quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Desejo que os carnavais de Santos sejam como antigamente, diz Pepeu Gomes


Essa entrevista foi publicada originalmente no dia 27 de novembro de 2004, em um jornal semanal de Santos, onde trabalhei por alguns anos. Aconteceu pouco antes de Pepeu Gomes subir ao palco do Sesc para comemorar o Aniversário do Projeto Arte no Dique.
Foi a minha primeira conversa com um musico de peso. Passados cinco anos, muitas outras entrevistas aconteceram. Acabei me tornando produtor e tendo acesso aos artistas que vinham se apresentar em Santos. Ocasiões especiais, as quais tive o tempo e a liberdade para perguntar o que bem entendi.




Músico conhecido internacionalmente por ter forjado um estilo prórpio, o guitarrista Pepeu Gomes emprestou seu prestígio ao projeto Arte no Dique. Convidado por Zé Virgílio, responsável pelo projeto e seu amigo há trinta anos, Pepeu fez um show totalmente acústico acompanhado pelo guitarrista Ricardinho, de sua banda atual.
Em clima intimista, o músico tocou as clássicas Mil e Uma Noites de Amor, Masculino e Feminino, Garota Dourada, E Foi Assim, Preta Pretinha e Blues Midnight.
Com 52 anos, no segundo casamento, pai de seis filhos (com o sétimo a caminho), 37 discos gravados e consciente do papel de um artista na sociedade, elogiou iniciativas sociais como o Arte no Dique, o governo Lula e o ministro da cultura Gilberto Gil e, claro, falou sobre música. Esses são os principais momentos da entrevistas.

Arte no Dique
Sempre fui uma pessoa politizada, cultural e socialmente. Quando o Zé Virgílio, que é meu amigo há trinta anos, me convidou para conhecer o projeto eu aceitei na hora, pois sabia dessa importância. Além disso, eu tenho uma afinidade muito grande com Santos, estive aqui em 93 e 94, participando dos carnavais. Aliás, um desejo que eu e o Zé temos, é que os carnavais de Santos sejam como antigamente, soa que agora misturando a música baiana do Arte no Dique com o samba santista.

Governo Lula
Estou muito confiante no futuro do Brasil, país riquíssimo em todos os aspectos. Não podemos esquecer que ele pegou o país em uma situação muito difícil e juntar todos os cacos levará algum tempo. Sua eleição foi uma ruptura com toda a história, e digo isso nem tanto pelo que o Lula é, mas pelo que ele representa, um governo popular. Só o fato de o Ministério da Cultura ter liberado verba para projetos feitos por pessoas humildes como o Arte no Dique já sinaliza que está no caminho certo.

Música Instrumental
Considero o choro o jazz brasileiro, mas o Brasil não tem uma cultura de música instrumental como nos Estados Unidos, que tem um público mais segmentado. Na cabeça dos caras da indústria musical brasileira, a música instrumental não dá retorno imediato. É preciso criar uma cultura. É preciso criar uma cultura, então, preferem investir nos conjuntos “boquinha na garrafa”. Mas parece que, de uns tempos para cá, o Brasil está mais aberto para esse gênero. O músico brasileiro é respeitado no mundo inteiro, porque não será respeitado no Brasil? O Arte no Dique leva a tradição, os melhores percussionistas do mundo são brasileiros.

Jimi Hendrix
Com o Eric Clapton, é minha maior influência. Foi o guitarrista mais criativo que existiu. Se quebrasse uma corda de sua guitarra enquanto estivesse tocando, aquilo não se transformava em dificuldade, mas em um estímulo a mais para sua criatividade. Os digitadores de hoje em dia não acrescentam nada à música, porque a técnica tem de vir aliada ao sentimento. Esses caras deveriam estar nas olimpíadas, porque o que eles fazem não é música. Eu costumo dizer em meus workshops para a garotada achar o próprio jeito de tocar e não tentar imitar o estilo de outra pessoa, que não vai soar legal.

Imprensa
Veja, tenho contato com jornalistas de todo o mundo, estou sempre bem informado e acho que a imprensa no Brasil precisa apoiar mais as causas sociais. Em termos de música, também vejo muitas deficiências. Antigamente, jornalistas especializados em música eram estudiosos, alguns eram músicos e a maioria conhecia a história da música brasileira. O jornalista tem uma responsabilidade social muito grande, maior do que os artistas, jornalistas são formadores de opinião.

Pirataria
Boa parte da culpa de toda essa pirataria é dos próprios músicos. Se eu quiser gravar um CD por uma grande gravadora hoje, eu vou gastar 50 mil dólares, mais divulgação e distribuição, o que eleva o preço do CD para 30 ou 40 reais. Então, faz independente.

Bahia
A Bahia é uma terra maravilhosa, mas para quem quer ser um cidadão do mundo como eu, que sempre tive um espírito inquieto, acaba ficando um lugar pequeno. Estou baseado (sem trocadilho) no Rio há trinta anos, mas, devez em quando, visito os amigos e vou ao carnaval baiano.

Planos para 2005
Em janeiro começo uma excursão pelo Brasil com uma banda com 11 músicos: baixo, bateria, percussão, metais para divulgar os novos CD e DVD, que conta com a participação de Zélia Duncan, Gilberto Gil, Armandinho, Jorge Vercilo e SNZ. Também vou produzir o show do meu irmão, Jorginho Gomes, que é um músico experiente e que já passou da hora de se lançar em carreira solo.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Pedro Mariano solta o verbo


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Marcos Rodrigues

O cantor e instrumentista Pedro Mariano acaba de lançar Incondicional, o sétimo álbum de sua carreira solo. O trabalho é muito bem produzido e conta com músicos que já o acompanham na estrada por algum tempo, entre eles, Junior Vargas (bateria), Leandro Matsumoto (baixo), Conrado Goys (guitarras e violões) e Marcelo Elias (teclados).
Além de seu fiel parceiro Jair Oliveira, com Colorida e Bela e Memória Falha, o time de compositores conta com Frejat, George Israel e Mauro Santa Cecília (Três Moedas), Marcos Valle e Lulu Santos (Próxima Atração), Jorge Vercillo (Quase Amor) e muitos outros.
Incondicional traz 14 faixas românticas e dançantes que podem ser ouvidas em tardes ensolaradas, prova que o artista está, pelo menos artisticamente, de bem com a vida. Digo pelo menos, porque Pedro Mariano não foge das polêmicas. Ele baixa a lenha no governo, nas companhias aéreas, nas gravadoras e nos jornalistas que vivem enchendo o seu saco com a seguinte pergunta: “Quando você e a Maria Rita vão trabalhar juntos?”
A seguir você confere a íntegra de uma entrevista exclusiva para o Mannish Blog concedida no dia das mães, ocasião da apresentação de Mariano no Sesc Santos.

Eugênio Martins Júnior: Qual é o cuidado que você tem quando pega uma música que já foi gravada por outro artista?
Pedro Mariano: Quando escolho uma música pra cantar, dependendo da fonte que originou isso, pode tomar vários caminhos diferentes. Às vezes ouvi a música de um interprete ou compositor com tudo pronto e fiquei apaixonado. O ideal nesse momento é achar uma coisa por outro caminho, uma coisa original, feita pra você, sobre o seu ponto de vista. Às Vezes a versão que você ouviu é bonita do jeito que está e o que você pode fazer é modificar o mínimo, como uma homenagem a eela. Mas às vezes a música chega pra mim com violão e voz. Aí parto do zero porque a hora que ouço a música vejo vários caminhos. Quando você regrava uma música que já é conhecida, e não precisa ser um sucesso, o ideal é que tome um caminho totalmente diferente. Partindo do principio que pra fazer igual eu fico com a original.

EM: Esse time de músicos já te acompanha há algum tempo. Fale um pouco sobre ele.
PM: Todo interprete tem sempre de estar acompanhado de bons músicos, e quando falo bons músicos não é necessariamente um cara que toque bem. Isso pra mim isso é premissa e não um ponto a favor. O cara pra tocar comigo tem de ser bom músico acima de tudo. Aí ele também tem de preencher outros pré-requisitos, outras qualidades. Tem de ter uma compreensão musical muito parecida com a minha, tem de ter um comportamento musical próximo daquilo que eu acredito que seja coerente com um músico. Tem de ter respeito pela arte, pela música, pela profissão dele. Tudo isso faz a diferença. Se eles estão comigo há quase sete anos significa que eles preenchem todos esses requisitos. E acima de tudo, tem convívio diário, por um longo período com pessoas sem ter qualquer vínculo familiar. É a mesma coisa que trabalhar num escritório fechado com essas pessoas. Portanto elas têm de ter a mesma noção de coletividade, de individualidade que a sua. E aqui graças a Deus, o clima é muito leve, acho importante isso ficar impresso no trabalho. E só fica impresso se você acredita em tudo isso. Se você está cumprindo tabela meu amigo, vai ficar igual a todo mundo, pra ser diferente tem o comprometimento.

EM: Você disse que é como se fosse um trabalho dentro de um escritório, mas na música não é bem assim. Música é arte, também tem o sentimento envolvido.
PM: Mas o sentimento rola na hora que acende a luz e vai tocar, dentro de um estúdio, na hora da criação. O dia-a-dia é burocrático. De negociação de show, passar som, montagem de equipamento, check-list, entrada e saída de hotel, chegada e saída de aeroporto. Não tem glamour nenhum.

EM: Mas essas coisas quem trata é o pessoal da produção.
PM: Músico que não trata disso não sabe se está sendo feito direito. Eu acompanho a minha equipe em todas as operações, até porque a produtora que gera todo o meu trabalho é minha. Aquele ditado que o porquinho só engorda aos olhos do dono é a coisa mais verdadeira do mundo. Hoje em dia não tem mais espaço pra artista que fica no carro esperando a hora de sair para as luzes. Ele só vai ter sucesso se botar a mão na massa. Eu só acredito em artistas que põe a mão na massa e não naquele que só aparece na hora de fazer o gol. É a mesma coisa que você falar que o centro avante, camisa nove, o craque do time, só entra em campo na hora de receber o passe pra chutar em gol. A minha equipe me respeita e trabalha comigo com vontade, com sangue no olho, porque eu estou ali no dia-a-dia, esticando cabo, levantando monitor, arrumando cenário. Pra mim, isso é uma postura de respeito com a arte.

EM: Esse disco tem 14 temas. Em alguns você canta e em outros você canta e toca instrumento. Como é feita essa escolha, como aparece essa divisão cantor e músico ?
PM: Nas gravações de um disco eu toco primeiro e depois eu canto, senão seria muito difícil de captar uma voz bem feita ou de tocar bem feito. Em estúdio você tem essa possibilidade. Um bom produtor, e eu sou o produtor de todos os meus discos, com exceção do primeiro, tem de conseguir fazer uma leitura do que aquela música pede e saber quais as peças que vai utilizar. Eu sei até onde eu posso ir como músico. Qual o meu limite, minha linguagem e minha contribuição, assim como eu sei com todos os profissionais que vou trabalhar no disco. Então, normalmente, trabalho em um disco com duas ou três opções de baixista, bateristas ou tecladistas. Já guitarrista, por sorte, o Conrado (Góis) cumpre todas as funções. Ele é formado em violão clássico, foi roqueiro quando moleque e hoje curte jazz e funk. Sabe fazer de tudo, de música brasileira a rock and roll, além de ser produtor, arranjador e saber escrever música. É um cara muito completo. Nos meu discos os únicos músicos que ficavam direto eram os guitarristas. Antigamente eu trabalhava com o Chico Pinheiro, hoje é o Conrado. Baixistas não, além do (Leandro) Matsumoto, tenho o Marcelo Mariano e o Edu Martins, um cara mais jazzista, que toca baixo acústico. Tecladista a mesma coisa, normalmente, estou com meu pai no estúdio, o produtor Otávio de Moraes também é tecladista e o Marcelo Elias que toca comigo na estrada. É como cozinhar, cada músico tem um tempero diferente e quando eu ouço a base eu digo: “Essa aí sou que quem vai tocar”. Porque já sei o que é pra fazer e vai ficar mais fácil tocar do que ficar explicando.

EM: A crise econômica já chegou ao mercado musical ou ele já está em crise há algum tempo? Como você vê esse negócio de baixar música na internet?
PM: Não existe um fator isolado. A crise mundial é ruim, mas afeta os investidores. Por exemplo, um evento grande, que tem quatro ou cinco patrocinadores e que todo ano acontece, com a crise mundial vai ter apenas dois ou três. Aí vai ter de reconsiderar as suas atrações e muita gente fica de fora. Agora, como artista, o que mais afeta não é a pirataria porque ela atrapalha, mas não faz você perder o jogo. Ela atrapalha a gravadora, as editoras os músicos porque faz arrecadar menos. Gera menos receita pra todo mundo. O que afeta muito são as empresas e governo jogando contra. Eu, por exemplo, aos olhos do governo não sou um artista, sou uma empresa. Eu pago nota, gero CNPJ, ISS, uma porrada em impostos. Eu invisto em cultura, que é um patrimônio altíssimo de qualquer país. Um país sem cultura é um país pobre e a pobreza não está relacionada ao poder aquisitivo e sim ao nível cultural das pessoas. Invisto em cultura e não tenho nenhuma contrapartida, não tenho isenção de impostos, nem para me movimentar pelo país, as empresas aéreas cobram o que querem, dificultam o nosso trabalho cobrando cada vez mais taxas para transportar os equipamentos. A gente trabalha a vida inteira pra comprar um bom equipamento e na hora que vai viajar com ele não pode porque os caras não querem levar, e quando resolvem levar sobretaxam. Então, você tem de repassar esses custos para quem contrata. Aí você tem um acúmulo no preço final de seu show e de seu disco de 40% ou 50% que inviabilizam sua atividade. Por terra não dá pra levar tudo, o Brasil é um país com dimensões continentais. A ponte aérea entre São Paulo e Rio de Janeiro a passagem está quase quinhentos reais e são só quarenta minutos de viagem. Na Europa, qualquer vôo com menos de quarenta minutos, gastam-se trinta Euros. O mesmo preço que um trem e lá ainda há essa opção.

EM: Mas o que você está dizendo afeta a todos e não só o mundo da música.
PM: Exatamente, mas no mundo da música você acaba refém das estruturas. Só quem é blockbuster, quem vende mais de um milhão de discos e bota mais de cinqüenta mil pessoas em show é que consegue ter uma estrutura gigantesca com carretas e caminhões cobrindo o país e viajando de jatinho. Ou seja, essas posturas só aumentam as distâncias de quem tem cultura e quem não tem. A culpa disso é do governo que só mama na gente, só quer cobrar imposto. Eu gero imposto, gero emprego e não ganho nada em troca. Um CD que é comprado na loja vem atrelado a mais de 40% em impostos. Então, não é a pirataria, mas o governo que está quebrando as pernas. Aí o cara não compra e está certo de não comprar, só não está certo de comprar o pirata ou ficar copiando pela internet. Não podemos justificar um erro com outro. Mas a gente tem de continuar brigando, existe um movimento de músicos que pede isenção fiscal pra música que eu sou favorável, vou assinar um abaixo assinado. As editoras de livros conseguiram, o cinema conseguiu e a música? No Brasil ninguém trata a música com respeito. Nem o público, nem o governo.

EM: Por que você acha isso?
PM: Porque vê a música de maneira casual e esquece que quem leva a música é um profissional. Um cara que depende daquilo pra viver. Eu conheço músicos que viraram taxista. Dizem que com três ou quatro corridas por dia botam comida em casa.
Tudo isso que a gente esta conversando aqui é resultado de eu ter largado uma multinacional, larguei as independentes e montei o meu selo. Estou trabalhando por conta. Vou onde acredito que vai dar certo. Por um lado, há um sentimento de que algumas coisas não me incomodam mais, o preço do CD, por exemplo. Está caro, mas eu estou brigando dentro do meu selo, onde tenho gerência sobre isso e junto com minha distribuidora quero um preço justo. Acho que R$ 19,50 é um preço justo. Dá e sobra, tem imposto, mas eu sei a conta que estou fazendo. Aí eu vejo em alguns magazines que, infelizmente, não posso falar o nome, o meu DVD a R$ 85,00. Aí não vende e a multinacional diz que eu não dou resultado. Mas, desculpa, quem não dá resultado é o teu departamento comercial, digo. A realidade do brasileiro é escolher entre assistir o show ou comprar o disco. O DVD estava catalogado pra chegar a R$ 45,00 e o cara põe R$ 85,00 e diz que eu não dou resultado. Agora eu tenho gerência. Se a loja cobrar R$ 85,00 eu vou tirar dessa loja, não vai vender o meu disco. Aí vai dizer: “Ah, não quero nem saber”. Quem não quer saber sou eu. Vou vender onde dá, em lojas digitais, em shows. Nem que tenha que montar uma banca na rua. Vou criar ferramentas pro público comprar o meu disco. Foi pra isso que eu fui atrás do meu selo. Estou de saco cheio. Nunca fui àquele artista que fica sentado em casa reclamando: “Pô, gravadora é foda. Pô, gravadora não faz nada. Pô, gravadora não me trabalha”. Quando não dá certo cancelo o contrato e vou cuidar da minha vida. Tive três gravadoras na minha vida. Infelizmente tive uma quarta que mal pude curtir o momento.

EM: É um formato ultrapassado?
PM: As três gravadoras quando me encheram o saco eu “vazei” e tinha sempre uma me esperando. Só que eu não acredito que as gravadoras tenham hoje, e não é culpa delas, a agilidade para trabalhar comigo. Precisa ser mais ágil, não dá certo aqui vamos trabalhar ali, eu preciso hoje de um marketing customizado. Elas não têm como fazer esse tipo de serviço, o marketing é pasteurizado, tudo igual. Ou seja, jogam dez na bacia o que nadar é peixe. O que não nadar cancela o contrato ou coloca na geladeira. Infelizmente é assim que funciona. Eles seguem diretrizes e metas como toda empresa e nós somos o ativo da empresa, temos de dar lucro. Se o bombom Sonho de Valsa não dá lucro ele sai da prateleira ou eles vão mudar a embalagem. O artista dentro de uma gravadora tem o mesmo status.

EM: Quando Cesar Camargo Mariano, Marcelo Mariano, João Marcelo Bôscoli, Maria Rita, Luiza Camargo Mariano e Pedro Mariano se encontram qual é a conversa, música?
PM: Quando a gente se encontra a gente não fala de música. É muito raro.

EM: Nem como anda o cenário nacional?
PM: Não precisa, a gente sabe como anda, é chover no molhado. A gente não tem de ficar comentando em casa, tem de comentar na rua, tem de comentar com você o que eu acho do cenário nacional. Meu pai já sabe, ele tem 65 anos e 50 de janela. Ele já sabe o que está rolando e o que tem de fazer, mas ninguém houve. Ele está cansado de falar. Quando nos encontramos é pra descansar. Eu falo de música em casa, com minha mulher que é minha empresária, meus melhores amigos que trabalham comigo, é um ambiente que você está sempre ligado à música. Mas quando eu relaxo falo de outra coisa. Sobre futebol. Quando falo de música é pra trabalhar.

EM: Você já trabalhou com o seu pai, Cesar Camargo Mariano e com seus irmãos João Marcelo Bôscoli e Marcelo Mariano. Há a possibilidade de alguma colaboração entre você e Maria Rita que hoje é uma das cantoras mais requisitadas do país?
PM: Olha, justamente por essa posição de ela ser uma das cantoras mais requisitadas do país, quem tem de receber o convite sou eu? A realidade é nua e crua, um artista só se junta com outro por afinidade. Eu não chamei o meu pai pra trabalhar comigo por que ele é meu pai, chamei porque ele trabalha bem pra caramba e é um dos melhores arranjadores e produtores que já passou por esse país. Por uma sorte ele mora na minha casa e eu estou a um telefonema dele. Se tivesse esse acesso ao Quincy Jones eu teria feito um disco com ele também. O Marcelo Mariano idem. Ele tocou comigo durante três anos, fez dois discos comigo, mas não porque ele é meu irmão. É porque o Pedro Mariano é fã do Marcelo Mariano e a gente se dá bem trabalhando juntos. O João Marcelo morou comigo na época da Trama e veio me convidar pra ser artista da gravadora. Eu poderia ter dito não, eu estava na Sony, mas eu acreditava naquele projeto e achava que poderia dar certo. Pra mim deu certo em um disco. Eu apanhei em dois discos, eles não souberam mais me trabalhar, tiveram uma postura totalmente errada e eu saí da gravadora, em litígio, não saí numa boa e quem era presidente era o meu irmão, simplesmente não concordei com mais nada e fui embora. Então é assim, é uma questão de oportunidade e casualidade. As coisas têm de fluir. Eu mal encontro com a Maria Rita, ela mora no rio.

EM: Mas como você disse antes, também está a um telefonema de acesso da Maria Rita. Parece que esse tipo de pergunta te deixa um pouco nervoso.
PM: Mas o telefonema também é de outra parte. Pô, todo mundo fica falando, vocês não vão se juntar. Sabe o que enche o saco? É a pessoa não parar e pensar sobre a pergunta que está fazendo. Se não se juntou até agora é porque a gente está fazendo “cú doce” ou porque a gente não quer? Há quem interessa isso? É um desejo nacional, é. Mas se os caras não se juntaram de duas, uma, ou não é um desejo deles ou tentaram e não deu certo. Quer dizer, tenho o senso crítico, algumas coisas dão certo, outras não. Entra na internet e você vai ver uma foto comigo e a Maria Rita cantando com meu pai tocando piano. Ninguém viu isso? A gente já subiu no palco uma vez. A gente já fez algumas coisas juntos. A Maria Rita foi da minha banda. Eu tinha uma banda chamada Confraria e ela era backing vocal. Eu tenho uma foto ganhando o disco de ouro e ela do meu lado. As pessoas esquecem que ela é minha irmã. Ela não é minha inimiga, não é a minha melhor amiga.

EM: Mas é só por isso que as pessoas perguntam?
PM: Mas o fato de ela ser a minha irmã, não gera nada. O fato de o Marcelo ser meu irmão não o credencia pra tocar comigo. O que vai credenciá-lo é eu achar ele bom pra caramba e vice e versa. Você me faria a mesma pergunta se a Maria Rita fosse a Rita Lee? Ana Carolina, você me perguntaria? Um cara me perguntou no Rio de Janeiro: “Pô, você convidou a Sandy e a Luciana Melo pra cantar no seu DVD. Porque não a Maria Rita?”. E eu respondi que ela convidou o Rappa e não me convidou pra cantar no DVD dela e você perguntou a mesma coisa pra ela ou só eu que tenho de responder isso. Aí o cara não soube me responder.

EM: A tua música é muito influenciada pela black music norte-americana, o que você está ouvido atualmente?
PM: Tenho ouvido uns negócios bem diferentes. Nem atuais e nem muito antigos. São coisas que às vezes você tromba navegando na internet. Esse lance é muito legal, você procura uma foto do Caco, do Muppet Show, e cai em um cara que faz um som bem louco. Por exemplo, o Conrado foi pra Argentina tocar com a Tatiana Parra e me falou de um trio chamado Aca Seca, que eu não conhecia. Vi o trabalho dos caras no Youtube e achei muito legal. Ultimamente também tenho ouvido o Daniel Black. Aí o Conrado me mostrou uma cantora de jazz chamada Lizz Wright, um disco de 2003, tem duas músicas que eu não consigo passar um dia sem ouvir. Tem o Oren Lavie, fiquei apaixonado pelo trabalho dele por causa de um vídeo clip que está no Youtube que é em stop motion, que eu também adoro.

EM: E esse pessoal que faz um jazz com groove, o Soulive, Bad Plus, Rudder, Medeski, Martin Wood, você curte?
PM: Curto, mas me cansa um pouco. É legal, mas pra mim é um pouco volátil, eu estou mais pra uma coisa mais criativa, mais emotiva, o Soulive eu acho legal, mas não consigo ouvir o disco inteiro. Sou da escola do Earth, Wind & Fire, Tower of Power, que pra mim aquilo lá é quebradeira, é grooveria. O que veio depois é legal, mas não faz a minha cabeça. Gosto dessa coisa de melodia, harmonia bonita e o pau comer. Então, os trabalhos atuais têm uns grooves legais, mas fica faltando o resto.

EM: Hoje é dia das mães, quando a Elis Regina morreu você tinha quase seis anos, qual a imagem ou lembrança mais remota que você guarda da tua mãe?
PM: Infelizmente nenhuma. Era muito novo e não sobrou nada. Na verdade, muitas coisas que ficaram na minha cabeça não sei se são lembranças minhas ou histórias que me contaram. Então, não cultivo como lembrança, porque posso estar cometendo um deslize e alimentando uma coisa que não é minha. Conheço as histórias, mas não são coisas que eu vivenciei. A mim me basta uma entrevista que vi, comigo ao seu lado, tinha três anos, e ela já dizendo que eu ia ser o cantor da casa. Ou era corujisse ou era profecia, porque eu não lembro de cantarolar desde pequeno, um pouco mais velho talvez. E outra coisa que ela dizia era que ela queria que eu fosse feliz, que eu fosse leve. Vivesse de forma leve e feliz e é o que eu busco fazer pra minha vida pra não desapontá-la e porque eu acredito que seja o melhor jeito de viver. Leve no sentido de não fazer e não desejar mal a ninguém. Acredito na educação, na família, na casa nosso porto seguro, na minha filha, na minha esposa. Eu ganho minha vida com música e não como artista, que é um status que eu adquiri com o tempo. Foi a profissão que eu escolhi e eu vou ficar vivendo levemente leve e feliz assim.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Guitar hero Johnny Winter vem ao Brasil



O guitarrista Johnny Winter anunciou em seu site oficial que realizará turnê pelo Brasil em 2010. Se tudo der certo o músico texano se apresenta nas seguintes datas: dia 14, sexta-feira, Studio 5, Manaus; dia 15, sábado, Centro De Convenções, Brasília; dia 16, domingo, Teatro Castro Alves, Salvador; dia 20, quinta-feira, Teatro Guaira, Curitiba; dia 21, sexta-feira, Via Funchal, São Paulo e dia 22, sábado, Canecão, Rio de Janeiro.

Em 2004 o artista chegou a anunciar algumas datas no país, mas a saúde frágil do guitarrista albino, notório consumidor de drogas de pesos variados, pregou uma peça nos fãs. O shows, que estavam marcados para acontecer em junho daquele ano, foram adiados em dois meses e depois cancelados. Winter viria ao Brasil para o lançamento de I'm a Bluesman, na época, seu mais recente trabalho.

Considerado um dos maiores guitarristas de blues/rock de todos os tempos, responsável pela renovação do gênero, Johnny Winter é autêntico representante da tradição de guitarristas selvagens do texas, entre eles, T. Bone Walker, Stevie Ray Vaughan, Albert Collins, Clarence Gatemouth Brown, Billy Gibbons, Freddie King e tantos outros.

   

Mulher, musicista e mãe, os talentos de Badi Assad não têm limites



Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Lucas Santos


É incontestável. Badi Assad é a melhor violonista brasileira da atualidade. Não bastasse, canta muito. Grava regularmente e viaja o mundo inteiro divulgando a música brasileira.
Não aquela das FMs. Falo da música brasileira verdadeira. Feita por artistas que, permanentemente, mantém um compromisso com sua arte e com seu público, diferente dos ícones de plástico fabricados pelas grandes gravadoras, programas dominicais de TV e produtores endinheirados.
Por esses motivos, Badi não está na mídia grande. E pra falar a verdade, nem precisa, sua música transcende as leis de mercado.
Mesmo tendo passado por momentos difíceis, como uma doença que paralisou suas atividades de instrumentista (distonia focal) e os problemas na gravidez que resultaram na perda de uma filha, Badi nunca perdeu o fio da meada.
O mais recente trabalho, e aí já vão três anos do lançamento do CD Wonderland, mostra que a perda familiar afetou em cheio sua arte fazendo com que o disco tratasse de temas pesados como o alcoolismo, estupro e outros.
Mas, como diz o ditado: “não há mal que perdure”. Badi tornou-se mãe de Sofia, sua mais nova fonte de inspiração e, mais uma vez, está com vários projetos em andamento.
Em passagem por Santos, no dia 7 de março de 2009, em show que abriu a série Mulheres Ao Vivo, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, realizado pelo Projeto Jazz, Bossa & Blues, Revista Ao Vivo e Sesc Santos, Badi concedeu essa entrevista exclusiva ao Mannish Blog falando sobre sua carreira e seus novos projetos.

Eugênio Martins Jr: Faz quase três anos do lançamento de Wonderland, está vindo coisa nova por aí?
Badi Assad:
Sim, um DVD comemorativo, vinte anos de carreira. É engraçado, a gente fala comemorativo, mas quando é que começa a carreira? Meus próximos trabalhos são um CD duplo infantil inspirado na minha filha Sofia, mas ainda não tem data pra acontecer. Ainda estou procurando o patrocinador, porque será um trabalho independente. No meio desse processo tenho outro trabalho quase pronto de músicas autorais que em algum momento desse ano vou começar a gravar. Ainda tenho um projeto com o Carlinhos Antunes e um pessoal do teatro de bonecos. Um trabalho dedicado às crianças da América Latina. Um trabalho que vai sair do Brasil.

EM: Você usou como marco o primeiro disco solo, o Dança dos Tons, de 1989?
BA:
Exatamente. Para o DVD foram selecionadas 15 músicas de tudo que eu já gravei. O diretor é o meu sobrinho, o Rodrigo Assad, filho do Sérgio. É um DVD conceitual, a gente não tem papel, é uma coisa muito interessante.

EM: Já que a gente citou o Dança dos Tons, gostaria que você falasse um pouco sobre esse começo, esse seu primeiro trabalho solo.
BA:
Foi relançado recentemente como Dança das Ondas, porque eu gravei Waves. Retiramos algumas faixas e colocamos outras quatro faixas bônus. O dança dos Tons foi, obviamente, um marco, uma transição, porque antes desse trabalho ser gravado eu era uma violonista erudita e ponto. Participei de vários concursos. O começo de carreira do violonista erudito são os concursos, mas esse negócio de competição não é comigo. Você não tem muita liberdade de expressão. Tem de ser muito fiel àquilo que o compositor imaginou. Às emoções do cara. Tem de ser muito fiel à partitura. De repente você sente diferente do que ele sentiu, mas você não pode sair. Eu pensei: “Gente, não é isso. Eu tenho mais do que isso”. E aí eu comecei, ainda dentro da música instrumental, um repertório de compositores eruditos que escreveram músicas mais populares, como é o caso do francês Roland Dyens, que adora o Brasil, o cubano Leo Brower, que tem umas músicas bem mais populares. Também há as parcerias. Eu compus duas músicas com o meu irmão Sérgio. Foi um pé na música instrumental embasado na técnica e o outro na música popular.

EM: Quando e como foi que você percebeu que poderia cantar. Houve algum momento decisivo para que isso acontecesse?
BA:
No começo a voz ainda era muito tímida. Ela foi entrando aos poucos. Tanto que se você me perguntasse o que eu era naquela época, no início, eu falava que era violonista e cantora por conseqüência. Agora, o reflexo é falar que sou cantora. Mas foi uma história bem bacana. Tem um marco, um momento que isso aconteceu. Foi na primeira viagem internacional que eu fiz. Meu primeiro trabalho foi uma turnê com a esposa do meu irmão Odair. Hoje eles estão casados há vinte e tantos anos, mas na época eles eram namorados. Ela tinha um duo e tocava músicas do período romântico. Ela veio ao Brasil numa época em que sua parceira havia saído do duo e ela estava procurando uma violonista mulher e aí o Odair me indicou. Ela morava e mora ainda em Bruxelas, então me mandou as partituras para o violão normal. Quando cheguei lá tive de adaptar tudo para o violão menor, com aquelas cravelhas antigas. Tive de aprender a afinar aquilo. Fizemos uma excursão a Israel abrindo para os meus irmãos. Foi o primeiro lugar que eu toquei fora do Brasil.
Aí, no meio da turnê, teve uma festa, mas estava uma coisa muito chata. Sabe aquela festa que não rolou? Então! Quando a gente estava quase indo embora apareceu um violão na mão do Sérgio. Aí ele disse: “eu vou tocar rápido para a gente poder fugir”. Mas ele estava tão desconfortável por ter aquela obrigação de tocar. Aí eu me ofereci pra cantar. Ele, com aquela cara, me perguntou se eu sabia cantar. “O que você sabe!?” Eu sempre havia cantado em casa, com a minha mãe. Acabou que ficamos mais de uma hora na festa, eu cantando e ele tocando.

EM: Salvaram a festa?
BA:
(risos) É, mas foi uma descoberta mutua. Na volta pro hotel ele disse: “Badi você tem essa voz, nesse mundo da música instrumental isso é muito difícil. Use sua voz, ela é linda”. Não que o estilo musical que eu faço seja fácil, né? Eu tinha 19 pra 20 anos. Lembro que no momento que ele falou isso eu olhei para o céu e vi uma estrela cadente. Uau! Era um sinal! Voltei ao Brasil e fui ter aulas de canto, voltei a fazer aulas de teatro e dança.

EM: No teu show do Wonderland tem um pouco de tudo isso não é?
BA:
Sim, mas quando comecei a tocar com meu pai eu fazia tudo isso lá no interior, em São João da Boa Vista. Mas quando me decidi pelo violão parei com tudo.

EM: Em um país como Brasil, com tantos violonistas bons. Parece até que os instrumentistas brasileiros roubaram o violão do resto do mundo. Quais foram as suas principais influências?
BA:
Interessante que no mundo inteiro são poucos países que tem violão. O Brasil, a Espanha, mas lá há só um estilo musical que é o flamenco. Aí você tem “pinceladas” de violonistas, um aqui, outro lá. Nos Estados Unidos tem muito guitarrista e violão de corda de aço. Mas violão com corda de náilon o Brasil dá com pau de gente boa.

EM: Não vale citar como influências o Odair e o Sérgio.
BA:
(risos) Ahh, mas tenho de citar, porque eles são os primeiros. Mas aí tem o Marco Pereira, um cara fantástico. Ulisses Rocha, Egberto Gismonti, com aquele violão de dez cordas dele que é incrível. O Baden, o Rafael Rabello, André Geraissati, esses são os tops.

EM: E dos novos?
BA:
Tem gente boa pra caramba. O Yamndú que é um fenômeno em todos os sentidos. O Alessandro Penezi. Nossa eu me ajoelho aos pés do Alessandro, que é um cara com o coração gigantesco, uma pessoa linda. O Chico Saraiva. Tem o Quarteto Mahogany com um trabalho maravilhoso.

EM: Você já tocou com tanta gente importante como Pat Matheny, Hermeto Pascoal, Toquinho. Qual foi o momento que você acha que inesquecível. Se é que existe isso?
BA:
(pausa) Rolou isso quando eu toquei com o Larry (Coriell) e com o John (Abercrombie), porque a gente gravou junto, viajamos muito.

EM: Como foi viajar e gravar o Three Guitars com eles?
BA:
Foi muito interessante, porque eles são bem mais velhos que eu. Quando me convidaram para fazer um trio eu disse: “Olha, posso fazer tudo o que eu quiser? Porque eu não sou só violonista. Só tocar violão eu não topo”. É que foi bem na época que eu voltei a tocar violão, depois de ter me recuperado da distonia focal e estava muito insegura. Aí eles disseram que era isso mesmo que eles queriam. Foi muito engraçado, porque eles moram em Nova York e eu estava morando aqui. Troquei idéia com o Larry, que eu já conhecia, o John eu nunca tinha visto pessoalmente, nem conhecia muito o trabalho dele, só conheci depois. Aí o Larry ficou responsável de mandar umas músicas e uns arranjos pra eu estudar. Eu não sou improvisadora. Posso fazer misérias com a minha voz, mas com o violão não é a minha escola. Foi quatro meses antes da gravação. Deu três, dois, um mês e o Larry não mandou porra nenhuma (risos). Mandou só uma partitura. Um arranjo pra três violões que eu estudei. Aí eu compus, mas nem eram músicas prontas, eram idéias musicais. Fiz a minha parte e deixei espaço para eles improvisarem e fui. A gente ensaiou um dia, entramos em estúdio e todas as minhas músicas entraram no disco por conta de eles nem terem repertório (risos). Foi uma experiência fascinante, porque os caras estavam tocando as minhas músicas e acrescentando.

EM: Ambos têm uma história no jazz, como foi a convivência com essas duas feras?
BA:
Eles me tratavam com muita delicadeza, nunca em posição de inferioridade. Eles são gente boa pra caramba. O John é um cara que tem um humor fantástico. Aí foi o seguinte, o que aconteceu? Quando eu comecei a viajar com eles, o papo era só memória do que eles viveram com “aqueles caras”. Eu só escutava: “Lembra aquela vez com o Miles (Davis)”. Aí contavam os bastidores daquilo. E eu fiquei três anos escutando as histórias.

EM: Como se deu a ida para a Chesky Records. Seu álbum de estréia, o Solo, seguido por Rhythms (1995) e Echoes of Brazil (1997) lhe deram bastante projeção não é verdade?
BA:
O que me deu mais projeção foi o Chameleon, que foi o disco depois do Echoes. A distribuição da Chesky é muito específica. Eles têm uma distribuição em algumas partes do mundo, mas, por exemplo, não chega no Brasil, no Japão, na América do Sul, em alguns países na Europa. Então foi um trabalho que as pessoas no mundo do violão conheciam, mas fora desse universo, não. Quando gravei o Chameleon abriu, porque eles me levaram para trabalhar o disco na Europa, coisa que eu nunca tinha feito. A turnê de divulgação levou um mês em várias partes do mundo.



EM: Eu gosto de citar os discos, porque há alguns trabalhos que refletem exatamente o momento pelo qual o artista está passando. O Verde e o Wonderland mostram seu lado pop, mas não esse pop fácil que toca nas FMs, porque são discos com temas pesados. Neles você canta mais, não faz tanta experimentação, há a intenção de atingir um maior número de pessoas?
BA:
A temática do Wonderland é assim intencionalmente. Quando eu gravei o Chameleon, tive aquele problema na mão (a distonia focal), então fiquei dois anos afastada de tudo. Obviamente, a cantora em mim floresceu demais. Eu até gravei um disco com meu ex-parceiro americano, o Jeff Young, mas eu não tocava. Ele tocava violão, porque eu estava impossibilitada. Gravamos de maneira independente e só saiu duas mil cópias e quem tem, tem. Nós morávamos juntos e depois nos separamos e o disco ficou meio que “nowhere”, que era o título dele mesmo (risos).
Mas voltando, com o Chameleon foi assim, assinei um contrato com a Polygram que dizia que eu tinha de compor nove músicas. Eu topei o desafio e aí eu acabei me descobrindo também compositora e nunca mais parei. Mas ali, como ele era meu parceiro, foi um disco cantado. Então pensei: “Como é esse negócio aqui?” O experimentalismo deixou de ter a importância que tinha no meu trabalho. Antes a voz entrava como alegoria do que eu estava fazendo.
Outra coisa é que na minha estada nos Estados Unidos eu me envolvi muito com o universo popular de lá e fiquei encantada com as experiências que tive. Toquei na TV, toquei em um festival onde tive a oportunidade de me apresentar para 30 mil pessoas, uma coisa que me marcou muito.

EM: Você abriu o leque de possibilidades dentro da sua arte.
BA:
É e agora estou escolhendo essas facetas mais populares dentro do meu trabalho e que não deixa de ser bem elaborado.

EM: Nessa temporada nos Estados Unidos, o que você mais gostou e o que você mais odiou naquele país?
BA:
Nos Estados Unidos você tem oportunidade de trabalho. Em toda a cidade tem seu teatro, seu clube e tem público para todos os estilos musicais. As pessoas são entusiasmadas. Quem tem talento, tem espaço e isso aqui no Brasil não acontece. Aqui, talento não é sinônimo de carreira. Aqui, oportunidade é sinônimo de carreira. Agora, o que pior me aconteceu é que foi lá que eu tive o problema na minha mão. Um dos momentos mais delicados da minha vida foi quando eu morei lá, então é difícil dissociar, mas eu gosto daquele país. Sei lá, o frio é ruim. Taí uma coisa que eu não gostei (risos).

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Morre Norton Buffalo


Apenas um mês após ser diagnosticado de um câncer, o gaitista Norton Buffalo morreu na sexta-feira, 30 de outubro, em um hospital perto de sua casa em Paradise, na Califórnia. O músico tinha 58 anos.

Prolífico e versatil, Buffalo era aclamado como um dos melhores gaitistas dos Estados Unidos em diversos gêneros musicais, entre eles, blues, rock, R&B, new age, country e jazz.

Tocou em cerca de 180 álbuns e inúmeras produções direcionadas à televisão e cinema, o filme mais famoso foi The Rose, ao lado de Bette Midler. Também tocou e gravou com Bonnie Raitt, Johnny Cash, Olivia Newton-John, The Doobie Brothers, Kenny Loggins, the Marshall Tucker Band, David Grisman, Elvin Bishop and Commander Cody e The Lost Planet Airmen.

Suas maiores associações foram com a Steve Miller Band e com o guitarrista Roy Rogers, com quem formou parceria por mais de vinte anos, rendendo três álbuns pelo selo Blind Pig. A química entre ambos era perfeita.

Uma dessas gravações, Ain’t No Bread In The Breadbox aparecia freqüentemente nas apresentações ao vivo da Jerry Garcia Band, e Song For Jessica foi indicada ao Grammy no gênero country.

Buffalo gravou dois álbuns solos pela Capitol Records nos anos 70, um deles, Lovin In The Valley Of The Moon, tornou-se item de colecionador. Em 2000 gravou King Of The Highway, pela Blind Pig. Recentemente trabalhou no álbum infantil de Kenny Loggins e no álbum do guitarrista havaiano George Kahumoku Jr.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Novembro tem Buddy Guy e Dianne Reeves grátis



A assessoria do Telefônica Open Jazz confirmou: esse ano a quarta edição do evento terá dois nomes de peso, a cantora de jazz Dianne Reeves e o guitarrista de blues Buddy Guy. Os shows acontecem no dia 29 de novembro, no Parque da Independência, em São Paulo.

Realizado de forma gratuita, com curadoria de Zuza Homem de Mello, o Telefônica Open Jazz já trouxe artistas como Herbie Hancock, Macy Gray, Diana Krall, Branford Marsalis Quartet e Chaka Khan em suas outras três edições.

Diane Reeves é uma das vocalistas de jazz mais celebradas do mundo, sendo premiada por três vezes consecutivas com o Grammy de Melhor Performance Vocal de Jazz. Já Buddy Guy é um dos maiores guitarristas de blues vivo, influenciando gente como Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jeff Beck e outros.

Trata-se da segunda vez que o guitarrista de Chicago vem ao Brasil esse ano, a primeira foi em março no HSBC, também em São Paulo. O show, com casa lotada e que deve ser o mesmo que será realizado em novembro, está descrito em detalhes aqui no Mannish Blog. Em "Shows" é claro!  

Serviço:
Telefônica Open Jazz
Shows com Buddy Guy e Dianne Reeves
Entrada Franca
Data: 29/11/2009
Local: Parque da Independência
Endereço: Av Nazareth, s/n – Ipiranga. Entrada pela Rua dos Patriotas, Portão Principal
Horário: 16 horas
Capacidade: 25 mil pessoas

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Entre temas e timbres clássicos Igor Prado Band mostra a nova cara do blues no Brasil



Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Marcos Rodrigues

O que era pra ser uma rápida entrevista virou quase uma hora de conversa descontraída sobre música e CDs. Deu pra perceber que a coisa que o guitarrista Igor Prado e o saxofonista Denílson Martins mais gostam de fazer além de tocar é falar sobre música.
Na passagem por Santos, dentro do Projeto Blues Ao Vivo, realizado pela Revista Ao Vivo, Projeto Jazz, Bossa & Blues e pelo Sesc, onde a banda se apresentou, os músicos autografaram CDs e DVDs, conversaram com o público e prometeram voltar em breve, assim que o próximo trabalho estiver nas lojas, o que não deve demorar. Segundo Igor Prado, o CD está quase pronto e deve sair no segundo semestre desse ano recheado de participações especiais.
Seguindo a linha dos álbuns anteriores, a banda aposta na busca dos timbres e ritmos clássicos, mas um pouco mais voltado ao jazz devido à entrada de Denílson. Essa entrevista exclusiva para o Mannish Blog foi realizada no dia do show em Santos, 1º de abril de 2009, mas Igor Prado garante que o que foi dito é tudo verdade.

Eugênio Martins Júnior: Fale um pouco sobre esse disco que está em fase final de produção.
Igor Prado:
A gente acabou de gravar um disco com um cantor e gaitista das antigas, da Califórnia, que se chama Lynwood Slim. Acabamos de masterizar e vamos lançar no segundo semestre de 2009 por um selo americano. Queremos trazê-lo ao Brasil para os shows de lançamento e ano que vem a gente já tem também uma turnê engatilhada para a Europa. É um CD misturando blues, swing, jazz, explorando muito o saxofone por causa de um músico na banda, o Denílson Martins, que veio da escola do jazz. Então a gente faz aquela onda de blues/jazz, mas também tem bastante guitarra.

EM: E os convidados?
IP:
Tem participações especiais do Donny Nichillo, um tecladista de Chicago que está morando em São Paulo, mas já tocou com Buddy Guy, Stevie Ray Vaughan, Carlos Santana. É ele quem faz o piano no disco.

EM: Esse CD foi gravado no Brasil?
IP:
Foi gravado no Brasil no ano passado, em 2008, em São Paulo. Foi mixado em janeiro desse ano em Hollywood, na Califórnia, a terra do blues west coast.

EM: Já que você tocou no assunto, normalmente as bandas de blues brasileiras são influenciadas pelo blues/rock ou pelo blues de Chicago e o tipo de blues que vocês fazem é um blues muito influenciado pelo jazz. Como começou o interesse por esse som?
IP:
Desde pequeno eu escuto muito rhythm and blues, meu pai tocava pra mim Chuck Berry, Little Richard e isso está perto de um blues mais “jazzy” do que um blues rock, um blues de Chicago ou um blues inglês. A gente adora jazz tradicional, swing, be bop e como montamos essa banda recentemente, com caras de jazz, estamos fazendo bem essa mistura. O Lynwood entrou como um crooner de swing mesmo, como se fosse uma big band. Tem o piano do Donny que também toca essa onda west coast, swing e rhythm and blues. Estamos indo muito para esse lado, começamos com a Prado com o lance da gaita, mas agora está entrando um saxofone e entrando um crooner americano. Um cara que foi um dos primeiros do jump blues da Califórnia, tem a mesma idade do Rod Piazza, ele é muito respeitado entre os caras da gaita de lá. Também é produtor. Ele produziu toda essa galera do jump blues dos anos 70: George Smith, Rod Piazza, Kim Wilson. É muita honra pra gente poder estar junto com esse cara, produzindo o disco e cantando.

EM: Além dessa pesquisa de ritmos, vocês também garimpam os instrumentos para soar como as bandas das antigas. Gostaria que você falasse um pouco sobre os instrumentos e sobre os equipamentos usados no palco e nas gravações.
IP:
Esse lance que a gente faz 50% é o instrumento e 50% a forma que a gente toca. O Denilson, por exemplo, estuda como os caras tocavam nos anos 40, 50, a articulação dos caras, e isso influencia muito, não é só você ter o instrumento. Ano passado o Denílson comprou um saxofone da década de 30 e reformou. Eu uso a guitarra com captadores da época, eu tenho uma guitarra de 1959, isso ajuda muito nos timbres, mas é principalmente pesquisar a dinâmica que aqueles caras tocavam nos anos 50, que era muito mais baixo, não tinha PA alto, a concepção da banda era mais baixa. Não adianta querer tocar dando porrada. A música mudou muito nos anos 60 com a eletrificação dos amplificadores, eles ganharam mais volume. Antes era outro tipo de música, os caras tocavam em big bands nos anos 30 e 40 com 25 músicos sem “amplis”, imagina o contrabaixo acústico, imagina o batera, era muito mais técnico. Não que piorou ou melhorou a música, mas mudou a fórmula de fazer.

EM: E como o público de blues vê esse trabalho da Igor Prado, esse resgate. Um som diferente de tudo o que está rolando no Brasil?
IP:
A gente mistura muito. Coloca rhytmn and blues, rock and roll dos anos 50, é legal dosar isso. A gente faz uma coisa pra frente, não tem nada “deprê”, não tem nada muito cabeça. É o jazz que os caras tocavam nos anos 50, mais pra galera dançar e não para os músicos de jazz. É música pra galera se divertir. Também é outra coisa que mudou na música, a partir dos anos 60 o jazz ficou muito cerebral, né? Virou música para músico ouvir, mas antes não as pessoas queriam se divertir, queria dançar e é o que a gente quer fazer.

EM: Uma música descompromissada, mas com qualidade?
IP:
Exatamente, tanto que a galera do rock vai atrás dos nossos shows.

EM: Como começou a Igor Prado Band? Fale sobre essa formação atual?
IP:
Começou comigo e com o Yuri Prado. Nós tocamos com a Prado Blues Band, mas a gente queria fazer uma coisa mais jazzy, mais misturada. Chamamos o Rodrigo Mantovani, que toca muito bem baixo elétrico e começou a estudar o lance do baixo acústico no blues, que também é diferente do baixista de jazz moderno tocando. Ele começou a tocar o acústico ouvindo os baixistas de blues. Já o Denílson nós vimos tocando e pensamos: “Opa, vai dar jogo aí”. E começamos os quatro, até lançar o disco. Tudo paralelo com a Prado.

EM: A Prado Blues Band acabou?
IP:
Não, mas está dando um tempo porque o Marcinho, o gaitista, também está com um projeto solo de Chicago blues. Ele gravou um disco chamado “A Voz de James Cotton”, lá em Chicago o ano passado. Ele foi para um lado um pouco mais pesado e nós fomos para o lado do west coast blues.

EM: O que a gente tem visto nos últimos anos é que os músicos brasileiros têm ido cada vez mais aos Estados Unidos para pedir a benção aos gringos. Mesmo sendo um músico que se adapta fácil. Parece que o brasileiro quer esse aval dos blueseiros norte-americanos. Vocês já fizeram esse caminho, conte como foi esse processo.
IP:
Há três anos um disco da Prado foi lançado por um selo da Califórnia chamado Pacific Blues. O produtor da Jamie Wood e do Johnny Rover, que é o Jerry Hall, e dono da gravadora, estava na casa deles quando eles tocaram o nosso primeiro disco e disseram que era uma banda brasileira que está começando. O cara gostou e mantivemos o contato até gravarmos o CD Blues and Swing, que teve a participação dos dois. Fizemos intercâmbio, adquirindo experiência. Em 2007 eu lancei lá o meu disco solo Upside Down que acabou sendo eleito pela Real Blues Magazine como o sétimo disco de blues do ano de blues tradicional. Deu maior “up” pra gente, na terra do blues (risos).

EM: Qual é a periodicidade que vocês viajam para os Estados Unidos? É muito difícil arrumar datas por lá?
IP
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Mais ou menos uma vez por ano. Não é difícil, não. A gente está querendo fazer uma turnê com a banda inteira por lá. Na Europa já é o terceiro ano que a gente vai.

EM: Onde são os shows?
IP:
Na Califórnia. Dividi o palco com o Lynwood Slim. Toquei com o batera que tocava com Little Richard, chamado Richard Inez. Toquei em uns quatro ou cinco bares lá nos Estados Unidos, no sul da Califórnia.

EM: E Chicago?
IP:
Esse ano eu quero ir pra lá pra fazer alguns contatos. Quero ir ao festival que é na primeira semana de junho. São cinco dias de blueseira da pesada. Estou louco pra ir.

EM: E fora do eixo Rio-São Paulo, você conhece muita banda de blues. Acho que as mais conhecidas são o The Not Yet Famous Blues Band, de Goiás, e o Álvaro Asmar, da Bahia.
IP:
Cara, tem uma banda de blues do Sul, The Head Cutters, eles gravaram um disco tocando a onda de Chicago só que dos anos 50: Little Walter, Sonny Boy (Willianson), muito boa a banda.

EM: Com André Christovam, Nuno Mindelis, Blue Jeans e todas as bandas que vieram depois, dá pra dizer que existe uma cena blueseira no Brasil?
IP:
Tem sim, tem uma galera nova mandando bala. A própria galera que vai tocar aqui, o Big Chico, o Róbson. Uns caras que estão com algum reconhecimento lá fora.

EM: Gostaria de voltar ao lance dos instrumentos. Como faz pra arrumar essas raridades?
IP:
Tem duas formas, ou você vai buscar lá fora ou compra via E-Bay pelo correio e reza pra alfândega não parar e te cobrar quarenta por cento. (risos)

EM: Indo lá acaba saindo mais barato?
IP:
Cara, lá é muito barato. Lá tem loja de amplificador cheio de pó, virado para a parede, a 900 dólares. Aqui no Brasil os caras querem oito, dez mil reais. Um absurdo. Às vezes vale mais a pena pagar a passagem de avião e trazer o equipamento.

EM: Conta essa história do saxofone, Denílson.
Denílson Martins:
O Igor estava adquirindo um amplificador e eu aproveitei para escolher um sax pra mim. Estava vendo uns no E-Bay, uns “vintages” 1940, 60. Um amigo do Igor que estava fazendo esse intercâmbio falou que tinha uma loja perto da casa dele e disse que se tivesse alguma coisa legal ele vinha e dava um alô. Ele voltou com um monte de fotos de um Selmer Bluscher, de 1930, uma raridade. O dono da loja não sabia mais o que fazer com o sax, estava encostado. Na hora eu me decidi: “Vou pegar, quanto é que tá? Pode mandar.” Foi assim. Saiu U$1.400, mais os custos dos fretes e peso de bagagem, em quinze dias eu estava com o sax.

EM: Precisou de reforma?
DM:
Não, ele já veio no grau. Completinho, sapatilhado. Veio sem boquilha, mas isso a gente compra em São Paulo.

EM: É esse instrumento que você vai tocar hoje?
DM:
É esse mesmo, um vintage.
  
EM: Fale mais um pouco desse lance de você estudar o som que os caras faziam nos anos 40 e 50.
DM:
Cada saxofonista ou músico tem a sua característica e quando você está aprendendo tem de ter a manha e o bom gosto de sacar qual você vai querer estudar. Você pode adquirir o jeito do Charlie Parker ou do Kenny G. Você tem de buscar um meio termo, também não pode ficar focado em um ou em outro. Hoje é um pouco difícil de achar a sua voz porque tudo já foi inventado.

EM: E quais são as suas principais influências?
DM:
No blues é o Louis Jordan que, mesmo sendo um saxofonista de alto, tem essa característica de blues tradicional. No jazz moderno o John Coltrane. Tem o Coleman Hawkins, o Sonny Stitt, o Charlie Parker, Lester Young, uma lista enorme de gigantes.

EM: E você Igor, quais as suas influências?
IP:
No swing é o Charlie Christian, o Tiny Grimes, que não é muito conhecido e tocava com o Charlie Parker. Barney Kessel, isso no jazz. No blues eu gosto de tudo, Otis Rush, Albert Collins, Buddy Guy, T. Bone Walker, Eddie Taylor, Pee Wee Crayton. Dos novatos eu gosto de um cara chamado Junior Watson, que tocava com o (Rod) Piazza. Esse cara tem uma característica própria. Ele toca as coisas refinadas de um jeito tosco, como se fosse o Albert Collins tocando um tema do Charlie Parker. O John Mayer também é legal, puta qualidade.

EM: Você conhece um guitarrista chamado Doyle Bramhall II, é americano?
IP:
Porra, adoro? Toca igual a mim, com a (corda) “mi” pra cima, o braço invertido. Esse cara é muito bom. É uma onda diferente da minha, mas adoro; tocando e cantando.

EM: Vocês ainda compram CDs?
IP:
Não, a gente é da geração de baixar discos (risos). É difícil a gente achar coisa que a gente gosta, pra comprar porque a gente gosta das coisas mais antigas. Temos amigos da Europa que trocam CDs com a gente.