sábado, 9 de junho de 2012

Diário de Rio das Ostras – 3° dia – A noite de Duke

Duke Robillard no palco Costazul - 08/06/2012

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Eugênio e Cezar Fernandes

Tão bom quanto esse negócio de ver shows de graça é estar em contato com os artistas que você gosta. Aqui em Rio das Ostras a gente pode fazer isso enquanto trabalha ou se diverte na beira da piscina do hotel. Todos os músicos ficam por ali relaxando após o café da manhã. Alguns, como Michael Hill, os caras de sua banda e Jefferson Gonçalves preferem pegar os instrumentos e fazer uma jam informal. Informal, mas com qualidade. No repertório, clássicos de Skip James, Muddy Waters, Robert Johnson e algumas de Michael Hill. Como diz a canção, Blues With Feeling.
Depois de uma noite pouco dormida, o que mais se faz por aqui, é ficar com sono, o dia começou tarde, às nove da manhã. Com entrevista marcada com um dos maiores gaitistas do mundo e uma referência do instrumento no Brasil, Maurício Einhorn. Foi uma entrevista atípica, porque ele simplesmente não consegue encaixar suas memórias nas respostas. O coroa não está variando, não. Muito pelo contrario, sua cabaça lembra histórias de 60 anos atrás, nomes, datas, situações. Nada lhe foge. É uma verdadeira enciclopédia musical. Falou por mais de uma hora e não respondeu sequer uma pergunta objetivamente, mas a entrevista ficou demais.
Encontrei o guitarrista e cantor americano de blues, Duke Robillard, de bobeira no corredor e fiz uma entrevista com ele ali mesmo. Uma coisa que eu aprendi estando no festival pela quarta vez, é que não se devem perder certas oportunidades. Sacrifiquei o show do Roy Rogers no Palco Iriry para cumprir compromissos profissionais e adiantar esse diário. O que não surtiu muito efeito porque o hotel ficou sem conexão. Atrasou tudo. Aproveitei e entrevistei Mike Stern pouco antes dele sair para o soundcheck. Mas as fotos do show de Roy Rogers na Lagoa de Iriry foram gentilmente cedidas pelo fotógrafo Cezar Fernandes e ilustram esse texto.
Devido à chuva, o show do saxofonista David Sanborn foi cancelado no palco em cima das pedras na praia de Tartaruga.
Restou apenas a noite para curtir a música. O primeiro a subir ao palco foi o baixista camaronês Armand Sabbal – Lecco, que o Stênio Mattos, produtor do festival, achou por acaso tocando em um clube em Nova Iorque. Lecco é uma fábrica de grooves, sua música é uma mistura de funk, jazz e música africana, cujo líder é o contrabaixo, o que cai muito bem. Um band leader novo e inovador. Ele chamou Romero Lubambo e sua fender Stratocaster para uma canja na música chamada Ku Kux Klan. Se há a possibilidade de o ser humano ser livre de verdade é em cima de um palco com seu instrumento. Ambos estavam completamente soltos, um dos pontos altos do festival.
Mike Stern e Romero Lubambo subiram ao palco para apresentar o mesmo show que haviam feito no palco Tartaruga no dia anterior: uma explosão virtuosística de jazz fusion de entortar os ouvidos. No bom sentido.
O próximo da lista foi o veterano blueseiro Duke Robillard, para quem gosta da coisa real como eu – os americanos chamam real deal – foi de lavar a alma. Notas esticadas até o limite, Duke é elegante como ele só. Isso torna o blues sexual e bom aos ouvidos, If I had You é uma coisa perto do céu. Mas ao mesmo tempo, o som de Duke não deixa de ser um blues de celeiro, pois sua voz rouca, suas composições e sua banda, que inclui baixo acústico, um órgão Hammond e uma bateria na medida, deixam o som correr frouxo de forma proposital.
Na sexta-feira foi o dia em que o festival recebeu mais gente, mesmo apesar da chuva. O comércio de alimentos e os artesãos em volta da cidade do blues e do jazz venderam bem, as barracas estavam sempre cheias e o trabalho artístico que fazem é bem legal por aqui. Segundo informações do bureau de turismo da cidade, os hotéis estão todos lotados e até algumas casas estão com pessoas hospedadas. O festival completa dez anos e modificou Rio das Ostras. Hoje ele faz parte do calendário estadual de eventos do Rio de Janeiro e é responsável por tirar a cidade da sombra da vizinha Búzios e colocá-la no mapa. A cidade conta hoje com uma escola de luthieria, um curso de produção cultural e uma orquestra para jovens mantida pela Fundação de Cultura. Um exemplo a ser seguido.

Mike Stern no palco Costazul - 08/06/2012

Duke Robillard no palco Costazul - 08/06/2012

Roy Rogers palco Lagoa do Iriry - 08/06/2012

Chuva no palco da Lagoa do Iriry - 08/06/2012

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