Foto: Flávio Hopp
As luzes se apagam… silêncio! Um a um, os integrantes da banda assumem calmamente o seu lugar aumentando as expectativas do público. Casa lotada. O pessoal da imprensa fica arisco em frente ao palco. Sabem que quem não se posicionar direito fica sem foto bacana. Passam-se alguns segundos e a banda ataca os primeiros acordes de Best Damn Fool, do novo CD Skin Deep. O som está alto e nítido.
Empunhando a Stratratocaster amarela, aquela feita sob medida pela Fender e não a tradicional preta com bolinhas brancas, essa usada apenas no bis, Buddy Guy entra no palco e canta “Nobody love you like I do. As good as I get…”. O público, agora sim, delira. Não é todo dia que se pode ver o melhor guitarrista de blues vivo. A última vez que esteve em São Paulo foi em novembro de 2005, para o lançamento de Bring ‘Em in.
Além de feeling e técnica, Guy mostra vitalidade de sobra para os 72 anos de idade e mais de meio século de blues. Os fotógrafos têm 10 minutos para fazer seu trabalho e se amontoam uns nos outros na frente do palco. Isolada no canto esquerdo do palco, uma repórter filma a performance de Guy até chamar sua atenção. Ele olha direto para a moça e anda em sua direção, pára bem em frente e faz um show particular para a sortuda. Só sai quando o tecladista Marty Sammon emenda um solo de arrepiar a espinha.
A segunda música foi nada mais nada menos do que o clássico Hoochie Coochie Man (Willie Dixon). A mesma versão do DVD gravado por Guy no Festival de Montreux, em 2005, com a participação de Carlos Santana. Fever, a terceira da noite, também ganhou a mesma dinâmica do DVD com mais um solo de Sammon.
Guy atiça o público tocando a introdução de Voodoo Chile, de Jimi Hendrix, mas ataca Going Down To Louisiana (Muddy Waters). Nesse momento ele desce no meio da platéia e provoca um tumulto generalizado. Todo mundo quer tirar foto com o ídolo, prova do carinho que o público tem por Buddy Guy. Um cara dá um beijo na careca do guitarrista que não para um segundo de tocar o instrumento. Ele atravessa toda a parte central do HSBC, onde ficam as mesas, dá a volta no salão, sobe ao segundo piso e fica se exibindo e posando para as fotos. Os seguranças enlouquecem. Depois de uns dez minutos Buddy Guy volta ao palco para continuar o set.
Já no palco, ele percute as cordas da Fender com uma baqueta e “tira” a introdução de Shunshine of Your Love, sucesso do Cream nos anos 60.
Sem dar tempo para o público respirar, ataca Boom, Boom (John Lee Hooker), Skin Deep, Mustang Sally (Wilson Pickett), Strange Brew (Cream) e Damn Right I’ve Got the Blues. Nessa última, que virou seu hino particular por ser o tema principal do álbum que lhe deu definitivamente projeção mundial no começo dos nos 90, Guy tocou com a boca para depois fazer o mesmo com Voodoo Chile, desta vez, na íntegra. Tocou com a boca, de costas, com a guitarra na cabeça, esfregando a guitarra na roupa, numa versão que faria o velho Jimi corar.
Show encerrado, mais uma vez Buddy Guy surpreende o público distribuindo uma porção de palhetas autografadas e com a inscrição: BG 2009. Para os homens, ele jogava, para as moças, dava na mãozinha.
Após os pedidos de bis, Buddy Guy (guitarra e voz), Orlando Wright (contrabaixo), Tim Austin (bateria), Marty Sammon (teclado) e Ric Hall (guitarra), voltam e tocam mais dois clássicos imortalizados pelo grande Muddy Waters, Got My Mojo Working e 19 Years Old. O show não poderia ter terminado com um tema mais apropriado: I Go Crazy, do álbum Feels Like Rain.
Cinqüenta anos de blues – Nascido em 1936, em Lettsworth, no estado sulista da Louisiana, George Guy migrou para Chicago nos anos 50 para mudar a cara do blues urbano. Com o boom da indústria siderúrgica e automobilística nos Estados Unidos, centenas de milhares de negros que trabalhavam como meeiros nas fazendas do sul migraram para os estados do norte do país em busca de oportunidades de trabalho. Esse é considerado o segundo grande êxodo de negros nos Esatados Unidos.
A grande Chicago abrigou boa parte desse contingente em seus guetos, no chamado “south-side” da cidade. Quanto mais trabalho, mais gente; e toda essa gente necessitava de uma nova forma de diversão. Daí que surgiu o blues eletrificado com Muddy Waters, Howlin Wolf, Willie Dixon e os novatos Buddy Guy, Otis Rush e Magic Sam. O som dos três últimos representa a grande mudança de formato: blues elétrico com guitarra baixo e bateria. Todas as bandas que vieram depois deles adotaram essa fórmula até desaguar no rock dos anos 60. As primeiras gravações de Buddy, Otis e Sam pela Cobra Records se tornaram lendárias.
Esquecido nos anos 70, 80, o blues voltou à moda nos anos 90, quando Buddy Guy retomou sua carreira após lançar uma série de ótimos discos, entre eles Damn Right I’ve Got the Blues, Feels Like Rain, Sweet Tea, Blues Singer e outros.
O som continua – Nos dias 7 e 8 de maio, às 22 horas, o HSBC recebe o guitarrista Robert Cray para o lançamento de Live From Across the Pond, seu primeiro álbum ao vivo. Curiosamente, a última vez que Cray veio ao Brasil também foi em 2005, o HSBC ainda se chamava Tom Brasil e sua apresentação foi exatamente 24 horas depois da apresentação de Buddy Guy, no Credicard Hall. A abertura foi de Wagner Tiso, Victor Biglione e Jane Duboc, seguidos por Oletta Adans e Banda. Cray fez um show impecável tocando as músicas do recém lançado Twenty, com Jim Pugh (teclado), Kevin Hayes (bateria) e Karl Sevareid (baixo).
PAUL ANKA
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