Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog.
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.
Entrevista: Eugênio Martins Júnior
Zélia Duncan volta a Santos na terça-feira, dia 14, às 21h, para mostrar as canções de Pré Pós Tudo Bossa Band, seu mais recente CD, só que desta vez com o show completo, aclamado pela crítica como o melhor da cantora. O CD traz 16 faixas com diversas participações, na produção: Lenine, Cristian Oyens, Bia Paes Lema e Beto Villares. Nas composições e parcerias, o CD conta com Paulinho Moska, Lulu Santos, Pedro Luís (de A Parede) e Mart’nália. Entre as composições, quatro do “Nego Dito”, Itamar Assunção, uma das influências de Duncan.
Eugênio Martins Júnior – Nesse CD você mostra ter muitas influências. Além, é claro, do samba, MPB e todos esses ritmos nacionais, o músico brasileiro ainda é influenciado pelo jaz, pelo blues e o pop internacional, no Pré Pós Tudo Bossa Band tem tudo isso. Parece ser muito difpicil escolher o que gravar com tanta coisa na cabeça, não é verdade?
Zélia Duncan – Sim, você tem razão e, fora isso, eu não gravava um disco autoral há quatro anos, pois fiz o Sortimento Vivo e o projeto Eu Me Transformo em Outras, então acabou ficando um disco um pouc maior. Mas eu, como consumidora de música também, acho que é um privilégio para o público poder adquirir coisas diversas num únioc álbum.
EM – O CD Eu Me Traansformo em Outras jámapontava nessa direção?
ZD – Sim, o Pré Pós traz conquistas daquele trabalho.
EM- É devido esse fator que ocorre parcerias que tantos músicos e tantos produtores?
ZD – O fator único é apenas o desejo de trabalhar com todas essas pessoas que já fazem parte do meu universo.
EM – É verdade que você estáfazendo faculdade de Letras? Entre shows, gravações e participações em CDs e DVDs de outros artistas, como você arruma tempo?
ZD – Sim, não sei como, mas vou levando. Acabo de chegar da faculdade (essa entrevista foi realizada ao meio dia de uma quinta-feira. Meus colegas me ajudam, viajo com um computador e quando é uma viagem mais longa vou me virando. Faço o mínimo de matérias possível e tem me dado muito prazer. Leio as apostilas e por vezes faço trabalhos dentro do avião.
EM – Sempre que pode você cita o Itamar Assunção e o Tom Zé. Dessa vez você gravou quatro músicas do Itamar: Vi Não Vivi, Tudo ou Nada, Do Elegante e Milágrimas. Gostaria que você falasse um pouco sobre isso.
ZD – São autores que me ajudam a dar consistência ao meu próprio trabalho e, em troca, eu tento colocar mais foco neles, que são sensacionais.
EM – É mesmo um importante resgate. Sempre achei que esse pessoal chamado de “maldito”, como Itamar, Aguilar, Arrigo, Premê, Língua de Trapo, Rumo, as próprias Ná Ozetti e Vânia Bastos sempre foram muito injustiçados pela mídia, gravadoras e até por outros artistas, você não acha?
ZD – A pessoa pode passar a vida inteira vivendo bem de música, sendo importante mesmo e não ser conhecido nacionalmente como merecia. Tem a ver com o movimento de cada um e com a artificialidade das rádios e gravadoras, certamente. Você citou aí pessoas fundamentais para a minha vida de ouvinte e cantante.
EM – O seu CD nas lojas custa cerca de R$ 36,00. Inclusive em grandes redes que costumam cobrar um pouco menos. Nas Lojas Americanas on line achei por R$ 27,00, mas não é todo mundo que pode comprar CDs pela internet. Você não acha que esse preço estimula a pirataria?
ZD – Estimula, mas não justifica. A pirataria é um câncer e uma falsa ilusão de se estar levando vantagem, quando tantas pessoas são lesadas, não só o artista. O cinismo virou regra no Brasil e, por outro lado, o imposto é altíssimo e os donos de loja, pouco inteligentes abusam disso, querendo cem por cento de lucro, provavelmente. Quem sofre é a cultura, ou seja, todos nós. Nos meus shows, quando posso levar, vendo a R$ 20,00. Mas saiba que compro da gravadora por R$ 19,00.
EM – Como será a apresentação em Santos?
ZD – Estou muito feliz, pois será um dos lugares onde o show estará completo: cenário, iluminação e tudo o mais. Estou rodando o Brasil e já estive também em Portugal. Santos, terra de Pagu, vai ser uma alegria!
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