terça-feira, 19 de março de 2019

Pela quinta vez o blues brasileiro invade Santos no mês de abril. A Mostra Blues 2019 chega com shows e oficinas

Produzida pela Mannish Boy Produções, Sesc e Prefeitura de Santos, a mostra com os melhores blueseiros do país. Também acontece em bares espalhados pela cidade

Jefferson Gonçalves 

Em 2019 serão 12 shows na Comedoria do Sesc Santos, na Concha Acústica e em bares espalhados pela cidade. Também haverá cinco oficinas no Sesc e no Centro Esportivo e Cultural da Vila Progresso. 
O objetivo dessas oficinas é despertar no jovem a vontade de tocar um instrumento e mostrar que é possível fazer música individualmente ou em dupla. E também apresentar a atividade da luthieria como uma fonte de renda possível.
Esse ano serão quatro shows no Sesc Santos, entre eles, Los Breacos (SP), Big Chico e Banda (SP), Duca Belintani e Banda (SP) e Jefferson Gonçalves e Banda (RJ). 
A Concha Acústica do Canal 3 recebe os santistas da Dog Joe e o convidado Muniz Crespo (guitarra) e os paulistanos Val Tomato (harmônica) e Lucas Wild (guitarra), Fábio Brum (guitarra) e Baby Labarba (harmônica) e Márcio Scialis (guitarra) e Little Will (harmônica). Nos bares a conta fecha com Ivan Márcio e Daniel Kaveira, Dog Joe Duo, Pedro Bara e Mauro Hector e Marcos Paulo.
O objetivo da Mostra Blues de Santos é trazer à cidade os melhores músicos de blues brasileiros e fomentar a cena local,  promovendo a integração entre artistas e público por meio de oficinas e conversas informais.
A mostra, que já promoveu shows e oficinas com Igor Prado Band, Big Chico Blues Band, Jefferson Gonçalves, Artur Meneses, Robson Fernandes, Caviars Blues Band, Big Joe Manfra, Big Gilson, Márcio Abdo, Giba Byblos, Ari Borger, além dos artistas locais Dog Joe, Muniz Crespo e Mauro Hector, chega a sua quinta edição como referência no país.
O mês de abril foi o escolhido em comemoração ao nascimento de Muddy Waters, artista revolucionário do Blues mundial e o nome que sintetizou o blues rural do Mississippi na música urbana de Chicago, influenciando milhares de músicos ao redor do mundo, inclusive no Brasil.

Los Breacos - Foi uma banda criada em 2012, em formato power trio, e que já alterou diversas vezes sua formação. A atual é uma verdadeira usina sonora com Baixo, bateria, guitarra, e uma forte seção de metais. Sua linguagem é voltada ao funk e soul music e suas principais influências são James Brown, Earth Wind & Fire, All Green, Michael Jackson, Fred Wesley, JB’z, Funkadelic, Ray Charles, Herbie Hancock , Wild Cherry, THE Meters, Prince, mas também Jorge Benjor e Tim Maia. Pura diversão. Los Breacos é Rafael Adolfo (guitarra e voz), Leonardo Santiago (trombone de vara e maestro), Lincoln Martins (trompete), Rodrigo Estevam (bateria) e Júlio Nascimento Fiel (contrabaixo).

Duca Belintani - Veterano e apaixonado pelo blues, Duca Belintani é um professor que e coloca dezenas de jovens guitarristas no mercado brasileiro da música todos os anos. A discografia de Belintani mostra que o paulistano fez fama tocando Blues/Rock, mas que também parece impossível ignorar os ritmos brasileiros. Seus discos, cheios de influências de samba, batidas nordestinas e fusion jazz, mostram a versatilidade de Belintani e que, mesmo casado com o blues, frerta toda hora com outros ritmos.

Big Chico e Banda - O cantor, gaitista e guitarrista Big Chico apresenta seu novo trabalho, uma grande homenagem a um dos músicos que pode ser considerado uma de suas maiores influências na harmônica, Ro d Piazza.
Nos Estados Unidos e no Brasil, Big Chico conviveu, tocou e arrancou vários elogios deste que pode ser considerado um ícone em seu instrumento: “ Chico has really got feeling and soul of the blues! His attack and tone are real! He’s kepping it alive.” Disse Rod Piazza após ouvir Chico tocar sua gaita.  Com o repertório que passa pelo blues tradicional de Chicago e o suingue, mais conhecido como Jump Blues – uma mistura de blues com elementos das big bands de jazz – Big Chico faz releituras de temas do grande Rod Piazza, conduzindo sua super banda aos instrumentais e clássicos do blues, levando o público ao delírio em um show extremamente dançante, cheio de energia e animação.

Big Chico

Jefferson Gonçalves e Banda - Show - Do Mississippi ao Cariri – a união de Sotaques, sons e ritmos fez com que Jefferson Gonçalves se tornasse uma das principais referências dentro do cenário da gaita no Brasil e no mundo. O Músico optou em fazer uma sonoridade própria, tecendo e misturando sons, desmontando e construindo ideias, fazendo misturas autênticas, onde estilos diferentes se unem para criar uma atmosfera tipicamente brasileira. Sua gaita faz um mix entre a música negra norte americana e o regionalismo dos ritmos nordestinos como o forró, o baião, o xaxado, o maracatu, entre outros. Acompanhado por Kleber Dias (guitarras), Fabio Mesquita (baixo), Marco BZ (bateria) e Marco Arruda (percussão).

Dog Joe - formada por Digo Maransadi, Eduardo Eloi e Sérgio Inácio (antigo baixista) e manteve por muito tempo o nome Delta Blues. Original do litoral paulista (Santos/Guarujá), entre 1993 até 2001 tocando em vários bares, casas de shows, encontros de motociclistas e festivais do gênero, sofrendo uma pausa por questões de mudança dos integrantes e outros trabalhos musicais individuais, voltando a ativa em 2012 com o novo baixista, Rogério Duarte. 
Já como Dog Joe, acompanhou grandes nomes do blues mundial, como os norte-americanos Lurrie Bell no Bourbon Street Music Club, em São Paulo e Lazy Lester, no Ipiabas Jazz e Blues Festival, em Barra do Piaraí (ambos em 2014) e abriu shows para Kenny Brown e John McDonald. Em 2017 lançou o EP Blues Rock Hotel.

Val Tomato e Lucas Wild – A parceria, que ultrapassa uma década, nasceu de um projeto gráfico para o primeiro álbum ao vivo de Val Tomato, criado pelo então estudante de design Lucas Wild. 
Como cantor, compositor e gaitista, Val Tomato é considerado um mestre do Blues no Brasil, traz na bagagem mais de 20 anos de carreira musical, participações em grandes festivais pelo país. Tem quatro CDs lançados, um DVD, uma vídeo aula e um método para gaitistas iniciantes. Coleciona trabalhos ao lado de grandes nomes nacionais e internacionais. Guitarrista e violonista desde os 13 anos de idade, Lucas Wild iniciou sua participação na cena musical paulistana em 2003. Desde 2015 atua na cena blues paulistana prestando homenagem às origens do gênero.

Fábio Brum - Guitarrista há três décadas, sempre gostou da boemia e tocar em bares desde 1989. Aficionado por blues e todas suas variações, acha que nada era mais blues que literatura beatnik e Bukowski. Foi fundador da Blues Band em 1990, em Campo Grande-MS, depois de enfiar na cabeça todos os licks de Freddie King e, lá, tocou com dois compositores que admira, Geraldo Espíndola e Jerry Espíndola. Foi da primeira formação do Bando do Velho Jack e guitarrista e parceiro de copo do saudoso Renato Fernandes e seus Bêbados Habilidosos. Radicado em São Paulo há 10 anos fez de tudo um pouco e até tocou guitarra com Robson Fernandes, Alex Valenzi, Made in Brazil e tem seus trabalhos mais pessoais registrados na sua Saco de Ratos e Los Breacos. Um dia vai embora, mas vai assobiando e tocando guitarra em cima de um skate.

Ivan Márcio e Daniel Kaverna – Aos 13 anos, Ivan Marcio iniciou sua carreira tocando em pequenos Bares do ABC de São Paulo, e aos 18 anos teve uma curta passagem pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul onde estudou harmonia e teoria, inserindo os conhecimentos à gaita. É formado em Pedagogia e trabalhou como professor de música pela Prefeitura de São Bernardo do Campo em um projeto social formando mais de 300 jovens em 5 anos. Durante 20 anos de carreira tocou em diversos festivais pelo Brasil e Exterior, além de possuir mais de 10 discos gravados no gênero destacando-se os álbuns gravados nos EUA: Chicago Blues Sessions Volume 1 e 2, Brazilian Blues Bash e Goin’ To Delta nos quais assina também a produção.

Fábio Brum

Pedro Bara - guitarrista nascido na cidade de São Paulo começou a tocar guitarra sozinho aos nove anos e aos 12 começou a ouvir blues/rock, Eric Clapton, Jimi Hendrix, Fleetwood Mac, Rolling Stones, entre outros. Aos 14 anos começou a estudar guitarra com Marcos Ottaviano e definiu seu estilo no R&B, Blues Britânico e Blues de Chicago. Seu primeiro álbum, Heading To The Moon, foi gravado entre 2017 e 2018 no estúdio Space Blues em São Paulo, pelo produtor musical Alexandre Fontanetti, ganhador do Grammy Latino 2017. O álbum traz 11 canções autorais compostas em parceria com o novaiorquino Carlos Sander e o produtor Alexandre Fontanetti.

Mauro Hector - Como professor, coloca no mercado uma legião de guitarristas de blues, rock e jazz. Traçando sua trajetória da forma mais independente possível, segue, desde 1985, o guitarrista canhoto, discípulo de Jimi Hendrix e morador de Santos. Ao longo dos anos vem consolidando seu nome na cena blueseira e jazzística a custa de muito trabalho, seja tocando, gravando ou dando aulas diariamente em seu estúdio, em um apartamento na orla da praia. Um grande marco da sua carreira foi a gravação do CD Sonoridades (2002) que deu início à sua carreira solo voltada para o blues, jazz e rock, assinalando sua identidade na composição. E que mais tarde se solidificou com a gravação de seu segundo CD Atitude Blues (2007) e seu mais recente trabalho Live in Santos (2015), cujos shows foram produzidos pela Mannish Boy Produções, no Teatro do Sesc e no Teatro Guarany, ambos em Santos, respectivamente.

Programação  da Mostra Blues 2019:

Quinta, 04 de abril às 15h – oficina Sesc Santos com Faísca
Quinta, 04 de abril, às 21h – Sesc Santos – Los Breacos
Sexta, 05 de abril, às 19h30 – Breja’s Store – Eugênio 
Sábado, 06 de abril, às 19h – Concha Acústica – Dog Joe e Muniz
Quinta, 11 de abril, às 21h – Sesc Santos – Big Chico e Banda
Sexta, 12 de abril, às 20h – Quintal da Véia – Mauro Hector e Marcos Paulo
Sábado, 13 de abril, às 19h – Concha Acústica – Val Tomato e Lucas Wild
Sábado, 13 de abril, às 21h – Pedro Bara - Monkeys

Quinta, 18 de abril, às 15h – oficina Sesc com Duca Belintani
Quinta, 18 de abril, às 21h – Show Duca Belintani e Banda 
Sexta, 19 de abril, às 16h – Oficina no Morro com Ivan Márcio e Daniel Kaverna
Sexta, 19 de abril, às 20h - Tekoá – Ivan Márcio e Daniel Kaverna
Sábado, 20 de abril, às 19h – Concha Acústica – Márcio Scialis e Little Will 

Quinta, 25 de abril, às 15h – oficina Sesc – Jefferson Gonçalves
Quinta, 25 de abril, às 21h – Sesc Santos – Jefferson Gonçalves
Sexta, 26 de abril, às 10h – Oficina no morro com Kleber Dias
Sábado, 27 de abril, às 19h – Concha Acústica – Fábio Brum e Baby
Sábado, 27 de abril, às 20h30 – Mucha Breja – Dog Joe Duo

Endereços:
Sesc Santos - Rua Conselheiro Ribas, 136 - Aparecida
Concha Acústica - Av. Vicente de Carvalho, s/n (ao lado do Canal 3)

Breja's Store - Av. Senador Feijó, 686 - Encruzilhada
Quintal da Véia - Rua Júlio Conceição, 263 - Vila Mathias
Monkeys Beer Pub - Rua Guanabara, 298 - Boqueirão - Praia Grande
Tekoá Cervejaria - Av. Almirante Cochrane, 88 - Aparecida
Mucha Breja - Rua Rei Alberto I, 161 - Ponta da Praia

Ingressos:
Sesc Santos - R$ 5,00, R$ 8,50 e R$ 17,00
Concha Acústica - Grátis 
Bares - Sujeito a política da casa

Dog Joe

Los Breacos

Pedro Bara

Muniz Crespo

Mauro Hector

Duca Belintani

Ivan Márcio

Val Tomato

Baby Labarba

domingo, 17 de março de 2019

Orquestra Jovem Tom Jobim estreia em março temporada 2019


Sob a batuta do maestro Tiago Costa, a Orquestra Jovem Tom Jobim, grupo ligado à Emesp Tom Jobim, abre em 22 e 24 de março a temporada 2019 com concertos no Theatro São Pedro, Em São Paulo.
Na estreia, o grupo divide o palco com o premiado pianista Amilton Godoy -  um dos responsáveis por trazer a linguagem jazzística ao samba na década de 1960 com a música instrumental do Zimbo Trio - e a flautista Léa Freire.  
O programa será inteiramente dedicado a álbuns, compositores e estilos que marcaram sua época na música brasileira, mas com arranjos elaborados especialmente para a orquestra. 
As composições de Amilton, escritas originalmente para trio com piano, contrabaixo e bateria, ganharam para estes concertos arranjos cuidadosamente adaptados por Tiago Costa, Nelson Ayres, Rodrigo Morte e Fernando Correa para formação de orquestra. 

Programa: 
Amilton Godoy: 
Tudo Bem - (arr. Tiago Costa) 
Teus Olhos (arr. Rodrigo Morte) 
Choro (arr. Fernando Correa) 

Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Morais
Jobim Lado B
O boto  
Pato preto  
Quebra pedra (arr. Tiago Costa) 
Suíte Canção do Amor Demais 
Chega de saudade  
Serenata do adeus  
As praias desertas  
Caminho de pedra  
Luciana  
Janelas abertas  
Eu não existo sem você  
Outra vez  
Medo de amar  
Estrada branca  
Vida bela Modinha  
Canção do amor demais - (arr. Rodrigo Morte) [18m] 

Milton Nascimento 
Suíte Milton 
Travessia 
Ponta de areia 
Teia de areia  
Fé cega faca amolada  
Nada será como antes  
O que foi feiro de vera  
Certas canções  
Maria maria (arr. Nelson Ayres)

Léa Freire
Risco (arr. Nelson Ayres)
Vento em Madeira (arr. Léa Freire e Felipe Senna) 

Serviço: 
Datas: 22 e 24 de março 
Horários: sexta, às 20h e domingo, às 11h 
Local: Theatro São Pedro 
Endereço: Rua Barra Funda, 161 – Barra Funda, São Paulo/SP 
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) para todos os setores (Plateia Central, 1º e 2º Balcão)  
Classificação indicativa: Livre 
Duração: 80 minutos sem intervalo (aproximadamente) 
Mais informações: (11) 3661-6600 
Capacidade: 636 lugares 
Acessibilidade: Sim

sexta-feira, 1 de março de 2019

Wee Willie Walker, a alma de Memphis


Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto Willie: Doug Knutson
Fotos Memphis: Sérgio Poroger - Extraídas de seu livro Cold Hot

Assim como Chicago é relacionada ao blues elétrico e New Orleans ao jazz, é impossível falar em Memphis e não lembrar dos seus muitos estilos musicais e seus artistas. 
Já mencionando W.C. Handy, a quem é creditado Memphis Blues, uma das primeiras gravações, publicada em 1912, a cidade foi prolífica em lançar nomes fortes no começo do século passado, entre eles, Memphis Minnie, Furry Lewis, Frank Stokes, Joe McCoy, Gus Cannon. 
Mas foi após a Segunda Guerra Mundial que Memphis explodiu musicalmente dando ao mundo BB King, Rufus Thomas, Big Walter Horton, Howlin’ Wolf, Bobby “Blue” Bland, Junior Parker, Johnny Ace, Little Milton, Roscoe Gordon, Ike Turner e muitos outros.
Nos 50, o som de Memphis mudou para sempre a música pop, de lá saiu Elvis Presley, Johnny Cash, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e o o mais importante de todos, Chuck Berry. Todos gravados pela Sun Records. A gravadora Stax de Don Covay, Wilson Picket, Bar-Keys, Otis Reding, Booker T. & the MG’s e Albert King também é de lá. O Memphis Sound fez fama e é reconhecido no mundo inteiro. 
Nesse ambiente cresceu Willie Walker. Além da diversidade musical, Memphis também era um grande centro urbano no sul do país que atraiu brancos e negros em busca de oportunidades, para onde seus pais migraram.
Lá o jovem Willie teve contato com o ambiente musical das ruas, onde os conjuntos vocais de doo wop cantavam nas esquinas e a Beale Street era o eldorado dos artistas.
Os anos passaram e Walker atingiu um certo reconhecimento, mas nada comparável aos artistas já citados. 
Porém, após alguns anos afastado, percebeu que seu nome ainda ecoava na memória musical das pessoas e “relançou-se”, agora sim, com êxito. 
Tem gravado regularmente discos muito bons, viajado pelo mundo e sendo indicado aqui e ali para prêmios nos circuitos blueseiros. After a While, álbum gravado em 2017 com a banda do guitarrista Anthony Paule, recebeu cinco indicações ao Blues Music Award, incluindo vocalista do ano e artista do ano de soul e blues.
Aqui no Brasil, acampou na Chico Blues Records e a parceria com Igor Prado já rendeu participação em Soul Connection e diversos shows pelo Brasilzão. 
A entrevista foi realizada em 21 de fevereiro de 2019, di do show Willie com a Just Groove na Café Society, casa de shows paulistana que vem abrindo espaço para o blues e soul music. O Just Groove é Igor Prado e Jesiel Oliveira (guitarra), Rael Lúcio (baixo) e André Azevedo (bateria).


Eugênio Martins Júnior - Quando encontro um artista com sua experiência de vida, sempre pergunto como foi sua infância e adolescência. E como foi seu contato com o blues?
Willie Walker – Minha infância foi dura. Lutando todos os dias. Meu primeiro contato com o blues foi pelo rádio. Amava aquilo que ouvia e cantava junto. Com o tempo acabei trabalhando com alguns músicos que me mostraram a verdadeira luz, porque aprendia muito mais do que cantar. Eram músicos muito qualificados. Nasci no Mississippi, mas cresci em Memphis, no Tennessee.  

EM – Muitos jovens cantavam nas igrejas aos domingos, mas havia o blues que também disputava a atenção deles. Isso aconteceu com você?
WW – O blues veio da igreja. É basicamente a mesma coisa, as mesmas mudanças, mesma melodia e forma artística. 

EM – Mas a mensagem não é a mesma.
WW – Sim, a mensagem não é a mesma. Você só muda de Jesus para baby. (risos)

National Civil Rights Museum

EM - Você começou a viajar cedo com uma banda, aos 15 anos? A estrada pode ser dura para um garoto dessa idade. Poderia falar sobre isso? 
WW – Todos os verões viajava com um grupo gospel. Eram viagens duras. Cinco ou seis pessoas dentro de um carro. Mas quando se é jovem você não se importa. Aí vai ficando mais velho e não quer mais viajar com tantos homens em volta. (risos)  

EM - Fale um pouco sobre Memphis nos anos 60, você gravou seu compacto em 1965, como era a cena blues com todos aqueles grandes nomes.
WW – A cena blues era importante, mas a soul music era mais popular entre os jovens. Preferíamos o doo wop. Eram quatro ou cinco rapazes cantando juntos à capela nas esquinas, nos parques, em qualquer lugar. Por isso muitos de nós desenvolvemos a habilidade de cantar. Formávamos os grupos de doo wop e imitávamos os grupos consagrados. 

Sun Studio

EM - No compacto 329 da Goldwax você gravou de um lado com There Goes My Used To Be e do outro Ticket to Ride. Gostaria que falasse como essa gravação foi recebida na época.
WW – É interessante. Havia um produtor de New York que queria que eu gravasse Ticket To Ride, mas essa não era a minha favorita. There Goes My Used To Be era minha favorita e que acabou se tornando a preferida da audiência também. E eu nunca tive a chance de me certificar disso naquela época, só quando fiquei mais velho. Nunca tive a pretensão de ter uma carreira. Simplesmente aproveitei a oportunidade de gravar. Morava em Minessotta nessa época, onde fiz algumas apresentações.  

EM – Li em sua biografia que a Goldwax sonegava os créditos das canções. As coisas não eram fáceis para os músicos naquela época. Elas mudaram  ao longo de todos esses anos?
WW – Não escrevia canções naquela época. Nem estava interessado. Cantava a música dos outros. Os direitos autorais nunca significaram muito pra mim. Mas muitos outros compositores que conheci tiveram esse problema. Outras pessoas lhes davam alguns dólares e eles aceitavam porque estavam com fome e aquelas pessoas ficavam com a autoria das músicas. Quem produzia os discos era quem levava os créditos. Não conheci nenhum que era compositor. Os compositores daquela época eram negros e pobres, apenas lutando para sobreviver. Eles vendiam suas canções por vinte e cinco dólares porque tinham família para alimentar. Escolheram esse caminho. Conheci compositores que cometeram suicídio depois de perceberem quanto dinheiro sua música havia gerado e ele próprio não ter recebido nenhum crédito ou dinheiro. Muitos se sentiram inúteis. 

EM – Por um lado eles te davam uma oportunidade, por outro eles te roubavam.
WW – Exatamente. No meu caso, eu não perseguia a música. Mas uma oportunidade apareceu depois que me aposentei. Daí pude sentir o quanto as pessoas lembravam de mim e da música que fiz nos anos 60. Foi uma coisa muito boa. Estou melhor agora do que muitos dos meus amigos que estavam no topo, na época que o circuito era forte. E infelizmente muitos estão mortos.


EM - Você tem uma parceria com o Igor Prado que já rendeu uma gravação e várias turnês. Após todos esses anos de estrada, o que achou de encontrar em um outro país uma comunidade de jovens que levam a sério o blues e a soul music?
WW – É revigorante. É outro mundo. Encontrá-los aqui foi impressionante. Estou apaixonado por esses jovens e temos muito o que fazer juntos.  

EM - Gostaria que falasse sobre seu mais recente álbum com a Anthony Paule Orchestra. After a While é um grande álbum com 13 faixas. 
WW – Foi uma satisfação e uma grande experiência. Assim como o que fiz com o Igor. Entregamos ao público o melhor produto que pudemos fazer. 

Stax Records

EM – E por causa desse álbum você foi indicado como Melhor Cantor de Blues Masculino, 2018 pela revista Living Blues.
WW – Foi uma grande honra. Mesmo que você não ganhe, a indicação lança muitas luzes sobre o seu trabalho.

EM - Houve uma época em que a soul music era música de protesto. Lá estavam Curtis Mayfield, Gil Scott Heron e o grande cantor e compositor Marvin Gaye. Parece que atualmente essa função tem sido com rap e isso também já está mudando. Não há mais música de protesto nos Estados Unidos com todos esses problemas raciais acontecendo?
WW – Veja bem. Não eram canções de protesto, mas sobre a verdade. De como as coisas realmente são, mostrando com elas são estranhas. A coisa mais perto disso que temos hoje é o rap. E costumam ser músicas muito raivosas e eles despertam somente isso. Eu não gosto. Não é o meu jeito. Mas há alguns rappers que são grandes vocalistas. Pra mim é competição e eu não gosto. Não tocam as minhas músicas no rádio. (risos)
Sun Studio