segunda-feira, 26 de maio de 2014

Shemekia Copeland solta a voz no Bourbon Street e mostra porque é considerada o futuro do blues

 (Clique na foto para vê-la inteira)

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Pedro Guida

Você programa a entrevista, cria o roteiro, enche o saco do produtor da casa, viaja quilômetros embaixo de chuva para realizar a entrevista com a artista. Quando está cara a cara com ela, o maldito gravador não funciona. O que fazer? Solta o aparelhinho na mão do Nuno Mindelis que, como técnico, é um ótimo guitarrista. Ferrou.
Shemekia Copeland, a grande cantora de blues do momento, fica te olhando com aquela cara de: “WTF?”
Você volta pra sua mesa, joga o gravador e pede o big chope de um litro que só o Bourbon Street tem. De repente o gravador dá sinal de vida. Você invade o camarim cinco minutos antes do show e pergunta o que dá. Paciência.
DNA blueseiro, Shemekia é um fenômeno. Filha de Johnny Copeland, guitarrista nascido na Louisiana, mas que fez o nome no Texas, ganhador de um prêmio Grammy pelo disco Showdown, gravado em parceria com Albert Collins e Robert Cray.
Copeland, a filha, gravou seu primeiro e ótimo disco, Turn the Heat Up, pela gravadora Alligator, aos 18 anos, em 1998, apenas um ano após a morte Copeland, o pai.
Já nesse trabalho Shemekia mostrava que vinha para fazer a diferença. Voz poderosa e critério na escolha da banda e repertório.
Com os CDs seguintes, Wicked (2000) e Talking to Strangers (2002), o primeiro indicado ao Grammy e o segundo produzido por Dr John, recebeu definitivamente o reconhecimento de crítica e público. 
The Soul Truth, produzido pelo mago guitarrista da gravadora Stax aponta outro caminho, mais funk e soul, claro. E seu mais recente CD lançado pela tradicional gravadora de jazz, Telarc, aponta para músicas mais pops, mas não menos elaboradas. 
A entrevista abaixo foi realizada no Bourbon Street Music Club no primeiro show de uma mini turnê, segunda que a cantora fez ao Brasil. Foram dois shows no bar em Moema e um no Bourbon Fest, em Paraty.
A banda foi a mesma que a acompanha há alguns anos, os excelentes músicos Arthur Neilson (guitarra), Willie Scandlyn (guitarra ritmo), Kevin Jenkins (baixo) e Robin Gould (bacteria).
A facilitação foi da produtora Thelma Lucas, a quem eu agradeço de montão e a quem não vou deixar sossegada sempre que houver artista que valha a pena conversar.  



Eugênio Martins Júnior – O blues tem muitas divas. Qual foi a sua principal influência?
Shemekia Copeland –
Amo Ruth Brown, amo Koko (Taylor). Elas foram minhas amigas e minhas preferidas.

EM – Gostaria de falar sobre a sua infância. Como é ser a filha de uma verdadeira lenda do blues. Você tinha contato com muitos artistas em sua casa?
SC –
Tive sim. Havia música na minha casa o tempo inteiro. Mas quando eu era criança não sabia quem eram as pessoas que iam e vinham, Clarence Gatemouth Brown, Stevie Ray Vaughan, Dr John. Fiquei sabendo quem eram essas pessoas muito tempo depois.

EM – Somada à influência recebida do seu pai, como a cena cultural da cidade te influenciou já que New York não é um lugar com tradição no blues?
SC –
As letras e músicas de blues contam histórias. Crescer no Harlem foi fundamental porque muitas coisas acontecem e você aprende muito com aquelas pessoas. Vivia em uma área muito populosa e isso influencia o jeito de ver as coisas.


EM – Qual a lição mais importante sobre o blues que você aprendeu com seu pai?
SC –
Como pai, me ensinou a ser uma boa pessoa. Comecei a cantar desde pequena, mas subi em um palco apenas na adolescência. Musicalmente ele sempre me disse para ser original. Ter minhas próprias músicas, meu próprio som. Não tentar soar como outro artista. Essa foi a grande lição. A outra é nunca dar atenção para o que a imprensa diz (risos).

EM – E você tem conseguido seguir essas lições?
SC –
Com relação à música, sim. Desde o começo tenho trabalhado em meu material.

EM – Gostaria que você comentasse os dois trabalhos: Talking To Strangers (2002) produzido por Dr John, e The Soul Truth (2005) produzido pro Steve Cropper. São dois músicos e produtores distintos. Como você fez as duas escolhas?
SC –
Amo Dr John e sua música. Já o conhecia e ele era como um padrinho para mim. Queira saber o que ele poderia fazer por mim, como faria a minha música soar, não foi uma escolha fora de minhas possibilidades. Não conhecia Steve Crooper pessoalmente, mas conhecia sua música. Tentei fazer um disco bluesy e soul e ele era a pessoa certa para isso.



EM – E Crooper é uma verdadeira enciclopédia de ritmos.
SC -
Sim, ele é um dínamo de boas ideias e energia positiva.

EM – O que significou pra você ser escolhida a nova rainha do blues? É importante ou é só mais um título?
SC –
Para mim Koko Taylor será sempre a rainha do blues. Mas é uma honra pra mim as pessoas acharem isso sobre o meu trabalho. Estou curtindo.  

EM – Você teve uma carreira de sucesso desde o começo. A que você atribui isso?
SC –
Bem, sempre faço acontecer. Trabalho com grandes pessoas. Também é um pouco de sorte estar cercada por elas.

EM – Li em seu website a seguinte frase: "Quero fazer o mesmo que meu pai. Quero ser uma inovadora no blues. O que significa isso?
SC –
Quero fazer coisas diferentes. Fazer com que o blues cresça. Torná-lo uma música mundial. Não quero ser conhecida apenas por um grupo seleto de pessoas. O blues é uma música maravilhosa e o mundo tem de conhecê-la. 

EM – Qual é o futuro do blues?
SC –
Não tento ver o futuro. Estou no presente e não sei o que vai acontecer. Mas espero ainda estar aqui cercada pelo blues.




segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ficha técnica: Jefferson Gonçalves - Encruzilhada Ao Vivo (2013) - CD/DVD


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues brasileiro e estrangeiros que trabalham duro para gravar seu CD, bem como todos os envolvidos.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e o advento da internet proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar o blues no Brasil  

Músicos: Kléber Dias (voz, guitarras, bandolim e violões), Marco Arruda (percussão), Marco PZ (bateria e matalofone), Fábio Mesquita (baixo) 
Direção: Thiago Amado
Fotografia: Rodrigo Meireles
Direção de arte e iluminação: Eduardo Salino
Cenário: Maria Buzina
Montagem de luz e cenário: Eduardo Salino e associados
Direção de palco: Wagner Scarpelli
Ajudante de palco: Adriano Pimentel
Direção de áudio: Fábio Mesquita e Marcelo Delfim
Captação de áudio: Juliano Gáspio
Operação de luz: Eduardo salino
Produção de vídeo: Vertigo Filmes
Operadores de câmera: Alex Barbosa, Bárbara Moreira, Rodrigo Meireles e Thiago Amado
Edição: Thiago Amado e Rodrigo Meireles
Legendas: Thomas Ribeiro
Produção executiva: Jefferson Gonçalves
Produção artística: Jefferson Gonçalves e banda
Mixagem: Estúdio Making Of
Masterização: Estúdio Making Of – Rio de Janeiro – por Fábio Mesquita
Designer gráfico: Marcelo Maia
Foto de capa: Jefferson Gonçalves
Fotos de encarte: Cesar Fernandes, Glauco Carvalho e Hevellin Costa

Show filmado ao vivo no Centro Municipal de Referência da Música Carioca Artur da Távola , Rio de Janeiro, no dia 14 de dezembro de 2012
Duração: 76 minutos 
Produção do show: Jefferson Gonçalves
Assistência de produção: Clarissa Martins

Extras:
Jefferson Gonçalves – Uma carreira em evolução – 17min e 5 seg
A construção de um sonho – Making of DVD – 12 min e 25 seg
Na estrada – Ibitipoca – 2 min e 34 seg
Na estrada – Rio das Ostras – 5 min e 59 seg
Vídeo clip – Kariri – 5 min e 21 seg

Captação de imagens por Jefferson Gonçalves, Juliana Longuinho, Samuel Macedo e Hélio Filho, Imagens feitas por

Músicas:
1 – Tudo Azul (Carlos Malta – arranjo Jefferson Gonçalves)
2 – My Baby is Back (Jefferson Gonçalves e Kleber Dias)
3 – Don’t Look Back (Jefferson Gonçalves, Kleber Dias, Fábio Mesquita e Richard Wagner)
4 – Down In Mississippi (J.B. Lenoir – arranjo Jefferson Gonçalves e banda)
5 – Just Your Fool – (Walter Jacobs – arranjo Jefferson Gonçalves)
6 – Crossroads – (Robert Johnson – arranjo Jefferson Gonçalves)
7 – Teto Preto (Jefferson Gonçalves)
8 – Encruzilhada (Jefferson Gonçalves, Ranier Oliveira e Beto Lemos)
9 – All Along the Watchtower (Bob Dylan – Arranjo Jefferson Gonçalves e banda)
10 – Ar Puro (Jefferson Gonçalves)
11 – Catfish Blues (Muddy Waters – arranjo Jefferson Gonçalves e banda)
12 – Café Expresso (Jefferson Gonçalves)
13 – Big Jake (Norton Buffalo – arranjo Jefferson Gonçalves e banda)
14 – Mellow Down Easy (Willie Dixon – arranjo Jefferson Gonçalves e banda)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Tia Carrol lança CD Brazil Sessions com Igor Prado Band


Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior

Californiana de Richmond, Tia Carrol cresceu infernizando a vida dos pais cantando o dia inteiro as músicas que aprendia no rádio. Stevie Wonder, Larry Graham, Ike & Tina Turner, The Beatles e The Monkeys eram alguns deles. Ela mesma reconhece que às vezes passava da conta.
O caminho não poderia ter sido outro, com a banda de rock Yakety Yak, abriu shows para nomes de peso como Gladys Knight, Ray Charles, Patti LaBelle e Tower of Power. Atuou como backing vocals para artistas da região, entre eles, Sugar Pie DeSanto, E.C. Scott e Jimmy McCracklin, com que atuou em turnê.
Gravou três CDs solos, Wanna Ride, mais rock and roll e Tia Carrol e Soul Survivor, voltados ao soul e R&B.
Recentemente foi lançado no Brasil pelo selo Chico Blues o CD Tia Carrol Brazil Sessions. O disco traz onze temas. Dois deles de autoria de Carrol em parceria com o tecladista brasileiro Flávio Naves, They Call It Animal e The Blusiest Woman. Os outros são temas clássicos da soul muisic, It Is Your Thing (Isley Brothers), How Sweet It Is (Marvin Gaye), um medley com Let the Good Times Roll/Rock Me Baby (B.B. King), Love and Happiness (Al Green), Midnight Hour (Wilson Picket), Mr Big Stuff (Jean McNight) e I’d Ratter Go Blind (Etta James). Além de You Hurt Me (Little Willie John) e If I Can’t Have You (Etta James), com a participação de J.J. Jackson, que já estavam no CD/DVD da Igor Prado Band, Blues & Soul Sessions. 
O CD traz as participações de Sax Gordon, Donny Nichilo, Deacon Jones e Flávio Naves nos teclados. Só não entendi o Brasil com z no título.
A parceria deu certo, depois que virou produtor, Igor tem trazido vários artistas norte-americanos ao Brasil. Tia Carrol é uma se suas preferidas. São turnês que levam um mês com mais de dez shows na agenda. Essa entrevista aconteceu em um desses shows, no Clube do Blues de Santos, produzido por mim no Studio Rock Café.   


Eugênio Martins Júnior – Você começou cantando rock and roll e mudou para blues e soul. Recebeu alguma influência para que isso acontecesse?
Tia Carrol –
Tina Turner. É uma grande performer, com uma grande presença de palco. Vou ser honesta com você, sua voz não é das maiores, e as palavras às vezes não são tão claras, mas se observar seu trabalho, tudo isso se completa. Ela sem dúvida é a minha maior influência. Koko Taylor me trouxe ao blues, ela canta como ninguém. Ela faz você ficar lá sentada aprendendo as letras daqueles blues e você se sente como se fosse golpeado na cabeça, uau!! Tina Turner me ensinou a fazer na vida o que for preciso, sem remorso.

EM – Realmente as duas cantoras têm uma forte presença. Você se inspirou nisso?
TC –
Sim. Aprendi como ter esse poder e ficar confortável com a minha performance. Por muitos anos usei uma voz com falseto (nesse momento Tia Carrol canta como uma adolescente romântica). Depois de Tina e Taylor eu passei a cantar dessa forma: (agora ela imprime maior potência, cantando o mesmo tema só que com uma levada gospel e cheia de suingue). Elas me mostraram força e poder. Antes delas eu tinha medo de mostrar a minha voz.     

EM – Como foi a sua infância? Você cantou nas igrejas como outras cantoras?
TC –
Nunca cantei em igrejas (risos). Cantava em casa, lembro da minha mãe reclamando. As visitas chegavam em casa e eu ia para a porta da frente atender: “Hit the Road Jack...” (risos). Minha mãe me mandava ir sentar em algum lugar e eu dizia tudo bem. Cinco minutos depois lá estava eu lá lá lá. Não conseguia parar.

EM – Você tem feito muitos shows no Brasil com Igor Prado Band. Como vê essa parceria com uma banda de blues brasileira?
TC –
A banda tem sido tão bacana em me trazer aqui para tantos shows. Me mostrando tanto do Brasil, quão forte é o blues por aqui. Eles são muito talentosos, é engraçado, quando venho ao Brasil os músicos da minha banda nos Estados Unidos acham que eu vou voltar e despedi-los. Eles me dão o suporte necessário, quero dizer, houve uma vez que vim direto de New York onde tive um pequeno show. Meu vôo havia sido cancelado por causa de uma tempestade de neve e fiquei presa trinta horas no aeroporto. Finalmente embarquei e peguei um vôo de dez horas até o Brasil. Depois passei apenas duas horas descansando no hotel, mais três horas de avião e duas horas de ônibus para chegar à cidade do show. Cheguei ao hotel só para tomar banho e trocar de roupa e ir direto para o palco. E estávamos prontos. Deveríamos ter ensaiado no dia anterior, mas nem precisamos. Não sei como aconteceu, mas nós simplesmente ligamos na tomada e tocamos. Como se tocássemos há centenas de anos. É impressionante. Com as outras bandas sempre tive de ensaiar, porque eles não sentem minha música como os irmãos Prado e os outros garotos, Rodrigo e Flávio. Como se fossemos da mesma família.


EM – Antes dessa parceria você sabia que existia blues no Brasil?
TC –
Não sabia nada sobre o Brasil até conhecer Igor Prado há quatro anos no Lucerne Blues Festival, na Suiça. Eles tocavam com o Lynwood Slim. Quando os ouvi tocar perguntei se era verdade que eram do Brasil. Não fazia ideia na época, mas depois de vir ao Brasil algumas vezes vi que as pessoas amam o blues. Tenho visto jovens com tatuagens dos grandes do blues nos braços, B.B. King, Fats Domino, Snooks Eaglin. Uau!! Aqui o blues é levado a sério!

EM – Aprendeu alguma coisa sobre a música brasileira com os rapazes nas vezes que veio ao Brasil?
TC –
Sim, o bom e o ruim (risos).  Aprendi a apreciar o forró com acordeom que eu adoro e alguns artistas clássicos do Brasil. Ganhei um CD com Cartola. A primeira vez que ouvi no meu toca discos não fiquei tão tocada, mas depois de duas audições aquela música me impressionou.

EM – Há alguns anos não se via tantos artistas norte-americanos por aqui, mas essa realidade mudou. A que você atribui isso? As bandas brasileiras são boas mesmo ou a crise econômica nos Estados Unidos está fazendo com vocês busquem outros mercados?
TC –
Bem, a economia no meu país não está como antes e há grandes artistas de blues no Brasil. O que deu a oportunidade de artistas americanos e brasileiros unirem seus talentos. O trabalho duro dos agentes e produtores está por traz disso também. Esse é o terceiro ano que venho aqui e espero continuar vindo. 



EM – Em sua opinião, quais as semelhanças e diferenças entre músicos de blues brasileiros e americanos? O que eu quero dizer é que essa não é a nossa música, mas mesmo assim gostamos de tocá-la.
TC –
Você está certo. Mas vocês aprenderam com os melhores e tocam como os melhores e têm a devida dedicação para tocá-la corretamente. Vocês pagam tributo aos grandes e é difícil dizer, mas muitos músicos no meu país não fazem isso. Eles preferem fazer seu próprio som, mas não aprenderam nem o básico. Não digo todos, mas a maioria faz isso.

EM – O brasileiro é um povo muito musical e sabe reconhecer esse talento nas pessoas.
TC –
Considero isso um presente de deus que devo compartilhar e não guardar. É uma honra e uma benção. O Brasil é um dos melhores lugares onde cantei. Os brasileiros fazem me rir, me chamam pra dançar.   

EM – O que você mais gosta e o que mais odeia no Brasil?
TC –
Adoro a comida e a cultura. As famílias te convidam para entrar em suas casas e te tratam como se fossem da família. Aqui eu não me sinto longe de casa. O brasileiro é muito amável. Dessa vez fiquei quase trinta dias e ainda tenho mais uma semana por aqui. O meu português está melhorando. Não sou uma grande oradora, mas entendo muitas coisas em português. O que aprendi sobre as pessoas no Brasil é que elas estão sempre tentando ajudar. Estão sempre tentando entender o que estou falando.
E o que eu não gosto no Brasil é que é um país muito grande e parece que pessoas que não estão nos grandes centros foram esquecidas. Mas existem pessoas sem teto e pessoas pobres em todo o mundo.

EM – Sim, mas no Brasil nós temos demais. É um dos nossos grandes problemas sociais.
TC –
Talvez porque seu país seja tão grande e as pessoas vivem se mudando. É um dos problemas mais difíceis de resolver porque além de criar condições para as pessoas, tem de lidar com suas emoções e problemas pessoais.  




terça-feira, 6 de maio de 2014

Ficha técnica: Big Chico – My New Blues (2013)


Essa seção surgiu da vontade em divulgar os lançamentos e prestigiar os artistas de blues e outros gêneros brasileiros e estrangeiros que trabalham duro para gravar seu CD, bem como todos os envolvidos.
Nunca antes na história desse país a cena independente foi tão forte. A popularização dos meios de gravação e o advento da internet proporcionaram isso.
Surfando nessa onda, o Mannish Blog continua com sua missão de divulgar o blues no Brasil  

Músicos: Richard Leão (bateria), Rodolfo Crepaldi (guitarra), Éder Dias (baixo), André Youssef (órgão nas faixas 06, 09 e 11 e piano na faixa 07). Funk Club Horns nos metais com Lucas Joly (trompete), Leandro (trombone), Edmar Pereira (saxofone) 
Transcrição de metais: Rafael Amaral
Participação: Lurrie Bell (faixas 05 e 08)
Técnico de som: Vanderlei Pena e Rodrigo Reis
Produção executiva: Chico Blues
Produção artística: Big Chico
Mixagem: Rafael Amaral e Chico Blues
Masterização: Dimas Studio
Fotos: Chico Blues
Capa: Dayvk Martins
Estúdio: Comep

Músicas:
1 – 20 Years
2 – You’re All I Need
3 – Chromatic Style (Big Chico)
4 – One Eyed Woman
5 – Hey Guy (Big Chico)
6 – I Got the Blues
7 – Futher On Up the Road
8 – Tin Pan Alley
9 – Ghetto Woman
10 – Catfish Blues
11 – The Creeper Returns

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mannish Blog terá duas atrações no Santos Jazz Festival, Shirley King e Igor Prado Band e Ari Borger

Realizado às vésperas da Copa, evento será um dos atrativos para os milhares de turistas que estarão na Baixada Santista. Programação vai de 5 a 8 de junho, em diversos espaços da cidade


Apostando em todas as vertentes, o Santos Jazz Festival, cuja terceira edição acontece entre os dias 5 e 8 de junho, segue imprimindo sua marca entre os festivais de rua do Brasil. 
Em 2012 e 2013, os patronos do festival foram respectivamente Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Agora, é a vez de  César Camargo Mariano ser o grande homenageado. Ele se apresentará junto da Orquestra Municipal da cidade, no concerto de abertura, que volta a acontecer no tradicional Teatro Coliseu. 
Serão quatro dias de shows, 40 horas de música e cinco palcos distribuídos em diferentes bairros. No centro, o teatro Coliseu e, no Centro Histórico, a Praça Rui Barbosa. No bairro da Aparecida, o teatro do Sesc. No Boqueirão, a Pinacoteca Benedicto Calixto e, no Gonzaga, a Praça das Bandeiras. O Instituto Arte no Dique será palco para a oficina de percussão na Zona Noroeste. Cerca de 200 músicos estão envolvidos. “Buscamos, desde o começo, contribuir para a formação de público local e, ao mesmo tempo, colocar a região no mapa dos principais festivais do gênero no Brasil. Com a Copa e o Museu, intensificamos essas metas para atender toda a demanda de público”, afirma a diretora-executiva Denise Covas Borges.
Esse ano o festival aproveita a presença das delegações do México e da Costa Rica, que estarão na cidade por causa da Copa do Mundo. Espera-se a presença de mais de dez mil pessoas. 


O Patrono - Arranjador, compositor, pianista e produtor musical, Cesar Camargo Mariano iniciou sua carreira nos anos 60, integrando os grupos instrumentais Três Américas, Quarteto Sabá e Sambalanço Trio. Na década seguinte, realizou uma de suas maiores parcerias, com Elis Regina, sendo responsável pela grande mudança de estilo da cantora. É ganhador de vários prêmios da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e tantos outros. Em 2011, celebrou 50 anos de carreira ao publicar o livro autobiográfico Solo: Cesar Camargo Mariano – memórias. Há 20 anos mora nos EUA, sem nunca perder contato com o Brasil. Tem parceria com os maiores músicos do mundo e frequentemente é convidado para festivais de jazz nos Estados Unidos, países da Europa e outros continentes.
Diversidade musical - Na programação de shows e workshops, completamente gratuita, estão craques da cena internacional como os norte-americanos Shirley King (filha de B.B. King), artista exclusiva do Mannish Blog e da Lucas Shows e Eventos, Kenny Brown e o cubano Fernando Ferrer.
A sexta-feira, 6 de junho, celebrará a música brasileira. Jacques e Paula Morelenbaum, que por muitos anos tocaram com Tom Jobim, prometem uma bela homenagem ao mestre, falecido há 20 anos, acompanhados de um trio. A noite ainda contará com Zuzo Moussawer Trio, Hamilton de Holanda Trio e João Bosco Quinteto.
São outros destaques do festival: Leo Gandelman, o grupo Trio Corrente – premiado no Grammy 2014 na categoria de melhor álbum latino de jazz por "Song For Maura", gravado em parceria com o saxofonista cubano Paquito D"Rivera  - e Igor Prado, que lançará novo álbum durante a programação.
"Uma das funções do Santos Jazz Festival é estabelecer esse intercâmbio entre os músicos nacionais e internacionais da programação com os nossos talentos da Baixada Santista. Como por exemplo, a Orquestra Sinfônica de Santos, que tocará ao lado do César Camargo Mariano, e da Jazz Big Band, que se apresentará com o americano Kenny Brown", explica o diretor de produção Jamir Lopes. "O festival aposta numa programação de qualidade com o objetivo de democratizar e ampliar o acesso cultural, por isso todos os shows e oficinas musicais são totalmente gratuitos desde a nossa primeira edição", lembra o produtor.
Turismo - O Santos Jazz Festival será um dos principais atrativos turísticos da Baixada Santista nos dias que antecedem a Copa do Mundo. Nesse período, são aguardados milhares de turistas ao litoral paulista, principalmente mexicanos e costa-riquenhos, que virão ao Brasil torcer por suas respectivas seleções, ambas hospedadas em Santos, e também aqueles que prestigiarão a inauguração do Museu Pelé. 

Concurso fotográfico - Durante os shows do festival, é costume ver muitas pessoas fotografando os músicos, os amigos e a si mesmas. Em 2014, para incentivar esses registros, a organização do Santos Jazz Festival realizará o concurso Fotografe o Santos Jazz, onde as melhores fotos, escolhidas por um júri técnico, farão parte de uma exposição; além de uma premiação (que ainda será divulgada). As imagens precisam ser postadas no Facebook ou no Instagram junto da hashtag #santosjazz2014 durante o festival. A escolha dos vencedores acontecerá na semana seguinte ao evento.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Fenômeno da internet, A Banda Mais Bonita da Cidade traz a Santos o show O Mais Feliz da Vida


Composta por Uyara Torrente (vocal), Thiago Ramalho (guitarra), Vinícius Nisi (teclado), Marano (baixo) e Luís Bourscheidt (bateria), a banda mostra amadurecimento musical e mudança de rumo em seu segundo disco. Produção Mannish Blog e Lucas Shows e Eventos
 
 
A Banda Mais Bonita da Cidade teve sua carreira propagada após a viralização do vídeo Oração, em 2011, e atualmente está em turnê nacional divulgando seu segundo álbum “O Mais Feliz da Vida”. Muito bem recebido pela crítica e pelo público, o álbum traz a atmosfera já consagrada dos seus shows para um disco de estúdio.
Começando em 2009 sem grandes pretensões, A Banda Mais Bonita da Cidade nasceu da vontade de reinterpretar as canções que amava. Teve sua carreira propagada após publicar na internet seu vídeo “Oração” em 2011 (um dos mais vistos em todo o mundo) e gravou seu primeiro disco pelo sistema de crowdfunding, conceito pouco conhecido no Brasil na época. Atualmente, a banda trabalha na Turnê de lançamento do segundo disco de estúdio: O Mais Feliz da Vida.
Nesse novo álbum, a banda apresenta um registro maduro, sugerindo uma mudança sonora sem abrir mão de suas principais características e trazendo para o estúdio a atmosfera já consagrada dos seus shows.

Serviço:
Show: A Banda Mais Bonita da Cidade
Local: Teatro Coliseu de Santos
Data: 15 de maio de 2014
Horário: 21 horas
Endereço: Rua Amador Bueno, 237 - Centro - Santos – SP
Ingressos: À venda na bilheteria do Teatro Coliseu, pelo telefone (13) 4062 0016 e pelo site: http://www.compreingressos.com/

Primeiro lote (300 ingressos)
R$ 60,00 - Inteira
R$ 30,00 - Meia

Segundo lote
R$ 80,00 - Inteira
R$ 40,00 - Meia
Ficha Técnica

Produção: Lucas Shows e Eventos e Mannish Boy Produções Artísticas
Apoio: Conceituall
 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sérgio Duarte corrige rota e dá uma aula de harmônica em Acoustic Blues Harp


Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior

Ao lado de Flávio Guimarães, Sérgio Duarte é um dos pilares da gaita blues no Brasil. Já abriu show de Buddy Guy e teve aulas de harmônica com James Cotton e Willian Clarke. Coisa para poucos.
Por sua vez, ajudou a formar gaitistas atuantes na cena blueseira brasileira, entre eles, Róbson Fernandes, Ivan Márcio e Big Chico.
Após dois discos lançados com a banda Entidade Joe, Sérgio Duarte e Entidade Joe e Destilado’n’Blues, e participações em gravações de inúmeros artistas, o gaitista veterano parte para uma nova fase na carreira.
Acoustic Blues Harp, seu terceiro disco, traz o melhor blues tradicional que o Brasil pode exportar ao mundo. São 13 temas, três clássicos do blues norte-americano e dez composições próprias, todos gravados em São Paulo com seu time titular, Celso Salim (guitarra) e Rodrigo Mantovani (baixo). De quebra, apresenta seu filho Leo Duarte (guitarra).
É um grande disco. Sérgio Duarte explora caminhos onde só os mestres conseguem ir, com timbres limpos e técnica impecável. Com esse CD, Sérgio Duarte iguala os feitos de Flávio Guimarães e Alamo Leal em Ain’t No Stranger Here e Ivan Márcio e Jon McDonald com Chicago Blues Sessions Vol. 2. Ou seja, o grande blues tradicional com a harmônica limpa, como era no começo de tudo, como as grandes duplas de country blues.
O trabalho de pesquisa que mistura blues com ritmos nordestinos e regionais, outra característica do gaitista paulistano, continua. Essa entrevista foi realizada em um dia especial, pouco antes de Sérgio Duarte subir ao palco do Sesc Santos com o show magistral: Entre o Blues e o Baião. Com as participações do guitarrista e violonista Luiz Waack e do sanfoneiro Antonio Bombarda. As fotos estão aí pra ilustrar essa matéria.



Eugênio Martins Júnior – Como começou a tua vida musical?
Sérgio Duarte –
Foi aos doze anos. Gostava de escrever poesia e de escutar rock e blues, com o dinheiro de aniversário de treze anos comprei um violão e comecei a aprender a tocar sozinho, com as revistinhas ou com amigos que já tocavam. Depois de um ano e meio, comecei tocar com amigos, mas mudei para o contrabaixo. Nunca mais parei. Tocava rock pesado e rock and roll nacional. Era uma banda chamada Tomate Inglês que teve clip na MTV com uma música minha chamada Fogo no Bordel.

EM – E a gaita, como apareceu?
SD –
Eu gostava de acampar em Minas e levava violão e tocava. Fui a uma caverna onde tinha um hippie tocando lá no fundo. Segui o som e chegando lá perguntei o que era aquilo. Ele me disse que era uma gaita especial para tocar blues, uma Hohner. Me apaixonei pelo som e quando voltei para São Paulo fui procurar uma gaita daquela. Mas não existia gaita Hohner no Brasil, só Hering.

EM – O cara da caverna mandava bem?
SD –
Eu não sabia tocar nada, pra mim era maravilhoso. Pensei, a próxima viagem que fizer vou levar o violão e a gaita. Comprei uma Hering nas casas Manon, na 24 de maio, Centro de São Paulo. Produtos importados naquela época, final dos anos 80, eram raridades. Depois tive acesso porque meu pai trabalhava nos Estados Unidos. No próximo acampamento, levei uma gaita em Mi. O pessoal gostou e meu interesse pelo instrumento aumentou. Passei a transpor o meu conhecimento do contrabaixo para a gaita. Em uma das viagens aos Estados Unidos, meu pai trouxe um método que vinha o desenho da gaita com todas as notas, explicando com fazia os bends, como fabricar aquelas notas.  A partir daí criei uma tabela para estudar através do contrabaixo. Sozinho, naquela época não havia professores. Tinha o Clayber (de Souza), o Clay Willians e o Maurício (Einhorn) que tocavam cromática e sempre falavam mal da gaita diatônica: “Ahhh, isso aí é brinquedo, isso aí não é gaita”. Eu dizia que eles não haviam escutado Sonny Boy, Little Walter. “Aquele barulho de gaita com amplificador?”. Os caras eram radicais. Conheci muita coisa graças ao Cidão Aparecido que era um colecionador de discos de blues. Ele me levava as fitas cassetes, “esse aqui é James Cotton, esse aqui é não sei o que”. Ouvindo aqueles sons e o meu conhecimento musical, criei um método que tenho até hoje. Também estudava os métodos de guitarra, Fly Fingers, Play Alone Blues, com riffs de blues na guitarra que eu transpunha para a gaita, notas, frases, tudo. No começo passei a ser um virtuoso. Tinha muita técnica, virei um gaitarrista, estava em uma banda de rock e nessa vibe de velocidade.


EM - E o primeiro contato com o Blues, quando se deu realmente?
SD –
Sonny Boy Willianson e Yardbirds. Também Blues Etílicos e Atlântico Blues, que eram os discos que existiam na época.

EM – Nessa época começou a sair muita coisa por aqui. Lembra da série da Atlantic que foi lançada nos anos 80?
SD –
Sim, Piano Blues, Gaita Blues, aquelas capas são maravilhosas. Aquilo foi uma escola, tive todos. Eu ficava tocando em cima das músicas que não tinham gaita. Estudando as escalas que estava tentando fazer. Cheguei a um nível que comecei a me achar limitado. Precisava achar um gaitista que me ensinasse a tocar. Fui para a Califórnia atrás do James Cotton e do Willian Clarke. Falei que precisa ir e meu pai me ajudou. A minha irmã havia cursado várias faculdades e eu sempre fui a ovelha negra da família (risos). Disse que ia para estudar. Meu pai pagou a passagem e eu limpei vidro, entreguei pizza, fazia várias coisas. Ia aos bares e conheci o James Cotton. Carregava a mochila dele e ia pra cima e pra baixo com os caras pedindo para ter aulas. O Cotton falou pra eu levar uma garrafa de bourbon ao seu apartamento e pediu sessenta dólares pela aula. Era pra eu ficar uma hora, mas fiquei até a madrugada. E aí ficamos bêbados e ele começou a tocar, falar do Little Walter e a mostrar as técnicas de tongue blocking que não eram conhecidas no Brasil. Colocou a gaita ao contrário e eu com aquela cara:”Tá ao contrário”. Ele pegou colocou a gaita ao contrario na boca e tocou pra caramba. Ele falou pra mim que se você toca de língua toca de qualquer lado. Tudo que eu achei que sabia foi por água abaixo. Fazia aulas de gaita cromática com o Clayber e tocava chorinho, bossa nova e sei tocar até hoje, então cheguei lá dizendo que já tocava. Os caras gostavam. Mas a melhor coisa que aconteceu foi que o Clarke e o Cotton me disseram, “Cara você não toca porra nenhuma”. Me destruíram.

EM – Você também teve uma aula com o Willian Clarke?
SD –
Sim, bastante aula de cromática.



EM – Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu com eles?
SD –
Foi a desconstrução do meu conceito e trocar a embocadura de bico pela de língua que era uma técnica que no Brasil os caras falam que é viagem, mas que o gringos chamam de “side by side”, usando os dois cantos da boca, invertendo a língua de um lado a outro. Aos meus alunos aqui no Brasil eu chamo de inversão. Isso me chocou. Foram três a quatro anos pra começar a fazer. E nesse disco novo que eu vou conseguir mostrar o que aprendi lá.

EM – Você chama músicos que não tocam blues pra tocar nos teus discos. Usa o blues mais como base e não fica fechado só nisso. Fale um pouco sobre isso.
SD –
O cantor da banda de blues Entidade Joe saiu e me vi tendo que cantar e tocar gaita. Nesse processo, tive o sonho de fazer o blues virar o que virou o reggae e o rap que foram nacionalizados  e viraram grandes movimentos. Comecei a compor blues em português, na onda dos primeiros do Blues Etílicos e do André. Compus uma música chamada Vida de Poeta, que é um pouco Barão Vermelho, digamos, um pop blues, querendo popularizar. Insisti nisso até o segundo CD. O segundo muito mais elaborado, inclusive nas letras. Um disco muito bem gravado pelo Alexandre Fontanetti, que é primo da Rita Lee e produziu todo mundo. Até um tempo atrás tinha esse sonho. Agora estou no blues tradicional porque não dá pra viver de sonho. Estou cantando em inglês, mas metade desse novo disco é instrumental, comigo tocando gaita, com baixo acústico, dobro, escovinha, som tradicional. Quero mostrar o lado do Sérgio Duarte instrumentista até para abrir outras portas.

EM – Mas esse projeto com sanfona, triângulo, violão acústico e guitarra está na contramão de tudo isso que você está falando.
SD –
Na verdade esse projeto nasceu com meu amigo Ricardo Vignini, da banda Matuto Moderno, que mistura rock com regional. Fizemos um projeto chamado Blues Latino porque a gente já sacava que a escala das músicas nordestinas é parecida com a escala pentatônica. Que o solo da viola era com as mesmas cinco notas da guitarra. Começamos a fazer um world blues, o encontro do Tião Carreiro com o Robert Johnson. As notas são as mesmas, mas os andamentos dos compassos é que são diferentes. O Sesc nos convidou para um projeto de blues latino com bandas do Chile, Bolívia, Cuba e a nós do Brasil. Compus três blues para esse trabalho, com levadas de baião, uma delas se chama Homem Pra Casar. Trago influência das coisas que toquei. O rock, a gaita MPB, o contrabaixo abriram o leque para esse som diferente. Até hoje sou chamado para gravações que os outros não resolvem.


EM - Você passou pela cena nos anos 90 e 2000. Hoje é um dos veteranos na gaita blues no Brasil. Como vê a cena desse instrumento hoje?
SD –
Vou falar pra você a real. No começo havia o Flávio no Rio e eu em São Paulo. Todo mundo que estudou gaita blues e está aí até hoje fui o maior incentivador porque foram meus alunos: Big Chico, Robson Fernandes, Ivan Márcio. O Ivan estudou pela minha apostila porque naquela época não tinha material. Gravei três vídeos aulas da série Aprenda Música. Em 93/94, ainda estava cabeludo (risos). Hoje em dia todos têm equipamentos, blogs, sites, um é especialista não sei do que, o outro de outra coisa. Acho maravilhoso. Tem mais competitividade, mas pelo menos existe um mercado. Eu que vi o nada e ver que hoje tem até luthier. De madrugada os caras me pedem aula, método, estou sempre vendendo alguma coisa. Hoje sou reconhecido no Brasil inteiro e isso é muito bom. Não é pelo dinheiro que a gente não ganha mesmo. Com esse processo de internet e globalização os caras passam por cima dos pioneiros. Com a internet os caras já se acham bons, têm método, vídeo aula e não passou por todo aquele processo que eu e o Flávio passamos. Foi uma carga mais pesada. O festival do Flávio ajudou muito, já toquei três vezes toquei no primeiro com o Mark Hummel, ano retrasado abrindo para o Rick Estrin e ano passado me chamou para o Gaita SP com o Róbson e o Daniel Granado. 

EM – O que você tem mais facilidade em fazer: tocar, compor, produzir ou cantar?
SD –
Acho mais difícil compor. Depois de 20 anos tenho mais fluência em tocar um estilo que me sinto bem. Agora sempre estou buscando compor alguma coisa boa, com arranjos legais para a gaita. O cantar... até um tempo atrás não me considerava cantor. Hoje estou mais seguro quanto a isso. O mais difícil é compor uma boa letra, com arranjos bacanas. Às vezes com poucas notas você toca mais as pessoas do que quando quer mostrar todo o seu virtuosismo. As notas tocam as pessoas, aprendi que o menos é mais, a simplicidade. Você vê na reação do público.

EM – O disco Acoustic Blues Harp acaba de sair e gostaria que você falasse sobre ele.
SD –
É a sequência do meu trabalho com a Entidade Joe que virou Sérgio Duarte Blues Band. Será lançado no Brasil, Estados Unidos e Europa simultaneamente. Os antigos parceiros participam de algumas músicas, mas agora é um trabalho próprio, voltado ao blues tradicional. Trazendo a experiência de vinte e cinco anos tocando gaita, com a sonoridade dos anos 30/40. Tem seis músicas minhas. E o selo Chico Blues conseguiu liberar três clássicos do blues, Little Red Rooster (Howlin’ Wolf), Blow Wind Blow (Muddy Waters) e Worried Life Blues (Louis Parker). As letras foram feitas em parceria com o Celso Salim que já morou lá fora e com a ajuda do meu amigo Todd Murphy que de umas opiniões.