Uma história que continha todos os elementos para ter acabado mal. A avó havia sido escravizada. A mãe internada em uma instituição para lunáticos quando ele tinha apenas sete anos. Seu pai trabalhava para os gangsteres da favela mais barra pesada de Chicago, o south side.
O mesmo bairro onde milhares de homens, mulheres e crianças chegavam para ficar, fugindo da violência praticada contra eles no sul dos Estados Unidos. Também um lugar onde muito blueseiros chegados do Mississippi e da Louisiana acabaram fazendo história, após dois grandes êxodos.
Portanto, restava ao jovem pobre e ao seu irmão uma vida no crime que, por sinal, já estava encaminhada. Mas uma mudança de cidade e o esbarrão em um velho piano mudaram o curso da história.
A vida nunca foi fácil para o músico, compositor, arranjador, produtor e regente, Quincy Jones.
Sim, ele mesmo, amigo de Ray Charles, Frank Sinatra e Count Basie. Produtor dos melhores discos de Michael Jackson, Of The Wall e Thriller Jackson. Compositor de trilhas sonoras de dezenas de filmes para Hollywood. Responsável pela gravação de um dos maiores hits da era fonográfica, We Are The World, do projeto USA For Africa, que reuniu a nata da música pop da época: Ray Charles, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Dionne Warwick, Diana Ross, Cindy Lauper, Kim Carnes, Daryl Hall e John Oates, Huey Lewis, Henry Belafonte, Stevie Wonder, Lionel Richie, Paul Simon, Al Jarreau, Kenny Loggins, Steve Perry, Kenny Rogers, Tina Turner, Billy Joel, Willie Nelson e o próprio Michael Jackson. Fiz questão de citar todos esses nomes porque só um cara com a moral do Quincy Jones poderia reunir todos com apenas um telefonema.
Apesar de ter vivido a era de ouro do jazz e tocado com os gênios do estilo, Quincy não queria ser visto “só” como um nome do jazz. Nesse sentido seu temperamento era igual ao seu amigo Miles Davis – aquele outro que mudou os rumos da música mundial umas cinco vezes.
Nadou de braçada no funk nos anos 70 e alguns anos após a consagração em USA For Africa, nos 80, se associou aos rappers do momento para gravar o moderno Back on The Block, com Ice T, Kool Moe Dee, Big Daddy Kane, Siedan Garret, Chaka Khan e seu velho parca, Ray Charles.
Quincy Jones teve uma vida prolífica, mas doente. Sofreu com vários aneurismas ao longo da vida, o que o obrigou a fazer algumas operações no cérebro, duas delas em apenas dois meses.
Teve sete filhos de vários casamentos desfeitos, pois era um workaholic, e ainda seis netos e um bisneto.
Teve mais de 2900 músicas gravadas; mais de 300 álbuns gravados; 51 trilhas de filmes e programas de TV; mais de 1000 composições originais; 79 indicações ao Grammy, sendo 27 premiações; é um dos 18 ganhadores do E.G.O.T. (Emmy, Grammy, Oscar e Tony). Thriller foi o álbum mais vendido de todos os tempos, We are the World foi o single mais vendido de todos os tempos.
Há alguns anos sua saúde vinha dando sinais de enfraquecimento até que aos 91 anos, no domingo, dia 03 de novembro de 2024, faleceu Quincy, em sua casa em Los Angeles.