Quatro anos separam Great Guitars do grande álbum Blues Summit de BB King.
E por que estou citando o trabalho de BB pra falar desse de Joe Louis? Porque ambos partem da mesma premissa, reunir feras do blues num único volume em parcerias incendiárias.
E Great Guitars traz o que há de melhor da guitarra blues na época em que foi gravado: Bonnie Raitt, Litttle Charlie Baty, Clarence “Gatemouth” Brown, Steve Crooper, Buddy Guy, Robert Lockwood jr, Taj Mahal, Scooty Moore, Matt “Guitar” Murphy, Otis Rush e Ike Turner. Está bom pra você?
O prórpio Louis havia participado do disco de BB na faixa Everybody's Had The Blues.
Talvez daí veio a ideia de gravar esse grande álbum que traz Low Down Dirty Blues abrindo com um dueto com a sempre magnífica Bonnie Raitt cantando e solando. Trata-se de um balanço irresistível que muda de andamento dois pares de vezes, com um Hammond B3 goxxtoso e slide pra todos os lados.
A banda que acompanha Joe Louis nesse disco, The Bosstalkers, faz bonito com Mike Eppley (órgão, piano e voz de apoio), Tom Rose (guitarra e voz de apoio), Joe Thomas (baixo, guitarra e voz de apoio) e Curtis Nutall (bateria).
First Degree é de uma base nervosa que resgata Ike Turner que andava meio por baixo depois que sua ex, aquela “cantorazinha”, Anna Mae Bullock, denunciou o malandro por agressão e outros assédios. Vamos combinar Ike, você toca e canta pra caralho, mas foi muito cuzão por não respeitar sua parceira que acabou virando uma estrela com o próprio talento.
Todo o brilho dos The Johnny Nocturne Horns aparece em Mile-High Club e toda a elegância dos solos de Scooty Moore, Litttle Charlie Baty, Steve Crooper e Clarence “Gatemouth” Brown também. Solos e mais solos se apresentam. Mas, se liga, solos com notas soltas, elegantes, cheios de feeling, como só os coroas blueseiros sabem fazer.
Fix Our Love é um slow muito do dor de corno. Joe Louis pede pra mulher não ir embora. E que se ela fizer isso ele vai sofrer até morrer. E que se ela estiver insatisfeita, antes de ir embora, diz isso pra ele qua vai fazer de tudo pra consertar aquele amor. Perdeu mermão. Sem dor de amor não existe o blues. E de dor Otis Rush entende. Ele estiiiiiiiiiica as notas como ninguém. O Hammond também faz a sua parte nos colocando na posição de implorar por aquela mulher. O que sempre fazemos.
Every Girl I See é um tema que foi gravado por Buddy Guy algumas vezes. É um clássico do velho Buddy. Essa versão que começa com uma batida tribal e licks de guitarra, culminando com a voz de ambos cheias de expressão, dois timbres e estilos maravilhosos e distintos. Que versão foda. Buddy Guy, que colhia as glórias de Damn Right e Feels Like Rain, faz um daqueles solos cheios de notas que estava acostumado. O ponto alto do disco. Claro, na minha opinião de um mortal idiota.
O funkão Cold e Evil Night explode com os metais dos The Tower of Power Horns. Simplesmente... balançante. Blues com funk solado por Joe Louis usando um wah wah hipnótico e backings dos The Bosstalkers.
Hop on It é um shuffle, que ainda não havia apareceido em um disco de blues, o que mostra que blues não é só a velha batida de Chicago. Otis Grand e Joe Louis dominam esse tema instrumental cheios de slide e lap steel.
Nightime é um slow daqueles, com a aparição do velho Matt Guitar Murphy, mostrando como se joga as notas no ar para os nossos ouvidos pegar.
Sugar é um tema moderno misturando blues e funk cujo destaque vai para o baixo Joe Thomas, fazendo todas aquelas figuras com uma precisão impressionante. Como se fosse um relógio. Ou um motrônomo. Coisa linda de se ouvir.
Muitos blueseiros têm uma vida dupla, nas sextas e sábados nos botecos da vida e no domingo pagando a penitência na igreja. E Joe Louis correu um bom trecho fora do blues, investindo seu tempo e talento louvando Deus. Nesse Great Guitars ele convocaa a lenda Taj Mahal e sua National Steel para a pregação In God’s Hands. Um tema maravilhoso que nos eleva, mesmo sendo um adeu desgraçado como eu. Acredito na música.
Fechando essa viagem, Joe Louis chamou Robert Lockwood Jr, um dos pilares do blues, na época com 82 anos – ele morreu com 91 anos em 2006 – para apresentar o blues tradicional High Blood Pressure. Wallace Coleman aparece na gaita reforçando a base e em um solo matador.
Músicas:
1 - Everybody's Had The Blues
2 - First Degree
3 - Mile-High Club
4 - Fix Our Love
5 – Every Girl I See
6 – Cold Evil Night
7 – Hop On It
8 – Nightime
9 – Sugar
10 – In God’s Hands
11 – High Blood Pressure
Blues Summit – BB King - http://mannishblog.blogspot.com/2010/09/em-disco-de-1993-bb-king-promove.html
Entrevista Joe Louis Walker - https://mannishblog.blogspot.com/2017/09/o-blues-contemporaneo-de-joe-louis.html