Chicago Blues Festival 2011
Texto: Eugênio Martins JúniorFotos: arquivo pessoal Dave Specter
O som de Dave Specter está entre um dos mais vibrantes da nova geração de blueseiros de Chicago. Ele não bebe na fonte do blues rock tanto em voga atualmente. Sua praia é outra, a dos grooves na guitarra, temas instrumentais e timbres nada convencionais. Além disso, sempre está na companhia de um bom Hammond B3.
Ousado a ponto de gravar discos apenas instrumentais, são os casos de Speculatin’ (2000) e Specified (2010). Perto do jazz, sem dúvida, mas sem esquecer suas raízes blueseiras.
Nasceu e cresceu em Chicago, cidade onde o blues ganhou corpo e ficou valente. Formou sua primeira banda em 1989 e não parou mais de excursionar pelo mundo, levando sua música a Israel, Espanha, Inglaterra, Holanda, Dinamarca, França, Itália, Alemanha, Noruega, Bélgica, Suíça, Polônia, Luxemburgo, México, e Canadá. Veio ao Brasil – São Paulo – acompanhando Pinetop Perkins no começo dos anos 90.
Quando usa cantor, opta pela diversidade. Gravou discos com Tad Robinson, Barkin’ Bill Smith, Lynwood Slim, Lenny Lynn e Sharon Lewis. O formato permite a Specter explorar caminhos diferentes a cada CD, injetando personalidade nos trabalhos e proporcionando uma surpresa ao ouvinte a cada trabalho.
Morando na cidade que é referência para o blues desde os anos 50, Specter conviveu com artistas do gênero, respirando seus shuffles e aprendendo tudo o que os cobras podiam ensinar. Foi funcionário da Delmark Records até começar a gravar pela mesma e se tornar um dos principais nomes do cast. Eis Dave Specter que espera vir ao Brasil em Breve. Se depender do Mannish Blog será em dezembro desse ano.
Eugênio Martins Júnior – Costumo perguntar quando foi a primeira vez que o artista teve contato com o blues, como na música do Buddy Guy. Mas você nasceu em Chicago e imagino que tenha nascido e crescido com o blues. Então, quando começou no blues como músico?
Dave Specter – Cresci em uma família muito musical, ouvindo no rádio junto com meus pais artistas como Big Bill Broonzy, Leadbelly e Howlin' Wolf e Muddy Waters e a coleção de discos dos meus irmãos mais velhos. Comecei a tocar guitarra quando tinha dezoito anos e fui enfeitiçado pelo blues logo em seguida. A visão de B.B. King, Junior Wells e Buddy Guy, Otis Rush e Koko Taylor teve um impacto muito forte em mim e decidi mergulhar na música e seguir carreira como músico de blues.
EM – Você começou a tocar guitarra tarde, mas aprendeu com Steve Freund, músico de Sunnyland Slim. Fale sobre esse tempo. Você conheceu o velho Sunnyland?
DS – Sim, conheci. Às vezes tocava com ele e sua banda. Ele tocava regularmante nas noites de domingo no B.L.U.E.S., na Halsted St., onde eu trabalhava como porteiro, minha primeira entrada na cena blues. Steve foi um dos meus primeiros professores e desempenhou um grande papel no meu desenvolvimento como músico. Sunnyland sempre foi muito animador com os músicos mais jovens e foi um verdadeiro patriarca do blues de Chicago.
EM - Conte-me sobre o seu tempo na Jazz Record Mart. O Bruce Iglauer, da gravadora Alligator me disse que lá era um ponto de encontro dos cobras. Você teve um contato com a nata da cena de Chicago?
DS - Trabalhava em tempo parcial na Jazz Record Mart, como balconista, e em tempo parcial na Delmark Records como despachante. Conheci um monte de músicos, escritores, produtores e pessoas da indústria enquanto trabalhava para Bob Koester. O mais importante foi o que eu aprendi sobre a música durante aqueles primeiros anos da minha carreira.
EM – Fale-me sobre os cantores, você teve alguns bons nomes, como Bill Barkin 'Smith, Tad Robinson, Lenny Lynn e Lynwood Slim. Você os escolhe para cada trabalho?
DS – Geralmente, a Delmark Records se interessa em gravar com cantores diferentes, tive sorte em ter trabalhado com alguns grandes.
Eu trouxe Lynwood Slim a minha cidade natal no estado de São Paulo. Ele é um grande gaitista, tem um ótimo timbre e é também um ótimo cantor e cheio de histórias para contar. Ele gravou um álbum com uma banda brasileira chamada Igor Prado Blues Band, você os conhece?
DS – Sim, ouvi no Lucerne Blues Festival, na Suíça, no ano passado. Eles realmente soam muito bem e fiquei surpreso quando vi o quão jovens eles eram.
EM – Acho que Speculatin’, seu álbum instrumental de 2000 será lembrado como um divisor na sua carreira. Quero dizer, antes dele havia gravado alguns números instrumentais, mas em Speculatin’ você fez uma mistura de blues e jazz bem interessante. E a presença do Hammond B3 é mais forte neste trabalho também. Você concorda?
DS - Sempre adorei escrever e gravar músicas instrumentais em todos os meus álbuns. Nos dois álbuns instrumentais, Speculatin e Spectified espero poder transmitir meu estilo e minha abordagem como um músico, escritor e produtor. Sou um grande fã do órgão Hammond desde a primeira audição dos registros de B.B. King nos anos 60. Também sou apaixonado pelos mestres do B3 Jimmy Smith e Jack McDuff.
EM - Ainda em Speculatin', que tem Birk's Works de Dyzzy Gillespie, Look Ka Py Py dos Meters e outras. Parece que gravar este álbum foi divertido pelo repertório. Fale um pouco sobre essas sessões.
DS - Meu repertório instrumental é composto de canções originais, juntamente e principalmente de versões de artistas que amo e respeito. Eu escuto de tudo, desde blues de Chicago, New Orleans R&B, Soul Jazz, Country Blues. Minha escolha de músicas instrumentais mergulha nesses estilos e tento colocar minha própria marca nelas.
EM - Dez anos depois você gravou Specified, um álbum similar. Quero dizer, um disco intrumental que não funciona apenas no mundo do blues, mas que pode levar você a outros públicos.
DS - Estou definitivamente interessado em atingir um público mais amplo com a minha música, bem como ganhar mais notoriedade no mundo do blues.
EM – Um amigo me disse que quando ele grava uma música instrumental é como se estivesse purgando uma música que está vivendo na sua cabeça. Você concorda?
DS- Como eu não canto, vejo a guitarra como a minha voz musical. E sim, para responder a sua pergunta, eu vejo temas instrumentais como a música que vive dentro de mim ... e precisa sair.
EM – Para mim a Delmark e a Alligator são as marcas de blues mais respeitadas de hoje. Juntos, elas juntaram o que melhor foi produzido no blues últimos anos. Como você vê a cena de blues hoje?
DS - A cena de blues ainda é bastante forte, embora eu não sou muito louco sobre o som de blues/rock que domina a cena atual. Como a indústria fonográfica mudou dramaticamente, definitivamente será um desafio para os rótulos estabelecidos como Delmark e Alligator permanecerem fortes e viáveis. Espero que mais artistas e bandas novas apareçam na cena e continuem a tradição dos mestres do blues e ao mesmo tempo, criando seus próprios sons e estilos, o que é vital para manter o blues contemporâneo – em vez de parecerem e soarem como um museu de história.
Dave Specter's interview
Eugênio Martins Júnior - I use to ask how was the first time the artists met the blues, like a Buddy Guy song, but you was born and grew up in Chicago. I can imagine that you born and grew up with the blues. So, when and how you get in to the blues as a musician?
Dave Specter - I grew up in a very musical family and heard records by Big Bill Broonzy, Leadbelly, Howlin' Wolf and Muddy Waters from my parents' radio listening and older brother's record collection. I started playing guitar when I was 18 and fell under the spell of the blues soon after that. Seeing B.B. King, Junior Wells and Buddy Guy, Otis Rush and Koko Taylor had a very powerful impact on me and I decided to immerse myself in the music and pursue a career as a blues musician.
EM – You started learn guitar later, but started well with Steve Freund, sidemen of Sunnyland Slim, tell me about that time. Did you knew the old Sunnyland?
DS - Yes I knew - and sometimes sat in with Sunnyland Slim and his band.
He played a steady Sunday night gig at B.L.U.E.S. on Halsted St. where I worked as a doorman when I first broke into the blues scene.
Steve was one of my early teachers and played a huge role in my development as a musician. Sunnyland was always very encouraging with younger musicians and was a true patriarch of Chicago blues.
EM – Tell me about your time in Jazz Record Mart. Alligator boss, Bruce Iglauer, told that was a point of Did you had a contact with the cream of Chicago scene?
DS - I worked part time at Jazz Record Mart as a sales clerk and part time at Delmark Records as a shipping clerk. I met alot of musicians, writers, producers and industry people while working for Bob Koester. Most important was what I learned about the music during those early years in my career.
EM - Tell me about the singers, did you had some good of then, like Barkin' Bill Smith, Tad Robinson, Lenny Lynn and Lynwood Slim. You choose each according a new job?
DS - Often Delmark Records was interested in recording me with different singers and I was lucky to have worked with some great ones.
EM – I brough Lynwood Slim's to my hometown in São Paulo state. He is a great harp player – a good tone – and singer and he is full of history to tell. He recorded an album with a brasilian band call Igor Prado Blues Band, do you know they?
DS - Yes. I heard them at the Lucerne Blues Festival in Switzerland last year. They really sounded great and I was surprised when I heard how young they were.
EM – I think Speculatin', your 2000 instrumental álbum, it's aways still remember as your career divisor. I mean, before they, did you recorded some instrumental numbers but in Speculatin' did you make a blues and jazz blend like never before. And a presence of Hammond B-3 is most strong in this job. Do you agree?
DS - I've always really enjoyed writing and recording instrumental tunes and my 2 all-instrumental albums, Speculatin' and Spectified hopefully convey my style and approach as a musician, writer and producer.
I've been a big fan of the Hammond organ since first hearing late 60s B.B. King records and also falling in love with the music of B3 masters like Jimmy Smith and Jack McDuff.
EM – Still in Speculatin', it's a Dyzzy Gillespie's Birk's Works, The Meters' Look Ka Py Py and others. Looks like to record this álbum was very funny. Tell me about this repertoire and the sessions.
DS - My instrumental repertoire consists of mostly original tunes along with covers that reflect artists and songs that I love and respect.
I listen to everything from Chicago Blues to New Orleans R&B, Soul Jazz to Country Blues. My choice of instrumental tunes draws from many of these styles and I try to put my own stamp on them.
EM – Ten years later you recorded Specified, a similar álbum. I mean, that instrumental open doors not even in blues world but you can play in jazz festival and get more public.
DS - I'm definitely interested in reaching a wider audience with my music as well as gaining more notoriety in the blues world.
EM – A friend told me when they record a instrumental number is like flowing out the music that lives in his head? Do you agree?
DS - As I don't sing, I see the guitar as my voice in music. And yes, (to answer your question) I see instrumentals as the music that lives inside of me...and needs to come out.
EM – To me Delmark and Alligator are the most respect blues labels today. Together they joined what better was produced in the blues last years. How do you see the blues scene today?
DS - The blues scene is still fairly strong although I'm not too crazy about the blues/rock sound that dominates the scene today.
As the record business has dramatically changed, it will definitely be a challenge for established labels like Delmark and Alligator to remain strong and viable. I hope that more younger artists and bands appear on the scene that will carry on the tradition of the blues masters - while also creating their own sounds and styles that keep the blues contemporary and vital - rather than sounding like exhibits at a history museum.