sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Os sabores de New Orleans na música de Leroy Jones


Texto: Eugênio Martins Jr
Foto: Site da Western Illinois University

Por séculos New Orleans foi a porta de entrada nos Estados Unidos, de piratas, aventureiros, jogadores, exilados, criminosos, escravos, europeus, africanos e caribenhos. 
Cosmopolita e pernciosa ao mesmo tempo, a cidade forneceu o principal elemento para a criação do jazz, sua mistura.
Desse gumbo de pessoas, música europeia, africana e, sobretudo, a pouco lembrada música caribenha, nasceu a maior forma de arte norte americana. 
Louis Armstrong, Jelly Roll Morton, Buddy Bolden, são frutos desse melting pot. Mas, se em sua época foram considerados inovadores, hoje representam a tradição e a sombra desses gênios cobre de influências os músicos locais. 
É interessante e instigante pensar que hoje New Orleans vive essa situação: carrega o peso de ser o berço do jazz e ao mesmo tempo despeja no mundo musical centenas de jovens músicos ávidos pelo novo, que misturam ao som de Louis Armstrong, o funk de James Brown, guitarras e o som eletrônico. 
Leroy Jones é um desses músicos. Carrega o peso da história, mas também a vontade e capacidade de inovar. 
Ele me contou que começou a tocar um instrumento aos dez anos e aos 12 passou a liderar a Fairview Baptist Church Marching Band. Coisa rara nos anos 70, uma brass band liderada e tocada por jovens músicos.
Longe de ser considerado um novato, Jones não perde a luz do farol dos novos tempos. Em 1996 gravou o excelente Props For Pops, uma homenagem a Louis Armstrong com novos arranjos e novas abordagens com a participação do pianista Harry Connick Jr. 
Vinte anos depois I’m Talkn’ Bout New Orleans ainda mostra a disposição pela busca por inovações. Seu mais recente trabalho é composto por 10 temas e um bônus que, como ele mesmo gosta de dizer, é música de altísssimo nível repleta dos famosos New Orleans flavors.    
Jones adora contar as histórias da sua mítica cidade natal. Da meia hora de troca de ideias entre nós extrai as informações abaixo. Em uma verdadeira noite de música, conversa e birita. O palco, o Boubon Street Music Club, a casa que ainda preserva a boa música e o bom convívio. 

Quem quiser curtir os New Orleans Flavors terá uma boa oportunidade em breve. O 14º Bourbon Street Jazz Festival trás esse ano o baixista Tony Hall & The Heroes e Mahogany Blue. Veja matéria específica em breve aqui no Mannish Blog.


Eugênio Martins Júnior – Você começou tocar aos 10 anos e aos 12 já liderava a banda da igreja?
Leroy Jones – Realmente, comecei a tocar aos 10 anos na banda da escola, onde comecei a ter aulas de música. Dois anos depois comecei a tocar corneta, antes do trompete que foi só depois de um ano. Tornei-me líder da banda fundada por Danny Barker e pelo reverendo Andrew Darby, pastor de uma igreja batista nos anos 70.  

EM – Muitos músicos começam a tocar na igreja, mas no fim das contas os clubes noturnos sempre levam sua alma, não é verdade?
LJ – Acho que isso cria cantores cheio de alma, você sabe, Aretha Franklin, Anita Baker e Ella Fitzgerald. Acho que essas mulheres representam bem isso. Em New Orleans temos Mahalia Jackson que nunca se distanciou da igreja e que permaneceu cantando canções seculares como uma verdadeira cantora gospel. Tanto nos músicos quanto nos cantores, a tradição afro-americana vêm das work songs, blues, spirituals. Todas essas coisas ajudaram a criar a música que ouvimos hoje. Todas elas nasceram no sul profundo, onde fica New Orleans. A música tinha o propósito de ajudar os escravos que passavam o dia inteiro colhendo algodão nos campos. As field songs e work songs os ajudavam a passar o dia de um trabalho duro pelo qual eles não eram pagos para fazer. 

EM – Houve uma época em que os cantos no trabalho e nas igrejas formavam uma grande corrente de cantores.
LJ – Definitivamente há uma relação entre ambos. E foi isso que ajudou Ray Charles a criar suas linhas rítmicas e harmônicas, apenas mudando as letras, fazendo com elas fossem mais sensuais em vez de espirituais. 

EM – Gostaria que falasse sobre a influência dos furacões na vida e na música dos residentes de New Orleans. Troy Andrews tem uma música chamada Hurricane Seasons.
LJ – Gravei um CD em 2009, quatro anos após o Katrina, chamado Sweeter Than a Summer Breeze. Compus essa canção quando minha esposa e eu fomos evacuados de New Orleans e só pudemos voltar à minha casa após seis semanas. Durante o tempo em que ficamos na casa de amigos em Dallas, no Texas, escrevi uma peça instrumental chamada Katrina. É uma música bem calma, quase um lamento, expressando a minha disposição com aquela situação triste e insegura com relação ao meu retorno. Não sabia o que poderíamos salvar devido o nível em que chegou a inundação após o rompimento dos diques. E no final, quase tudo o que possuíamos foi perdido. Mas por outro lado ficamos felizes e agradecidos por estarmos vivos, considerando o fato que muitas pessoas se afogaram por não conseguirem fugir a tempo. Acho que músicos como Troy Andrews e outros acharam um jeito de expressar todos esses sentimentos e a experiência pela qual passaram.


EM – Você conseguiu salvar os seus instrumentos?
LJ – Peguei meu instrumento principal. Perdi alguns trompetes e um flugelhorn. Ainda o tenho, mas não uso para tocar, virou decoração.       

EM - New Orleans é o berço do jazz, mas também é uma cidade aberta às inovações musicais. Bons exemplos disso são a banda de Trombone Shorty e o Bonerama. Gostaria que falasse sobre isso. 
LJ – Não só eles, também me incluo nisso. Minha música é composta por canções que não necessariamente podem ser chamadas de tradicional. Claro que tenho muitas coisas que podem ser chamadas de tradicional, mas gosto de dizer que toco música tradicional com os sabores do século 21. Tem um apelo para as audiências atuais e para as audiências que ouvem a música do passado. Espero sempre que a minha música possa amealhar novos ouvintes. O que é diferente de querer fazer com que os adolescentes ouçam Louis Armstrong e os Hot Five, que foi onde a música começou. Sua fundação. Como músico, é claro que ainda ouço, mas não acredito que os jovens músicos busquem essa fonte. Mas se você considerar o fato que New Orleans e sua música vem tendo influência em diferentes culturas, podemos considerar que isso é uma espécie de DNA, um tipo sanguíneo que pode ser reconhecido. E isso é importante. Não interessa se você toca o som tradicional ou de forma exótica,  funk ou fusion, você sempre carrega o som de New Orleans. Seja os Meters, Neville Brothers, Young Tuxedo Brass Band, Eureka Brass Band, Baptist Church Brass Band, Dirty Dozen Brass Band, Rebirth Brass Band ou Leroy Jones Hurricane Brass Band. E ainda temos os grupos dos índios negros (black indians) que têm toda uma cultura, mas usam os mesmos ritmos. Tudo isso é New Orleans. Está tudo conectado. São reconhecíveis. Você citou Trombone Shorty, ele é muito influenciado pelas brass bands e jazz tradicional, mas ele também têm influências do guitarrista Lenny Kravitz. Você sabe, a música de Henrty Butler sofre influência de Professor Longhair, James Booker. Isso é New Orleans.

EM – Talvez por que haja um delay de cem anos entre os primeiros nomes do jazz de New Orleans e as novas gerações?
LJ – Bem, não sei. Quando a Fairview Band foi montada a idade de todos era abaixo dos 18 e não havia outra banda igual aquela. Agora é diferente, há muitas brass bands em New Orleans do que já houve na história. Antes de nós as brass bands eram compostas por músicos mais velhos. Então, pode ser, as brass bands datam do final do século 19 e sempre estiveram presentes e nós começamos nos anos 70. Hoje podemos dizer que há uma renascença na cidade de New Orleans.


EM - Ainda há o Peservation Hall. Qual é a importância dele hoje?
LJ – Toquei no Preservation Hall em 1994. A maioria das pessoas acham que a banda é composta pelos velhos músicos negros. Mas o Preservation existe desde 1961 e começou mesmo desse jeito, quando comecei a tocar lá a experiência de alguns músicos eram maior do que a idade dos meus pais. Depois passou receber mulheres como Janet Kimble (piano), Blanche Thomas (cantora), Sadie Goodson (piano). Naquela época poucas mulheres tocavam jazz, atualmente há mais mulheres tocando em New Orleans, a minha mulher, Katja Toivola (trombonista) tocou no Preservation e as jovens Meghan Swartz (pianista) e Amy Shaw (violinista) também. 
A coisa tornou-se mais integrada em New Orleans, não só os músicos negros, mas os brancos da cidade, europeus, da Inglaterra, Suécia, que vieram a cidade interessados em jazz. E o Preservation Hall estabeleceu-se como o lugar de guardar a tradição, mas também está aberto aos jovens músicos.       

EM – Você se considera um guardião dessa tradição?
LJ – Não me considero guardião de coisa alguma. Sou feliz com o que faço, que é tentar tocar alguma música que as pessoas gostam de escutar. Tento tocar a música em alto nível para os fãs de música. Quando as pessoas vêm para me ouvir sabem que vão ouvir alguma coisa realmente boa. E que vão ouvir alguma coisa de New Orleans. Sou um músico de New Orleans, tenho minha influência do bebop, mas tudo na música é relativo. Gosto de tocar música que as pessoas se sintam bem espiritualmente. A música tem poderes terapeúticos. Deixa você jovem.  

EM – Sempre escolho um disco para o artista comentar, de acordo com meu gosto, é claro. No seu caso, gostaria que contasse a história do magnífico Props For Pops.
LJ – Também gosto muito desse álbum. Foi o segundo que gravei pelo selo da Columbia, o primeiro foi Mo Cream From the Crop, é um tributo a Louis Armstrong que tem vários músicos convidados. Entre eles, Harry Connick Jr, que não podia usar o nome porque estava sob contrato de uma gravadora. Foi creditado como Richard Rhypps, mas é ele quem toca piano em Props For Pops e em Ain’t Misbehavin’, além das maravilhosas orquestrações que fez para What a Wonderful World e When It’s Sleepy Time Down South. Também usei músicos diferentes como Kerry Lewis e Reginald Veal que tocou com o Wynton Marsalis Septet, no baixo. Shannon Powell e Gerald French na bateria. E os caras da minha banda, o trombonista Craig Klein, o baterista Glenn Patscha, e o multi-instrumentista Thaddeus Richard. Esse é um grande álbum, mas para mim a abordagem que tenho com a música vem melhorando em cada álbum desde Props From Pops.


EM – Certo. É por isso que o seu mais recente álbum, I'm Talkin 'About New Orleans, é uma mistura de ritmos? 
LJ – Sim, com exceção de Two Five One, uma parceria com o cantor e compositor Paul Sanchez e é um álbum com composições originais com um pouco de tudo que formou a minha personalidade musical. Em New Orleans nós escutamos de tudo. 

EM – New Orleans é quase uma cidade do Caribe.
LJ – Sim, new Orleans é considerada a cidade mais ao norte do Caribe. Cresci ouvindo Bob Marley, Skatalites, funk, jazz fusion. Então esse album tem um pouco de mardi gras, calypso, suingue, ritmos importantes, que me fizeram ser o que sou hoje.

EM – Você tocou com Eddie Vinson e Della Reese. Gostaria que falasse sobre essas experiências.
LJ – Voltando aos meus vinte anos, nos anos 80, inauguraram o Inter Continental Hotel na avenida St Charles e que foi alugado para uma feira, ou exposição e eu tinha um quarteto que se tornou a banda residente. Então Della Reese foi uma das convidadas do meu quarteto por algumas noites e nunca vou esquecer do pianista que a acompanhava. Um ano depois estava no Canadá, em Vancouver, tocando com músicos locais muito bons e conheci Eddie “Cleanhead” Vinson. Ele ainda tocava um bom sax alto, mas estava cantando mais, fazendo hits do blues e jazz standards. Como um jovem de 20 anos foi experiência única. 




segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Fred Sun Walk & Dog Brothers - Everything Around - 2009


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos - Fred Sun Walk (guitarra e voz), Alexandre Rodarte (baixo), Leonardo Rodarte (bateria) e Thiago Monteiro (teclado). 

Músicas e letras - Fred Sun Walk
Gravação e mixagem -  Thiago Monteiro no Keeton - Ribeirão Preto
Masterizacão - Ricardo Garcia no Magic Master - Rio de Janeiro
Produção - Fred Sun Walk e Thiago Monteiro
Projeto gráfico e ilustrações - Vinícius Costa
Foto contra capa - Gláucia J. Rodarte
Foto encarte - Marcelo Cseh

Músicas
1 - She Doesn't know
2 - Better This Way
3 - All Love in My Heart
4 - Many Love Songs
5 - You Broke My Heart, My Love
6 - I Need To See That Woman
7 - Living Something New
8 - Everything Around
9 - It's All Right
10 - The Fighter
11 - What More Could I Have Done  

domingo, 12 de novembro de 2017

Ribeirão Preto dá cerveja boa e Sun Walk and the Dog Brothers


Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Divulgação

A birita está para o blues assim como um bom power trio e, assim como as boas cervejas artesanais que vem lá do interior do estado de São Paulo, da cidade de Ribeirão Preto, vem uma das bandas mais legais do Brasil, a Fred Sun Walk and the Dog Brothers, com Fred (guitarra), Alexandre (baixo) e Leonardo (bateria). Um trio da pesada.  
Devemos lembrar também do lendário Festival de Blues de Ribeirão Preto, de 1989, que foi um divisor de águas na história do gênero no país. Buddy Guy, Albert Collins, Magic Slim, John Primer, Etta James, Andrè Christovam e Blues Etílicos deixaram uma semente na cidade que germinou. 
Eu estava lá, mas não conheci Fred Sunwalk. Conheci-o em 2006, quando produzi em Santos um show com Eric Gales, guitarrista de Memphis cultuado como um dos grandes representantes do blues contemporâneo e que, pela milésima vez, foi comparado a Jimi Hendrix.  
Bobeiras a parte, foi um showzaço de Gales, com Fred (guitarra), Ugo Perrota (baixo) e Alexandre Papel (bateria). A abertura foi do santista Mauro Hector, guitarrista, também canhoto.
Desde então, acompanho a carreira dessa banda de nome estranho, o Sunwalk proveniente de um sonho de Fred e os Dog Brothers por causa da paixão dos irmãos pelos perros da família. 
O primeiro CD dos caras que poderiam ter sido cervejeiros em Ribeirão já mostra o fanatismo pela música do Mississippi,  Blues Everyday (1999) diz logo ao que veio: baixar o braço sem muitas sutilezas. Outra característica é a vocação para o funk que lembra muito as peripécias de Albert Collins. E isso é demais. Poucas bandas de blues no Brasil tem essa pegada barulhenta e suingada. Ouçam To Change the Things (2002), Blues To Feel Good (2005) e o excelente Everything Around (2009) e comprovem.
Nessa entrevista, quinze minutos antes de tocar em um tribute ao BB King com Nuno Mindelis e Victor Biglione no Bourbon Street, Fred conta como começou sua carreira, a dos irmãos e se gaba sobre as cervejas da sua cidade natal. No próximo encontro vou levar a minha breja para os malandros tomar.

Ficou curioso pra curtir o som da banda? No dia 29 de novembro os irmão tocam no Bourbon Street Music Club com a indicada ao Blues Music Awards, Vanessa Collier. A saxofonista norte americana que está sendo considerada umas das grandes revelações do blues lançou em 2017 o excelente CD Meeting My Shadow. O show Blues on Double é uma mistura dos temas de vanessa, Sun Walk e clássicos do blues.


Eugênio Martins Júnior – Como foi teu começo na música?
Fred Sun Walk – Comecei tocar guitarra em 1994. As influências iniciais eram os discos de rock inglês do meu pai, Deep Purple, Led Zeppelin, Rolling Stones. Em 1997 a coisa ficou profissional, comecei a viver da música e nesse período já estava mergulhado no mundo do blues.

EM – Em três anos você passou do rock para o blues? Foi rápido.
FSW – E já passei a viver da música, tocava praticamente três vezes por semana. O repertório com 70% de blues.   

EM – Daí arrastou os irmãos?
FS – O meu irmão mais velho que é o baixista começou junto comigo e em 98 o caçula entrou. Formamos a Sunwalk e the Dog Brothers, gravamos o primeiro CD e estamos juntos até hoje.  

EM – Tem uma história meio maluca que aconteceu na Bahia, né? 
FS – Considero o início de tudo. Entramos no mundo dos bares, vivendo da noite. Um pouco depois começou o lance profissional, de poder pagar as contas. Começou como uma brincadeira, umas férias, mas gostamos muito do lugar e mudamos pra lá. Ficamos quase dois anos. 

EM – Você e seu irmão? Moravam juntos?
FS – Sim, era coisa de temporada e o resto do ano a gente se virava. 

EM – Eu estava na primeira turnê de Eric Gales no Brasil. Produzi um dos shows em Santos e aquela gig foi bem louca. Como é acompanhar o Eric no palco e fora dele?
FS – Eu fiz as três turnês dele no Brasil. A primeira foi em 2003 e a que você está falando foi a segunda. Da primeira vez eu conhecia o trabalho do Eric, mas não como vim conhecer e me tornar muito fã. Ele é um músico excepcional e muito exigente. É incrível trabalhar com ele. Foi muito bom pra mim como músico. Dentro e fora do palco é um cara fácil de lidar. 

EM – E além do Eric? Você acompanhou algum outro músico gringo?
FS – Toquei com o Carey Bell no Natu Blues Festival.


EM – Lembra da banda?
FS – Era a Natu Nobilis Blues Band, que recebia os músicos de fora. Eu, Luciano Leães, Andy Boy (o gaitista André Serrano que constroi os amplificadores). Toquei recentemente com a Vanessa Collier que foi indicada agora ao Grammy Awards como uma das melhores saxofonistas de blues. Fiz uma turnê com ela nos Estados Unidos em março e abril e toquei também em Ilhabela. Ela volta agora no fim de novembro para tocar com a minha banda.

EM - Fale um pouco sobre esse Tributo ao BB King? Qual é a tua participação no meio desses dois caras?
FS – Fiquei muito feliz pelo convite. O Herbert (diretor artístico do Bourbon Street) me colocou no projeto e eu nunca toquei com o Victor e vai ser uma experiência muito legal, porque cada um tem um estilo. E esses caras têm alguns anos de experiência à minha frente. Faremos também o Sesc Jundiaí.

EM - Como você vê a cena brasileira desde o primeiro trabalho de vocês, o Blues Everyday, em 1999?
FS – Quando comecei tocar a gente contava os festivais de blues e jazz nos dedos. Tinha três a cinco festivais de blues. Hoje você tem uma grande variedade de festivais e os trabalhos com os Sescs e pubs. Vi um crescimento muito grande e estou otimista, acho que a coisa está se tornando cada vez mais global. Admiro muito o trabalho que o Igor faz de intercâmbio. É bacana porque alimenta a cena.

EM – Você acompanha o que os outros músicos fazem?
FS – Sim, sou amigo de todos. Somos bem conectados com os novos e com os mais antigos. 

EM – Sun Walk e Dog Brothers enveredaram para o funkão, mas como é um power trio a guitarra sempre está em evidência, dando aquele peso. Esse som é um formato diferente do que as bandas de blues brasileiras costumam fazer. Everythyng Around é um bom exemplo disso. Gostaria que falasse sobre isso. 
FS – Sempre tive muita influência do Jimi Hendrix, Alvin Lee, Johnny Winter e Stevie Ray Vaughan. E a gente trabalha a muito tempo no formato power trio, preenchendo todas as lacunas na música. Recentemente gravei um disco, não vou dizer que é old school, mas um tributo ao blues, com Elmore James, John Lee Hooker, Albert King, todos esses caras. Uma música mais de raiz, saindo um pouco da minha zona de conforto. Por outro lado, como eles são as maiores influências, tentei colocar a minha linguagem, porque não dá pra fazer um cover do Elmore James. É impossível. Procurei tocar a música deles, mas da forma que estou acostumado a fazer.


EM – Você chegou a ir ao festival de 1989? Quanto anos você tinha?
FS – Tinha treze anos. Não fui porque ainda era muito novo, mas lembro da atmosfera na cidade. Os carros com adesivos de blues, matérias na TV. Talvez tenha escutado meu primeiro blues nessa época, o Água Mineral do Blues Etílicos. Estive com eles agora no Rio e falei isso pra eles.   

EM – Como é a cena na cidade hoje?
FS – Tem muita banda cover, mas tem o Vila Dionísio que todas as terças têm blues. Eu e minha esposa, que é produtora, realizamos o Arena Blues Festival, um festival anual e esse ano está programado para 25 de novembro. E o Sesc Jazz & Blues passa por lá também.

EM – Como começou a parceria com a Vanessa Collier, saxofonista indicada ao Blues Music Awards?
FS - Começou no Bourbon Folk Blues de Ilhabela em 2016, quando o Herbert me pediu pra trazer algum convidado para tocar com a banda. Ele perguntou se eu já tinha alguém em mente e eu disse que sim. Mas era mentira, não tinha. Mas sabia que ia arrumar alguém legal. Comecei pesquisar na internet, mas não queria trazer mais do mesmo, um gaitista ou guitarrista que é o que geralmente rola. Então vi uma foto da vanessa nos sites de vários festivais, uma moça jovem, com sax na mão, nos melhores festivais de blues. Vi uns vídeos e gostei do material, então entrei em contato com a empresária que é a mãe dela e consegui trazê-la ao Brasil. 
Depois disso ela foi indicado ao Blues Music Awards como melhor saxofonista de blues. Esse ano ela me convidou para fazer parte de sua banda. Fizemos uma pequena turnê com seis shows em três estados diferentes, na Pensilvânia, Maryland e Alabama. Participamos de dois ótimos festivais, o Boskov’s Berks Jazz Fest e o Ozark Crawdad and Music Festival. 

EM – Fale um pouco sobre as cervejas de Ribeirão Preto. Qual a dica que você dá pra quem é de fora?
FS – Maravilha, estamos bem servidos. A Invicta cresceu demais, as cervejarias SP 330,  Walfanger e Weird Barrel foram pra lá. Sou muito fã da Invicta, onde você pode tomar cerveja na própria fábrica. Tem o Cervejare que é o bar da Colorado que e tornou um monstro. E um pub que eu gosto muito é o Weird Barrel que produz a sua própria cerveja e é de qualidade.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Maurício Pedrosa Blues Quartet - On The Road Again - 2013


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos – Maurício Pedrosa (teclados e vocais), Yuri Apsy (guitarras, sitar e voz), Marco Augusto (baixo), Victor Busquets (bateria).

Participações – Robson Fernandes (harmônica em On The Road Again) e Amleto Barboni (guitarra em Memphis Tennessee).

Produção – Pedrosa, Augusto, Busquets e Apsy 
Gravação, mixagem e masterização - Amleto Barboni
Gravado no Z&O Estúdio - São Paulo
Arte e fotografia - Mariana Livraes

Músicas
1 – Ask Me No Questions
2 – I"m Tore Down
3 – I Need Your Love So Bad
4 – Looking For a Lover
5 – Drinking Wine
6 – Memphis Tennessee
7 – Rock and Roll
8 – Roll Over Beethoven
9 – On The Road Again

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Mansões históricas de São Paulo viram palco do jazz em 04 e 05 de novembro

Stefano Moliner

A Jazz Mansion é um evento que passa por mansões e casarões históricos na cidade de São Paulo. Os locais escolhidos carregam um pedaço da história da cidade e contam com a atmosfera perfeita para se apreciar a boa música.
O projeto já passou por casarões das décadas de 10, 20, 40 e, agora, chega em sua 9ª edição. Será um evento especial que acontecerá em 02 sessões, uma no sábado à noite, outra no domingo à tarde, em um casarão dos anos 50.
As apresentações são das bandas Hammond Grooves, Théo Com Sétima, Stefano Moliner Trio e Luísa Viscardi, que é a DJ residente do projeto e entre os shows toca um groove que passa do Hip Hop ao Jazz, Funk, Soul entre outros estilos.
Sobre a casa: O evento acontece na Casa das Magnólias, construção às margens do Rio Pinheiros, o primeiro casarão a trazer uma arquitetura com estilo moderno em meio a uma região que, à época, era repleta de casas no estilo Art Déco. Formas geométricas definidas, a ausência de ornamentos e a integração com o entorno por meio do paisagismo são fortes características da construção.

Artistas:

Hammond Grooves - Composto pelo Órgão Hammond, guitarra e bateria, soma ao seu jazz autoral, influências brasileiras e de estilos como o Blues e o Rock. Um verdadeiro universo de timbres emana das válvulas do Hammond de Daniel Latorre, das frases mágicas da guitarra de Filipe Galadri e das empolgantes pulsações da bateria de Wagner Vasconcelos.
Théo Com Sétima - Com influências de Jazz, Bossa e Soul, a banda se tornou uma espécie de coletivo, onde passaram 14 guitarristas, 10 baixistas, 7 bateristas, 4 saxofonistas, 5 trompetistas, 1 trompista, 1 Souzafone e 4 vocalistas. Sempre conduzido e representado por Danúbio Pantoja, o grupo teve participações em novelas, programas de TV, festivais de arte de rua e festivais como a Virada Cultural em 2017.
Stefano Moliner Trio - O artista trabalha com música instrumental e Jazz já há mais de vinte anos, estando sempre presente no cenário paulista em casas como o Teta Jazz Bar, Jazz nos Fundos, Jazz no Hostel,Z Carniceria, Bar de Cima, PARM, Oakbier, além de festivais incluindo outros Estados.
Luísa Viscardi - A DJ tocará entre os shows nos 2 dias. Fundadora da agência JAMBOX, focada na cultura urbana, seu estilo musical é definido por “Freestyle”, capaz de abranger gêneros do Hip Hop ao Jazz, Funk, Soul, Reggae, R&B, House, Drum & Bass, Bass e Música Brasileira.

Serviço:
Show: Jazz Mansion
Local: Avenida das Magnólias, 1182 – Cidade Jardim
Datas: 04/11/2017 (sábado 20h) e 05/11 (domingo 15h)
Ingresso: R$ 25,00
Jazz Pass (Ingresso para os dois dias): R$ 50,00
Vendas online: http://bit.ly/ingressosjazz9
Classificação indicativa: Entrada de menores de 18 anos apenas com pais ou responsáveis.
Capacidade:250 pessoas

domingo, 29 de outubro de 2017

Domingão tem Spyro Gyra no Bourbon Street


Uma das formações de jazz fusion mais populares do mundo, o Spyro Gyra, sobe ao palco do Bourbon Street para mostrar em única apresentação seu jazz-rock suave que mistura pop e blues.
Criado em Buffalo, New York, no anos 70, o Spyro Gyra desenvolveu seu som tendo incorporado as dinâmicas musicais dos anos 80, mas, fazendo com que a improvisação do jaz prevaleça nas apresentações ao vivo. 
Entre seus maiores sucessos estão Shaker Song e Morning Dance, que foram hits em rádios do mundo inteiro e ainda são ouvidas com frequência, mesmo passados mais de 30 anos de suas criações.
Com mais de 40 anos de estrada, o Spyro Gyra já lançou 31 álbuns, sem contar as compilações, e vendeu mais de 10 milhões deles, tendo chegado ao disco de platina e conquistado dois discos de ouro. Um feito de poucos artistas e, no caso deles, tudo se deve ao constante esforço de se superarem, como aconteceu em seu lançamento mais recente “The Rhinebeck Sessions”, composto e gravado em apenas três dias de estúdio.
O grupo é formado por Jay Beckenstein (saxofone), Tom Schuman (teclados), Julio Fernandez (guitarra), Scott Ambush (baixo) e Lionel Cordew (bateria).

Serviço

Show: Spyro Gyra
Data: 05/11/2017 – domingo
Horário show: 20h00
Couvert Artístico: 1º. Lote -R$ 85,00 (bar/em pé); R$ 110,00 (mesa standard); R$ 140,00 (mesa premium)
Abertura da casa: 18h00
Venda também pela Ingresso rápido - 11 4003 1212 www.ingressorapido.com.br
Local: Bourbon Street | Rua Dos Chanés, 127 – Moema – SP
Bilheteria Bourbon Street: Rua dos Chanés 194 – de 2ªf.a 6ª.f das 9h às 20h, sábado e feriado das 14h às 20h
Fone para reserva: (11) 5095-6100 (Seg. a sexta) das 10h às 18h

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Os Outubros de Taiguara é lançado em Santos pela livraria Realejo

A obra de Janes Rocha revela detalhes inéditos sobre a perseguição pela ditadura e censura ao trabalho do artista. O lançamento é na sexta-feira, dia 20, a partir das 18h30 


Escrito pela jornalista Janes Rocha, “Os outubros de Taiguara” traz em destaque um amplo levantamento da ação da censura e dos arapongas sobre o trabalho deste que foi um dos artistas mais perseguidos pela ditadura militar. 
A partir do conteúdo de documentos depositados no Arquivo Nacional e no extinto Serviço Nacional de Inteligência (SNI) das Forças Armadas, a autora de mostra detalhes inéditos de como a repressão prejudicou o trabalho desse artista. Mais de 80 de suas canções foram vetadas pela censura e um disco inteiro – “Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara” – foi recolhido por agentes policiais em 1976, pouco depois de chegar às lojas.
Dono de grande talento, sensibilidade e criatividade, Taiguara ficou conhecido por canções como Hoje, Universo no teu corpo, Helena, Helena, Helena e Modinha, estas três últimas que ficaram entre as finalistas dos famosos festivais de Música Popular Brasileira dos anos 1960. Além de canções de sua autoria, ele fez belíssimas interpretações de Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Chico Buarque e muitos outros ícones da MPB.
No início de sua carreira, Taiguara reunia em suas músicas elementos de bossa nova, jazz, samba e pop. Ao longo do tempo, seu trabalho ficou muito mais rico com ritmos latino-americanos e africanos. Taiguara faleceu com apenas 50 anos, em fevereiro de 1996, deixando mais de uma centena de músicas escritas, porém não gravadas.
Com prefácio do jornalista e escritor João Gabriel de Lima e uma introdução do jornalista e crítico musical Tárik de Souza, o livro faz parte de um projeto de recuperação do trabalho de Taiguara que já resultou no relançamento do disco “Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara” em CD, entre outras iniciativas. A Realejo 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Francisco Mela apresenta seus afro ritmos em FE

The Crash Trio

Texto e foto: Eugênio Martins Júnior

É muito bom ter uma boa configuração em um aparelho de som para tocar aquele CD de jazz e poder ouvir todos os detalhes da música. Mas, convenhamos, nada supera uma performance ao vivo.
E quando você espera o show durante dias, às vezes meses, e na noite especial fica a menos de cinco metros da música real? Vendo e ouvindo os instrumentos sendo manipulados com maestria pelos seus gênios musicais? 
Assisti o The Crash Trio, de Francisco Mela (bateria), com Santiago Leibson (piano) e Sean Conly (baixo), no dia 29 de agosto, no Bourbon Street Music Club, em sampa. Uma noite memorável de straight ahead jazz. 
Nascido em 1968, em Bayamo, Cuba, Francisco Mela começou a tocar bateria tardiamente, aos 18 anos de idade. Desenvolveu seu estilo com um pé em seu país natal e outro no jazz norte americano. Uma avalanche de ritmos desabando sobre o kit. 
Foi para os Estados Unidos em 2000 para, literalmente, tocar a vida. Lá se enturmou com um pessoal da pesada que inclui Kenny Barron, Joe Lovano, John Scofield, Gary Bartz e nada menos do que o lendário McCoy Tyner.  
Desde então vem desenvolvendo uma carreira que inclui quatro discos solo – Melao (2006), Cirio: Live at the Blue Note (2008), Tree of Life (2011) e FE (2016) - e participações em trabalhos de outros artistas.
Na gig em São Paulo Mela apresentou FE quase na íntegra, e temas cantados de outros discos, ou melhor, recitados, por ele próprio.
Na ocasião da gravação do álbum de 2016, o Crash Trio contava com Leo Genovese (piano) e Gerald Cannon (baixo) e  John Scofield (guitarra) como convidado. FE é um retrato colorido do que é o jazz contemporâneo, traz Mela e banda esbanjando criatividade e, acima de tudo, ousadia. Como o jazz tem de ser.
Subi a montanha entre Santos e sampa de moto numa noite de fim de inverno. O frio e o vento entram em todas as frestas da roupa e, já que a noite no Bourbon Street era de música “meio” cubana, ao chegar ousei esquentar o esqueleto com um bom rum. Como eu disse antes, nada como ouvir  música ao vivo, sempre vale a pena o esforço.


Eugênio Martins Júnior – Como a música apareceu na tua infância em Cuba?
Francisco Mela – Cuba é igual ao Brasil, existe música em todas as esquinas. As pessoas respiram música. Cresci em um ambiente musical, me pai costumava cantar um pouquinho, mas não me tornei músico antes dos 18 anos de idade. Estudava artes plásticas na escola de arte, mas percebi que não seria um bom pintor então acabei saindo. Meu pai disse que eu tinha de decidir o que fazer da vida, poderia ir para escola de dança, pois não tocava nenhum instrumento. Decidi ir cantar em um coro e o tempo foi passando até um amigo do departamento de percussão me mostrar o instrumento. Na hora percebi o que tinha de fazer. Tracei um plano para virar músico. 

EM - Os ritmos cubanos soaram alto na tua alma naquele momento?
FM – Eles disseram que eu tinha ritmo. Posso dizer que era um bom dançarino, sentia o ritmo da música, então marquei uma audição no departamento de percussão e passei. 

EM – Hoje você faz um jazz forte e moderno. Gostaria que falasse sobre isso em ralação à tradição do jazz cubano, um dos melhores do mundo.
FM – Sim, sim. Em Cuba tocamos o Latin Jazz, que é muito famoso. É basicamente a combinação da música cubana com o jazz americano. A soma do trio de jazz com as congas cubanas formam um verdadeiro quarteto de Latin Jazz. Pode-se tocar standards cubanos ou standards americanos. 

EM – Você chegou a tocar clubes noturnos de Cuba?
FM – Toquei muito pouco nas noites de Cuba. Tive a oportunidade de tocar com um grupo que me contratou para ir ao México. Lá comecei a tocar mais jazz.


EM - Você foi para Boston estudar em uma escola famosa. Sentiu muita diferença do que havia aprendido em Cuba?
FM – Foi no México que ouvi falar da Berklee College. Então entrei em contato e eles me convidaram para uma audição e me deram a oporunidade de estudar, mas não fui. Fiquei na área de Boston tocando com os músicos e a Berklee acabou me convidando para dar aulas (risos). Conheci Joe Lovano, John Patitucci e comecei a tocar com eles.   

EM - Gostaria que falasse sobre o magnífico McCoy Tyner. 
FM – Sim, McCoy tem sido um fonte de inspiração desde que comecei a tocar com ele. É uma universidade, como se fosse meu pai, meu mentor em tudo. Defino minha vida hoje pelo que venho aprendendo com McCoy. Toquei com Lovano antes de tocar com McCoy e isso me preparou para tocar com ele. McCoy toca straight ahead, um mais tradicional e eu não tocava isso. 

EM – Então McCoy te roubou da banda de Lovano?
FM – Acho que sim. Deixei de tocar com Lovano e fui para a banda de McCoy. No começo Joe Lovano era convidado frequentemente por McCoy para tocar em sua banda e havia noites que tocava com os dois juntos.  

EM - Hoje você toca com Tyner, Lovano e tem seu próprio trabalho para gerenciar. Como faz isso?
FM – Sim e já que estamos falando disso, também toquei com Kenny Barron. Tudo ao mesmo tempo. Foi incrível. Isso tem ajudado na minha carreira musical. Estou feliz em ter tido essas oportunidades.


EM – Você conhece os ritmos brasileiros?
FM – Um pouco. Samba, bossa, maracatu.   

EM – Pode apontar as diferenças e similaridades entre os ritmos cubanos e os brasileiros?
FM – Temos muitas semelhanças porque celebramos o mesmo carnaval. Em Cuba o carnaval é tão grande como o daqui. E apesar de os ritmos dos dois países virem da África, a música cubana é mais sincopada (Mela passa a solfFrancsico Mela ejar um ritmo cubano e depois um brasileiro, completamente distintos, que mostram claramente a diferença entre eles).   

EM – Ambas têm a mesma raiz. Bom, você sabe que a nossa música também é feita com muitos instrumentos de percussão. Gostaria que falasse sobre isso.
FM – Talvez não tenhamos tantos instrumentos como vocês no Brasil, mas temos alguns em Cuba. Nesse caso o Brasil é mais sofisticado. Talvez pelo tipo de música que vocês tocam com cuíca, agogo, tamborim. Nós não temos isso em Cuba.   

EM - Você fala sobre política? Como está a situação de Cuba hoje pelo teu ponto de vista? 
FM – Não falo sobre política. Não tenho nenhum interesse. Eu deixei Cuba há vinte anos e não sei como está hoje. 

EM – Essa é sua última apresentação no Brasil. Gostou do país?
FM – Amei  e já quero voltar. 



quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Maurício Sahady & Blues Groovers - Laundromat 335 - 2008


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos – Maurício Sahady (guitarra e voz), Otávio Rocha (guitarra e voz), Ugo Perrota (baixo e voz) e Beto Werther (bateria e voz).

Participação especial – Flávio Guimarães (harmônica em Crazy Mixed Up World).

Produção – Beto Werther e Otávio Rocha 
Gravação e mixagem - Pedro Gárcia no Boombox estúdio
Masterização - Renê Júnior no Dream Master Studios
Projeto gráfico – Celão Marques (Mantra Arte & Conteúdo)
Produção fonográfica - Delira Música
Fotos – Beto Werther e Renata Monteiro

Músicas
1 – Please Love Me - Bb King/Jules Taub
2 – Don't Burn Down the Bridge - Jones/Wells
3 – Laundromat Blues - Sandy Jones
4 – Crazy Mixed Up World - Willie Dixon
5 – Tell Me Mama - "Little" Walter Jacobs
6 – When the Kid Start Messing - Maurício Sahady
7 – Gamblers's Blues - BB King/Johnny Pate
8 – Why You So Mean To Me - Albert King
9 – Homework - Dave Clark/Al Perkins
10 – Remington Ride - H. Remington/H.Penny

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Blues e Bollywood se misturam na música do mundo de Aki Kumar

Aki Kumar (foto: Tiago Cardeal - Santos Jazz 2017)

Entrevista: Eugênio Martins Júnior

No segundo dia da 6ª edição do Santos Jazz festival, o gaitista indi-californiano Aki Kumar subiu pela primeira vez em um palco brasileiro. Produzido por mim, foi o primeiro show entre dez de uma turnê que cruzou o país com uma banda suporte que incluiu os músicos Marcelo Naves (gaita e voz - abertura do Show), Jaderson "Turn off the lights" Cardoso (bateria), Raoni Bracher (baixo), Danilo Simi (guitarra) e Nicolas Simi (guitarra) como suporte.
Aki Kumar se mudou para o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), aos 18 anos com um objetivo, se tornar um engenheiro de software bem-sucedido. Porém, algo aconteceu ao longo do caminho: ele descobriu a música de Howlin 'Wolf e os clubes de blues na área da baía de São Francisco. Virou músico.
Ela, a música, esteve presente na sua vida desde cedo. Mas não o blues. Aos oito anos de idade seu pai o matriculou em aulas de música tradicional indiana e só mais tarde, já radicado nos EUA, começou a estudar com David Barret, indo tocar sua gaita no quarteto Tip of the Top.
O primeiro álbum foi lançado em 2014, intitulado Do Not Hold Back; o segundo Aki Goes to Bollywood (2016), saiu pelo selo Little Village de Jim Pugh que, para quem não se lembra, tecladista nos melhores discos de Robert Cray.
O álbum faz uma fusão do blues com a música de Bollywood, ressaltando que Kumar se considera um músico de blues, não um cantor de Bollywood.
De estilo eclético, se apresenta em duo em algumas ocasiões, acompanhado pelo guitarrista Little Johnny Lawton, mas na maioria dos shows conta com o seu quarteto, o Aki Kumar Blues Band.
Além de ser músico de estúdio requisitado, o dinâmico vocalista e gaitista vem aos poucos consolidando sua ascensão entre a nova geração de artistas do blues amplificado da Califórnia, tendo  herdado seu estilo das lendas da gaita dos anos 50 e 60. Sua voz úncia mistura elementos de Blues tradicional com o som indiano.
Essa entrevista merece alguns agradecimentos. Primeiro ao Marcelo Naves por ter me oferecido a produção desse show. Parceria e honestidade sempre. E a Jamir Lopes e Denise Covas por me convidarem a fazer parte do Santos Jazz como assessor de imprensa e eventualmente aceitando algumas das minhas sugestões de show.



Eugênio Martins Júnior - Quando você chegou aos Estados Unidos? Foi com o objetivo de estudar, não é verdade?
Aki Kumar – Sim. Na Índia eu era viciado em programas de computador então decidi dar um gás na minha carreira. Fui incentivado pelo meu irmão mais velho que já estava nos Estados Unidos há alguns anos. Cheguei em 1998 para estudar engenharia da computação.

EM – Quando você chegou foi morar direto com o teu irmão?
AK – Morei com ele por um ano depois mudei pra outra cidade.

EM – Você conseguiu trabalhar com os computadores?
AK – Sim, por onze anos. Era engenheiro de software em San Jose. Nesse meio tempo conheci a cena blues local e comecei a ouvir aquela coisa. Na Índia eu tinha uma harmônica barata que meu pai costumava tocar, mas quando ouvi uma sendo usada no blues achei muito legal. Achei que poderia fazer aquilo e conheci um grande professor para me dar aulas, David Barret, que me deu uma direção no blues.

EM – Até então você não havia escutado blues e nunca tinha tocado nenhum instrumento?
AK – Aos oito anos havia estudado um pouco de música indiana. Tocava teclado, que até tem um pouco de relação com a harmônica, mas na época eu não sabia. No mundo da música há instrumentos relativos.



EM – Nunca tocou blues?
AK – Nem sabia que o blues existia. Quando era adolescente ouvia muito pop contemporâneo, assistia a MTV, mas não ouvia blues.

EM – Quando foi que você ouviu o blues pela primeira vez? 
AK – Foi ouvindo rock and roll. Quando mudei para os Estados Unidos achei algumas rádios que tocavam músicas antigas. Rock and roll dos anos 50 e 60 e ouvi muita coisa. Buddy Holy, Chuck Berry, Beatles, Fats Domino, gostei disso na hora. Claro, isso não é blues, mas veio dele. Foi como uma viagem. Tive uma surpresa quando assisti meu primeiro show de blues na costa oeste com o grande gaitista Mark Hummel. É um grande artista da harmônica moderna e fui recomendado pelo meu professor. Ele é fantástico, tem um timbre encorpado, grandes shuffles, e tocou por quatro horas. Me lembro de tudo muito bem. Esse show me influenciou muito. É importante manter os ouvidos e mente abertos.

EM – Qual dos dois paga melhor, blues ou computadores?
AK – O que você acha? (risos). Eu sei, foi uma decisão difícil parar com uma carreira. Muitas pessoas se deixam levar pela segurança de um emprego, um bom salário proporciona o conforto necessário. Mas sou um afortunado em ter colocado a música na minha vida e estar ativo na cena blues da Califórnia. Toco quase todas as noites pra ganhar a vida e minha esposa me apoia. Ela teve muita compreensão quando fiz essa transição.

EM – O que ela disse quando você comunicou que ia largar tudo para tocar blues?
AK – Ela não entendeu imediatamente. Quando ela percebeu eu já estava muito focado nisso.

EM – Existem mais diferenças ou similaridades entre o blues e música indiana? Você acabou achando um jeito de misturar as duas, não é verdade?
AK – São dois tipos de música com formas diferentes, mas há algumas similaridades. E foi um processo. Algumas músicas dos filmes de Bollywood foram influenciadas pela música americana. Algumas das grandes canções indianas são as folclóricas que, como o blues, são músicas populares. Com as pessoas contando suas histórias. Acho que a música indiana tem alguns grooves e ritmos parecidos com o blues.


EM – Não sei se você sabe, mas nós também temos muitos ritmos nas diferentes regiões do país.
AK – Acho que o Brasil é um dos países no mundo com a maior diversidade cultural. Tanto na música étnica, quanto na cozinha. Fiquei muito feliz em poder explorar essa diversidade musical.

EM – Muitos gaitistas têm vindo ao Brasil.
AK – Sim, tenho dois amigos que vieram e ficaram fãs da música brasileira. Espero passar as próximas três semanas aprendendo sobre a música brasileira. Quem sabe eu não misture o blues com a música brasileira no próximo disco (risos). 

EM – E o blues brasileiro, você conhece?
AK - Tenho visto muita gente fazendo blues no Brasil. Muita coisa está sendo descoberta pela nova geração da internet. Artistas clássicos blues da Louisiana, do Delta, Chicago, West Coast. Todos podem ouvir de tudo todo o tempo e quem tiver motivação, talento pode se dar bem. Veja o Marcelo (Naves), ele vive no Brasil e toca como se vivesse na costa oeste. O mundo ficou pequeno.  

EM – A internet quebrou as barreiras de tempo e espaço.
AK – Sim, isso é muito bem vindo. Veja, sou um cara de Mumbai, que vive na Califórnia tocando música americana no Brasil. É o novo mundo.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Alex Buck - 1011² - 2014


Músicos - Alex Buck (bateria e piano), André Damião (live coding), Bruno Migotto (contrabaixo), Cássio Ferreira (sax alto), Daniel D'Alcântara (trompete), Edson Santanna (piano), Jefferson Rodrigues (sax alto, sax soprano e flauta), Joabe Reis (trombone), Jota P. Barbosa (sax alto e sax tenor), Josué dos Santos (sax alto, sax barítono, flauta), nenê (bateria e piano), Paulo Malheiros (trombone) e Vitor Gonçalves (piano).

Produção musical - Alex Buck e Thiago Cury
Produção executiva - Joana Cury e Pedro Autuori (Água Forte)
Assistente de produção - Jan Balanco (Água Forte)
Técnico de gravação - Sandro Haick
Mixagem - Sandro Haick
Masterização - Homero Lotito (Reference Studio)
Produção editorial - Thiago Cury
Projeto gráfico - Joana Figueiredo
Fotos - Julio Kohl
Vídeo Making of - Felipe Schermann
Tradução de textos - Clara Hermeto
Gravado no Estúdio Nacena em novembro e dezembro de 2013 - São Paulo

Músicas

Lado A
01 - Márcio Bahia - (Alex Buck/Arranjo - Carlos C. Iafetice) 
02 - Milton Banana - (Alex Buck/Arranjo - Gustavo Bugni)
03 - Edison Machado - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck e Carlos C. Iafetice)
04 - Robertinho Silva - (Alex Buck/Arranjo - Bruno Migotto)
05 - Toninho Pinheiro - (Alex Buck/Arranjo - Edson Sant'anna)
06 - Airto Moreira - (Alex Buck/Arranjo - Bernardo Ramos)



Lado B
01 - 1011² - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck/Nenê/André Damião)
02 - Encontro I - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck/Nenê)
03 - Luciano Perrone - (Alex Buck/Arranjo Alex Buck
04 - Encontro II - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck/Nenê)
05 - Wilson das Neves - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck)
06 - Rubens Barsotti - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck)
07 - Zé Eduardo Nazário - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck/André Damião)
08 - Encontro III - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck/Nenê)
09 - Nenê - (Alex Buck/Arranjo - Alex Buck/Nenê)



domingo, 1 de outubro de 2017

Mais um festival de jazz em Sampa, é o Jazz Sessions

Trio Corrente

Os apreciadores do jazz já têm compromisso entre os dias 05 e 08 de outubro no Shopping Pátio Higienópolis, em Sampa.
A programação do novo festival Jazz Sessions vai contar com dez bandas que tocarão no espaço a céu aberto e arborizado no boulevard do shopping. 
A curadoria é do JazzNosFundos, que começou como um clube de jazz na região oeste da cidade e hoje organiza apresentações em vários locais.
No sábado e domingo, haverá programação dedicada às crianças e oficina de tambores nos intervalos da programação. Tudo grátis.
Na quinta-feira, dia 05 de outubro, a partir das 19h, a norte americana Haley Peltz se apresenta com o Quarteto Feiticeiro, composto por Igor Pimenta (contrabaixo), Daniel Szafran (piano), Claudio Faria (trompete e flugelhorn) e Edu Nali (bateria). O show homenageia as divas do jazz, Ella Fiztgerald e Billie Holliday. 
Logo após, o Tuto Ferraz Quinteto, do compositor, baterista e produtor Tuto Ferraz, toca as músicas de seu álbum recente, o Funk Jazz Machine. O grupo é Tuto Ferraz (bateria), Agenor de Lorenzi (guitarra), Sidiel Vieira (baixo acústico), Josué dos Santos (sax tenor e soprano) e Pepe Cisneros (piano). 
Na sexta-feira, também a partir das 19h, A cantora Vanessa Moreno apresenta o show Em Movimento, homônimo ao seu primeiro trabalho solo. Na banda, Fábio Leal (guitarra), Wagner Vasconcelos (bateria) e Fi Maróstica (baixo).
O Hammond Grooves de Daniel Latorre (Hammond B-3), Felipe Galadri (guitarra) e Wagner Vasconcelos (bateria) apresenta um repertório de Soul/Jazz que homenageia grandes organistas da história, como Jimmy Smith, Jack McDuff, Dr.Lonnie Smith, Jimmy McGriff, Big John Patton e outros, além de composições do disco Funktastic. 
Sabadão, entre 13 e 19h, a Pequena Orquestra Interativa, cuja principal característica é a interatividade com o público, leva um repertório com sonoridades que misturam músicas dos balcãs, música klesmer, valsas malucas e música cigana. 
Há momentos em que todos devem emitir sons desafinados, participar de uma pequena partitura de percussão corporal para acompanhar a melodia, ou cantar a marcação rítmica de uma composição. Em cada número, uma nova surpresa para a plateia.
Em seguida o compositor, arranjador e mago do acordeon,  Toninho Ferragutti, apresenta seu mais recente projeto, uma formação em quinteto com grandes músicos e com sonoridade mais próxima do jazz.
Fechando o dia, David Kerr e Canastra Trio comemora 10 anos de carreira com o lançamento do disco Walkin’ in White Shoes, celebrando o repertório que o tornou uma referência na cena jazzística paulistana. David Kerr, Rodrigo Braga, Gustavo Sato e Edu Nali assinam a produção e os arranjos das músicas do disco com consagrados standards do Great American Songbook. 

Hammond Grooves

Por fim, mas não menos importante, no domingo, entre 13 e 19h, a New Orleans Street Jass Band brinda o público com o jazz tradicional e dançante, tal qual o surgido no início dos anos 1900 em Nova Orleans. Além da música bem executada, a diversão está sempre presente nos shows. Os músicos costumam sair do palco e passear entre os convidados. Com Guilherme Americano (clarinete), Marcelo Troni (cornet), Márcio Rafael (trombone), Gabriel Gentile (banjo). Daniel Grisanti (contrabaixo), Uirá Moreira (bateria) e Alexandre Hage (piano). 
O premiado Trio Corrente Fábio Torres (piano), Paulo Paulelli (baixo) e Edu Ribeiro (bateria),  apresenta repertório com temas de seus quatro discos, além de outros próprios e de  grandes compositores. Trio Corrente é um dos grupos de maior destaque na cena da música instrumental da atualidade. Vencedor do Grammy Latino e do Grammy Americano com o álbum “Song for Maura” com Paquito D’Rivera, em 2014.
Fechando a programação do festival, a compositora e cantora espanhola que mora no Brasil, Alba Santos, mostra seu trabalho autoral, fruto de pesquisa sobre as sonoridades brasileiras e sul americanas. Na banda, Robson Nogueira, Fellipi Sodre e Thiago Alves. 

Serviço:
O shopping fica na Av. Higienópolis, 618, com entradas alternativas pela Rua Dr. Veiga Filho, 133 e Rua Dr. Albuquerque Lins.
A entrada é gratuita. O evento conta com cardápio especial da Forneria San Paulo, de comes e bebes, com opções de até R$ 20. 
Cada apresentação tem uma hora em média com intervalo entre elas.

sábado, 30 de setembro de 2017

João Bosco se junta às feras do Coliseu (13/05/2006)


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. 
A data acima é de quando foi publicada, portanto, um retrato da época. E o título também é o original do jornal.

O cantor e compositor João Bosco vem a Santos na sexta-feira, dia 19, às 21h, em única apresentação no Coliseu. O teatro já recebeu feras como Bibi Ferreira, Toquinho e Gal Costa. 
Par essa entrevista peguei João Bosco recém chegado do Estados Unidos, onde se apresentou em diversas oportunidades. Uma delas no Birdland, em New York. No templo do jazz, que tem esse nome em homenagem ao saxofonista Charlie Parker, também conhecido como Bird, Bosco dividiu o Palcom com Eumir Deodato e com o Cubando Paquito D’Rivera, músicos experimentados e que vivem há décadas na terra do jazz.
Também se apresentou no San Francisco Jazz Festival e nas universidades de Burlington e Hanover. Nessa última dividiu o palco com seu amigo, o pianista Gonzalo Rubalcaba. 
João bosco é o entrevistado ideal, qualquer pergunta que se faça ele elabora um verdadeiro tratado sobre o assunto e se a entrevista não fosse editada ocuparia três páginas. Confira.

Eugênio Martins Júnior – Como vai ser o show em Santos?
João Bosco – Vai ser solo e acústico. Esse formato me dá mais liberdade na escolha do repertório que vai ser uma retrospectiva de toda minha carreira e também do CD Malabaristas do Sinal Vermelho. Acho que esse tipo de show se enquadra perfeitamente no Teatro Coliseu, que eu não conheço, mas ouvi dizer que é um lugar belíssimo. 

EM – malabarista foi gravado em 2003, está vindo disco por aí?
JB – O disco já está pronto., mas não está gravado. O meu projeto desse ano é o DVD. Pretendo entrar no estúdio só no segundo semestre.


EM – Vem com parcerias?
JB – Sim, parcerias com Aldir Blanc, Nei Lopes, Carlos Rennó e Francisco Bosco (filho de João Bosco que já foi seu parceiro no disco Malabaristas do Sinal Vermelho).

EM – Fale um pouco sobre sua parceria com Aldir Blanc e do tempo que ficaram sem compor.
JB – Eu e o Aldir temos um pouco de dificuldade em falar nisso. Durante muitos anos o nosso trabalho teve uma solidez, uma consistência. Talvez a explicação é que somos compositores e exploradores e gostamos dessa inquietação. Encontramo-nos e e percebemos que a amizade ainda era a mesma. É inegociável. Parecia que tínhamos nos encontrado no dia anterior. A única diferença é que você deixa de compartilhar a intimidade do dia a dia. 

EM -  Foi como tivessem tomado caminhos artísticos diferentes? 
JB - Exatamente. Quando éramos jovens fizemos muitas músicas e de maneira muito intensa. Agora não, quando nos encontramos aproveitamos para cultivar a amizade, tomar uma cerveja.

EM – E como são essas composições?
JB – Fizemos duas canções para o CD, um samba e um samba canção. E um samba que já está gravado e que vai ser usado em um seriado da TV Globo.

EM – E O DVD, quando sai?
JB – Vai ser lançado no dia 29 de maio pela Universal. Vai ter cerca de 20 músicas gravadas ao vivo na Sala Ibirapuera, em São Paulo. Nesse show a banda tem oito músicos, inclusive naipe de metais. Tem também os convidados, Hamilton de Holanda, Yamandú Costa e Guinga. Também tem o Djavan na música Corsário.

EM – O Brasil tem apresentado uma boa safra de violonistas e mesmo os mais antigos como Ulisses Rocha, Marco Pereira, Duo Assad e tantos outros parecem ter ganhado atualmente mais visibilidade de público e mídia. A que você atribui isso?
JB – O violão é uma espécie de alma da música popular brasileira. É claro que também apareceram grades compositores e pianistas como Tom Jobim e Ary Barroso, ms quase tudo que foi feito no século 20 tem como base o violão, tanto no acompanhamento como solista. Um dos maiores representantes dessa escola é Baden Powell.

EM – O brasileiro está mais habituado ao formato canção e talvez seja por isso que a música instrumental brasileira fique em segundo plano.
JB – O Brasil é um país que tem uma fome de novidade e uma das características mais marcantes é a antropofagia. A música brasileira ainda não tem um público que a coloque numa maneira confortável na mídia, mas ela aparece cada vez mais e com uma cara toda nossa.

EM – Houve uma época, mais precisamente nos anos 80, com ops discos Gagabirô, Ai Ai de Mim e Bosco que você investiu na pesquisa de ritmos africanos. Você ainda continua esse trabalho? 
JB – O artista tem uma curiosidade permanente pelas coisas e os compositores têm de ter essa vontade de explorar novos caminhos. A cultura do Brasil dessas culturas (africanas) e temos essa facilidade de formar ideias novas. Todo compositor deve exercitar isso.

EM – Suas letras falam sobre o mar, culturas orientais e afro brasileiras. Essas são suas grandes inspirações?
JB – São elementos com grande apelo poético. Durante séculos foi pelo mar que aconteceram as ligações entre uma cultura e outra. Essas referências são caminhos poéticos que a gente luta para preservar, sempre com o intuito de dividir com as pessoas. Não faço nada pra desfrutar sozinho.

EM – O que você escuta atualmente?
JB – Um disco do Sérgio Mendes gravado nos Estados Unidos com músicos negros com temas do Tom Jobim e do Jorge Benjor.

EM – E música brasileira?
JB – Hoje em dia as novidades são tantas e tão rápidas, a música brasileira é tão dinâmica que muita coisa passa despercebida. 

EM – Ainda mais agora com a internet. O que você acha desse negócio de baixar música pelo computador?
JB – Isso se tornou inevitável. Faz parte do mundo contemporâneo. A única coisa que pode ser feita é uma forma de organizar. Hoje as mudanças acontecem muito rapidamente. O formato antigo de consumir música tende a acabar.