Em menos de 20 dias o mundo da música perdeu três grandes guitarristas de blues: Walter “Wolfman” Washington, morto em 22 de dezembro de 2022, aos 79 anos; Steve James, 06 de janeiro de 2023, aos 73 anos e Jefff Beck, 10 de janeiro de 2023, aos 79 anos.
Tudo bem, podem dizer que estou forçando uma barra em colocar o Jeff Beck dentro da categoria “blues”, mas é que não consigo - e nem quero - dissocia-lo de sua origem e de seus primeiros álbuns, Truth (1968) e Beck-Ola (1969).
Discaços que reuniram jovens músicos da nova cena blues/rock do Reino Unido, o Jeff Beck Group. Em Truth, além de Beck na guitarra, o cantor de voz rouca, Rod Stewart; o baixista Ron Wood; o baterista Mick Waller; aproveitando que John Paul Jones estava no órgão Hammond, Beck assume o baixo em Ol’ Man River e Nick Hopkins no piano. Em Beck-Ola o time se repete com uma pequena diferença, Tony Newman assumiu a bateria no lugar de Waller.
Beck é considerado um dos guitarristas inovadores da década de 60 ao lado de Jimi Hendrix, Eric Clapton e Jimmy Page, sem nunca ter tido o sucesso comercial deles. Curiosamente, Beck, Page e Clapton fizeram parte de um dos grupos mais lendários do rock, os Yardbirds Beck sucedeu Clapton e precedeu Page.
Nos anos 60, após as fases Yardbirds e Jeff Beck Group, Beck abriu suas asas para voar alto no fusion com dois grandes trabalhos, Blow By Blow ((1975) e Wired (1976), o primeiro produzido por George Martin, o quinto Beatle.
Em ambos os trabalhos Jeff Beck assombrou o mundo dos guitarristas e amantes da música com sua técnica que consistia e usar e abusar do tremolo e do botão de volume da sua Stratocaster, revolucionando e imprimindo voz própria ao instrumento. A informação que consta na conta de Jeff Beck no Twitter é que ele morreu de meningite bacteriana, rodeado por sua família, em sua casa no Reino Unido.
Walter "Wolfman" Washington - Foto: Greg Miles
Walter “Wolfman” Washington era uma voz forte em New Orleans, literalmente. Guitarrista cheio de soul e cantor que aprendeu ofício no coro da igreja de sua mãe.
Logo se apaixonou pelo blues, que o levou aprender as lidas guitarristicas e que o levou a trabalhar na banda de Lee Dorsey e com Irma Thomas.
Nos anos 70 fundou a All Fools Band para tocar nas biroscas da velha big easy até sentir-se com musculatura para formar o Roundmasters, grupo que lhe traria a notoriedade como um dos baluartes musicais daquela cidade.
Seu primeiro álbum, Rainin’ in My Heart, foi lançado tardiamente em 1981 por um selo obscuro chamado Help Me!
Alguns anos depois gravou o que seria sua série de discos pelo selo, também independente, Rounder: Wolf Tracks (1986), Out of The Dark (1988) e o excelente Wolf At The Door (1991).
Após essa fase, Wolfman gravou pelo selo grande Pointblank, entrando para a história de New Orleans, onde reinou por seis décadas, entalhando seu nome no blues. Tristemente morreu de câncer na garganta aos 79 anos.
Steve James - Art and Grit
Nascido em New York em 1950, Steve James não tinha nada a ver com os blues que apresentaria mais tarde. Seu primeiro contato com a música de Leadbelly e Josh White foi por conta da coleção discos de 78 rotações da coleção de seu pai.
Apesar de ter aprendido sozinho os rudimentos da guitarra, foi quando mudou para o Tennessee e teve contato com os lendários Furry Lewis, Sam McGhee e Lum Guffin, além de aprender luthieria, foi que James subiu de nível, aprimorando a sua técnica de slide, composição, canto e presença de palco.
Mas foi em Austin, no Texas, após assinar com o selo local Antone’s, que sua carreira começou a ganhar corpo, lançando Two Tracks Mind (1994), American Primitive (1995) e a obra prima Art and Grit (1996).
E foi nessa época, na turnê do Art and Grit, que Steve James esteve no Brasil para uma série de shows, chegando até Santos, via Sesc, no projeto Sol Maior.
Desses três grandes nomes, foi o único que tive a oportunidade de ver e ouvir ao vivo. Em 1997 ainda não mantinha o Mannish Blog e nem sonhava com Mannish Boy Produções. Mas o blues já corria azul nas veias. Fosse hoje não me contentaria em pegar apenas o autógrafo. Chegaria no malandro e falaria: “Eae Steve, vamos fazer uma entrevista?”. Se visse que a proposta fosse bem recebida já mandaria: “Ahhh, vamos fazer logo outro show”. Pena que não rolou, James morreu de câncer no cérebro.