Na passagem dos anos de 1969/70 a casa de shows Fillmore East, em New York, recebeu a apresentação de Jimi Hendrix e sua Band of Gypsys, um de seus espetáculos mais memoráveis.
Primeiro porque o show em questão foi gravado ao vivo quando Jimi Hendrix, um dos artistas mais importantes da época se encontrava em um momento musicalmente iluminado. Havia acabado de reformular sua banda para desbravar novos caminhos, incorporando o baixista Billy Cox e o baterista e vocalista Buddy Miles. O show, registrado em filme e em disco está disponível até hoje.
Segundo por ter acontecido em um dos lugares míticos para o público roqueiro norte-americano, a casa de espetáculos Fillmore East, fundada pelo empresário Bill Graham.
Com o lançamento do livro Bill Graham apresenta: Minha vida dentro e fora do rock, da Editora Barracuda, os roqueiros brasileiros conhecerão algumas histórias passadas nos corredores mais escuros do lugar chamado pelos seus freqüentadores de “The Church of Rock and Roll”.
Graham já administrava o Fillmore Auditorium (depois Fillmore West), em San Francisco, na Califórnia, mas na nova casa o negócio se tornou realmente grande. O Fillmore East ficava no East Village, em New York, e foi lá que a nata da música pop dos anos 60 se apresentou e gravou discos. Nomes como Grateful Dead, The Doors, The Who, Cream, Eric Burdon & The Animals, Creedence Clearwater Revival, The Beach Boys, The Allman Brothers Band, Derek and the Dominos, Country Joe and the Fish, Janis Joplin e Big Brother and the Holding Company, Mountain, Humble Pie, Led Zeppelin, Neil Young and Crazy Horse, Pink Floyd, Procol Harum, John Mayall, The Byrds, Jefferson Airplane, Frank Zappa, Canned Heat, Miles Davis e muitos outros.
Tudo está registrado no calhamaço de mais de 500 páginas recheadas com depoimentos de pessoas próximas ao produtor dos maiores eventos musicais dos anos 60.
O único problema é que a cena musical só começa a aparecer lá pela página 150, o que pode aborrecer um pouco os leitores mais afoitos. Mas não será isso que irá tirar o gosto pela leitura, pois a história de vida de Graham é interessante.
Ela é contada desde a infância de Graham na Alemanha Hitlerista e a fuga pela Europa durante a Segunda Grande Guerra, passando pela adoção por uma família judia já nos Estados Unidos, e como o jovem morador do Bronx, bairro barra pesada de Nova York, forjou sua identidade cultural chegando aos dias de glória nos dois Fillmores.
Ele conta que freqüentava os cinemas do bairro, casas de dança e o famoso Teatro Apolo, no Harlem, onde viu se apresentar Billy Ekstine e Cab Caloway. Já adulto, em San Francisco, acompanhou a Mime Troupe, uma companhia de teatro que possuía o espírito dos anos 60, até alugar um velho teatro e transformá-lo no Fillmore West. O lugar se transformou no templo do rock da ensolarada Califórnia e foi onde muitas bandas começaram.
O livro traz histórias curiosas, como quando a banda do mexicano Carlos Santana, um garoto de 16 anos, recém chegado à Califórnia, passou de conjunto tapa buraco para atração principal do Fillmore West; ou quando o Cream, o super grupo de Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, abarrotou a casa durante duas semanas seguidas. Até o relacionamento e os problemas de Graham com relação aos Hell Angels, a temida gangue de motoqueiros.
Mas foi na costa leste dos Estados Unidos, no Fillmore East, de New York, que a coisa realmente ficou boa em termos de dólares. Bill Graham passou a ser considerado um dos maiores empresários do rock, o homem responsável por profissionalizar a coisa toda.
Além do próprio Bill Graham e do escritor Robert Greenfield, a história é contada por quem estava lá, gente de peso como Eric Clapton, Pete Towshend (do The Who, que também escreveu o prefácio), Carlos Santana, Peter Coyote, Jerry Garcia (Greatfull Dead), Ken Kessey, Robbie Robertson (The Band), Bob Geldof (Boomtown Rats), Ahmet Ertegun (capo da Atlantic Records), mais uma porrada de gente ligada ao show business.
Bill Graham apresenta: Minha vida dentro e fora do rock, é uma biografia para quem curte rock e se interessa por aqueles anos malucos que foram os 60. Mostra como um bando de garotos chapados armaram uma revolução sonora e como Bill Graham, o empresário, estava no lugar certo na hora certa e soube se aproveitar disso.
Quem coleciona discos sabe que o termo “Live At Fillmore East”, pode ser considerado uma grife. São grandes gravações de grandes shows. E a Biografia de Graham esmiúça toda essa história. É sem dúvida, um dos melhores lançamentos do ano para quem curte a música e o negócio que ela envolve.
PAUL ANKA
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