sábado, 30 de setembro de 2017

João Bosco se junta às feras do Coliseu (13/05/2006)


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. 
A data acima é de quando foi publicada, portanto, um retrato da época. E o título também é o original do jornal.

O cantor e compositor João Bosco vem a Santos na sexta-feira, dia 19, às 21h, em única apresentação no Coliseu. O teatro já recebeu feras como Bibi Ferreira, Toquinho e Gal Costa. 
Par essa entrevista peguei João Bosco recém chegado do Estados Unidos, onde se apresentou em diversas oportunidades. Uma delas no Birdland, em New York. No templo do jazz, que tem esse nome em homenagem ao saxofonista Charlie Parker, também conhecido como Bird, Bosco dividiu o Palcom com Eumir Deodato e com o Cubando Paquito D’Rivera, músicos experimentados e que vivem há décadas na terra do jazz.
Também se apresentou no San Francisco Jazz Festival e nas universidades de Burlington e Hanover. Nessa última dividiu o palco com seu amigo, o pianista Gonzalo Rubalcaba. 
João bosco é o entrevistado ideal, qualquer pergunta que se faça ele elabora um verdadeiro tratado sobre o assunto e se a entrevista não fosse editada ocuparia três páginas. Confira.

Eugênio Martins Júnior – Como vai ser o show em Santos?
João Bosco – Vai ser solo e acústico. Esse formato me dá mais liberdade na escolha do repertório que vai ser uma retrospectiva de toda minha carreira e também do CD Malabaristas do Sinal Vermelho. Acho que esse tipo de show se enquadra perfeitamente no Teatro Coliseu, que eu não conheço, mas ouvi dizer que é um lugar belíssimo. 

EM – malabarista foi gravado em 2003, está vindo disco por aí?
JB – O disco já está pronto., mas não está gravado. O meu projeto desse ano é o DVD. Pretendo entrar no estúdio só no segundo semestre.


EM – Vem com parcerias?
JB – Sim, parcerias com Aldir Blanc, Nei Lopes, Carlos Rennó e Francisco Bosco (filho de João Bosco que já foi seu parceiro no disco Malabaristas do Sinal Vermelho).

EM – Fale um pouco sobre sua parceria com Aldir Blanc e do tempo que ficaram sem compor.
JB – Eu e o Aldir temos um pouco de dificuldade em falar nisso. Durante muitos anos o nosso trabalho teve uma solidez, uma consistência. Talvez a explicação é que somos compositores e exploradores e gostamos dessa inquietação. Encontramo-nos e e percebemos que a amizade ainda era a mesma. É inegociável. Parecia que tínhamos nos encontrado no dia anterior. A única diferença é que você deixa de compartilhar a intimidade do dia a dia. 

EM -  Foi como tivessem tomado caminhos artísticos diferentes? 
JB - Exatamente. Quando éramos jovens fizemos muitas músicas e de maneira muito intensa. Agora não, quando nos encontramos aproveitamos para cultivar a amizade, tomar uma cerveja.

EM – E como são essas composições?
JB – Fizemos duas canções para o CD, um samba e um samba canção. E um samba que já está gravado e que vai ser usado em um seriado da TV Globo.

EM – E O DVD, quando sai?
JB – Vai ser lançado no dia 29 de maio pela Universal. Vai ter cerca de 20 músicas gravadas ao vivo na Sala Ibirapuera, em São Paulo. Nesse show a banda tem oito músicos, inclusive naipe de metais. Tem também os convidados, Hamilton de Holanda, Yamandú Costa e Guinga. Também tem o Djavan na música Corsário.

EM – O Brasil tem apresentado uma boa safra de violonistas e mesmo os mais antigos como Ulisses Rocha, Marco Pereira, Duo Assad e tantos outros parecem ter ganhado atualmente mais visibilidade de público e mídia. A que você atribui isso?
JB – O violão é uma espécie de alma da música popular brasileira. É claro que também apareceram grades compositores e pianistas como Tom Jobim e Ary Barroso, ms quase tudo que foi feito no século 20 tem como base o violão, tanto no acompanhamento como solista. Um dos maiores representantes dessa escola é Baden Powell.

EM – O brasileiro está mais habituado ao formato canção e talvez seja por isso que a música instrumental brasileira fique em segundo plano.
JB – O Brasil é um país que tem uma fome de novidade e uma das características mais marcantes é a antropofagia. A música brasileira ainda não tem um público que a coloque numa maneira confortável na mídia, mas ela aparece cada vez mais e com uma cara toda nossa.

EM – Houve uma época, mais precisamente nos anos 80, com ops discos Gagabirô, Ai Ai de Mim e Bosco que você investiu na pesquisa de ritmos africanos. Você ainda continua esse trabalho? 
JB – O artista tem uma curiosidade permanente pelas coisas e os compositores têm de ter essa vontade de explorar novos caminhos. A cultura do Brasil dessas culturas (africanas) e temos essa facilidade de formar ideias novas. Todo compositor deve exercitar isso.

EM – Suas letras falam sobre o mar, culturas orientais e afro brasileiras. Essas são suas grandes inspirações?
JB – São elementos com grande apelo poético. Durante séculos foi pelo mar que aconteceram as ligações entre uma cultura e outra. Essas referências são caminhos poéticos que a gente luta para preservar, sempre com o intuito de dividir com as pessoas. Não faço nada pra desfrutar sozinho.

EM – O que você escuta atualmente?
JB – Um disco do Sérgio Mendes gravado nos Estados Unidos com músicos negros com temas do Tom Jobim e do Jorge Benjor.

EM – E música brasileira?
JB – Hoje em dia as novidades são tantas e tão rápidas, a música brasileira é tão dinâmica que muita coisa passa despercebida. 

EM – Ainda mais agora com a internet. O que você acha desse negócio de baixar música pelo computador?
JB – Isso se tornou inevitável. Faz parte do mundo contemporâneo. A única coisa que pode ser feita é uma forma de organizar. Hoje as mudanças acontecem muito rapidamente. O formato antigo de consumir música tende a acabar.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Badi Assad em Wonderland (29/04/2006)


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog.
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.

A cantora, compositora e violonista Badi Assad traz toda a sua energia, criatividade e sensualidade ao teatro do Sesc, nesse domingo, dia 30, às 20h.
A apresentação marca o lançamento de Wonderland seu novo CD, produzido por Jacques Morelenbaum e com as participações de Seu Jorge e Elisa Lucinha que recita um fragmento da poesia Libração, em A Banca do Distinto, de Billy Blanco.
O CD tem ainda Acredite ou Não, de Lenine e Bráulio Tavares; Black Dove, da norte-americana Tori Amos, que versa sobre o estupro, e Vacilão, de Zé Roberto, famosa na voz de Zeca Pagodinho, sobre o alcoolismo.
Após o exito de Verde, lançado em 2004, Badi, que foi considerada a melhor violonista do mundo pela revista Guitar Player, se aprofunda no seu lado cantora em Wonderland. Ao que parece o caminho é só de ida.
Em Santos ela se apresenta com Décio 7 (percussão), e com o grego Dimos Goudaroulis (violoncelo). Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00.

Eugênio Martins Júnior  - Gostaria que contasse como foi o começo de sua carreira.
Badi Assad – Comecei aos 14 anos de idade, seguindo os passos do Sérgio e do Odair (irmão de Badi, integrantes do renomado Duo Assad), na música erudita, mas aos 19, 20 anos descobri que não era a minha. Usei tudo que sanbia para fazer música popular e depois passei uma época fazendo experimentações com a voz, violão e percussão.

EM – Quando e como aconteceu de você ficar conhecida internacionalmente?
BA – Gravei uma fita demos e queria apresentar em alguma gravadora, mas era uma dificuldade para conseguir falar com as pessoas aqui no Brasil. Acabei entrando em contato com uma gravadora nos Estados Unidos e em duas semanas já estava com um contrato para três discos que não saíram por aqui. Acabei morando naquele país entre 1997 e 2001. Por contrato, a minha nova gravadora, a Deutsche Grammophon, passou a lançar os meus CDs no Brasil, aconteceu com o Verde e o Wonderland.

EM -  Em um país com grandes violonistas, quais as suas influências? E não vale citar o Sérdio e o Odair.
BA – (risos) Ulisses Rocha, Marco Pereira, Rafael Rabelo, Baden Powell, Egberto Gismonti, todos esses músicos. Grande parte do meu trabalho é de música instrumental.

EM – O seu estilo é incomum, como eu disse anteriormente, O Brasil é um país de grandes violonistas, você sentiu necessidade de fazer alguma coisa diferente nesse sentido? Como forjou essa maneira toda especial de se apresentar?
BA – Aconteceu naturalmente porque eu sempre cantei, mas não profissionalmente. O uso da voz ampliou muito o meu horizonte musical. No Wonderland exercito meu outro lado que é o teatral e que também gosto muito. Por exemplo, se canto uma letra que tem certa ironia, eu sou a ironia em pessoa em cima do palco (risos).

EM – Como foi gravar o disco Three Guitars com o Larry Coryell e John Abercombie?
BA – Nós tivemos os papéis definidos, o que deu um certo equilíbrio. O meu violão serviu de base e minha voz é que acabou entrando como improviso, virando o quarto instrumento. Já na parte instrumental, o improviso ficou por conta dos dois.

EM – Fale um pouco sobre o Wonderland. Quais as diferenças e semelhanças entre ele e o Verde?
BA – Quem acompanhou a minha carreira sabe que os meus trabalhos passaram por um processo evolutivo. Do Verde pra cá houve uma certa maturidade, principalmente na minha voz. No Verde, cada tema levou um tratamento diferente. No Wonderland o disco ganhou uma unidade, tanto pela temática, como pelos arranjos.

EM - Por quê esse título?
BA – O repertório parece leve, alegre e cheil de suingue, mas se você olhar de perto os temas são pesados e é exatamente o que acontece em Alice in Wonderland, a história de Lewis Carrol. Aparentemente Wonderland é um paraíso alegre e sem problemas, mas na realidade abriga um bando de doidos.

EM – Gal Costa e Zélia Duncan me falaram sobre a dificuldade que é escolher repertório para um disco. No seu caso, sendo brasileira, mas antenada com o que acontece no mundo, é difícil montar um?
BA – Sou cidadã do mundo e pra mim não existe diferença entre música brasileira e internacional. Elas têm a mesma medida. Tenho uma carreira internacional e é um prazer cantar em inglês para plateias internacionais. Espero que para eles também seja um prazer.

EM – Como está a tua agenda?
BA – Esta preenchida até 2008 (risos). Em julho vou para os Estados Unidos e depois para o festival de jazz de Montreal, no Canadá. Volto ao Brasil e outubro, depois lanço o Wonderland nos Estados Unidos e em novembro Europa.

EM – Além das músicas desse CD o que mais vai tocar?
BA – Duas músicas do Verde e alguma coisa inédita em disco que é surpresa.

EM -  O que lhe interessa na música brasileira hoje?
BA – Com essa séria de shows não tenho tempo nem para respirar, mas sou fã incondicional do Lenine, Chico Cezar e da Zélia Duncan.




quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Mauro Hector - Live in Santos - 2015


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos - Mauro Hector (guitarra), Glécio Nascimento (baixo) e Plínio Romero (bateria).

Gravação e mixagem - Vinícius Suzuki e Theo Cancello
Design - Winter Santana Fotos - Flávio Hopp
Gravado no Teatro Guarany em 18/04/15
Produção do show - Eugênio Martins Júnior
Todas as faixas (composição e arranjos) são de autoria de Mauro Hector

Músicas

1 - Green Bullet
2 - Country Bird
3 - Pra Curtir
4 - Na Calma
5 - Atitude Blues
6 - Impressão Digital
7 - Voltando Pra Casa
8 - Hendrixiando


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Hoje na quinta-feira (18/03/2006)

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. 
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Na quinta-feira, dia 23, Gal Costa apresenta, no Teatro Coliseu, as músicas de Hoje, seu mais recente CD, lançado pela gravadora Trama.
Gal vem completa, com banda e 14 temas, entre duzentos, escolhidos pela cantora para compor o CD.
O show faz parte da turnê de lançamento desse que é um dos melhores discos realizados pela cantora. O trabalho contou com a produção do maestro Cesar Camargo Mariano e com temas de compositores desconhecidos do grande público, como o pernambucano Julio Barreto, os baianos Moisés Santana, Tito Bahiense, Péri, Moreno Veloso e os paulistas Hilton Raw e Nuno Ramos.
Durante os ensaios, no Rio de Janeiro, Gal arrumou um tempo para essa entrevista.

Eugênio Martins Júnior – Você declarou que estava devendo um CD com músicas inéditas e até houve uma cobrança da crítica sobre isso.
Gal Costa – Essa cobrança realmente existiu, mas porque eu disse que queria gravar um repertório com compositores novos.

EM – Deve ser difícil pra você que já viu e ouviu tanta coisa achar um bom repertório, não é verdade?
GC – É difícil porque os bons compositores estão escondidos. As gravadoras apostam em trabalhos descartáveis. Na minha geração a mídia também estava interessada em mostrar o que realmente acontecia, hoje isso não acontece.

EM – O Carlos Rennó aparece nos créditos do CD como responsável pela “pesquisa de repertório”. Como foi isso, ele escolheu sozinho e depois mostrou para você o que decidiu gravar?
GC – Uma parte eu recebi através da Trama. A outra perguntei ao Rennó se ele conhecia alguns compositores e ele trouxe para mim os CDs. O processo de escolha foi baseado na melodia das canções, um exemplo disso foi a música do Hilton Raw, Leonora de Barros e Marcos Augusto, de quem ouvi o CD inteiro e acabei escolhendo Nada a Ver.

EM – Todos nós sabemos o que você é capaz de fazer com a sua voz, mas nesse disco você optou pela delicadeza, estou certo?
GC – Você está certo, o disco é mesmo muito suave. Aliás, eu sou uma pessoa muito suave, o meu estilo é cool. Às vezes a gente assume uma postura mais agressiva, mas não é comum.

EM – Falando em ser cool, como anda o projeto com as músicas do Chet Baker? Já foi escolhido ou gravado algum tema?
GC – Eu adoro o Chet Baker e é claro que tem muitas coisas que quero gravar, mas primeiro quero encerrar o ciclo desse show.

EM – Isso inclui viagem ao exterior?
GC – Sim. Em Junho vamos à Europa, mas primeiro vamos fazer todo o Brasil. Acredito que levaremos dois anos com esse disco até pensar em preparar o próximo trabalho. E nesse tempo muita coisa acontece.

EM – Como o músico congolês Lokua Kanza entrou no projeto?
GC – Eu o conheci em um evento no Canecão, no Rio de Janeiro, quando ele me presenteou com um CD autografado, mas as três composições que entraram no CD me foram apresentadas pelo Carlos Rennó. O Lokua é uma pessoa muito doce, é maravilhoso.

EM – A maioria dos compositores do seu disco estão morando em São Paulo, inclusive os baianos. Gal, a música baiana não está com muito axè, não? Você não acha que está precisando de uma renovação?
GC – A turma do axé é muito organizada e muito fechada. O pessoal da MPB que quiser aparecer tem de sair da Bahia e vir para São Paulo ou Rio de Janeiro que é onde as coisas acontecem.

EM – O show em Santos vai ser com a mesma banda do CD?
GC – Não, tem algumas diferenças: é o Keko Brandão (teclados), Marcus Teixeira (violão), Jakaré (percussão), Júri Moreira (bateria) e Marcelo Mariano (baixo). E também Ed Flash, Ricardo e Júnior na voz.

EM – Qual a diferença de estar em uma grande gravadora e a Trama que está em crescimento?
GC – Eu fui uma artista que sempre gravei o que quis sem sofrer nenhuma interferência. As gravadoras sempre respeitaram isso. A ida para a Trama tem sido maravilhosa e estou muito feliz com a repercussão do Hoje.



sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Zélia Duncan Pós Tudo (11/03/2006)

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog. 
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Zélia Duncan volta a Santos na terça-feira, dia 14, às 21h, para mostrar as canções de Pré Pós Tudo Bossa Band, seu mais recente CD, só que desta vez com o show completo, aclamado pela crítica como o melhor da cantora. O CD traz 16 faixas com diversas participações, na produção: Lenine, Cristian Oyens, Bia Paes Lema e Beto Villares. Nas composições e parcerias, o CD conta com Paulinho Moska, Lulu Santos, Pedro Luís (de A Parede) e Mart’nália. Entre as composições, quatro do “Nego Dito”, Itamar Assunção, uma das influências de Duncan.     

Eugênio Martins Júnior – Nesse CD você mostra ter muitas influências. Além, é claro, do samba, MPB e todos esses ritmos nacionais, o músico brasileiro ainda é influenciado pelo jaz, pelo blues e o pop internacional, no Pré Pós Tudo Bossa Band tem tudo isso. Parece ser muito difpicil escolher o que gravar com tanta coisa na cabeça, não é verdade? 
Zélia Duncan – Sim, você tem razão e, fora isso, eu não gravava um disco autoral há quatro anos, pois fiz o Sortimento Vivo e o projeto Eu Me Transformo em Outras, então acabou ficando um disco um pouc maior. Mas eu, como consumidora de música também, acho que é um privilégio para o público poder adquirir coisas diversas num únioc álbum. 

EM – O CD Eu Me Traansformo em Outras jámapontava nessa direção?
ZD – Sim, o Pré Pós traz conquistas daquele trabalho. 

EM- É devido esse fator que ocorre parcerias que tantos músicos e tantos produtores?
ZD – O fator único é apenas o desejo de trabalhar com todas essas pessoas que já fazem parte do meu universo.

EM – É verdade que você estáfazendo faculdade de Letras? Entre shows, gravações e participações em CDs e DVDs de outros artistas, como você arruma tempo?
ZD – Sim, não sei como, mas vou levando. Acabo de chegar da faculdade (essa entrevista foi realizada ao meio dia de uma quinta-feira. Meus colegas me ajudam, viajo com um computador e quando é uma viagem mais longa vou me virando. Faço o mínimo de matérias possível e tem me dado muito prazer. Leio as apostilas e por vezes faço trabalhos dentro do avião.

EM – Sempre que pode você cita o Itamar Assunção e o Tom Zé. Dessa vez você gravou quatro músicas do Itamar: Vi Não Vivi, Tudo ou Nada, Do Elegante e Milágrimas. Gostaria que você falasse um pouco sobre isso.
ZD – São autores que me ajudam a dar consistência ao meu próprio trabalho e, em troca, eu tento colocar mais foco neles, que são sensacionais. 

EM – É mesmo um importante resgate. Sempre achei que esse pessoal chamado de “maldito”, como Itamar, Aguilar, Arrigo, Premê, Língua de Trapo, Rumo, as próprias Ná Ozetti e Vânia Bastos sempre foram muito injustiçados pela mídia, gravadoras e até por outros artistas, você não acha?
ZD – A pessoa pode passar a vida inteira vivendo bem de música, sendo importante mesmo e não ser conhecido nacionalmente como merecia. Tem a ver com o movimento de cada um e com a artificialidade das rádios e gravadoras, certamente. Você citou aí pessoas fundamentais para a minha vida de ouvinte e cantante.

EM – O seu CD nas lojas custa cerca de R$ 36,00. Inclusive em grandes redes que costumam cobrar um pouco menos. Nas Lojas Americanas on line achei por R$ 27,00, mas não é todo mundo que pode comprar CDs pela internet. Você não acha que esse preço estimula a pirataria?
ZD – Estimula, mas não justifica. A pirataria é um câncer e uma falsa ilusão de se estar levando vantagem, quando tantas pessoas são lesadas, não só o artista. O cinismo virou regra no Brasil e, por outro lado, o imposto é altíssimo e os donos de loja, pouco inteligentes abusam disso, querendo cem por cento de lucro, provavelmente. Quem sofre é a cultura, ou seja, todos nós. Nos meus shows, quando posso levar, vendo a R$ 20,00. Mas saiba que compro da gravadora por R$ 19,00.

EM – Como será a apresentação em Santos?
ZD – Estou muito feliz, pois será um dos lugares onde o show estará completo: cenário, iluminação e tudo o mais. Estou rodando o Brasil e já estive também em Portugal. Santos, terra de Pagu, vai ser uma alegria!


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Duca Belintani - How Long - 2017


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e jazz brasileiros que trabalham duro para gravar um CD autoral. E também, mostrar todos os profissionais envolvidos na produção.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e veiculação, com o advento da internet, proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar a boa música do Brasil.

Músicos – Duca Belintani (guitarra e voz), Benigno Sobral (baixo), Ulisses da Hora (bateria nas faixas 1,2,3,4,6 e 7), Humberto Zigler (bateria nas faixas 5,8,9 e 10), Ricardo Scaff (gaita nas faixas 4 e 7), Adriano Grineberg (piano na faixa 7) e Vinas Peixoto (berimbau e caixa na faixa 3).  
Produção e direção - Duca Belintani
Edição e Masterização – Vinas Peixoto
Projeto gráfico – Tim Ernani
Fotos - Duca Belintani e Aline Belintani
Gravado no Hybrid Studios (CA) – (faixa 2) por Joshua Brooks
VP Estúdios – (faixas 1,2,3,4,6 e 7) por Vinas Peixoto
Space Blues – (faixas 5,8,9 e 10) por Alexandre Fontanetti

Músicas
1 – Baby Please Don’t Go - Big Joe Willians
2 – Ma baby, My Car and My Guitar - Duca Belintani
3 – I’m Going Down in Mississippi - Duca Belintani
4 – Jumping Boy Blues - Duca Belintani/Osmar Santos Jr
5 – How Long – Leroy Carr
6 – Louisiana Blues - Duca Belintani
7 – Tô Sabendo – Tico Terpins/Zé Rodrix
8 – Rota 145 - Duca Belintani
9 – Hey Hey – Big Bill Broonzy
10 – Mena Old Frisco – Arthur Big Boy Crudup

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Trio Ciclos apresenta sua música móvel no Sesc Pinheiros

Na quarta-feira, dia 27, a partir das 20h30, o Sesc Pinheiros recebe o Trio Ciclos, um dos grupos dedicados à grande fusão de ritmos brasileiros que podemos chamar de jazz br


Formado por três músicos de destaque no cenário da música instrumental brasileira, Edson Santanna (piano), Bruno Migotto (baixo) e Alex Buck (bateria), o Trio Ciclos existe desde 2008. 
Com um início calcado na tradição de trios brasileiros, o repertório era composto por composições próprias e arranjos sofisticados de clássicos da música brasileira, como Alvorada (Cartola), Chega de Saudade (T. Jobim e Vinícius de Moraes), mas ao longo dos anos os músicos adotaram um sistema de interação para trio absolutamente singular, denominado pelos integrantes como Móbiles. 
O conceito, emprestado da arte cinética, visa a valorização de um aspecto muito caro ao trio: a composição em tempo real. Ou seja, a boa e velha improvisação. 
Outra característica do Ciclos é a interação com o computador. Ora processando os sons dos instrumentos (live electronics), ora com o computador funcionando como uma espécie de quarto integrante, improvisando juntamente com os músicos, é notória a expansão do campo timbrístico dessa formação clássica (piano, baixo acústico e bateria) que surgiu no jazz e difundiu-se mundialmente.

"Flexível, inconstante, volúvel... Mobile.
No início do século XX o artista plástico Alexander Calder, um dos expoentes da arte cinética, criava as primeiras esculturas movediças, estruturas suficientemente leves e flexíveis capazes de assumir diferentes (con)figurações acompanhando as correntes de ar.
Transportar a ideia de móbiles para o nosso campo - jazz / música instrumental brasileira - foi a solução que encontramos para dinamizar as decisões coletivas, potencializando a articulação do discurso musical no momento da performance. É a partir da tensão do encontro entre as vontades dos integrantes do trio que surge a força motriz para o encadeamento das estruturas - música cinética. Por isso as apresentações do trio são imprevisíveis, são configurações únicas que dão origem a uma música criativa e dinâmica".