quinta-feira, 7 de junho de 2012

Diário de Rio das Ostras – 1° dia – Aumenta que isso aí é rock and roll

Celso "A Lenda" Blues Boy em ação

Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior

Mais uma vez na estrada atrás da boa música. Sina que completa 30 anos e não movo um dedo pra mudar. Saí de Santos com chuva e cheguei a Rio das Ostras com sol. A frente fria que veio do sul e pegou em cheio São Paulo e Rio de Janeiro ainda não deu as caras por aqui.
Chegada tranqüila, mas com sono na bagagem. Depois de três horas bem dormidas saí pra comer e entrar no clima do festival. E "entrar no clima" quer dizer dar de cara com Mike Stern, Romero Lubambo e Hélio Delmiro no corredor jogando conversa fora. Na maior naturalidade. E também rever os amigos que a caminhada proporciona; produtores, jornalistas e músicos.
O grande festival completa dez anos e os shows de abertura são Orquestra Kuarup – que todos os anos abre o evento – Big Band 190, Hélio Delmiro e Celso Blues Boy.
A Orquestra Kuarup pisou no palco às 20h45 e foi competente ao interpretar clássicos da bossa nove e MPB, entre eles, Água de Beber, Águas de Março, Wave, Samba de Uma Nota Só, Samba do Avião, Chega de Saudade, Ponteio, (aplaudidos e acompanhados pela platéia), O Ovo e Garota de Ipanema com uma introdução, digamos, agitada.
A Orquestra Kuarup é um projeto da Fundação Cultural de Rio das Ostras que proporciona aos jovens da cidade educação musical e vem dando certo.
A Big Band 190 foi a surpresa da noite. Todo mundo pensando que seria uma daquelas bandas convidadas para tocar em inauguração de praça pública, mas os caras mostraram que têm competência profissional. Todos os músicos são do quadro da PM do Rio de Janeiro, mas são pagos para se dedicar exclusivamente à música. Uma hora de show foi suficiente para apresentarem um bom repertório e com arranjos diferentes em Night in Tunisia, Spain, Melancia, Nuances Cariocas, e uma versão funk de Glória, Glória Aleluia. A 190 existe desde 1998 e uma coisa curiosa, diferente do policial comum que não pode fazer bico de segurança, os integrantes da banda podem acompanhar músicos de forma profissional nas suas folgas como forma de aprimoramento.
A terceira e esperada atração foi Helio Delmiro. O veterano guitarrista brasileiro é acusado de ser um dos principais nomes do jazz brasileiro. É dele a guitarra ouvida em muitas gravações de Elis Regina e sua participação no disco O Som Brasileiro de Sarah Vaughan é considerada um marco no gênero. Le também começou sua participação no festival com a clássica Ponteio, só que com muito mais malícia. Apresentou um tema de sua autoria chamado Samba do Stent, inspirado ao procedimento cirúrgico sofrido por ele há dois anos. Antes de atacar de cantor em outro tema de sua autoria, saiu-se com essa: "Pessoal eu gostaria de pedir licença para cantar uma música. Eu sei que não canto bem, mas Tom Jobin e Baden Powell também não, então eu gostaria de tentar. Pelo menos eu sou acompanhado pelo Hélio Delmiro na guitarra". Finalizou com uma versão espetacular de Nanã de Moacir Santos.
Foi emocionante ver e ouvir a lenda viva Celso Blues Boy ao vivo, sabendo dos graves problemas de saúde pelos quais tem passado. E, apesar disso, o som de sua guitarra continua falar alto. Do começo ao fim, os clássicos de seu disco de 84: Fumando na Escuridão, Brilho da Noite, Filhos da Bomba, Marginal. Sua companheira inseparável, uma Fender Stratocaster preta está surrada, mais continua muito pessoal, Celso é o pai de todos os blueseiros brasileiros. Ok, é um blues mais voltado ao rock das antigas, mas ainda assim é blues.
A apresentação contou ainda com as participações de Jefferson Gonçalves na harmônica e no finalzinho do Big Joe Manfra.
O show terminou com Aumenta com isso aí é rock and roll e fomos todos para casa com aquele sorriso estampado na cara. Até a adrenalina baixar e esse texto ficar pronto, eram quatro da manhã. Bom dia.

Orquestra Kuarup - Palco Costazul - 06/06/2012

Big Band 190 - Palco Costazul - 06/06/12

Helio Delmiro - Palco Costazul - 06/06/2012

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