sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Another blues stringer back home: morre Eric "Guitar" Davis

Eric e seus filhos no palco do Buddy Guy's Legends

Mais um grande músico que não vai ver 2014 chegar. O jovem bluesman Eric “guitar” Davis, foi baleado e morto na manhã dessa sexta-feira 20 de dezembro ao sair do famoso clube do blues de Chicago, Kingston Mines.
Eric era filho do renomado baterista Bobby "Top Hat" Davis. Seguiu os passos do pai e aos cinco anos passou a seguir os passos do pai no instrumento.
Aos dez anos já podia ser visto tocando bateria nos bares mais quentes de Chicago como o Checkerboard Lounge e o Theresa’s, tendo a sorte de acompanhar Junior Wells, Lefty Dizz, Buddy Guy, BB King, BB Odom, Tyrone Davis eram alguns.
Buddy Guy foi o responsável por Eric tornar-se guitarrista: “Se você quiser pegar as garotas tem de tocar isso aqui”, e Guy deu a Eric sua surrada guitarra Fender.
Guitarrista emocional no jeito de cantar e tocar guitarra, o que a malandragem de Chicago chamam de “real deal”.
Estreou em disco em 2007 com Here Comes Troube, disco que já vendeu 15 mil cópias, o que, em tempos em tempos de Justin Bieber e downloads, não é pouca coisa.
Eric já tocou nas principais casas do gênero, como Buddy Guy’s Legends, Blues on Halsted, The Kingston Mines e The House Of Blues; e também com os músicos mais perigosos do blues, além do já citados, Tyrone Davis, Koko Taylor, Billy Branch, Ronnie Baker Brooks, Big James e The Chicago Playboys , Little Ed and the Blues Imperials, Booker T e The MGs, Chico Banks, Lurrie Bell, Nick Moss e mais.



quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Vai-se Jim Hall aos 83


Morreu ontem em sua casa em Nova York, enquanto dormia, o guitarrista Jim Hall.
Aos 83 anos, Hall tinha em seu currículo ter tocado com Ella Fitzgerald, Sonny Rollins, Gerry Mulligan, Ornette Coleman, Paul Desmond e outros. Era reverenciado como um dos grandes do gênero por feras como Pat Metheny e Bill Frisell. 
Líder de seu próprio trio de jazz desde os anos 60, continuava na ativa até pouco antes da morte.
Em novembro, tocou no Lincoln Center com os guitarristas convidados John Abercrombie, Peter Bernstein e planejava uma turnê pelo Japão com o não menos lendário Ron Carter.
Em 2004, tornou-se o primeiro guitarrista de jazz moderno a ser nomeado para o National Endowment for the Art Jazz Master, o principal prêmio do estilo nos Estados Unidos.
"Jim foi um dos mais importantes guitarristas de improvisação na história do jazz. Sua generosidade musical foi uma reflexão de seu profundo humanismo", disse o guitarrista Pat Metheny.
Biografia - Hall nasceu em dezembro de 1930, em Buffalo, no estado de Nova York. Criado em Cleveland, aprendeu a tocar guitarra aos 10 anos e se interessou pelo jazz aos 13. Depois de se formar no Cleveland Institute of Music, mudou-se para Los Angeles e foi um dos fundadores do quinteto Hamilton. Seu primeio álbum foi Jazz Guitar, lançado em 1957. Mais tarde, mudou-se para Nova York, onde tocou com Ella Fitzgerald, Bem Webster, Lee Konitz e Art Farmer.
Durante a carreira, integrou diversos duos, trios e quartetos e lançou trabalhos de selos como Milestone, Concord, Music Masters e Telarc . Neste ano, lançou discos ao vivo de sessões apresentadas no clube de jazz de Nova York Birdland.
Para sua filha e empresária, Devra Hall Levy, as proezas do pai como guitarrista ofuscaram suas habilidades como arranjador e compositor, que se refletem em álbuns lançados nos anos 90, como "Textures" e "By Arrangement".
"Esses álbuns abriram meus olhos para uma outra dimensão de seus dons musicais. Ele estava sempre procurando expandir as fronteiras musicais e nunca repetir algo que ele tinha feito antes", disse a filha.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Igor Prado Band kick out the America


A banda do guitarrista & produtor paulistano Igor Prado encerra o ano com uma turnê de cinco shows pelos estados Unidos. Para muitos a Igor Prado Band a maior do gênero na América Latina.
Somente em 2013 foram mais de 150 shows alguns deles ao lado de grandes artistas como Rod & Honey Piazza, Sugaray Rayford, Wallace Coleman entre outros.
Foram mais de 50 shows internacionais somente em 2013 em países como Noruega, Itália, Espanha, Alemanha Dinamarca e Chile.
Para os shows em território americano terão o apoio de um dos maiores pianistas de blues da atualidade, Fred Kaplan, lendário pianista da Hollywood Fats Band com mais de 40 anos de carreira. Já acompanhou monstros como T-Bone Walker, Big Joe Turner, Lowell Fulsom, John Lee Hooker entre outros. Também haverá participações especias de Lynwood Slim, Rod & Honey Piazza & Debbie Davis (guitarrista de Albert Collins).
O produtor brasileiro Chico Blues acompanhará a turnê e promete fechar uma interessante parceria com um dos maiores selos da atualidade nos EUA ainda para 2014.

Confira no site de Fred Kaplan: http://www.fredkaplanmusic.com/

Agenda Igor Prado Band - USA - 2013

12/12 - Lucy's 51 - North Hollywood - CA
Part. Especial de Fred Kaplan & Lynwood Slim

13/12 - Chaparral Live Room - San Dimas - CA
Part. Especial de Lynwood Slim

14/12 - The Tiki Bar - Long Beach - CA
Part. Especial de Fred Kaplan, Lynwood Slim & Horn Section (Ron Dziubla & Troy Jennings)

15/12 - Piazza's Blues Festival - Riverside - CA
Part. Especial de Lynwood Slim, Honey & Rod Piazza!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Frank Zappa has just left the building (uma carta ao velho guitarrista)

 
Salve Zappa. Não parece, mas hoje faz vinte anos que você deixou o prédio. E, cara, está fazendo falta.
É sério. As coisas andam ruins por aqui meu velho. Às vezes penso que a tua passagem pra outra dimensão ou sei lá se foi pra algum lugar além de debaixo de sete palmos de terra, tenha sido o sinal derradeiro que as coisas iriam desafinar e, por fim, destoar.
Sei que corro o risco de você não gostar dessa carta, afinal, “Um repórter de rock é um jornalista que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe falar, para pessoas que não sabem ler”. Tudo bem, posso viver com o teu sarcasmo, porque no final, você tem razão.
O fato é que, em 2013, o ambiente musical está ruim, o político está péssimo e o intelectual está pior. Como dizia outra saudosa artista brasileira, está cada vez mais down no high society. E acrescento, no low também.
Após a queda das majors da indústria da música que, justiça seja feita, você sempre combateu, o cenário mudou muito nos Estados Unidos e no Brasil. Com a vantagem de aí ser o lugar onde todas as mudanças tecnológicas acontecem. Se vocês perdem um pouco todos os anos a hegemonia do conteúdo, pelo menos a mantém sobre os formatos.
No meu país, onde a maioria dos teus conterrâneos acredita que a capital é Buenos Aires, o mercado musical passou a ser controlado 100% pela televisão. Aqui, onde a diversidade cultural é tão grande ou maior que nos Estados Unidos - dentro do conceito que tudo é cultura - cinco emissoras dominam a TV aberta: redes Globo, Record, SBT,  Bandeirantes e VTV. Juntas, elas ditam o que deve ser “consumido”. Palavra maldita quando empregada em um contexto cultural.
E, acredite, elas sempre optam pelo pior. A MTV - I'm about get sick, watching MTV – nos últimos anos se esmerou em construir uma grade com programas de auditório, promover teen bands e fazer propaganda nos moldes da matriz norte-americana e das redes ditas normais. Subjugou a inteligência do público jovem tratando-o como mero consumidor e se deu mal. Fechou as portas e já foi tarde.
Assim como nos Estados Unidos, por aqui o rock também morreu. O curioso é que no brasa, o grosso de bons músicos que cresceu ouvindo Beatles, Rolling Stones, Allman Brothers, Muddy Waters, Howlin Wolf e... Frank Zappa, migraram para o blues e têm feito a cena crescer de forma independente. Como você ensinou, man. E isso é muito bom. Foda-se a indústria and all those record company pricks.
Cresci ouvindo a música pop americana e brasileira que sempre tiveram qualidade. Mas hoje não dá mais meu velho. É um tal de bonde disso, sertanejo aquilo, tecno não sei o que. Que merda é essa?! Esses malditos produtores que controlam as TVs não têm nenhum compromisso com a arte. Não se trata de ser preconceituoso, não são todos os dias que estamos para Arvo Pärt ou Keith Jarret, mas espera aí, não vamos nivelar por baixo. Vamos dar espaço a todos, por favor!!


Até o rap, última trincheira criativa nos EUA, está sendo diluído e destruído por cantoras como Britney Spears, Miley Cyrus, Cristina Aguilera, Rihana e outras peladas. Os caras que deram o gás necessário nos anos 90 sumiram do mapa. Ou melhor, estão pilotando as mesas de som nos estúdios seguindo a seguinte lógica: "Porque não partir pra produção dos farsantes já que, inevitavelmente, outros o farão. Pelo menos a grana fica com a gente". É a roda do mercado moendo e moendo os talentos.
Os programas de caça talentos daí e daqui são horríveis. Buscam sempre a mesma cara, a mesma voz, o mesmo falsete, o mesmo neguinho maneiro, o mesmo arranjo brega, o mesmo balanço. É muito desperdício. Os aspirantes a artistas querem fama rápida e nem imaginam construir uma carreira como a tua, com mais de 70 discos lançados. Merecem toda a decepção a que são submetidos.
Na tua época não existiam os reality shows que infestam a televisão de hoje, são centenas espalhados pelo mundo com as pessoas mais fúteis e burras possíveis. Você comporia umas boas músicas sobre esse tema, sugiro o título: “Reality Show Bitch”.
Aqui a poderosa Rede Globo vem causando estragos há décadas. Ao longo das duas últimas, criou verdadeiras legiões de videotas com suas novelas e programas de alto nível técnico e baixo nível cultural. Sem falar em sua influência negativa na política e no monopólio do mercado da informação. Não interessa a ela nem aos políticos a diversidade de informação, por isso a democratização dos meios de comunicação no Brasil é zero. 
Milhões de fãs da apresentadora Xuxa – sim apresentadora virou profissão e acredite, há milhares de candidatas – hoje são mães de crianças imbecilizadas por osmose. Essa mulher que desgraçadamente se auto-intitula “a rainha dos baixinhos”, e que hoje ainda quer parecer adolescente aos 50 anos, foi uma das principais responsáveis por difundir o consumismo infantil. Não bastasse isso, esse programa também foi responsável pela sexualização precoce de muitas meninas promovendo concursos de, entre outras coisas, “Dança na Boquinha da Garrafa”. Ainda bem que você não viu isso, man. Uma das coisas mais grotescas que a televisão brasileira já produziu.
As novelas de hoje são de uma putaria só, não existe uma família que não tenha uma puta atrás de um casamento rico, um alcoólatra, um viciado, um mau caráter, estelionatário, uma alpinista social disposta a tudo por dinheiro. Tratam os homossexuais de forma pejorativa e caricata. Maestro, não sou nenhum puritano ou exemplo de moral, na verdade, adoro uma sacanagem, como todas as pessoas, mas tudo tem seu tempo e sua esfera. Não vamos avacalhar, né?
Há 46 anos você lançou Freak Out, um marco na discografia mundial. Onde mostrou pela primeira vez seus personagens malucos ao mundo.
Confesso que a primeira vez que ouvi Freak Out na casa de um amigo estranhei aquele som louco. Nosso chip é formatado desde a infância para a consonância. Foi com o Jazz From Hell de 1986 que você me fisgou com a música revolucionária gravadas nos sulcos daquele vinil. Voltei ao Freak Out e ao Uncle Meat e entendi o recado velho guru. O teu mundo era o das pessoas de plástico, das safadas garotas judias, dos políticos proxenetas endinheirados, dos evangelistas falsos da televisão. Da fauna maldita que infesta a sociedade com a sua arrogância e apreço ao poder e ao culto as aparências. Seja qual for o custo.

       
Francis Fukuyama errou feio. Você ainda estava vivo quando ele veio com a lorota de “Fim da História”.
É inevitável. Todas as vezes que um intelectual, pensador, teórico, político ou o que seja, na esfera norte americana escreve ou planeja algo levando em conta apenas a perspectiva de seu país, a coisa vai dar errado. O que não surpreende nem um pouco, pois eles simplesmente não conhecem, ou não querem conhecer outras perspectivas que não sejam as suas. As variáveis dos outros nunca importam.
Um dia você apenas cogitou em concorrer à presidência do teu país, mas se por um acaso você concorresse e ganhasse, seria a maior deblace causada na política mundial de todos os tempos. Um gênio da música desbocado e consciente assumindo a Casa Branca, confrontando os Bobby Browns da política norte americana. Ia ser lindo, meu velho guitarrista.
Infelizmente não aconteceu. O que aconteceu foi que o porco do Bill Clinton se elegeu afundando de vez a diplomacia e qualquer possibilidade de pacto mundial, se é que isso um dia foi possível além da utopia. E como as coisas sempre podem piorar, George W. Bush Jr assumiu o controle dos Estados Unidos jogando o país e o mundo em um período de trevas que está longe de acabar. Se é que isso vai acontecer. São Muitos “ses” para responder.
Às vezes sinto vergonha ou um pouco de receio de tocar em alguns assuntos. Política e religião são dois deles. Não vivo em um país com mentes abertas à discussão. Aliás, você também não, pelo menos nos dias de hoje. Além do que, as pessoas tendem a levar esse tipo de assunto para o lado pessoal. Por outro lado, se eles não têm vergonha de fazer o que fazem em nome do povo ou de deus, por que haveria eu de impor a autocensura?
Os evangelistas brasileiros seguem o exemplo dos norte americanos, Jerry Falwell, Jim Bakker, Robert Schüller, Paul Crouch, Robert Tilton, Bill Bright, Rex Humbard e Jimmy Sweaggart e seus programas de TV. Criticados por você nos anos 70 e 80, aqui no Brasil têm muita influência, inclusive na política.  
A cabeça do povo pobre, arada com esperança e cultivada com a falta de educação por séculos é terreno fértil para os falsos pregadores e mercantilistas da fé. Eles sim são os verdadeiros malditos.
Perdi a minha fé faz tempo. Duvido que venha outro Frank Zappa. O terreno não é fértil.
Vou ficar aqui curtindo os meus discos velhos e lembrando como era bom chegar na loja e ver os teus discos nas prateleiras. Mas o pior de tudo é saber que tem gente que nem imagina que você existiu. 



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Clube do Blues recebe Orleans Street Band, uma das principais bandas de jazz de rua do Brasil


A banda já se apresentou em alguns dos principais festivais do país, entre eles, Rio das Ostras Jazz e Blues Bourbon Street Fest e Rock In Rio

A interação com o público é a grande tônica dessa contagiante street band – o que em New Orleans quer dizer uma formação acústica itinerante - de jazz tradicional/dixieland, que representa o mais autêntico som da cidade berço do jazz. 
O repertório inclui standards norte americanos (All of Me), clássicos do jazz (Blue Monk, When The Saints Go Marching In), Rythm and Blues (Corrine Corrina), Pop (I Can`t See Clearly Now), além de versões instrumentais de temas brasileiros, entre eles, Manuel, Do leme ao Pontal e Aquarela do Brasil.
Em palcos ou em eventos de rua, Orleans Street Band é pura descontração e diversão, formada por banjo, trompete, trombone, washboard e tuba.
Espalhando alegria e descontração por onde passa, a Orleans Street Jazz Band por ser uma banda itinerante, pode se locomover com facilidade, atendendo os diversos pontos do evento.

A Orleans Street Band já se apresentou em alguns dos principais festivais do Brasil:

Bourbon Festival Paraty
http://www.youtube.com/watch?v=ezVGuxSaayA&feature=c4-overview&list=UUuoXot06Q57YjfzWv6jQSpA
Rock In Rio
http://www.youtube.com/watch?v=jFUDFLM_fVk
Festival Rio das Ostras
http://www.youtube.com/watch?v=Iy5ng7dE99k

Serviço:

Show: Clube do Blues de Santos – Orleans Street Band
Data: 19 de novembro (terça-feira)
Local: Studio Rock Café (Rua Marechal Deodoro, 110 - Gonzaga - Santos/SP)
Horário: a partir das 22h
Entrada: R$ 15,00 (homens) – mulheres não pagam

domingo, 27 de outubro de 2013

Morre aos 71 anos, Lou Reed, um dos músicos mais influentes do rock and roll

Um dos músicos mais influentes do rock and roll

O ano de 2013 continua sendo cruel com a boa música, Lou Reed, fundador do grupo nova iorquino Velvet Underground, morreu neste domingo, dia 27, aos 71 anos. A triste notícia foi dada por seu agente literário, Andrew Wylie.
Reed morreu em decorrência de problemas no fígado. Em março deste ano ele cancelou uma série de shows devido a complicações na saúde e em abril o músico submeteu-se a um transplante de fígado.
No início de junho, sua mulher, a musicista e artista Laurie Anderson, revelou que Reed estava se recuperando desde a operação, mas sugeriu que ele poderia nunca se recuperar totalmente. Para um jornal inglês, Anderson revelou que o estado de saúde de Reed era grave, mas que ele vem se recuperando aos poucos. "Ele estava morrendo. Eu não acredito que ele vá se recuperar totalmente, mas ele certamente estará de volta para fazer algumas coisas em poucos meses. Ele já está trabalhando e fazendo tai chi chuan. Estou muito feliz, é uma nova vida para ele", disse. Laurie Anderson se casou com Reed em 2008
Na época, o cantor, guitarrista e compositor postou a seguinte mensagem em sua página no Facebook: “Eu sou um triunfo da medicina moderna, física e química, sou maior e mais forte do que nunca. Meu tai chi e minha saúde têm me servido bem todos esses anos, graças ao Mestre Ren Guang-yi. Estou ansioso para voltar aos palcos, tocando e escrevendo mais músicas para me conectar com seus corações e espíritos".
Horas antes da notícia de sua morte, a página oficial de Lou Reed no Facebook divulgou a foto de uma porta com o pôster do cantor, com a legenda: "a porta".

Lou Reed and Nico

Biografia - Lewis Allan Reed nasceu em 2 de março de 1942, em Nova York (EUA). Fundou a banda Velvet Underground em 1964 com John Cale.
A banda, composta por Lou Reed, John Cale, Mo Tucker e Sterling Morrison e a cantora Nico, tornou-se um dos grupos mais influentes da história do rock e da música punk. Com David Bowie e Iggy Pop, ditou toda a estética do movimento.  The Velvet Underground, conhecido aqui no Brasil como o “disco da banana” veio com a capa desenhada pelo artista pop Andy Warhol.
O disco, lançado em 1967, tornou-se um clássico instantâneo com temas sombrios contrastando com as mensagens de amor da época, São ele, Heroin, Sunday Morning, Venus In Furs, I’m Waiting For the Man, I’ll Be Your Mirror e outras. O grupo implodiu-se com cada integrante seguindo sua vida.
Em carreira solo, Reed lançou discos que tornaram-se cultuados, como Transformer (1972), produzido por David Bowie, com as clássicas Walk on the Wildside e Satellite of Love, Vicious e Perfect Day. Berlin, que trazia Berlin e Oh, Jim. New York, com Romeo and Juliette, There Is No Time, Busload of Faith, Hold On e dirty Blvd. Em 2011, ele lançou o álbum "Lulu", em parceria com o Metallica.
Em 2010, Reed visitou o Brasil para promover seu livro Atravessar o Fogo, no qual fez sessões de autógrafos em livrarias, e também para apresentar o show do disco metal Machine Music, de 1975. Contraditório, o álbum trazia apenas quatro músicas, com cerca de 15 minutos cada, sem vocais e com distorções de guitarras. Em três meses, o disco foi retirado das lojas.
 
 Auto retrato de Andy Warhol
Os outros integrantes:
 
Nico - Em 18 de julho de 1988, Nico sofreu um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta em Ibiza e, na queda, bateu a cabeça. O motorista de um táxi que a encontrou inconsciente teve dificuldade para conseguir encontrar um hospital que a atendesse em Ibiza, pois Nico não tinha plano de saúde.
Sterling Morrison - Em 30 de agosto de 1995, dois dias depois de fazer 53 anos, Morrison morreu de um Linfoma.
Andy Warhol - Também um dos artistas mais influentes do século 20, o homem que forjou a frase “No futuro todos seremos famosos por 15 minutos” morreu em 1987, por complicações de uma operação na visícula. Reed e Cale gravaram um álbum em sua homenagem, Songs For Drella.

A Santíssima Trindade do punk rock, Bowie, Iggy e Reed



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Encruzilhadas musicais entre África, Brasil e Estados Unidos construirão a música do século 21


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Samuel Macedo

As pontes históricas entre Brasil, Estados Unidos e o continente africano possuem muitas encruzilhadas. Essas, por sua vez, proporcionam encontros musicais naturais entre os povos que, separados pela geografia, compartilham a mesma origem.
O músico senegalês Mapathe Gaye, cujo nome artístico é Hampate, é um dos filhos da mãe África que veio ao Brasil fazer música e se encantar com o país do samba.
Em julho último, ele passou vinte dias no Brasil tocando e gravando com o gaitista Jefferson Gonçalves, sua banda e alguns convidados especiais: André Sampaio (da banda de reggae Ponto de Equilíbrio, que já gravou no Mali); o baixista Arthur Maia (que já gravou com o Gilberto Gil na Jamaica); o percussionista Laudir de Oliveira (que gravou com o Chicago, Michael Jackson, Joe Cocker, Santana, Sérgio Mendes, entre outros) e Geraldo Júnior. Copiando o próprio Hampate, um verdadeiro melting pot.
Segundo Jefferson, todos chegavam a sua casa e ficavam por lá tocando, cantando, gravando. O resultado foi material para fazer dois CDs. “Escolhemos dez músicas, mas sobrou pra fazer mais coisas. Foi rápido, fizemos em dez dias. A coisa fluiu como se nos conhecêssemos há anos. Acredito que em outubro ou novembro já esteja pronto. Gosto de dar um tempo pra limpar o ouvido”, diz Jefferson.
Essa história começou quando Hampate conheceu, através dos irmãos Guissé, músicos do Senegal, a embaixadora do Brasil em Dakar, Katia Gilaberte. Inicialmente Hampate viria para gravar apenas uma música e conhecer alguns músicos, fazer uma troca de experiências, mas acabou que os músicos se juntaram para viabilizar o projeto de gravar um CD.
Os irmãos já haviam convidado Jefferson e Kleber Dias a ir a Dakar em outras ocasiões. A primeira em 2008, quando participaram do Senegal Folk Festival. A segunda pelo projeto Raízes, para tocar no festival e participar de oficinas de dança, gaita e lutheria.
O projeto Raízes Brasil-África foi desenhado por Katia Gilaberte e Jefferson Gonçalves no Senegal em 2008 com o objetivo de levar artistas brasileiros à África. Deu certo, sem patrocínio, simplesmente por amor à arte. Todos os músicos participam sem ganhar cachê, pois conhecem a realidade do projeto.
Paralelo à visita de Hampate, Jefferson lançou seu mais recente trabalho, o álbum Encruzilhada Ao Vivo, um petardo com quatorze músicas e um DVD.
Um dia antes dessa entrevista, aconteceu o show de lançamento com a presença de Hampate no palco, já apresentando músicas inéditas do trabalho de ambos. A banda de Jefferson é Kleber Dias (voz, guitarra, bandolim e violões), Marco Arruda (percussão), Fabio Mesquita (baixo), Marco BZ (bateria e matalofone).  
Segue entrevista exclusiva com o jovem senegalês que carrega consigo toda uma tradição cultural e a sua consciência.



Eugênio Martins Júnior - Gostaria que falasse sobre a música do Senegal. Sei que Dakar tem uma cena pulsante.
Mapathe Gaye
– Sim, há muita música no Senegal. O maior ritmo que temos lá é o Mbala. Mas temos muito mais ritmos. Temos 252 correntes étnicas no país e cada uma delas tem a sua música, o seu ritmo. Meu pai e eu pertencemos a uma corrente étnica chamada Fula. É uma etnia nômade e pode ser encontrada em todo o continente africano. E a música Fula é o início do blues. O blues nasceu no oeste da África. O povo Fula está espalhado pelo Senegal, Nigéria, Mali, Guiné-Bissau, Mauritânia. Minha mãe pertence à etnia Lebo de pescadores que vivem perto de Dakar. Eu nasci no centro do Senegal, onde há a etnia Serer que é semelhante à Fula. A diferença é a língua. E cresci no norte do Senegal, região que pode ser considerada um verdadeiro caldeirão étnico. Lá você encontra os Fula, Bambara, Soninké e outras etnias. Tive a sorte de crescer entre tantas culturas.

EM – Você recebeu todas essas influências culturais?
MG –
Sim, você pode achá-las em minha música. Essa colaboração com o Jefferson vem em boa hora. Tenho aprendido muito em minha estada no Rio. Em minha opinião, o futuro da humanidade vai depender dessa troca entre artistas e intelectuais. A mundialização chegou à cultura e a evolução da humanidade depende disso. Amo a música que o Jefferson faz, ele é um grande artista. Ele toca blues com sotaque brasileiro, mas mesmo o blues que vem do Mississippi pertence à África ocidental. Os fulas tocam blues em forma de fifes and drums.

EM – Conheceu os ritmos brasileiros nesse pouco tempo em que esteve no país? Foi a alguma escola de samba?
MG –
Antes de vir ao Brasil o único ritmo que conhecia era o samba. Mas quando estive no estúdio aprendi sobre o maracatu e outros ritmos do nordeste.

EM – Esses ritmos têm a mesma origem do blues, são muito percussivos e remetem diretamente à África. Em seu entendimento, onde é que a música brasileira se encontra com a música do Senegal?
MG –
Está correto. Muitos dos ritmos que ouvimos aqui e que foram trazidos pelos escravos não mudaram muito desde a sua origem. Eles incorporaram alguns elementos, mas continuam basicamente os mesmos. Penso que os tambores do Sabar que vem do povo Serer são bem parecidos. O Sabar também é tocado pelos Wólof. Na minha etnia, o Fula, há o ritmo chamado Yela que também é muito parecido com os ritmos brasileiros. Agora, as melodias são muito diferentes.  A música africana ocidental tem muitas melodias e harmonias. Há muita melancolia também.


EM – Melancolia é um dos significados da palavra blues.
MG –
Sim. Vê, as coisas têm continuidade.

EM – Você está no Brasil em um momento em que o país vive um grande tumulto nas ruas, principalmente aí no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo o Brasil está realizando um grande campeonato de futebol que precede a Copa do Mundo. Como você vê vai descrever isso ao voltar ao seu país?
HS –
É parecido com o Senegal e outras partes do mundo. E fui muito afetado por essa situação. Compus uma música sobre isso chamada Rio Shadows. Ela fala sobre as pessoas que lutam por uma vida melhor, por educação, saúde e contra a corrupção.

MG – Você gravou essa canção com a banda do Jefferson Gonçalves? Quanto tempo está trabalhando nesse álbum?
HS –
Sim, estará no próximo disco. Cheguei ao Brasil há vinte dias e estou indo embora hoje. Gravamos vinte músicas, algumas eu conheci quando cheguei ao Rio e compus outras aqui. Tive apenas dez dias no estúdio. Foi muito difícil pra mim ter de me concentrar, pensar nos arranjos, nas técnicas, em aprender sobre os ritmos brasileiros. Mas estava entre grandes artistas, muito boas vibrações. Compus quase todas as músicas do álbum, uma delas tem a parceria do Jefferson e outra do Cleber Dias. E uma que canto com o André Muato (composta por Renato Frazão).


EM – Você andou pelas ruas do Rio de Janeiro. Conheceu as garotas?
MG –
Sim, as garotas são muito bonitas. (risos). Mas andei pelas ruas e senti a cidade e dei um apelido ao Rio: a cidade pendurada nas montanhas (the town hung on the montains), porque é onde muitas pessoas constroem as suas casas. Mas eu gostei. Andei por lá e achei as pessoas no Rio muito amigáveis.

EM – Na próxima vez que vier ao Brasil você deve conhecer São Paulo também.
MG –
Pretendemos fazer uma turnê quando lançarmos o CD. Quero conhecer São Paulo, o Nordeste e Brasília. Acho isso muito importante. Não tenho essa informação, mas talvez essa seja a primeira parceria entre um artista do Brasil e um do Senegal. Graças a iniciativa de Katia Gilaberte, embaixadora do Brasil em Dakar em 2009.

EM – Você viu o jogo da final do campeonato, Brasil e Espanha? O que achou?
MG –
Vi alguns momentos e torci pelo Brasil. Ganhei uma camisa da seleção (risos).


EM – Você está numa busca de ritmos diferentes. Onde o blues fica nessa história?
Jefferson Gonçalves –
Eu toco blues. Nunca toquei imitando o Sonny Boy Willianson, Sonny Terry, Willian Clarke ou Litte Walter. Isso é deles. Sempre pensei em fazer um som com a minha assinatura musical. E eu não escuto só blues na minha casa, escuto de tudo. Desde o começo procurei fazer o meu som, sair dessa coisa que todo mundo quer tocar em um microfone bullet, amplificador valvulado. Sempre procurei timbres e sonoridades diferentes.

EM – Já que tocou no assunto, que amplificador você usa?
JG –
Tenho um valvulado Serrano e uso um AR feito na Alemanha pra violão. Como faço um som limpo, ele me ajuda nos efeitos na gaita. Não toco igual a um saxofone, faço uma onda mais percussiva. Nas gravações coloco um microfone de ambiência pra pegar o som da gaita mesmo.




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Mais de 30 convidados participam do Festival Internacional Tarrafa Literária que começa na quarta-feira, dia 25, com show de Hamilton de Holanda. São 11 mesas com debates que irão discutir as principais tendências em literatura, jornalismo, ciência, história, futebol, entre outros temas

O show de abertura, às 20h, dia 25 de setembro, será de Hamilton de Holanda Trio no Teatro do Sesc Santos. Os ingressos devem ser retirados no dia do show na bilheteria da unidade à partir da 10h

Hamilton de Holanda Trio

Elizabeth Kantor, Gonçalo M. Tavares, Juan Pablo Villalobos, Antônio Prata, Marcelo Rubens Paiva, Antônio Geraldo Figueiredo Ferreira, Guto Lacaz, Francisco Daudt da Veiga e Xico Sá são alguns dos grandes nomes que estarão presentes na 5ª edição do Festival Internacional Tarrafa Literária. O encontro, marcado por debates e pela presença de escritores e leitores, acontece de 25 a 29 de setembro, no Teatro do Sesc Santos na noite de abertura, e no Teatro Guarany, em Santos, litoral de São Paulo (SP). A realização do evento é da Realejo Livros & Edições com a produção da High Up Produções e Mannish Boy Produções Artísticas
Considerado um dos destaques entre os festivais no Estado de São Paulo, a Tarrafa Literária terá 11 mesas de debates que irão discutir temas da atualidade e as principais tendências em literatura, jornalismo, ciência, história, futebol, entre outros assuntos. “A Tarrafa é uma oportunidade única para que os amantes da literatura façam um intercâmbio de histórias, ideias e experiências com grandes escritores nacionais e internacionais”, comenta José Luiz Tahan, idealizador e curador do festival. “A proximidade dos autores com o público e seus fãs é um atrativo à parte do evento que espera receber algo em torno de 5.000 pessoas esse ano”, completa Tahan. 
Com o objetivo de incentivar a leitura também para o público infantil, a programação do festival, assim como em suas outras edições, contará com a Tarrafinha, com atividades lúdicas e encenação de pequenas peças teatrais de clássicos da literatura.  “É um encontro de cultura e lazer para a família inteira”, explica Tahan.
O Festival Internacional Tarrafa Literária é totalmente gratuito. Para participar, é necessário chegar com 30 minutos de antecedência para retirar os ingressos na portaria do Teatro Guarany. O festival conta ainda com o incentivo cultural da Lei Rouanet e Ministério da Cultura, do Governo do Estado de São Paulo via Proac, correalização Sesc Santos, patrocínio da Sabesp e Petrobrás e apoio de Prefeitura de Santos e do Instituto Moreira Salles. A programação completa está disponível no site: http://www.tarrafaliteraria.com.br


Serviço 
Tarrafa Literária 2013
Data: 26 a 29 de setembro, a partir das 16h.
Local: Teatro Guarany - Praça dos Andradas, 10 - Centro de Santos - SP.
Entrada: Gratuita (os ingressos devem ser retirados com 30 minutos de antecedência na portaria do Teatro Guarany).
Mais informações: (13) 3289-4935 e http://www.tarrafaliteraria.com.br

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O furacão Trombone Shorty passou pelo Brasil e deixou um rastro de arte e alegria. Dia 10 de setembro sai Say That to Say This

Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos: Eugênio Martins Jr e Trombone Shorty Foundation 

Para quem não sabe, Treme é o lendário bairro de New Orleans de onde saíram grandes músicos. Troy Andrews é um deles. Também conhecido por Trombone Shorty, Andrews e o trompetista Kermit Rufins são, na minha modesta opinião, os grandes talentos que emergiram após a passagem do furacão Katrina por New Orleans, em 2005. 
Além deles, outros artistas locais também ganharam visibilidade mundial após aparecer em Treme, a série de televisão produzida pela HBO que está na quarta temporada, Wanda Rouzan, Donald Harrison, Soul Rebels, John Boutté, Jon Cleary e Steve Riley são alguns.
Andrews está um passo à frente. Juntou uma banda de jovens músicos roqueiros, a The Orleans Avenue - Tim McFatter (Saxofone), Pete Murano (guitarra), Mike Ballard (baixo) e Joey Peebles (bateria) – que mistura Red Hot Chili Peppers com Neville Brothers, Lenny Kravitz com James Brown, e isso faz toda a diferença. O público jovem adora.
Na velocidade de um furacão, Trombone Shorty tomou de assalto a cena da música pop dos Estados Unidos com dois trabalhos avassaladores, For True e Backatown.
É um dos músicos mais requisitados em festivais de jazz e blues por todo o mundo e recentemente esteve no Bourbon Street Fest, cuja 11° edição foi realizada em São Paulo.
Não pra variar, o Mannish Blog estava lá e faturou uma entrevista exclusiva com o astro da música pop do momento, onde ele fala sobre o novo trabalho, Say That To Say This.
Conta também como foi participar da série Treme, um relato ficcional, porém, dos mais fiéis, sobre as pessoas que tiveram de reconstruir suas casas, seu bairro e sua cultura após a passagem dramática do furacão Katrina por uma das cidades mais emblemáticas e folclóricas dos Estados Unidos.
Só para lembrar, em 29 de agosto de 2005 o furacão Katrina – assim chamado porque toda tempestade registrada nos anos ímpares leva nome de mulher – destruiu a costa dos Estados Unidos, atingindo os estados de Mississippi, Alabama, Flórida e Louisiana. Foi um dos mais devastadores a atingir a região do Golfo do México, causando mais de 1800 mortes e bilhões em prejuízos só na Louisiana.
New Orleans foi uma das cidades que mais sofreu com a tempestade. Rodeada por diques que se romperam, ficou 80% submersa e bairros inteiros desapareceram. A administração George Bush demorou reconhecer a tragédia e, quando o fez, o caos já havia se instalado na cidade.
Caso haja interesse sobre o assunto, o documentário em quatro capítulos produzido pela HBO e dirigido por Spike Lee, When The Leeves Broke, é o registro mais cru após a tragédia. Trouble The Water, também é um documentário que retrata o antes e o depois da tempestade.
Essa entrevista não teria sido possível sem a boa vontade da produção do Bourbon Street e Lucas Shows e Eventos. Agradeço a todos.


Eugênio Martins Júnior – Gostaria que você falasse sobre o novo trabalho, Say That to Say This?
Trombone Shorty –
O lançamento mundial é dia 10 de setembro. É um disco divertido, com muito funk, soul, rock R&B e um mix da música de New Orleans. Foi excitante fazê-lo. A produção é de Raphael Saadiq que passou muito tempo trabalhando nas músicas. Estou orgulhoso desse projeto.

EM – Como começou a parceria com Saadiq?
TS –
Eu cresci e frequentei escola aqui em New Orleans com metade de sua banda. Conheci-o há alguns anos por intermédio deles. Então quando estava com algum material pronto pra fazer esse disco achei que seria perfeito submeter o trabalho a ele, já que é um grande produtor e músico. É o tipo de coisa que sempre acontece na música. Esses encontros.


EM – Me parece que o título do novo disco é um jogo, uma brincadeira com as palavras, Say That, To Say This. Você poderia explicar o que significa?
TS –
Sim é verdade. É como se fosse uma forma de encurtar uma longa história. Em New Orlans podemos usar períodos longos para contar as histórias e às vezes parece que poderíamos encurtá-las. Podemos contar o máximo em menos tempo. Você pode usar períodos curtos que causam maior impacto.

EM – Você diz que o álbum novo é uma mistura entre Meters e James Brown. Podemos dizer que foi buscar inspiração da velha escola do funk pra fazer o novo som de New Orleans?
TS –
Sim, sempre amei os Meters. James Brown, Lenny Kravits, Earth, Wind e Fire, Michael Jackson, Stevie Wonder, são definitivamente as minhas inspirações. Minha e de muitos músicos. O rock and roll também.



EM – Você citou funk e rock and roll. E jazz tradicional? Você escuta?
TS –
Sim, em New Orleans (risos). Já toquei na banda de outras pessoas, Louis Armstrong e outros clássicos. Escuto em todos os lugares e é muito familiar pra mim, mas só toco em outras bandas. Tenho 28 anos e sou muito mais influenciado pelo funk, rock e rap, as coisas do meu tempo. Tento ser um músico que faça o jovem gostar da música que incorporamos, mas levando em conta o nosso tempo.   

EM – Treme, a série de televisão, mostra a cidade de New Orleans tentando se reerguer após o furacão Katrina. Como está a cidade hoje, oito anos após sua passagem?
TS –
A cidade está maravilhosa. Como você disse, já se passaram oito anos e a cidade voltou a crescer, os negócios estão indo bem, a cena musical continua vibrante, com jovens talentos e os músico mais velhos ajudando esses jovens. As coisas estão começando a voltar como era antes da passagem do Katrina. Você pode sentir as coisas voltando ao normal. 


EM – Você aparece muito nessa série. Como se a sua ascensão fosse uma analogia com a reconstrução da cidade. Você gostou da série? Ela retrata o que realmente aconteceu?
TS –
Sim, é bem autêntica. O principal objetivo de todos os filmes foi justamente buscar essa autenticidade. Eles foram à cidade e falaram com as pessoas reais. Não eram atores. Os roteiristas falavam com as pessoas nas comunidades. Convidavam as pessoas para ir aos sets de filmagens e ver se tudo estava correndo bem. A cultura da cidade está em todos os lugares em particular. As pessoas que estavam filmando ficavam mais confortáveis quando os nativos estavam por perto tirando as dúvidas. Isso foi uma grande coisa. Muitas pessoas trabalharam e ficaram muito felizes em colocar New Orleans de volta no mapa. Poder mostrar ao mundo que New Orleans não estava morta. Que continua a sua reconstrução.

EM – Sério?! A HBO pegou pessoas da comunidade para trabalhar na série?
TS –
Sim, da rua. Deram responsabilidade às pessoas em Treme, na minha vizinhança. E também em outras mais. Elas davam as instruções para as pessoas que jamais haviam sido filmadas, ou atuado, ou qualquer outra coisa relativa ao cinema. Justamente pra pegar a coisa real. Estou muito orgulhoso de ter feito parte disso.

   
   
EM – Falamos sobre a cidade, mas o que você pode dizer sobre a cena musical em particular?
TS –
A cena musical está legal. Afortunadamente e desafortunadamente eu viajo muito. Então não estou lá o quanto gostaria e costumava estar. Tenho visto as pessoas indo bem. Há o Soul Rebels, que também estão tocando aqui; a New Birth Bras Band. Parece que estão indo bem. O pouco tempo que passo na cidade é com a minha família e amigos e não consigo saber o que se passa na cena. Mas fico feliz de as coisas estarem acontecendo, novos sons estão sendo gerados, você sabe, é mais trabalho para mais pessoas.

EM – Toda essa confusão em New Orleans, a passagem do furacão e o que veio depois afetou sua música de alguma forma?
TS –
Não, nada. Não escrevi nenhuma música triste sobre isso.


EM – O que é a fundação Trombone Shorty?
TS –
É uma coisa que eu criei para ajudar as crianças da cidade através da música. Temos uma parceria com uma universidade para ensiná-los nossa música. É uma forma de poder ajudar a minha comunidade. As crianças me procuravam e procuravam outros músicos, essa é a forma que encontramos de passar algum conhecimento sobre a teoria, o mundo dos negócios, a cultura. Procuramos dar alguma atividade para que não se percam. Eles são interessados, gostam de música, mas ainda podem ser perder nas ruas. Então, queremos resgatar essas vidas através da música. Deixá-los felizes. Mostrar que eles podem ter talento para fazer o que quiser. Caso queiram seguir uma carreira na música ou o que quer que queiram ser.

EM – Você ministra lições a esses jovens?
TS –
Quando estou na cidade sim, dou lições a eles e ajudo como posso. Temos professores que fazem isso, mas tento ajudar. Às vezes são eles que me ensinam.

EM – É uma troca.
TS –
Sim e isso é muito bom. (risos)



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Editora Sereia Ca(n)tadora lança livros de autores peruanos e reforça intercâmbio cultural


Texto e fotos: Alessandro Atanes

Nessa quinta-feira, dia 5 de setembro, a partir das 19 horas, em solenidade no Teatro Municipal, a editora artesanal Sereia Ca(n)tadora lança mais três obras de seu catálogo de escritores latino-americanos: "Ao nosso pai criador Túpac Amaru", de José María Arguedas, e "Duas Tradições Peruanas", de Ricardo Palma, ambos traduzidos por Ademir Demarchi, e "Espinhos do Porco-Espinho", de Óscar Limache, com tradução de Alessandro Atanes. O evento faz parte da Semana Peruana, que acontece em Santos até o dia 5, com consulado itinerante e irmanamento com a cidade portuária de Callao.
A abertura da noite é com a exposição fotográfica “El Corazón del Puerto”, com 29 fotos expostas de autoria do fotógrafo José Chuquiure (a exposição permanece de 5 a 12 de setembro), seguida por apresentação de músicas e danças peruanas.
Além dos lançamentos, Demarchi e Atanes apresentam os livros que vem sendo traduzidos e publicados desde 2010 quanto teve início um processo de trocas literárias entre Santos e poetas e intelectuais peruanos, entre os quais os lançamentos de autores santistas em agosto durante a Feira Internacional do Livro de Lima, pela editora Amotape, em edições bilíngues de “Passeios na Floresta”, de Demarchi, e "51 mendicantos", de Paulo de Toledo, traduzidos por Limache, e de “Voo de Identidade”, do poeta peruano, traduzido por Atanes.
A noite acaba com o Pisco de Honra: Drinks à base de Pisco e coquetel peruano, um oferecimento do Consulado peruano em SP.

As traduções - O trabalho de Demarchi sobre Ricardo Palma foi premiado pelo Governo do Estado de São Paulo através do ProAc. O peruano Ricardo Palma é um importante autor que reinterpretou a cultura peruana após a colonização espanhola, recontando histórias com um humor refinado que lembra o de Machado de Assis, seu contemporâneo.
A outra tradução de Demarchi é uma reunião de poemas do escritor José María Arguedas, conhecido no Brasil por seus romances que retratam a vida dos índios peruanos e seus embates com o povo espanhol que colonizou o país. Esse conjunto de poemas de Arguedas faz parte de outro projeto que está sendo feito entre brasileiros e peruanos, coordenados por Ademir Demarchi e Óscar Limache, de traduzir 11 brasileiros e 11 peruanos, formando uma seleção poética para ser lançada no ano da Copa do Mundo, ano que vem.
Já os "Espinhos do Porco-espinho" é uma antologia de poemas que fazem parte do livro "Viaje a la lengua del puercoespín", em tradução por Atanes.
História - O projeto de diálogo com os peruanos tem rendido vários livros: o selo Sereia foi inaugurado em 2010 com o livro Voo de Identidade, traduzido por Alessandro Atanes, de autoria do poeta Óscar Limache, que inaugurou a coleção latino-americana da Sereia. Ademir Demarchi, o editor, já publicou também os livros dos peruanos Javier Heraud (Viagem Imaginária & À espera do outono, traduzidos por Alessandro Atanes), Victoria Guerrero (Berlim) e Felipe Mendoza (As Palavras do Rímac), ambos traduzidos por Demarchi. 

Óscar Limache em Santos em 2010

Diplomacia cultural - Joseph Nye, assessor para defesa e diplomacia de Joseph Carter e Bill Clinton, dois governantes dos Estados Unidos (1977-1981 e 1993-2001), vem falando em suas entrevistas sobre uma nova diplomacia, aquela que vem sendo feita também por grupos de interesse e afinidades e pelas próprias populações dos países. Ele disse o seguinte em uma entrevista à um jornal de circulação nacional em 2011: "A diplomacia agora é feita entre governos e populações em diferentes países, ou mesmo entre as populações em si. Isso amplia muito o contexto dentro do qual os países se relacionam. Estamos chegamos a um nível muito mais complexo de diplomacia".
Este episódio das traduções revela que o intercâmbio internacional não ocorre na cidade só em eventos de grande escala, como no próprio irmanamento de cidades, ou Festival Mirada, importantíssimo com a diversidade de espetáculos e discussões sobre o teatro latino-americano, ou, pelo lado do mercado, a Tarrafa Literária e os convidados da temporada editorial.
Ele também é muito fértil quando ocorre no dia-a-dia, diretamente entre as pessoas que criam relações e compartilham ideias, visões de mundo, técnicas criativas e táticas de resistência, exatamente como o pensador françês Michel de Certeau descreve em "A invenção do cotidiano. Volume 1 Artes do Fazer".
Santos cultiva uma tradição cosmopolita (Neruda, Bishop e Kipling, entre outros, escreveram sobre chegar a esta esquina do mundo), e talvez deste cultivo tenha agora a cidade, seus poetas e intelectuais condições de exercer esse papel na nova diplomacia entre os países do mundo.


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os melhores de 2012/13 segundo a Living Blues Magazine


Como em todos os anos, a Living Blues Magazine, uma das mais conceituadas do mundo do blues, promove uma votação entre seus críticos, jornalistas e leitores para saber quais as suas preferências musicais.
Claro, muitos vão dizer, música não é competição, olimpíada é competição. E todos nós concordaremos. Mas não se trata disso. Quem conhece a linha editorial da Living Blues sabe que a revista, editada pelo núcleo de estudos sulistas da universidade do Mississippi, se dedica primeiramente a divulgar o estilo musical centenário, dando visibilidade aos novos talentos e não deixando os mais velhos cair no esquecimento.
Portanto, em sua 20° edição, o Living Blues Awards é o reconhecimento ao trabalho incansável dos artistas e uma afirmação de amor ao gênero. 

Lista da crítica

Artista de blues do ano (Homem)
Lurrie Bell

Artista de blues do ano (Mulher)
Ruthie Foster

Cantor mais admirado    
Bobby Bland

Guitarrista mais admirado
Lurrie Bell

Gaitista mais admirado
Billy Boy Arnold

Tecladista mais admirado
Ironing Board Sam

Baixista mais admirado
Bob Stroger

Baterista mais admirado
Kenny Smith

Sopro mais adimirado
Eddie Shaw

Músico mais admirado
Dom Flemons - Banjo

Melhor performance ao vivo
Lil’ Ed and the Blues Imperials

O retorno do ano
Jewel Brown and Milton Hopkins

Artista revelação
Blind Boy Paxton

Melhores álbuns de 2012
Álbum do ano
Mud Morganfield – Son of the Seventh Son – Severn Records

Lançamento de blues contemporâneo
Joe Louis Walker – Hellfire – Alligator Records

Lançamento/Soul sulista
Barbara Carr – Keep the Fire Burning – Catfood Records

Lançamento/ Melhor estréia
Heritage Blues Orchestra – And Still I Rise - Raisin Music

Lançamento/ Tradicional e acústico
Carolina Chocolate Drops – Leaving Eden – Nonesuch Records

Relançamento Pré-Guerra
Vários Artistas – The Return of the Stuff That Dreams Are Made Of - Yazoo Records

Relançamento Pós-Guerra
Varios Artistas – Plug It In! Turn It Up! A History of Electric Blues – Bear Family Records

Livro de blues do ano
Ernie K-Doe: The Emperor of New Orleans – Ben Sandmel – The Historic New Orleans Collection

Produtor do ano – Lançamento
Larry Skoller - Heritage Blues Orchestra – And Still I Rise - Raisin Music

Produdor do ano – Lançamento
Bill Dahl - Plug It In! Turn It Up! A History of Electric Blues – Bear Family Records

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Lista dos leitores

Artista de blues do ano (Homem)
Buddy Guy

Artista de blues do ano (Mulher)
Janiva Magness

Cantor mais admirado
Buddy Guy

Guitarrista mais admirado
Robert Cray

Gaitista mais admirado
Charlie Musselwhite

Tecladista mais admirado
Marcia Ball

Melhor performance ao vivo
Lil’ Ed and the Blues Imperials

Melhor album de 2012 (Lançamento)
Buddy Guy – Live at Legends – RCA/Silvertone

Melhor ábum de 2012 (Gravação histórica)
Albert King – I’ll Play the Blues for You – Stax Records

Melhor DVD de blues de 2012
Muddy Waters and the Rolling Stones – Checkerboard Lounge Live Chicago 1981 – Eagle Vision

Melhor livro de blues de 2012
When I Left Home: My Story – Buddy Guy and David Ritz – Da Capo Press

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Gaitista brasileiro Alex Rossi lança na Europa CD com músicas de Tom Jobim

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Divulgação e internet

A probabilidade de uma pessoa crescer ao lado de uma fábrica de instrumentos musicais é pequena. A probabilidade de crescer ao lado de uma fábrica de instrumentos musicais e poder atravessar suas dependências todos os dias é remota. Agora, a probabilidade de crescer ao lado de uma fábrica de instrumentos musicais e poder atravessar todos os dias as instalações, ouvindo a afinação dos instrumentos e ser adotado pelas pessoas que trabalham lá é quase impossível.
Alex Rossi é um dos sujeitos mais sortudos da música brasileira. Nasceu em Blumenau, ao lado da Hering Harmônicas, a única fábrica de gaitas do Brasil e uma das poucas do mundo. Cresceu aprendendo tudo sobre gaita com os caras que construíam e afinavam os instrumentos.
Ele mesmo se considera um chato. Diz que ficava enchendo os funcionários da fábrica sugando tudo o que é informação.
O processo deu resultado. Atualmente morando na Europa, baseado na Bélgica, é músico versátil e sem preconceito, pois transita no blues e na música brasileira.
Acaba de lançar com seu quarteto – Thomas Nobels (piano), Breno Virícimo (baixo), e Luis Matus (bateria) – um CD com músicas de Tom Jobim. São dez temas com participação de Maurício Einhorn e Ludovic Beier.



Eugênio Martins Júnior – Você começou na harmônica porque tinha uma fábrica de instrumento bem no meio do caminho?
Alex Rossi –
Acho que sou um dos poucos que teve contato com um instrumento desde pequeno. Em Blumenau tem um rio no meio da cidade que enche de vez em quando e eu morava em um lado do rio e minha escola e a casa da minha avó ficavam do outro lado. A ponte que unia os dois lados era dentro da fábrica Hering. A gente saia da ponte e dava de cara com uma parede onde estava escrito “Fábrica de instrumentos e brinquedos musicais Hering”. Para chegar a escola eu passava pelo meio da fábrica e ouvia os caras afinando algum instrumento, talvez harmônica ou acordeom. Então desde guri passei a frequentar a fábrica, chato pra caramba. Ia lá e pedia aos caras pra ficar apertando os parafusos, não pedi emprego, só pra ficar por lá olhando e eles deixaram. Só falaram pra eu não atrapalhar. Às vezes ia às cinco da manhã, quando a fábrica abria, às vezes ia mais tarde.

EM – E você ia entrando sem ser barrado?
AR –
Entrava e o dono nem via. Fui conhecê-lo anos depois. Eu sentava do lado do velhinho que afinava e ele me ensinava:”Ó tá mais baixo”. Aí aprendi sobre afinação. Um dia sentava do lado do outro cara que fazia as cromáticas, aprendi a limpar as gaitas. Fiz um estágio não autorizado, ia por que os caras me conheciam. Pô, eles trabalhavam lá desde os 13 anos de idade e já estavam com quase 80. Eu podia estar jogando bola, mas acho que os velhinhos se sentiam honrados de ter um jovem ali. Aprendi como se constrói gaita, como se conserta, afina. O curioso é que ninguém sabia tocar, imagina, o cara via gaita o dia inteiro e nem queria saber quando saia dali. Eu não consegui ninguém pra me ensinar, mas tinha uns livros lá e eu já aprendia saxofone na prefeitura, então juntei tudo.  Mas sempre estive envolvido com música, tocava na fanfarra da escola, minha bisavó e meu tio tocavam acordeom. Às vezes pegava o violão de um primo e arranhava umas coisas, sabe? E depois descobri que a minha avó trabalhou na Hering. Ela colava as válvulas das cromáticas. Estudei na mesma escola toda a minha infância e passava na fábrica todos os dias. Depois de anos fui conhecer o dono. Antes disso os caras já me davam umas gaitas. O fato é que eu era um cara muito chato. Aí conheci um cara que se chama Mario Guise, que era engenheiro e sacava de música, fui na casa dele que era longe, mas ele não me atendeu. O filho dele que ficou com pena de mim me atendeu e me ajudou muito. Ele também trabalhou na Hering e fez um estágio na Hohner, em 1974. Ele era músico, um ouvido perfeito, era engenheiro e sabia muito de gaita. Ele me mostrou uns parâmetros de afinação. Aprendi afinar com os velhinhos, mas o porquê da coisa, a matemática, a física do instrumento aprendi com o Rubens Guise.

EM – Como foi a passagem dessa primeira fase para a próxima, começar a tocar?
AR –
Tinha uns 12 anos. Comecei com a diatônica e depois passei pra cromática, mas não levava a sério. A cromática é mais difícil. Tocava saxofone lá em Blumenau, na Oktober Fest e tal e comecei a juntar as notas do sax com aquelas do livrinho de gaita e fui vendo como esse negócio funciona, sou autodidata. Então, começaram me chamar pra tocar aqui e ali e eu grudei na gaita e não parei. Conheci o Maurício Einhorn em um festival de jazz que tinha umas palestras, não conhecia ninguém e não sabia nada. O Maurício me deu o telefone do Flávio Guimarães e coitado dele. Esse cara sofreu porque eu era um pentelho profissional. Mas estava a fim de aprender e naquela época ninguém tinha discos de blues. Ainda mais lá em Blumenau. No Rio Grande do Sul era diferente, porque tinha contato com Buenos Aires, cujos músicos sempre tiveram contato com os Estados Unidos e Europa. Então alguém me deu uma fita com um som que eu tentava reproduzir, mas tocava aquele negócio errado. E falaram pra mim que era a gaita errada aí eu fui ver como era. Logo conheci o Benevides (Benê Chireia), o Ronald (da Gaita), o Ulisses (Cazallas), cada um mostrando uma coisa, pegava uns exercícios, nunca tive uma aula. Lembro uma vez que encontrei o Benê e ele me mostrou a escala de blues e eu fiquei tocando esse treco milhões de anos. Comecei a tocar com uns caras e quando vi estava abrindo um show do Hermeto Pascoal. E eu nem sabia quem era o Hermeto. Aconteceram várias dessas, se eu soubesse quem era não tinha rolado. Foi meio cair de para quedas. Fui a Secretaria de Cultura perguntar como poderia participar em um festival que ia acontecer e me mandaram levar uma demo. Aí a gente arrumou um estúdio e gravamos um negócio ao vivo e os caras da prefeitura nos contrataram. Eu disse que a gente ia abrir para o Hermeto Pascoal e o guitarrista: “O queeee?!”. Outro dia encontrei o Hermeto e contei essa história pra ele. Nesse festival fiz um monte de contatos, o Luiz Bueno, do Duofel, e foi legal porque foi em um teatro e éramos a banda local. 



EM – Você foi parar lá no Texas e chegou a tocar com Smokin’ Joe Kubek, Curly “Barefoot” Miller, Hubert Sumlin, Magic Slim, Joshua Redman, Susan Tedeschi, David “Honeyboy” Edwards, Phil Guy. Como isso aconteceu?
AR –
Conheci um cara que me ajuda muito, o Richard Chalk, que é o boss da Top Cat Records. Nessa época morava em Rio Grande do Sul e tocava todos os dias em Porto Alegre. Aí o Solon (Fishbone) que me chamava pra tocar direto, conheceu o Richard que veio ao Brasil e eu disse que ia aos Estados Unidos, mas ia para Chicago. Então o Richard disse pra eu passar n o Texas. Dois dias antes de ir, liguei e ele que confirmou o convite. Acabei ficando por um ano.


EM – Espera aí. Você ficou um ano na casa dele?! O que você ficou fazendo lá?
AR –
Eu tocava e entregava pizza. Em 1998 Dallas era melhor que Austin e eu tocava todos os dias em jam sessions ou nas gigs. Eu mal falava inglês, o cara falava shuffle in D, eu sabia que era shuffle em RÉ, mas o Richard falava espanhol. Eu entendia que era slow, que era shuffle e os tons das músicas. Nessa de tocar e ver o negrões tocar todos os dias comecei a ficar amigo deles. Você tem de cavar, os caras estavam tocando sozinhos eu aparecia e eles me chamavam. O lance com a Susan Tedeschi foi por acaso, fui tocar em um teatro e tinha uma mina tocando e eu não sabia quem era e a minha sorte é que o cara do som era mexicano. Liguei a gaita, passei o som e estava tudo bem e a mina veio falar comigo que havia gostado. Fiquei por ali até a hora do show sem ensaio nem nada. Na hora do show ela olhava pra mim com cara de quem estava curtindo. Quando voltei pra casa o Richard me perguntou como havia sido e eu falei que havia tocado com a namorada do Shawn Pittman, um guitarrista fodão lá do Texas, e ele disse que eu havia tocado com a Susan Tedeschi. Excursionei com os caras, gravei discos, Dallas fez a diferença.

EM – Quanto tempo você ficou por lá?
AR –
Fiquei um ano. O Richard tinha uma casa grande eu não tinha muita grana. Eu comecei a dar uma organizada na garagem, no quintal, a casa tinha uma piscina grande que estava verde, cheia de sujeira. Ele teve de viajar, um mês pra gravar, sei lá, e quando ele voltou a casa estava um luxo. Aí o cara se empolgou e colocou um filtro novo na piscina. Mas eu estava sem grana e havia um batera que tinha uma loja de carros usados na esquina onde o T Bone Walker morava e também perto de onde morava o cara que matou o Kennedy (Lee Harvey Osvald) e também era o mesmo bairro que o Stevie Ray Vaughan nasceu, a mãe dele ainda mora lá. E todos os dias tinham coisa pra fazer. Domingo ia a uma jam de blues onde pintavam o Smokin’ Joe Kubek, Sam Myers, uns caras fortes. Era assim, os mais ruinzinhos tocavam no começo e os melhores tocavam no final pra segurar a galera. Chegou uma época que eu estava tocando no final com todos esses caras que você citou aí.

EM - Você morou nos Estados Unidos e veio ao Brasil visitar sua família e depois foi barrado quando quis voltar? É isso?
AR –
Sim, não me deixaram entrar. Naquele tempo eram só três meses de visto. Eu fui para os Estados Unidos com trezentos dólares, sendo que duzentos não eram meus. Eram das pessoas que me pediam pra comprar umas gaitas, microfones (risos). E outra, a passagem também não paguei, fui tocar no Chile e conheci uma mina que trabalhava na American Airlines e ela me descolou uma passagem. Começaram a rolar umas gigs bacanas lá nos Estados Unidos e eu não queria ficar ilegal, então pensei em voltar ao Brasil e pra dar um tempo e depois voltar. Eu voltei e chegando lá não me deixaram entrar, me mandaram de volta. E minha vida já estava estabelecida lá, estava trabalhando direto. Toquei com os irmãos Moeller (Jay e Johnny, Fabulous Thunderbirds), Kim Wilson, Gary Primich.

EM - Depois disso, de toda essa trajetória no blues, tocando gaita diatônica, passou para a cromática? Quando decidiu fazer a mudança e porque? Pra abrir mais portas nos EUA?
AR –
Sempre toquei gaita cromática e saxofone que é um instrumento cromático. Meu pai ouvia muito chorinho, músicas de filmes, música clássica e minha mãe Elvis Presley e Beatles. O que aconteceu é que a diatônica começou a pagar as minhas contas, tinha mais entrada nas bandas de rock, country. Mas sempre estudei a cromática. O Ronald Silva pra mim é um dos melhores do mundo. A cromática não é fácil, tem de praticar todos os dias. Mas você está certo. Não gosto muito desse negócio no Brasil de “circuito blues”. O que eu toco melhor na harmônica é o blues, mas antes de tudo eu sou músico. Agora mesmo quando você me ligou estava tocando para uma cantora holandesa que está gravando na Bélgica. Estava em dúvida em usar a diatônica ou cromática, mas acabei usando a diatônica porque estava mais no clima do som. A gente tem de fazer o que a música pede.


EM – É que tem uns caras aqui no Brasil que ficam nessa: “Meu som é de Chicago”, e criticam os outros músicos que não fazem o mesmo som. Isso é uma tremenda besteira.
AR –
Cara, eu também acho isso chato. Morei nos Estados Unidos, toquei com os negrões lá. Fiz turnê com John Primer e com outros caras. O que eu sei tocar bem é Chicago Blues, mas não sou um cara lento. Sou músico, tenho de pagar as minhas contas.

EM - Como Nasceu a ideia de gravar essa homenagem ao Tom? E como foi a escolha do repertório?
AR –
Antes de te responder, você conhece o disco que eu gravei com o Greg Wilson? É um trabalho que eu acho bem bacana e pouca gente conhece. Vou te mandar. Bom, em 2007 fui morar em Buenos Aires, mas um pouco antes estudei a harmonia da cromática. E Tom Jobim é difícil pra caramba. Estou contente com o resultado. Não sou jazzista, mas gosto de música boa. Tentei fazer um trabalho que tem uma proposta, um projeto novo. Mas também não vejo como uma homenagem, um tributo. Li várias entrevistas, livros, tentei entender o jeito que ele pensava. Acabei descobrindo que ele tocava cromática. Ele tinha um grupinho de cromática quando era guri. Não foi uma decisão da noite pro dia.

EM - Como foi a participação do Maurício Einhorn?
AR –
O Oscar Castro Neves e o Ludovic Beier também participaram. O Maurício gravou um solo em Wave. Conheci o Maurício quando tinha dezesseis anos ou um pouquinho menos. Ele sempre foi legal comigo, ligava pra minha família perguntando como eu estava ou pra dar um alô. Às vezes pra saber o que eu estava fazendo. Ano passado arrumei de gravar a trilha sonora de um filme aqui com a Isabela Rosselini, legal o tema principal na gaita, ficou bem bacana. Ele é um grande fã dela e da mãe dela...

EM – Mas quem não é?
AR –
Pois é, gravei um disco em estúdio, mas algumas gaitas botei depois, entendeu? Pensei em convidar o Maurício, mas sei que ele é um cara de personalidade, sei lá, não custava tentar.  Perguntei quanto é que ele cobrava pra gravar e tal. E foi super legal, gravou de primeira. Isso foi inacreditável, porque ele não faz isso por qualquer um. Vou te contar uma história. Eu trabalhava em uma fábrica e em um dia que saí pra tocar, ganhei mais do que ganhava em um mês inteiro. Quando conheci o Maurício ele me disse um negócio forte: “Cara, vai estudar pra ser médico. Vai tocar gaita, mas como hobby. Se você ama esse negócio faça bem feito”.



EM – Como foi a história com o Toots Thielemans?
AR –
Estava na Argentina quando lancei o primeiro disco pela Top Cat e apareceu a oportunidade de ir para a Polônia. Me trataram super bem lá e enchi o bolso de dinheiro. Aí vim parar na Bélgica. Vim pra cá em 2008, duas semanas de sair da Polônia. Cara eu cheguei aqui e lembrei que o Toots Thielemans é belga. Mas pensei que ele estava nos Estados Unidos faz tempo, mas de repente estava em turnê por ali. Não é que em 20 dias tinha um show dele e que já estava morando na Bélgica de novo...

EM – Mas tem que ter sorte também, hein?
AR –
A Bélgica não estava nos meus planos, depois da Polônia ia para Amsterdã, Paris, mas o que eu queria mesmo era ir para o sul da França. Eu sabia que tinha um festival lá. Mas o cara da gravadora falou pra eu ir para a Antuérpia e que lá tem um bar onde todos os caras de Dallas haviam tocado. Fiquei num hostel e o dono ligou pra o empresário do Toots e marcou um encontro, mas nesse dia ele estava mal no hospital e não virou. Mas ele tinha shows marcados e não cancelou e eu fui em um  e fiquei na porta do camarim. Acabei que consegui entrar e tirar umas fotos com o velho. Foi emocionante. De lá pra cá assisti uns trinta shows dele. Fiquei tão conhecido do Toots e do manager que nem pagava mais ingresso. Nessa época já estava estudando mais a cromática e ver seu show era a melhor aula que alguém poderia ter.

EM – A Harmônica é um instrumento que tem crescido e aparecido no Brasil. Você acompanha esse cenário?
AR –
Não muito, ouço o que as pessoas me falam. Acho que é muito fácil o cara soprar uma gaitinha e fazer uma gig. O cara traz um músico estrangeiro e ele toca, né? Tem de viver, tem de pagar as contas, então ele faz. Acho que precisa respeitar um pouco mais. Mas têm uns caras que eu respeito pra cacete, o Gabriel Grossi é um dos maiores gaitistas do mundo. Acho que o Ivan Márcio tem um som bom. O Flávio não tenho nem comentários.

EM – Volta para o Brasil?
AR –
Acho que vou ficar por aqui. Quero ir ao Brasil tocar. Tenho um disco com o Greg Wilson que foi gravado ao vivo e ficou com um som muito bom. Estou a fim de trabalhar ele no Brasil.