terça-feira, 12 de junho de 2012

Diário de Rio das Ostras – 4° dia – Roy Rogers segura dez mil pessoas embaixo de chuva

Roy Rogers - Costazul - 09/06/2012
Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Cezer Fernandes e Eugênio

O dia começou com uma série de entrevistas. Às 9h30 com o guitarrista novaiorquino Michael Hill; às 11h30 coletiva com o prefeito de Rio das Ostras e com Stênio Mattos, diretor do festival; e às 13 horas com o guitarrista Roy Rogers.
Perdi o show de Arthur Menezes, marcado para o mesmo horário da coletiva. Uma pena, todo mundo no mundo do blues acha que esse garoto é uma revelação da guitarra. Inclusive Buddy Guy, que o convidou para abrir um de seus shows em sua turnê brasileira em 2012. Por conta dos compromissos também não fui ao segundo show de Michael Hill na lagoa do Iriry.
A chuva, que caiu sem dó desde quinta-feira, e a ressaca no mar obrigaram a direção do festival cancelar a apresentação de Armand Sabbal – Lecco no palco da praia de Tartaruga. O show foi transferido para o palco Costazul, ontem mesmo, fechando a noite que teve Cama de Gato, Billy Cobhan, David Sanborn e Roy Rogers.
Cama de Gato, com Mauro Senise, Pascoal Meireles, Jota Moraes, faz um show com muita competência, sua mistura de samba com jazz baião com jazz é a carado Brasil e chega a emocionar. Jotinha, como é conhecido Moraes, é um cara que passa uma alegria verdadeira ao tocar todas aquelas tralhas na percussão.
Billy Cobhan é um dos bateristas mais reverenciados do mundo. Conheço o som do cara desde o lançamento de Spectrum, seu disco referência. A banda que tocou no festival é multiétnica, com músicos do oriente, Estados Unidos e Brasil. Ouvir seus discos e ver os seus vídeos é uma coisa, mas assistir ao show de um dos mestres da bateria de todos os tempos do lado do homem baixando o braço é um privilégio que poucas pessoas podem ter. A potência a qual ele ataca os tambores de seu kit e a variedade de situações criadas pelo panamenho é impressionante. Um dos melhores shows do festival.
David Sanborn representa o lado popular do evento. Todos os anos a direção procura misturar as atrações entre blues, jazz, artistas novos e sons palatáveis aos ouvidos menos treinados – tucanei o jazz farofa. Faz parte.
Porém, Sanborn faz o que faz com competência e a ficha corrida do cara fala por si. Para quem gosta de temas como Chicago Song, Double Vision, The Dream, Close Up, o show foi um prato cheio. Esses devem ter sido os temas instrumentais mais tocados nos anos 80.
Esse ano foi a segunda vez que Roy Rogers veio ao festival. A primeira foi em 2007 e eu estava lá e vi do que esse cara sua banda, os Delta Rhytmn Kings, são capazes de fazer em cima de um palco. Naquele ano sua apresentação já havia sido uma das melhores do festival e esse ano, agora não tenho dúvidas, foi a que mais empolgou. Ele já havia se apresentado no palco da Lagoa de Iriry um dia antes e a audiência já sabia o que esperar na noite de sábado no palco principal. Então, mesmo com a água caindo forte ninguém arredou pé. Três coroas que sabem tudo de música fazem muito mais barulho do que uma banda com dez pessoas. O baterista Billy Lewis e o baixista Steve Ehrmann são a cozinha perfeita.
Devido ao adiantado da hora não fiquei para ver o que restou para Armand Sabbal – Lecco, cujo show começou às 3h30 da madruga com toda a platéia cansada e ensopada. Mas antes de me evadir do recinto, consegui uma entrevista com o percussionista de Lecco, o brasileiro Gilmar Gomes. Os percussionistas brasileiros dominaram a cena, além de Gomes, também brilharam Jota Moraes, o Jotinha, com o Cama de Gato, e Marcos Lobo com Billy Cobhan. 

Diário de Rio das Ostras – 5° dia – Entre a sutileza de Duke e a pancadaria de Cobhan

Billy Cobhan - Lagoa do Iriry - 10/06/2012

No domingo, às 11h30, mais um show que teve seu horário e lugar alterados. Duke Robbilard, que faria sua gig às 14 no palco da lagoa foi transferido para o palco São Pedro, cedendo o lugar para David Sanborn que entraria às 13h45. Mais uma vez debaixo de chuva o veterano mostrou o que sabe sobre os ritmos americanos. Blues de Chicago, jump blues e jazz fazem parte do repertório de Wobble Walkin’, seu mais recente trabalho. A guitarra elegante de Duke é o melhor afago que os ouvidos podem querer. Mais um show embaixo de chuva incessante, mas com platéia cheia.
Às 17 horas foi a vez de Billy Cobhan, novamente, mostrar como se toca uma bateria. Após esse show, os bateristas na platéia que estavam em dúvida entre tocar e trabalhar no banco já se decidiram. O festival acabou com o sol querendo dar as caras. Sempre fica a impressão que poderia ter mais um dia. 
Todos os dias a Orleans Street Band, um combo de jazz tradicional, com trombone, trompete, tuba, washboard e banjo, aquecia a platéia entre as apresentações ou em pontos turísticos da cidade. Além de temas tradicionais como St Louis Blues, Blue Monk e C’est Si Bom, a Orleans também adapta à linguagem acústica temas pop como I Can See Clearly Now, All of Me e outros.    
Peguei o ônibus para o Rio de Janeiro às 10 da manhã da segunda-feira e passei em frente ao palco da praia de Tartaruga, que teve dois shows cancelados por causa do mal tempo. A estrutura ainda está lá montada sobre o mar exuberante e tricolorido de Rio das Ostras. Saí da cidade com o sol rachando.
No fim das contas, era para ter embarcado no aeroporto Santos Dumont para São Paulo às 15h10, mas só entrei em um avião no Galeão com um bebê chorando a viagem inteira às 18h20. Depois dessa maratona musical, meus ouvidos não mereciam.


Duke Robillard - 10/06/2012

Armand Sabbal - Lecco - Costazul - 09/06/2012

David Sanborn - Costazul - 09/06/2012

Romero Lubambo - costazul -08/06/2012

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