Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog.
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.
Entrevista: Eugênio Martins Júnior
Gal vem completa, com banda e 14 temas, entre duzentos, escolhidos pela cantora para compor o CD.
O show faz parte da turnê de lançamento desse que é um dos melhores discos realizados pela cantora. O trabalho contou com a produção do maestro Cesar Camargo Mariano e com temas de compositores desconhecidos do grande público, como o pernambucano Julio Barreto, os baianos Moisés Santana, Tito Bahiense, Péri, Moreno Veloso e os paulistas Hilton Raw e Nuno Ramos.
Durante os ensaios, no Rio de Janeiro, Gal arrumou um tempo para essa entrevista.
Eugênio Martins Júnior – Você declarou que estava devendo um CD com músicas inéditas e até houve uma cobrança da crítica sobre isso.
Gal Costa – Essa cobrança realmente existiu, mas porque eu disse que queria gravar um repertório com compositores novos.
EM – Deve ser difícil pra você que já viu e ouviu tanta coisa achar um bom repertório, não é verdade?
GC – É difícil porque os bons compositores estão escondidos. As gravadoras apostam em trabalhos descartáveis. Na minha geração a mídia também estava interessada em mostrar o que realmente acontecia, hoje isso não acontece.
EM – O Carlos Rennó aparece nos créditos do CD como responsável pela “pesquisa de repertório”. Como foi isso, ele escolheu sozinho e depois mostrou para você o que decidiu gravar?
GC – Uma parte eu recebi através da Trama. A outra perguntei ao Rennó se ele conhecia alguns compositores e ele trouxe para mim os CDs. O processo de escolha foi baseado na melodia das canções, um exemplo disso foi a música do Hilton Raw, Leonora de Barros e Marcos Augusto, de quem ouvi o CD inteiro e acabei escolhendo Nada a Ver.
EM – Todos nós sabemos o que você é capaz de fazer com a sua voz, mas nesse disco você optou pela delicadeza, estou certo?
GC – Você está certo, o disco é mesmo muito suave. Aliás, eu sou uma pessoa muito suave, o meu estilo é cool. Às vezes a gente assume uma postura mais agressiva, mas não é comum.
EM – Falando em ser cool, como anda o projeto com as músicas do Chet Baker? Já foi escolhido ou gravado algum tema?
GC – Eu adoro o Chet Baker e é claro que tem muitas coisas que quero gravar, mas primeiro quero encerrar o ciclo desse show.
EM – Isso inclui viagem ao exterior?
GC – Sim. Em Junho vamos à Europa, mas primeiro vamos fazer todo o Brasil. Acredito que levaremos dois anos com esse disco até pensar em preparar o próximo trabalho. E nesse tempo muita coisa acontece.
EM – Como o músico congolês Lokua Kanza entrou no projeto?
GC – Eu o conheci em um evento no Canecão, no Rio de Janeiro, quando ele me presenteou com um CD autografado, mas as três composições que entraram no CD me foram apresentadas pelo Carlos Rennó. O Lokua é uma pessoa muito doce, é maravilhoso.
EM – A maioria dos compositores do seu disco estão morando em São Paulo, inclusive os baianos. Gal, a música baiana não está com muito axè, não? Você não acha que está precisando de uma renovação?
GC – A turma do axé é muito organizada e muito fechada. O pessoal da MPB que quiser aparecer tem de sair da Bahia e vir para São Paulo ou Rio de Janeiro que é onde as coisas acontecem.
EM – O show em Santos vai ser com a mesma banda do CD?
GC – Não, tem algumas diferenças: é o Keko Brandão (teclados), Marcus Teixeira (violão), Jakaré (percussão), Júri Moreira (bateria) e Marcelo Mariano (baixo). E também Ed Flash, Ricardo e Júnior na voz.
EM – Qual a diferença de estar em uma grande gravadora e a Trama que está em crescimento?
GC – Eu fui uma artista que sempre gravei o que quis sem sofrer nenhuma interferência. As gravadoras sempre respeitaram isso. A ida para a Trama tem sido maravilhosa e estou muito feliz com a repercussão do Hoje.
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