e mais fraterno. Canções como, One Love e War (Bob Marley), Biko (Peter Gabriel) e A Change is Gonna Come (Sam Cooke). Astros como Bono Vox e Manu Chao uniram-se ao projeto. Mas porque a Playing For Change Band no Bourbon Street Fest? Simples: o músico que se tornou um símbolo do grupo, o cantor e gaitista Grandpa Elliot, é de New Orleans. O carismático e simpático velhinho cego, que durante décadas tocou nas ruas da cidade por gorjetas, em 2011 chegou com seus novos amigos ao palco principal do maior festival de jazz do mundo – o de sua própria cidade, New Orleans!

Storyville Jazz Band – Banda formada especialmente para os 10 anos do Bourbon Street Fest em São Paulo. Reúne alguns dos melhores músicos do gênero em São Paulo para tocar o jazz como era em seus primórdios, no início do séc. XX. Storyville Jazz Band fará duas apresentações no festival e uma intervenção musical no evento de abertura Cine Mesa Jazz – Let’s Try New Orleans Flavors. O grupo reúne a talentosa cantora Bibba Chuqui, o baixista Rubinho (Elza Soares e Bocato), dois integrantes do Bourbon Street Jazz Quartet (o pianista Ary Holland e o baterista Sergio Della Monica) e três músicos da Orleans Street Jazz Band (o trompetista Washington Barros, o trombonista Eloy Porto Neto e o banjoísta e violonista Edu Marck).


Preservation Hall – Os 10 anos do Bourbon Street Fest trazem outra grande comemoração – os 50 anos da Preservation Hall Jazz Band, uma verdadeira instituição do jazz e de New Orleans. Todas as noites, há décadas, uma fila se forma na porta da Preservation Hall, no coração do French Quarter (o bairro boêmio da cidade), onde o grupo formado da casa se apresenta. A romaria faz parte do roteiro turístico de uma das cidades mais turísticas do mundo. A Preservation Hall Jazz Band é a mais antiga e renomada do mundo no estilo chamado de traditional jazz – o jazz original, como era tocado no começo do século XX por Buddy Bolden, Louis Armstrong e King Oliver. Seu repertório reúne standards imortais como “When the saints go marchin’ in“, “Tiger rag”, “St. Louis blues” e “St. James infirmary”. A Preservation Hall foi fundada em 1961 para resgatar o traditional jazz, que estava em baixa devido à evolução do jazz para outros estilos como o bebop e a hegemonia do rock nas paradas de sucesso.


Tony Hall – É considerado o mago do baixo elétrico em New Orleans e um dos grandes nomes do instrumento no mundo. Tremendamente requisitado para sessões de gravação, seu nome está nos créditos de discos de Bob Dylan, Stevie Wonder, Carlos Santana, Dave Matthews, Wynton Marsalis, Harry Connick Jr, George Clinton e muitos outros. Nos anos 80 ele integrou uma das mais conceituadas bandas do funk, The Meters, com a qual abriu shows dos Rolling Stones. Como artista solo, ele poderia usar o slogan “diversão garantida ou seu dinheiro de volta”. Seus shows são verdadeiras festas – é comum o público começar a dançar já na segunda música, e não parar mais. Clássicos da black music, interpretados com um groove irresistível, são a fórmula desse fenômeno.

Zulu Connection – Uma atração diferente é a Zulu Connection, liderada pelo “big chief“ (chefe índio) Shaka Zulu. O grupo representa de forma contemporânea uma das mais antigas tradições do Mardi Gras (o carnaval de New Orleans), os chefes índios. Ao mesmo tempo que resgata tradições afro-caribenhas através de dança, percussão, máscaras e figurinos coloridos, com uma performance original e surpreendente. Além de tocar e dançar, os artistas fazem acrobacias inacreditáveis sobre pernas de pau. O nome Shaka Zulu é uma homenagem a um dos maiores guerreiros africanos, que construiu um vasto império no século XIX.

Orleans Street Jazz Band – Uma das mais antigas tradições musicais de New Orleans é a das “street bands”, que tocam caminhando pelas ruas. A Orleans Street Jazz Band, de São Paulo, já é atração fixa nas últimas edições do Bourbon Street Fest, dando um clima especial ao evento. Ela sempre desce dos palcos para tocar no meio da platéia, contagiando a todos. A Orleans reproduz a sonoridade das street bands de New Orleans, mas com um toque próprio, mesclando jazz moderno (Camaleon, Blue Monk) e pop (I Can See Clearly Now) aos standards como St. Louis blues, C’est si Bon e All of me. Os músicos interagem com a platéia, fazendo brincadeiras e incentivando-a a dançar e se divertir.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Morre Celso Blues Boy. O número um do blues nacional

Foto: Cezar Fernandes (Búzios 2007)

O cantor Celso Blues Boy morreu na manhã desta segunda-feira (6) em Joinville, no Norte de Santa Catarina. Segundo a central funerária de Joinville, o músico faleceu às 8h50. O corpo já foi encaminhado para Blumenau para ser cremado. O músico tinha 56 anos e sofria câncer de garganta. Blues Boy era cantor, compositor e guitarrista.
Celso Ricardo Furtado de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em janeiro de 1956. Na década de 1970, com apenas 17 anos, começou a tocar profissionalmente com Raul Seixas, além de acompanhar Sá & Guarabira e Luiz Melodia. foi o Sá quem lhe deu o apelido de Celso Blues Boy, devido a sua loucura pelo B. B. King.
Estive com ele este ano, em junho, em Rio das Ostras. Suas duas apresentações foram das mais concorridas do festival. A primeira no palco principal, na Praia de Costazul, e a segunda foi na lagoa de Iriry. Ambas lotadas. Na ocasião realizei uma entrevista para o Mannish Blog, talvez a última concedida pelo artista: http://mannishblog.blogspot.com.br/2012/07/guitar-hero-brasileiro-lanca-por-um.html