Pierre Lacocque, Inetta Visor, Kenny Smith, Stephen Howard e Carl Weathersby
Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Divulgação
Ao longo da existência, e aí vão 20 anos na estrada, a banda de blues Mississippi Heat teve em seu line-up um verdadeiro “dream team” do Chicago Sound.
Foram tantos artistas de peso que passaram por ela que corro o risco de esquecer algum, mas vamos à ardua tarefa: Robert Covington (bateria e vocal), Billy Flynn (guitarra), James Wheeler (guitarra), Bob Stroger (baixo), Allen Kirk (bateria), Barrelhouse Chuck (piano), Steve Doyle (guitarra), Chris Cameron (teclado), Max Valldeneu (guitarra). Além dos convidados de luxo, entre eles: Lurrie bell (guitarra), John Primer (guitarra), Danny Draher (guitarra).
Entre as cantoras: Deitra Farr, Mary Lane e Zora Young. A formação atual conta com Inetta Visor, Rhonda Preston (vocais), Kenny Smith (bateria), Stephen Howard (baixo), Carl Weathersby (guitarra). Todos liderados pelo gaitista e fundador Pierre Lacocque, um judeu belga que se mudou para Chicago bem novo com sua família e incorporou o espírito musical da cidade.
Se o Mississippi Heat tornou-se uma das principais referências quando se fala do “novo blues” de Chicago foi por causa de Pierre, que esteve sempre aberto à diversidade musical da cidade e aos diferentes ritmos mas, nem por isso, perdeu a direção da banda.
Let's Live It Up, o mais recente trabalho do Mississippi Heat, traz 14 temas poderosos que, a começar pela faixa título que abre o CD, passeiam por toda a aquarela musical da cidade mais blueseira do mundo.
O disco foi premiado em uma votação por ouvintes em todo o mundo, colocando o Mississippi Heat no primeiro time. Em entrevista exclusiva ao Mannish Blog, Pierre fala sobre tudo isso e se mostra um conhecedor sobre o blues feito no país chamado Brasil. Agradeço a intermediação de Fernanda Leite de Barros, blueseira da pesada.
Eugênio Martins Júnior – Você nasceu em Israel, viveu na Europa (Bélgica, França e uma pequena temporada na Alemanha) e mudou-se para Chicago em 1969. Eram os anos de ouro para o rock and roll e o Chicago blues. Foi isso que o impulsionou a tocar blues? Quero dizer, Big Walter Horton, Buddy Guy, Muddy Waters e outros estavam por lá, foram eles que o fizeram tomar a decisão de tocar essa música?
Pierre Lacoque – Há duas razões distintas para eu ter me tornado um gaitista. A primeira é que desde a infância sentia uma profunda tristeza, como se não pertencesse a esse mundo. Mesmo tendo pais amorosos e devotados aos três filhos – tenho um irmão um ano e meio mais velho, Michael, e uma irmã quatro anos mais nova, Elisabeth – Tinha essa sensação estranha. Até meus últimos anos na adolescência não sabia como me expressar verbalmente, me sentia feio, incompetente e tímido.
A segunda razão foi porque senti a harmônica como uma dádiva. Meu pai havia me dado uma harmônica verde de brinquedo quando tinha dois anos de idade. Não tinha mais do que quatro furos, mas quando tocava me fazia chorar. Aquele som caloroso e choroso me tocava. Através dos anos prestei atenção nos gaitistas no rádio e nas gravações, embora nunca me senti impelido em tocar o que estava ouvindo. Os Beatles me vêm a mente como exemplo. Enquanto músicas como Love Me Do encantavam meus ouvidos, não me inspiravam a tocar harmônica. Mesmo o Elvis Presley – que teve uma pesada influência na tradição de Chicago – fez muito por mim naquela época. Minha exposição ao blues era limitada a alguns artistas como Ray Charles, Sidney Bechet, Johnny Halliday e Otis Redding. Somente quando cheguei em Chicago, no verão de 1969, com 16 anos e meio foi que ouvi o som da gaita pela pela primeira vez. De fato, o primeiro gaitista que ouvi foi Big Walter Horton na Universidade de Chicago. A experiência mudou minha vida pra sempre. Eu não podia acreditar que aquele som de harmônica existia. O som amplificado – naquela noite ele usava um amplificador Fender Princeton – o que ele “fabricou” me transformou. Minha vida ganhou direção. Me tornei esperançoso, inspirado e mais feliz. Minha família percebeu e me apoiou. O que eu gosto na gaita blues é o som cheio de emoção e expressividade. Como todas as artes, o blues convida os artistas a expressar o que há de mais profundo em sua alma. Isto é, ser transparente, real e autêntico. Quanto mais profunda a emoção expressada, melhor. E é exatamente o contrário de como nós crescemos na Bélgica, meu país de origem. Manter o controle total e controlar as emoções friamente era um imperativo cultural (meus pais são belgas e eles possuem ancestrais através dos séculos). O blues trouxe-me a sanidade e normalidade.
Mas ter sentimento não é o suficiente para tocar blues. Tem de trabalhar duro para fazer de seu instrumento sua voz, seja piano ou guitarra. Com relação à gaita, o que eu mais prestei atenção foi ao timbre, a vibração das minhas notas blues e o fraseado. Também passo muito tempo nas melodias para realçar o humor da música. Alguns gaitistas profissionais procuram crescer nesses quesitos. Passam a vida toda tentando. Para mim, os melhores timbres de harmônica que ouvi foi no começo da carreira de James Cotton, Little e Big Walter. Também Paul Delay, Kim Wilson, Bharath Rajakumar, Christelle Berthon, Jason Ricci, e Rod Piazza.
EM – Você conheceu a Maxwell Street e o South Side de Chicago naquela época? Como era o circuito de clubes e a cena blues da cidade?
PL – Em 1969 e no começo dos ano 70 eu ainda era um jovem introvertido e não um aventureiro. Devo ao meu irmão Michael minha incursão aos clubes. Ele continuamente me encorajava ir aos eventos. E agradeço a ele ter conhecido o Rosa's Lounge, onde me tornei amigo de Junior Wells. Ele gostava de mim e nunca deixou de cuidar de mim quando eu o visitava. E isso foi até sua morte em janeiro de 1998. Ele gostava da minha harmônica. Quando eu era um dos primeiro discípulos de Junior Wells você pode sentir sua influência na minha abordagem: manifestada emocionalmente em algumas notas.
EM – Você teve um forte passado judeu-cristão, foi filho de um estudioso em teologia, e como seus irmãos, teve uma educação judia ortodoxa em uma escola em Bruxelas. Você estudou filosofia hebraica, latina, grega e cristã, existencialismo, história das religiões. Então, você terminou um doutorado em psicologia, publicando artigos e um livro. A gente pode dizer que o diabo fisgou mais uma alma para o blues?
PL – Realmente, o blues frequentemente é associado ao demônio por celebrar atos profanos como a promiscuidade sexual e alcoolismo. Tipicamente, o estilo de vida dos músicos de blues é bruto e duro. A sobrevivência financeira e emocional estão sempre à frente de suas procupações. Alguns artistas escrevem canções cruas e não se aventuram além do “pobre de mim”, tipo minha mulher e minha vida são uma droga. Muddy Waters, Buddy Guy, Junior Wells, Jimmy Rogers, Little Walter e tantos outros gravaram esses temas.
O blues também fala sobre a celebração da vida e do amor. Blues é uma música exististencial por excelência. Tem contextos cultural e histórico distintos do local de onde veio. No entanto, não há restrições quanto ao que um compositor/cantor pode tocar, inclui-se aí Constipation Blues (Blues da constipação) de Jimmy Lee Hawkins, uma música sobre ser ... constipado! Tudo que ele faz nessa música é expressar rosnados e barulhos estomacais. E ainda é uma canção de blues bem conhecida também.
Estes têm pouca atração para mim. Prefiro focar em músicas com mensagens existenciais, como solidão, injustiça social, poluição, pais negligentes, ou como alguns homens tomam suas esposas ou namoradas sem consentimento. Também gosto de ouvir e escrever canções de amor. Blues não é música do diabo, se você optar por isso. Essa música me liberta, me move, e me permite refletir sobre a vida em todos os seus aspectos, sejam eles edificante ou não.
EM – Mississippi Heat é uma banda conhecida no mundo inteiro. Conhecida também por ter músicos estelares, um verdadeiro “quem é quem” do blues contemporâneo de Chicago. Essa foi sempre sua intenção?
PL - O destino tem sua própria agenda. Não, eu não decidi conscientemente contratar blueseiros ou mulheres só porque eles são bem conhecidos. A linha de fundo é que eu gosto de tocar com músicos consagrados. Eu não tenho paciência para ouvir músicos medianos ou imitadores pretensiosos, uma vez que eles rapidamente me causam um sentimento desagradável. Sempre estive atento às boas oportunidades quando elas se apresentam. Significa que, se Billy Boy Arnold, Carl Weathersby, Lurrie Bell, John Primer estão disponíveis para uma gravação ou para viajar, provavelmente irei considerar estas opções. Muitos músicos foram contratados para tocar o Mississippi Heat no passado, porém, poucos foram escolhidos para uma parceria de longo prazo.
EM – O mais recente CD do Mississippi Heat, Le'ts Live It Up ganhou o prêmio Blues Blast na categoria de Melhor Blues Tradicional, mas o álbum não é tão tradicional. Há muitos ritmos como soul, funk e até gospel nele.
PL – Boa pergunta. Antes de tudo, esse prêmio é escolha dos ouvintes. Fãs de 80 países votam nele. Há uma variedade de gravações de blues tradicional para avaliar e, predominantemente, eles votaram no Mississippi Heat. Porque? Bem, primeiro: todos que ouviram Let's Live It Up com cuidado, ouviram o autêntico Chicago Blues. Isso não quer dizer que o nosso CD não tenha um toque moderno entrelaçado com a cultura do blues dos anos 50. Ele tem. No entanto, acredito que está mergulhado dentro de um contexto cultural. Acredito que você não consiga chegar perto daquele sentimento tradicional quando você escuta canções como Steadfast, Loyal and True, Daggers & Spears ou Betty Sue, como Earl Hooker Earl/Junior Wells sentiam, por exemplo. Delmark Records é conhecido por ser o derradeiro selo de blues tradicional, mas tem demonstrado entusiasmo em relação a ao novo som do Mississippi Heat. Estamos planejando gravar um novo CD (talvez um DVD também) na Delmark em 2012.
Pierre Lacocque e Carl Weathersby
EM – Mary Lane, Deitra Farr, Zora Young, e agora, Inetta Visor. Como você acha essas essas cantoras? Elas caem das árvores? Inetta é uma grande cantora com uma voz poderosa. Como ela entrou no grupo?
PL – Nosso primeiro cantor no começo dos anos 90 foi um cantor chamado Robert Covington (ex baterista de Sunnyland Slim). Começamos a primeira formação do Mississippi Heat entorno dele. Éramos quatro músicos naquele tempo: Bob Stroger no baixo, (ex-Jimmy Rogers, Willie Mabon, Willie “Big Eyes” Smith, além de outros); Robert Covington na bateria e vocal, Jon McDonald (agora com Magic Slim) e eu na harmônica. Cantor suave, Robert era um crooner hipnotizante. Seu nome de palco era Robert “Voz de Ouro” Covington. Após sua saída, em parte por sua saúde debilitada, focamos nas cantoras como voz principal. Tornou-se nossa assinatura, um line-up exclusivo. No final dos anos 90 e começo dos 2000 também tivemos a Katherine Davis por alguns anos. Ela gravou com a gente Handyman (1998/1999). Katherine é uma cantora e entretainer sublime. Isso serve para todas as outras mulheres que você mencionou acima. Detalhes sobre essas cantores podem ser encontrados na minha entrevista com Niles Frantz, que está publicada em nosso website. Também trabalhou com Angela Walker por um tempo, no início dos anos 2000, embora nunca gravou com a gente. Angie ficou apenas por um breve período. Ela é co-autora de nossa canção Goin 'Home, que aparece em Footprints on the Ceiling (2003). Foi cantada por Inetta Visor. Inetta veio até nós em 2001 através de uma amiga em comum, Sue Conway, também uma vocalista impressionante. Estávamos no meio do trabalho em nosso CD Footprints on the Ceiling e pensamos em convidá-la para gravar nele. A emoção e a química foi instantânea. O resto é história. Inetta tem sido um membro permanente da banda desde então.
EM - Robert Covington, Billy Flynn, James Wheeler, Bob Stroger e tantos artistas tocando no Mississippi Heat desde 1991. E eles tocam no máximo dois ou três álbuns. Como é que esta mudança de estilos afeta o som da banda?
PL - Todos os bandleaders dependem de seus sidemen e eu não sou exceção. Sempre tento trabalhar com pessoas que são mestres em seu ofício. Mesmo que isso de alguma forma sacrifique o som de Chicago. Tenho grandes interesses bluesy, que exigem habilidades específicas da minha banda. Como você sabe que eu tenho gravado Reggaes, Twists, Swings, Lambadas/Calypso, grooves em tons menores e assim por diante. Um músico de blues normal não é capaz de se entregar à sensação que estou procurando nesses grooves. É por isso que eu escolho músicos específicos para cada projecto de gravação. Me orgulho em escolher artistas estelares que sei que vão levantar a banda. Chris "Hambone" Cameron nos teclados, Giles Corey e Chris Winters nas guitarras são apenas alguns exemplos de instrumentistas talentosos aos quais me refiro. Um contribuinte significativo dos últimos 10 anos para o nosso som - além de Kenny "Eyes Beedy" Smith na bateria - é Carl Weathersby na guitarra. Ele se adapta a todos os estilos. Um verdadeiro génio soulful (cheio de alma).
EM – Já que mencionou, fale sobre o grupo atual: Kenny Smith, Stephen Howard e Carl Weathersby.
PL – Carl vem sendo nosso parceiro desde 1998, quando gravou Handyman. Quando não estava ocupado com sua banda, ele adorava tocar conosco. Kenny “Beedy Eyes” Smith está com a banda desde 1997. Às vezes usamos Andrew Thomas na bateria(ex-Bernard Allison e Ana Popovic) porque Kenny é muito requisitado para as gravações. Nos dois casos é muito divertido de tocar com eles. Kenny é humilde e raramente fala sobre suas realizações, mas ele é um dos maiores bateristas de blues no mundo. Ganhou vários prêmios que provam isso. Stephen Howard ficou na banda do final dos anos 1990 até aproximadamente 2003. Ele deixou a banda por alguns anos, e voltou ao Heat no outono de 2005. É um marcador de ritmo deslumbrante.
EM - Chicago é considerada a Meca do blues, mais do que qualquer outra cidade nos Estados Unidos. Como você vê a cena de blues de Chicago de hoje?
PL - Muitas bandas de Chicago não parecem interessadas no blues tradicional do pós guerra. Eles preferem mergulhar em Rhythm and Blues ou Soul, por exemplo. É surpreendente para mim, ainda que se soem verdadeiros. Bandas de outras regiões dentro dos Estados, como Califórnia, Texas ou Minnesota, parecem mais apaixonados pelo som de Chicago e pela cultura. Sei que o Brasil e norte da Europa também estão indo fundo nessa tradição. Não estou preocupado com o futuro do som Chicago tradicional, você tem que sair do circuito comercial para ouvir de autêntico blues de Chicago. Como no sul ou no lado oeste da cidade. É lá que permanecem os blueseiros incríveis. Se você gosta de Carl Weathersby, Doug McDonald e Carlos Johnson e outros como Guy King ficará surpreendido. Para um som clássico de Chicago temos artistas como John Primer, Lurrie Bell, Johnny Rocking, Taildragger, Nick Moss, Eddie Shaw, e Chuck Barrelhouse, por exemplo.
EM – O quanto da cena brasileira é familiar para você, especialmente os gaitistas. Há muitos deles, como Ivan Márcio (que gravou dois álbuns em Chicago), Big Chico (gravou um álbum em Los Angeles), Jefferson Gonçalves (grava e toca por aqui com Peter Madcat Ruth) e tantos outros.
PL - Sim, conheço gaitistas como Flavio Guimarães, Ivan Márcio, Carlos May e Sérgio Duarte. Também estou familiarizado com Róbson Fernandez e Jefferson Gonçalves. Todos são impressionantes, e admiro o seu virtuosismo. Gosto da Igor Prado Band também!
EM – Essa vai para os gaitistas. Qual o equipamento que usa no palco para obter seu timbre?
PL - Atualmente toco harmônica exclusivamente através de um amplificador Sonny Jr. (o Cruncher Super), com um microfone Astatic ou Turner (construído com elementos magnéticos Shure). Uso um dispositivo Kinder anti-feedback para controlar os problemas com feedback, uma unidade Electro-Harmonix de Reverb, um Delay DD-3 Boss, e SEMPRE microfono meu amplificador através do sistema de PA: Ou a partir do de amplificador Line-out e/ou com um microfone na frente dele. Para lidar com problemas de volume às vezes levo o meu próprio sistema de PA, somente para a harmônica. Pode parecer chato, mas é muito bom poder me ouvir.
Pierre Lacoque's interview to Mannish Blog
Eugênio Martins Júnior – You were born in Israel, lived in Europe (Belgium, France, and a brief stint in Germany), and moved to Chicago in 1969. The 60’s were the golden era for Rock ‘n Roll, and for Chicago blues. Is this what propelled you to play the blues? I mean, did you hear Big Walter Horton, Buddy Guy, Muddy Waters, among others, and did that lead you to make the decision to play that music?
Pierre Lacoque – There are 2 distinct reasons that led me to become a harmonica player. The first was that ever since early childhood, I felt a profound sense of sadness and of not fitting in this world. In spite of having loving parents, devoted to the 3 of us -- I have a 19-month older brother Michel, as well as a four-year younger sister, Elisabeth – I felt I was an oddity. Until my late teens, I didn’t know how to express myself verbally, felt ugly, incompetent, and shy.
The second reason is that I knew that the harmonica was THE God-given instrument of choice for me. My father had bought me a green harmonica toy when I was around 2 years old. It had no more than 4 holes. Playing it made me cry. The warm organ-like sounds and its plaintive sounds made me feel understood! Over the years, I paid attention to harmonica players on the radio or records, though I never felt an urge to play what I was hearing. The Beatles come to mind, for instance. While songs like “Love Me Do” attracted my ear, it didn’t particularly inspire me to learn the harmonica. Even Elvis Presley – who was heavily influenced by the Chicago blues tradition - didn’t do much for me at the time. My “Blues” exposure was limited to such artists as Ray Charles, Sidney Bechet, Johnny Halliday, and Otis Redding.
It is only when I arrived in Chicago in the Summer of 1969, at the age of 16 ½, that I heard a blues harp sound for the first time. Indeed, the first harp player that I heard was Big Walter Horton at the University of Chicago. The experience changed my life forever. I could not believe that these harmonica sounds existed. The amplified sounds – he used a Fender Princeton amplifier that night - that he “fabricated” transformed me. My life now had a direction. I became hopeful, inspired, and happier. My family was also excited and supportive.
What I love about the blues harp sound is its emotional and soulful expressiveness. Also, as with all the Arts, blues music invites artists to express what’s in the depth of their soul. That is, to be transparent, real, authentic. The deeper the emotion expressed, the better. This is the exact opposite message to how we were brought up in my country of origin - Belgium, Europe - where keeping in total control and managing one's emotions stoically was the cultural imperative! (Both my parents are Belgians; so are their ancestors, going back centuries…). Blues music brought me sanity and normalcy!
To feel deeply is not enough to play blues well, however. One has to work hard at mastering his or her own instrument, be it a voice, a guitar or a piano. For the harmonica, what I pay extreme attention to is the tone, the vibrancy of my “feeling” notes, and phrasing. I also spend a lot of time on melodies to enhance the mood of a song. Few professional harp players have reached maturity in these areas. Even after a lifetime of trying! For me, the best blues harmonica tones I have ever heard are those of James Cotton (early years), Little and/or Big Walter, Paul Delay, and a few others like Kim Wilson, Bharath Rajakumar, Christelle Be rthon, Jason Ricci, and Rod Piazza.
EM – Did you knew Maxwell Street and the Chicago’s South Side? How was the circuit of clubs and Chicago blues scene at that time?
PL – In 1969 and the early ‘70s, I was still a shy and introverted youth, and was not an adventurer! I reached out to clubs thanks to my brother Michel. He continuously encouraged me to go into blues venues. It is thanks to him that I got to know Rosa’s Lounge, where I befriended Junior Wells (b. 1934). He liked me, and never faltered in taking care of me when I visited him. And this all the way until his death (January 9th, 1998). He enjoyed my harmonica style. While I am not primarily a Junior Wells disciple, you can hear his influence on my harp approach: Making an emotional statement with few harp notes.
EM – You have a strong Judeo-Christian background, being the son of a well-known Christian Theologian, and having gone with your siblings to a Jewish Orthodox school in Brussels. You studied Old and Modern Hebrew, Latin, Greek, Jewish and Christian philosophy, Existentialism, history of Religions, and the like. Then you finished a doctorate in Clinical Psychology, even published articles and a book. What brought you to the blues? Can we say that the devil can claim to have fished out one more soul to the blues?
PL - Indeed, Blues music is often associated with the devil because it “celebrates” profane (non-religious) acts such as sexual promiscuity or drinking. The lifestyle of Blues musicians is typically rough and tough. Financial and emotional survival is at the forefront of their worries. Some artists write crude songs, and do not venture beyond the “poor me”, my woman or life-done-me-wrong type of songs. Muddy Waters, Buddy Guy, Junior Wells, Jimmy Rogers, Little Walter and so many others, all have recorded on these themes. And yet, Blues music also talks about the celebration of life and of love. Blues is an existential music par excellence. It has a distinct cultural and historical context from which it comes from. Yet there are no restrictions as to what a Blues writer/composer can touch, including Jimmy Lee Hawkins’ “Constipation Blues” which is a “singing” song about being … constipated! All he does in that song is expressing growls and making stomach noises! And yet it is a well-known Blues tune too.
That has only little attraction for me. I prefer focusing on songs with existential messages, such as on loneliness, social injustice, pollution, neglectful parents, or how some men take their wives or girlfriends for granted. I also enjoy listening and writing love songs. Blues is not the devil’s music if you choose it not to be. This music frees me, moves me, and allows me to reflect about life in all its aspects, be they uplifting or not.
EM - Mississippi Heat is a world-renown band. It is known to always have stellar musicians in its midst, a true Who’s Who of the contemporary Chicago blues. Was it your intention to build a band with Chicago blues luminaries?
PL - Destiny has its own agenda. No, I didn’t consciously decide to hire legendary blues men and/or women just because they are well-known. The bottom-line is that I love to perform with accomplished musicians. I don’t have the patience to listen to average musicians or pretentious imitators as it would quickly bring me into a desperate funk. I always aim as high as the opportunities bring forth to me. If it means that Billy Boy Arnold, Carl Weathersby, Lurrie Bell, or John Primer are available for a recording or for traveling, I am likely going to consider these options. Many musicians have been hired to play with Mississippi Heat in the past. Many are indeed called, yet very few are chosen for a long-term partnership.
EM - Your new recording Let's Live It Up recently won the “Best Traditional blues CD of the year” by Blues Blast Music Awards”. Yet the album isn't so traditional. There's so many rhythms like soul, funk and even gospel recorded on it. Tell me about it.
PL - Good question. First of all, this award is a “people’s choice award”. Fans from 80 countries world-wide voted on this award. They had a variety of traditional blues recordings to evaluate and rate, and overwhelmingly voted for Mississippi Heat. Why? Well, first of all, for those who listen closely to Let’s Live It Up, they will hear authentic Chicago Blues. This is not to say that our CD doesn’t have a modern feel intertwined with the ‘50s blues culture. It does. Yet, I believe it is steeped within that cultural spirit. I don't think you can get closer to a traditional feel when you listen to songs like "Steadfast, Loyal and True", "Daggers & Spears" or to "Betty Sue", which has an Earl Hooker/Jr. Wells feel for instance.
Delmark Records – known to be the ultimate traditional blues label - has shown enthusiasm towards us, welcoming the fresh edge that Mississippi Heat brings. We are planning to record a new CD (maybe a DVD as well) with that label for 2012.
EM - Mary Lane, Deitra Farr, Zora Young and now Inetta Visor. How did you found these women singers? They seem to fall from trees in Chicago!? Inetta is a great singer and has a powerful voice. How did she join the group?
PL - Our first singer in the early 1990’s was a male singer, whose name was Robert Covington (formerly Sunnyland Slim’s drummer). We started the first incarnation of Mississippi Heat around him. We were 4 musicians at the time: Bob Stroger on Bass (formerly with Jimmy Rogers, Willie Mabon, Willie “Big Eyes” Smith, among many others), Robert Covington on Drums and Vocals, Jon McDonald (now with Magic Slim), and myself on harmonica. A smooth singer, Robert was a mesmerizing crooner (“Robert ‘Golden Voice’ Covington” was his stage name).
After Robert left - due partly to a failing health - we focused on women singers only, as lead singers. It became our signature and unique line-up feature. In the late 1990’s and early 2000’s we also had Katherine Davis with us for a few years. She recorded Handyman (1998/1999) with us. Katherine is a superb singer/entertainer. This is true with all the other women you mentioned above. Details about these singers can be found within my interview with Niles Frantz, which is posted on our website.
We also worked with Angela Walker for a while in the early 2000’s, though she never recorded with us. Angie stayed only for a brief stint. She is a co-author of our song “Goin’ Home” which appears on Footprints on the Ceiling (2003). It was sung by Inetta Visor.
Inetta came to us in 2001 via a mutual friend, Sue Conway, also a stunning vocalist. We were in the middle of working on our CD Footprints on the Ceiling (2002), and we thought of asking her to record on it. The thrill and chemistry was instantaneous. The rest is history. Inetta has been a permanent member of the band ever since.
EM - Robert Covington, Billy Flynn, James Wheeler, Bob Stroger and so many artists played with Mississippi Heat since 1991. They play at most two or three albums. How does this change of styles affect your sound?
PL - All bandleaders depend on their side-men. I am no exception. I always try to work with people who are masters at their craft. Even if this means sacrificing some aspect to the Chicago sound.
I have wide bluesy interests, which require specific SKILLS from my band. As you know I have recorded Reggaes, Twists, Swings, Lambadas/Calypsos , groves in minor keys, and so forth. A standard blues musician may not be able to deliver the feel I am looking for these particular grooves. That is why I choose particular musicians for recording projects. I take pride in choosing stellar artists who I know will lift the band. Chris “Hambone” Cameron on keyboards, Giles Corey and Chris Winters on guitars are but a few examples of the gifted musicians and instrumentalists I am referring to. One significant contributor of the past 10 years to our sound - besides Kenny “Beedy Eyes” Smith on drums - is Carl Weathersby on guitar. He adapts to all styles. A true soulful genius.
EM - Tell me about the actual group: Kenny Smith, Stephen Howard and Carl Weathersby?
PL - Carl has been our part-time member since 1998, ever since the recording of Handyman. If he is not busy with his own band, he is likely to be performing with us! Kenny “Beedy Eyes” Smith has been with the band since March 1997. We sometimes use Andrew Thomas on drums (formerly with Bernard Allison, and with Ana Popovic) because Kenny is in huge demands for recordings. Both drummers are a joy to work with. Kenny is humble and rarely talks about his accomplishments, but he is one of today’s world’s top blues drummer. He’s earned numerous awards to prove it. Stephen Howard was in the band in the late 1990’s until about 2003. He left the band for a few years, and returned with the Heat in the Fall of 2005. A stunning time keeper.
EM – Chicago is considered the Mecca of the blues, more then any other city in the United States. How do you see the Chicago blues scene today?
PL - Many so-called blues bands in Chicago don’t seem interested in traditional, post-war Chicago blues. They rather delve into Rhythm and Blues or Soul, for instance. It is surprising to me, yet it feels true. Bands from other regions within the States, like California, Texas or Minnesota, seem more passionate about the Chicago sound and culture. I know that Brazil and Northern Europe too are deep into that tradition. I am not worried about the future of the traditional Chicago sound, yet in Chicago you have to go out off of the beaten path to hear authentic Chicago blues. Like in the South or West side of Chicago. It remains that we have awesome Blues players here. If you like Alert King, Carl Weathersy, Doug McDonald and Carlos Johnson, among others like Guy King will blow you away. From a vintage Chicago Blues sound aspect, you have artists like John Primer, Lurrie Bell, Rocking Johnny, Taildragger, Nick Moss, Eddie Shaw, and Barrelhouse Chuck , for instance.
EM – How familiar are you with the Brazilian blues scene and especially, its brasilian harp players? We have so many of then. Like Ivan Marcio (who recorded two albums in Chicago), Big Chico (he recorded an album in Los Angeles), Jefferson Gonçalves (recorded and plays around here with Peter Madcat Ruth) and so many others.
PL - Yes, I follow “Gaita” players from your country like Flavio Guimaraes, Ivan Marcio, Carlos May, and Sergio Duarte. I am also familiar with Robson Fernandez and Jefferson Goncalves. All are impressive, and I admire their virtuosity. I enjoy the Igor Prado band too!
EM – This is for harp players: which equipment do you play on stage to get your tone?
PL - Nowadays I play harp exclusively through a Sonny Jr. Amplifier (the Super Cruncher), with an Astatic or Turner microphone (built with Shure Magnetic elements). I use a Kinder Anti-feedback device to control feedback problems, an Electro-Harmonix Reverb unit, a DD-3 Boss delay, and ALWAYS mic my amplifier through the PA system: Either from the amp’s Line-out and/or with a microphone in front of the amp. To deal with loudness problems I sometimes bring my own PA system, just for the harp. Tedious, yet quite thrilling to be able to hear myself!