domingo, 26 de fevereiro de 2012

Morre Louisiana Red, um dos representantes do blues urbano

Lousiana Red e Muddy Waters no quintal deste

Morreu ontem de acidente vascular cerebral, a menos de um mês de completar 80 anos e com mais de cinqüenta discos gravados, o guitarrista, gaitista e cantor Louisiana Red.
Red era um slider e sua voz era peculiar, rouca e rasgada, cheia de expressão, como deve ser a voz de um bluesman que teve o pai morto pelos assassinos da Ku Klux Klan aos cinco anos.
Iverson Minter (seu verdadeiro nome) nasceu no estado racista do Alabama, onde passou a maior parte de sua infância perambulando e conhecendo diversos orfanatos, até sua avó levá-lo para Pitsburgh. Também foi ela quem seu a primeira guitarra ao jovem Minter. Ele passou a ter aulas com Crit Walters até ir para Detroit, bright lights, big city.
Lá conheceu Eddie Burns e John Lee Hooker e realizou suas primeiras gravações como Rocky Fuller, tendo alguns desses registros lançados pela Chess Records. O apelido foi dado por seu amigo e mentor, Muddy Waters.
Em 53 também participou de uma sessão para a Chess, em Chicago, acompanhado por Little Walter em Funeral Hearse At My Door. Essas gravações ficaram guardadas por décadas.
Mas foi com o lançamento de Louisiana Red em 62 pelo selo Roulette que ganhou reconhecimento como um bluesman. O single Red´s Dream, com sua sarcástica abordagem política, tornou-se um hit e deu-se a sequência de mais dois albuns - The Lowdown Back Porch Blues e Sings The Blues.
Nos anos 70 tornou-se âncora do selo Blue Labor com dois excelentes álbuns acústicos solo, Sweet Blood Call e Dead Stray Dog; e aparece como sideman em álbuns de Johnny Shines, Roosevelt Sykes, Brownie McGhee e Peg Leg Sam.
Nessa época, se envolveu romanticamente com uma lenda folk chamada Odetta.
Agentes e promotores europeus mostram interesse no trabalho de Red e ele encontra um novo público além continente. Selos como o alemão L+R e o inglês JSP colocam em seu catálogo Red, Funk and Blue, um álbum em dueto com o gaitista Sugar Blue.
Se muda para Phoenix em 81 onde viveu e tocou com o gaitista Bob Corritore por 1 ano. Em 82, parte para uma excursão na Europa e encontra seu verdadeiro amor, Dora, com quem se casou e passou o resto da vida.
Mudou-se para Hanover e Dora o confortou em um verdadeiro aconchego familiar; e Red tinha muito orgulho desta relação, inclusive assumindo os próprios filhos de Dora. Sempre nas férias, em janeiro, viajavam para Ghana, Africa, país de origem de Dora.
Em 95, o selo Earwig Records relançou Sittin' Here Wondering, gravado com Bob Corritore em 82 e que ficou engavetado por mais de uma década. Este álbum criou uma relação entre Red e o chefe da gravadora, Michael Frank, que gravaria mais dois trabalhos com Red e ainda promoveria uma turnê anual na América.
Em 2010, Red teve cinco nomeações para o Blues Music Awards e recebeu duas premiações - Acoustic Artist of the Year e Acoustic Album of the Year pelo disco You Got To Move, gravado com o pianista David Maxwell. Um de seus maiores sucessos foi Sweet Blood Call.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sesc Pompéia sedia mais um encontro de gaititas com Omar Izar, Pablo Brotzman, Flávio Guimarães e Steve Guyger


Mais uma vez o Sesc Pompéia realiza em março a maior reunião de gaitistas que acontece no Brasil. Trata-se do 11° Encontro Internacional da Harmônica, produzido pelo veterano da cena brasileira de blues, Flávio Guimarães.
Esse ano o evento não está tão focado no blues como nas edições anteriores. Haverá apresentações de gaita no choro, jazz, bolero e grupos que misturam gêneros, já que a harmônica é um dos instrumentos que mais cresce em popularidade no Brasil.
Contará com as presenças de Omar Izar, do norte-americano Steve Guyger e dos argentinos Pablo Brotzman & Sérgio Pessina.
Todas as apresentações serão concentradas na Chopperia do Sesc Pompéia e têm restrição à menores de 18 anos por causa da venda de bebidas alcoólicas no local. Confira as atrações.
Quinta-feira, dia 01 de março, às 21h30
Marcelo Naves Blues Band (SP) e Omar Izar e Banda (SP) - Marcelo Naves apresenta o repertório de Minha gaita é meu patrão, seu primeiro CD solo, o qual resgata a sonoridade tradicional dos músicos de Chicago dos anos 1940 a 60. Com composições próprias e clássicos do blues.
Na mesma noite, o público confere o trabalho de Omar Izar, o mais antigo dos gaitistas brasileiros em atividade.
Preços: R$ 16,00 (inteira); R$ 8,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 4,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes).
Sexta-feira, dia 02 de março, às 21h30
Benê Chiréia e Marcelo Ricciardi (PR) + Ale Ravanello Blues Band Combo com participação de Andy Serrano (RS) + Steve Guyger (EUA)
Na segunda noite do Encontro Internacional de Harmônicas, o público terá um programa triplo. Integrantes da Troupe da Gaita, de Curitiba, Benê Chiréia (harmônica) e Marcelo Ricciardi (violão) fazem uma apresentação com repertório que passa por samba, choro, tango, bolero, jazz e blues.
Unindo quatro destaques da cena musical de Porto Alegre nos estilos blues, jazz e rock, Ale Ravanello Blues Combo interpreta clássicos dos grandes mestres da harmônica com temas recheados do suingue característico dos anos 50. A noite termina com a performance do americano Steve Guyger, considerado um dos principais nomes da gaita blues mundial. Seu som remete aos anos de ouro de Little Walter, Sonny Boy Williamson II e Big Walter Horton. Choperia.
R$ 16,00 (inteira); R$ 8,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 4,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).
Sábado, dia 03 de março, às 21h30
Pablo Brotzman & Sérgio Pessina (ARG) + Vitor Lopes (SP) + Big Chico Big Band (SP)
Neste show o público confere a presença da harmônica no tango, no choro e no soul. Um dos principais harmonicistas da Argentina, Pablo Brotzman, apresenta trabalho em duo com o violonista Sergio Pessina. Juntos eles fazem parte da nova escola de tango argentino e lançaram, no final de 2010, o disco autoral Tangotan, onde  executam uma coleção de tangos, milongas e valsas.
Acompanhado do grupo Chorando as Pitangas, formado por Milton Mori (bandolim), Ildo Silva (cavaquinho), Gian Correia (violão 7 cordas) e Roberta Valente (percussão), o gaitista Vitor Lopes apresenta choros, valsas e maxixes com pitadas de samba e toques de gafieira.
Já a Big Chico Band apresenta o projeto Big Chico & Funk Clube, que une a gaita ao soul e black music, com interpretação de clássicos de Tim Maia, James Brown, Marvin Gaye, Maceo Parker, entre outros
R$ 16,00 (inteira); R$ 8,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 4,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).
Domingo, dia 04 de março, às 19 horas.
Blues Jam com Flávio Guimarães (RJ) e convidados.
Em clima descontraído, o membro fundador da banda Blues Etílicos recebe diversos convidados como Steve Guyger, Ivan Márcio, Little Will, Márcio Abdo e Alex Dupas para uma jam session de blues. Os gaitistas serão acompanhados por Humberto Zigler (bateria), Marcos Klis (baixo) e Thiago Cerveira (guitarra).
Grátis (inteira); Retirada de ingressos a partir de 1 hora antes do show.
No sábado, dia 03, às 20 horas e no domingo dia 04, às 18 horas, o Duo Cara de Choro, formado por Paulo Calarezzo (violão) e Marcelo Rodrigues (gaita), trabalha o gênero choro com essa formação inusitada, pelo menos para o choro. Os músicos exploram a sonoridade natural dos instrumentos num repertório composto por clássicos de Ernesto Nazareth, Pixinguinha e Jacob do Bandolim entre outros. Na Área de Convivência (lareira).
Grátis e livre para todos os públicos
 No sábado e no domingo, às 17 horas, o gaitista Little Will, que acaba de gravar seu primeiro disco, Harmonica Duo Little Will & Márcio Scialis, com participações de Duofel e Peter MadCat Ruth, faz intervenção musical solo. Na Rua Central e livre para todos os públicos.

E também no sábado, dia 03, das 15h30 às 17h30, oficina com Steve Guyger. Ele é um músico que domina a harmônica, sendo capaz de reproduzir no instrumento as mais variadas sonoridades, desde o blues acústico do Mississipi até as invenções sonoras do blues elétrico de Little Walter. Neste workshop, o músico compartilha suas experiências como instrumentista de blues (incluindo histórias de suas turnês com mestres do gênero, entre eles Jimmy Rogers) e demonstra aos participantes as técnicas e sonoridades mais importantes, com ênfase em sua utilização no blues. Duração: 120 minutos. 30 vagas. Na Sala 1 das Oficinas de Criatividade.
Grátis (inteira); Retirada de ingressos a partir de 1 hora antes. Não recomendado para menores de 12 anos.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Giba Byblos comete My Duty, um dos melhores discos de blues no Brasil. E nosso dever é falar no assunto


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Divulgação

A experiência de anos tocando blues como sideman do gaitista Ivan Márcio deu régua e compasso para o guitarrista Gilberto Moufarrege. Ele se tornou o personagem Giba Byblos, amante de sapatos de duas cores e sapatos de couro de cobra. Às vezes calças e paletós vermelhos. Sempre, guitarras vermelhas. Na aparência, um gangster do blues.
Mas tudo isso faz parte de uma estética engendrada para entreter a audiência. Tudo faz parte do show. Característica do blues relegada ao segundo plano, mas que os mestres B.B. King e Buddy Guy nunca deixaram de lado.
Hoje o blues é apresentado nas grandes cidades e casas noturnas e quem vai a um show desses quer se divertir e dançar. Música boa para os ouvidos e para os quadris. Esqueçam as plantações e as chain gangs.
Seu disco se chama My Duty e o show se chama Talking ‘Bout Chicago (Falando Sobre Chicago). Um projeto criado por Giba que reúne todo o mise em scéne da cidade conhecida como a capital do blues mundial: figurino, linguagem, guitarra tocada no meio da platéia, guitarra tocada nas costas como T Bone Walker. "Falar sobre Chicago é falar sobre entretenimento", segundo Giba.
Além do show cheio de bom humor e malícia, Giba lançou no final de 2011 um dos discos de blues mais legais já lançados no Brasil.
My Duty, cuja produção de Ivan Márcio reforça a parceria com seu mais antigo colaborador, traz novas perspectivas ao gênero no Brasil. Até então, o blues feito no terra de Pixinguinha era sisudo, salvo algumas exceções: André Christovam e Blues Etílicos.
O tema My Duty começa com uma introdução chic, um blues nervoso composto pelo próprio e vem com uma letra sacana. Junior Bought Me a Jim é uma grande sacada. Conta uma passagem mais do que inusitada de envolvendo Giba, Sugar Blue e a lenda Junior Wells - confira toda história nessa entrevista - No mais, Giba recria temas clássicos sob sua ótica.
Numa tacada de mestre, a qual eu me incluo na condição de produtor, acompanhamos a cantora Shirley King em sua turnê brasileira. A Lucas Shows e os músicos Julio Cesar Scansani (bateria) e Vagner Dantas (baixo), também são protagonistas nessa história.
Aproveitando que hoje é aniversário de Gilberto Moufarrege, segue entrevista. Realizada em uma manhã de janeiro em São Paulo, com a participação de Ivan Márcio, o que me rendeu um aluguel desgraçado dos dois caras que, quando estão juntos, parecem dois adolescentes.
E já ia esquecendo, o CD My Duty saiu pelo selo Chico Blues e pode ser encontrado nos respectivos sites, nas melhores casas do ramo e nas barraquinhas de CD lá da rua 25 de Março... ao lado dos CDs do Ivan Márcio. 



Eugênio Martins Júnior - Como você chegou à guitarra?

Giba Byblos – Comecei na época do Rock In Rio. Não, mentira, foi quando o Kiss veio ao Brasil. Acho que em 1983. Eu queria ser baixista porque achava o Gene Simmons legal. Tinha onze anos. Mas a idéia não durou muito, porque comecei a prestar a atenção e vi que o comportamento dos guitarristas era mais legal e faziam mais barulho, aí comecei a pensar em guitarra. Comecei a infernizar o meu pai e a minha mãe. Meu pai, bem democrático, largou a responsabilidade para a minha mãe. Essa briga durou um ano até eu conseguir ganhar uma guitarra. Ela não queria me dar porque sabia o que ia acontecer, tanto que me ofereceu uma vitrola (risos). Pensando bem, o negócio foi planejado, eles me deram uma guitarra sem amplificador. E o que aconteceu? Comecei a ligar a guitarra na vitrola da sala e começou a estragar o negócio. Aí comecei a ficar esperto. Eles me perguntavam o que eu queria ganhar de aniversário e eu pedia dinheiro. Comprei um amplificador. O amor pela guitarra foi institucionalizado pelo Rock In Rio que veio na sequência.

EM – Então você começou tocando Rock?
GB – Não tinha como não tocar rock. O ambiente de escola era só metal. Na mesma época, tenho família que mora nos Estados Unidos, e umas tias me trouxeram discos dos Rolling Stones. Aí comecei a ouvir aquelas coisas incansavelmente e as músicas que eu mais repetia eram os covers de blues. Meu pai também sempre viajou bastante e sempre ia na Tower Records de Nova York, onde fez amizade com o vendedor . Então ele pedia os discos dos caras que tocavam aqueles blues que os Stones tocavam. O cara fazia uma seleção do que eu queria e ia mandando mais coisas da cabeça dele.

EM – Foi assim que o blues entrou na tua vida? E o que veio nessa leva?
GB – Vieram discos do Albert Collins, Albert King, Willie Dixon, Muddy Waters, Otis Rush. Essas são minhas primeiras lembranças de ter ficado fissurado em blues. O primeiro blues que eu viciei foi You Gotta Move, do disco Sticky Fingers, dos Stones. Outro ponto interessante foi que em 1985 havia um bedel na escola que era um puta de um negão, gordão, e eu precisava fazer amizade com aquele cara pra poder tocar o horror. Aí eu descobri que ele gostava de blues. Então eu gravava algumas coisas pra ele e ele pra mim. Só que o cara era um audiófilo e tinha coisas maravilhosas na casa dele, então ele começou a me encher de Jimmy Smith, Robert Cray e mais Muddy Waters. Ele tinha uma coleção grande na casa dele. São essas as minhas primeiras lembranças do blues.

EM – Guitarra e gaita formam a dupla de blues perfeita. Você e o Ivan são uma boa dupla. Como começou essa parceria?
GB – Conhecia o Ivan de vista, da capa do CD da Mojo e da internet, não conhecia pessoalmente. Quando comecei a tocar no Bar Anhanguera eu fazia com a Rufus The Band e o Ivan fazia com a Prado (Blues Band). Nos conhecemos no bar, um dia faltou um guitarrista e ele entrou com a gaita. Foi em 2006. Eu havia acabado de comprar uma (Fender) Jaguar, lembra Ivan? O Ivan sempre me convidava pra ir à sua casa e um dia eu fui, demorou dois anos. Fizemos um som no estúdio dele e ele me convidou pra substituir o Igor em uma casa nova. O que foi mesmo Ivan?


Ivan Márcio A gente tocava todos os sábados no Anhanguera, mas o Igor estava com um show marcado na Europa e rolou de a gente tocar juntos.




EM – Ivan, você já estava fora da Prado?
IM – Nessa época eu já estava fora. Na verdade eu experimentei várias formações de banda solo até chegar nessa. Casava o baterista, mas a guitarra não rolava. Casava o baixo... o time não estava coeso. A gaita e a guitarra são importantes, mas a gente é muito dependente em ter um bom baterista. Aí quando achava um bom, era a guitarra que não segurava a onda. Tinha que pensar as frases do gaitista, a dinâmica.

GB Justamente nessa dinâmica é que eu acho que deu certo. Pelo respeito do espaço de um e de outro e pelo clima que a gente acaba criando no palco. A gente meio que sacaneia um ao outro e tal.

EM – Acho que ninguém toca blues com esse bom humor que vocês fazem no Brasil. Levam isso para o palco. Pergunte ao B.B. King ele próprio vai dizer que o blues não é só tristeza.
GB – Olha, eu nunca vi ninguém fazer isso. Acho que isso vem de uma admiração mútua, da amizade e de conhecer o jeito       que o outro toca. Por exemplo, eu fico fazendo frases de gaita na guitarra para sacanear o Ivan. Depois ele vai e faz um fraseado super longo na gaita, até a memória do guitarrista falhar. Ou seja, cada show a gente cria uma micagem nova.

EM – Mas vocês pensaram em fazer dessa forma ou aconteceu naturalmente?
GB – Quando estamos juntos, falamos 20% de música e 80% o resto das coisas. E nas outras coisas entra tudo quanto é palhaçada que a gente já viu, de Costinha a Trapalhões. A gente não é amigo só por causa da música. É humor, a gente viveu na mesma época e gosta de falar besteira.

IM Por mais que a gente toque música própria, a gente não viveu o blues como ele é. Nós somos intérpretes do negócio. Tentamos contar a história, mas não de uma forma sofrida, então a gente transforma isso em algo divertido.

GBNo começo da conversa você falou em Buddy Guy e Junior Wells. Você não vê um show deles apresentando um clima sofrido. Os caras colocavam o máximo de energia em cima do palco e a interação de um com o outro fazia a alegria do público. Essa é a nossa origem musical, juntando um guitarrista não dá pra deixar por menos. É a filosofia do “entertainment”.


EM – Quando começou a preparação para gravar o CD My Duty?
GB – A preparação foi longa. O Ivan foi o primeiro cara do meio que me levou a sério. Na época que eu ensaiava com a Rufus, o Ivan freqüentava o mesmo estúdio e se ofereceu pra produzir aquele trabalho. Na época eu não tinha um foco tão pragmático, tão profissional. E ele começou a dar as opiniões que bom produtor daria. A banda não absorveu muito bem a idéia, mas eu guardei do lado esquerdo do peito. No final das contas a banda acabou “desbandando”, mas a idéia estava bem guardada. Voltei a tocar com o The King Sizes e foi quando eu trouxe à tona a idéia de o Ivan produzir. Começou a gravação no Edu Gomes em formato de banda, mas terminou em formato solo.
O Ivan fez o meio de campo e indicou o Cakewalking Studio, do Edu Gomes. No primeiro encontro com o Edu, ele chegou dizendo que nas gravações do Freddie King, a mão que atacava as cordas da guitarra era microfonada. Pô, eu pensei "esse é o cara". Ele não cuidou só da técnica, deu dicas valiosíssimas durante todo o processo e liberdade pro Ivan operar a mesa. E isso foi muito importante, o Ivan conhece meus gostos, sabe do meu preciosismo. Os solos foram gravados com as minhas "Cleopatras" ES 355 e ES 345. Esse é o nome de batismo de todas as minhas semi-acústicas Gibson, que, aliás, são quase da mesma cor, apenas tons diferentes de vermelho. Amo. Todas são do meu harém (risos). O amp, ainda pros solos, foi um Fender Princeton Reverb Silver Face '78, no volume 6, com o grave no zero e agudos no 10. Para as bases usei uma ES 335 sólida, plugada no meu velho Fender Bassman Blackface '67 falando através de um gabinete de Fender Tremolux, com dois falantes de 10".

EM – Gravar depois de todo mundo tem lá suas vantagens. Isso permitiu a você imprimir personalidade ao teu trabalho. A foto da capa é bem produzida, e além de bem humoradas, as tuas letras são bem estruturadas. Gostaria que falasse um pouco sobre isso.
GB – Olha, nada foi pensado. Fui montando esse personagem da forma com a qual me sentia bem tocando. Aí eu fui percebendo que quanto eu mais colocava esse tipo de roupa, mais a minha performance no palco ficava mais agradável e confortável. E isso eu passo para o público. Quanto mais eu coloco esses elementos, mais legal o personagem vai ficando. O B.B. king falou, o público que vem te assistir espera você bem vestido em cima do palco. Essa frase pra mim é importante. E também a frase do Les Paul que desenhou a (guitarra Gibson) Black Beauty imaginando um músico bem vestido, tocando com uma guitarra muito bonita em cima do palco. Eu tenho isso na cabeça, pode ver que as minhas guitarras têm praticamente a mesma cor e isso reflete na escolha da vestimenta.

EM – E o time, como você escolheu?
GB – Era a banda que eu fazia parte, o The King Sizers. Somos todos amigos. Com o baterista Hamilton Godói toco dede 2002, quando a banda ainda se chamava Patchwork. O baixista Fábio Basili também é dessa época. Ele também toca com o Ivan. O Sérgio Lopes que era o tecladista e o P.S. Malaman, outro amigo meu. Só que o P.S. e o Sergião resolveram cair fora. Daí eu resolvi fazer a maioria das bases e incluir outro amigo de infância, o Ricardo Ivanov, para fazer a base em duas faixas que foram a Goin Down e Big Leg Woman. Ele trabalha muito bem com o (pedal) wah wah e eu não sei nem ligar direito. No teclado acabei ficando com o meu “brimo” André Youssef. A gaita em Bad Boy, lógico, o bad boy Ivan Márcio.

EM – Junior Bought Me a Jim tem uma gaita no estilo Junior Wells, foi o Ivan que tocou?
GB – Não esse é um amigo nosso, o Alex.

IM – A gente queria mesmo esse espírito. A idéia não era por gaita no disco o tempo todo. Bad Boy foi uma música que a gente tocou de primeira e casou. Agora Junior Bought Me a Jim, além de o Alex ser nosso amigo e nós o chamamos de Al Slim, ele tem esse carinho por Juinor Wells, James Cotton e Walter Horton, a santíssima trindade, e aceitou o desafio. Eu não consigo imaginar outro gaitista pra reproduzir o som que a gente estava querendo naquele momento.

GB É, a gaita limpa. Ele está sempre querendo se superar. E foi ele quem fez as fotos com o Caio.  Tem um amigo que eu inclui em um blues, ele divide a letra comigo em The Landlady. O Homesick  Hames mora em Beirute. Ele gravou o primeiro solo e a gente divide a autoria da música. O Daniel Correia e o André Calixto fizeram a parte de metais da Goin Down.

IM – O Calixto e o Correia são músicos da cena da música popular brasileira e do blues do ABC. O André Calixto já foi membro da Prado Blues Band e é um cara muito disciplinado. Você pede uma linha mais enxuta e tal e ele vai lá e faz. O Correia é parceiro e é um dos melhores trombonistas que eu já ouvi. Pelos menos no grande ABC e em São Paulo.

GB – O Calixto não é só disciplinado, ele é venenoso. E eu gosto de nego venenoso tocando comigo (risos).

EM – Já que estamos falando em veneno, conta a história de My Duty. Música que abre o CD.
GB – “My duty is to please your boot…” estava tocando sozinho em casa, brincando com John Lee Hooker, e estava passando o filme Shaft na TV. Não sei em qual parte ele diz essa frase pra namorada. Eu fui correndo pro quarto e escrevi essa música baseada nisso: “You say I’m under your boot baby, oohhh I wanna make you feel, you got’damn right”. Because my duty is to pleeease your butt. E butt, como você sabe, não significa bota. É a malícia do blues, a malícia do John Lee Hooker e eu sou um fã dele e isso foi um tributo, com o gancho da frase do Shaft.
Mas é realmente Meu Dever dar o melhor de mim mesmo pra levar o Blues adiante. Está morrendo, realmente. Mas eu faço a minha parte, that's My Duty man!

EM – Também tem uma forte influência do Freddie King.
GB – Ahh, Freddie King é descarado. Essa parte voltada a ele, embora eu ouça muitos bluesmen, ele é o cara que eu me encaixei. Não sei, tudo o que eu faço tem o acento do Freddie King. Há muitos anos eu mandei um e-mail ao Nuno Mindelis de uma gravação que tínhamos feito, acho que foi em 2002. O Nuno disse que estava legal, que havia gostado, e tinha potencial, mas me deu um conselho: “Copia o seu artista preferido. Essa é a filigrana do negócio”. Palavra que eu aprendi com o Nuno, Filigrana. E o cara que eu escolhi pra estudar nos mínimos detalhes foi o Freddie King.


EM – O teu inglês é muito bom, é você quem faz as letras?
GB – Minha família migrou do Líbano nos anos 70 e 30% veio pra cá e 70 foi para os Estados Unidos. E a gente sempre teve esse intercâmbio com a família e eles não iam aprender a falar português, então eu aprendi a falar inglês.

EM – Você trabalha com construção, como faz pra conciliar essa atividade com a música?
GB – Tenho dois sócios que são amigos de infância. Eles sempre me acompanharam desde que eu comecei a tocar e gostam de música, gostam de blues e a gente concilia sempre da melhor forma possível. Até hoje tudo deu certo. A gente está trabalhando junto desde 1997 e a música nunca foi um problema na sociedade e nunca vai ser.

EM – Conta a história de Junior Bought Me a Jim.
GB – As letras foram coletadas ao longo do tempo. Junior Bought Me a Jim fiz em 1994. Partiu de um show com o Junior Wells lá no Bourbon. O fato aconteceu dois anos antes, no show do Sugar Blue. O Sugar me perguntou se eu tinha alguma sugestão de música e pedi Junior Wells. O Sugar Blue olhou pra mim de cima do palco e puto da vida me disse: “Ask when he comes”. (risos). Fiquei com uma cara de banana o resto do show inteiro. Aí eu pensei: “Um dia eu vou contar isso ao Junior Wells”. O Junior Wells veio ao Brasil e eu louco pra contar a história. Ele descia do palco um monte de vezes e em uma dessas vezes ele foi até o bar e eu contei. Ele deu uma risada, sacou cinco dólares do bolso, chamou o barman e mandou me dar um Jim Bean. E ainda falou; “Sugar is a good boy”. Não poderia falar outra coisa.    

EM – Você é empresário e deve planejar as ações de sua empresa. E como blueseiro brasileiro, faz planos? Ou é só deixa a vida me levar?
GB – Esse disco começou a ser gravado em 2010.  Ficou um ano e meio na gestação. Quero divulgar esse trabalho. Tenho uma idéia de fazer um show não somente em cima do CD, mas um show dedicado ao Chicago Blues. Falar: “Talking’ Bout Chicago”. Mostrar o que rola por lá, da maneira que rola. Com o tipo de vestimenta, interação com o público, ser um entertainer. Uma coisa que achei importante com a Shirley King é que ela estava mais preocupada em entreter o público, chegando às vezes até o limite, do que preocupada com preciosismos.
Chicago é o ponto final da trilha do blues. É onde ele definitivamente assume um de seus papéis, o de música para dançar. Onde ele se desdobra em soul e funk. Onde ele chega a extremos de ser tocado com a guitarra nas costas como T-Bone Walker, andando no meio da platéia como Guitar Slim ou até caído no chão, esperneando como Eddie Kirkland. Falar de Chicago é falar de entretenimento, em diversão, em roupas extravagantes. Falar de Chicago é mostrar as cores do blues, ou melhor, absolutamente todas. Talking 'Bout Chicago, it's my home!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

John Pizzarelli plays... Duke Ellington

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Leandro Amaral e Marcos Rodrigues

Mais uma entrevista que vem com atraso. Pelo menos sete meses. Dou a velha desculpa: falta de tempo. Mas sei que não vai colar.
Por quatro vezes trabalhei duro para fazer o show do cantor e guitarrista John Pizzarelli em Santos, mas só na última, em julho de 2011, consegui conversar com ele sem ninguém para atrapalhar. Foi no jantar, no restaurante do hotel, após o show no Teatro Coliseu.
As passagens do artista pela cidade são recheadas de histórias e almoços e noitadas regados a muitas caipirinhas e cervejas. Contando sempre com o bom humor dele e da banda.
Na primeira vez que o cantor e guitarrista veio a Santos armou-se uma visita ao Santos Futebol Clube, onde foi recebido pela diretoria do clube que o presenteou com uma camisa autografada por Pelé, além de uma bola, também autografada, diretamente das mãos do artilheiro Pepe, o Canhão da Vila.
Na segunda vez, quase o show não acontece. Consegui reverter a situação nos quarenta e cinco do segundo tempo com a ajuda do Secretário de Cultura Carlos Pinto. A data disponível era a mesma da Virada Cultural em Santos e o teatro estaria ocupado. Depois de alguma negociação o pessoal da Virada acabou comprando o show e John Pizzarelli se apresentou com entrada gratuita à população. Sorte de quem estava lá.
Na terceira, Pizzarelli veio para uma noite beneficente arranjada pelo radialista Cássio Laranja. O show foi no salão de um hotel chic da cidade. Esse espetáculo também contou com a produção do Thiago e da Carol, nossos associados naquele ocasião. O Thiago fez uma ótima entrevista com John Pizzarelli para a revista Ao Vivo.
Dessa vez fomos jantar em um restaurante na Ilha Porchat e a dupla de músicos, por coincidência os amigos Rogério Baraquet e Ricardo, sacaram Beatles do repertório. Talvez já estivessem mal intencionados, pois reconheceram Pizzarelli quando esse chegou ao local. Rogério o chamou e Pizzarelli nem fez doce. Subiu ao pequeno palco e mandou Can’t Buy Me Love. Mais uma vez, sorte de quem estava lá.
Na quarta e última visita, realizei essa entrevista. John Pizzarelli acabara de lançar Rockin’ In Rhythm – A Tribute to Duke Ellington, um de seus melhores álbuns. Recheado de preciosidades, o CD tenta reproduzir em estúdio uma atmosfera de "ao vivo", com a banda, é claro, ao vivo no estúdio.
Além de Martin Pizzarelli (baixo acústico), Tony Tedesco (bateria) e Larry Fuller (piano), entre os convidados estão célebres figuras do jazz do passado e da atualidade. A começar pelo velho Bucky Pizzarelli (guitarras acústica e elétrica), Harry Allen (sax tenor) e Aaron Weinstein (violino). O disco conta ainda com Tony Kadleck (trompete), John Mosca (trombone), Andy Fusco (sax alto e clarineta), Kenny Berger (sax barítono) e Kurt Elling e Jessica Molaskey (esposa de Pizzarelli), nos vocais em Perdido. A produção é de seu parceiro de longa data Don Sebesky.
Todos esses shows não teriam acontecido sem a parceria de Herbert Lucas, Thais Lucas, Roberto Tolotti e Edgar Radesca.





Eugênio Martins Júnior – Qual a importância de Duke Ellington para a cultura norte-americana?
John Pizzarelli – Duke Ellington é uma das estrelas para o Jazz americano, assim como Tom Jobim é para a Bossa Nova. Como Jobim, tocava piano, escrevia música, liderava uma banda, etc. Todas essas coisas somadas o tornaram um dos maiores artistas da América.

EM – Mas Ellington também está entre os grandes que lideraram orquestras como Count Basie e Stan Kenton.
JP – Sim, mas ele escreveu um monte de músicas diferentes e fez com que a banda tivesse um som próprio. Quero dizer, sou um grande fã de Count Basie, mas a contribuição de Duke Ellington é sem dúvida muito maior por causa das suas composições instrumentais e por achar a banda tão importante.



EM – Conte quando e como surgiu a idéia de homenagear Duke?
JP – Uma das idéias que eu tinha era de fazer um disco com o jazz de verdade. Em todos os discos anteriores eu nunca havia homenageado Duke Ellington, o verdadeiro jazz. E ele oferece muitas oportunidades.

EM – Através dos anos você gravou temas de outros artistas. Qual é seu principal cuidado quando faz a sua versão de um velho tema?
JP – Conheço várias pessoas cujas músicas eu gravei. Conheci James Taylor e trabalhei com Natalie Cole e acho que eles gostaram das versões que fiz. Uma das coisas que eu espero é que as pessoas gostem. Como as próprias versões que fiz dos Beatles. Isso é muito bom.



EM – Sim, muitos artistas cantam versões dos Beatles, mas você representa a tradição do Jazz.
JP – Certo, mas não interessa o que você grava, independente de sua tradição ou seu estilo, você pode se comunicar. Tanto Beatles, quanto James Taylor são: John Pizzarelli plays...

EM – Você é filho de Bucky Pizzarelli e viu muita coisa dentro de sua própria casa, mas quando foi que a música realmente se apossou da tua alma?
JP – (risos) Acho que foi com os Beatles. Quando era garoto pegava uma ripa de madeira e fazia de guitarra, imitava o jeito dos Beatles. Adorava vê-los tocar. Quando meu pai me deu um banjo eu percebi que podia tocar música. Era 1965, 66, 67, quando ouvir música e aprender a tocar um instrumento era uma coisa muito excitante. Peguei uma guitarra quando tinha dez anos e aprendi sozinho.



Em – Qual foi a real influência de Bucky Pizzarelli em sua música? E todos aqueles artistas na sua casa...
JP – Nem era tanto pela música, era mais pela diversão Zoot Sims ia e tocava saxofone tenor e tomava uns drinks. Les Paul jantava, tomava uns drinks e se divertia. E, claro, às vezes tocavam música. Mas os próprios caras eram interessantes. E eu pensava: “Uauu!! Como eu poderia ser amigo desses caras?”. E o meio de ser amigo desses caras era aprendendo Honeysuckle Rose, Rose Room, Satin Doll...
Eles não tocavam sempre, mas eram sempre muito engraçados, estavam sempre de bom humor. Era incrível.

EM – Você gravou Bossa Nova em 2004, mas a música brasileira tem muitos ritmos, como o samba e ritmos do nordeste do país. Em todas essas vezes que esteve no Brasil, teve contato com esses ritmos?
JP – João Gilberto foi o começo, mas quanto mais eu venho ao Brasil, mais posso ouvir outras coisas, como o Chorinho e outros tipos de ritmos. E espero aprender outras coisas, diferentes sons, diferentes canções para incorporar em minha música.



EM – Sei que você conhece João Bosco (a imitação de Bosco feita por Pizzarelli em I Like Jersey Best é impagável), Ivan Lins...
JP – Toninho Horta, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan e alguns da geração anterior também.

EM – Aqui nós chamamos de MPB, Música Popular Brasileira, mas hoje em dia ela não é tão popular.
JP – É verdade, assim como nos Estados Unidos. É música pop, mas é outro tipo de música pop. É um gênero que comporta vários tipos de música. É uma música que eu gosto muito.




EM – Você reuniu um time perfeito. Há quanto tempo estão juntos?
JP – Todos sabem o que tem de fazer no grupo. Não há estrelas. Esse grupo esta junto há seis anos. Larry é o mais novo e é maravilhoso. Tem um piano suingado que é perfeito e é raro achar um pianista com essa intensidade. Tony bate um bolão. Larry é o Pelé e Tony é o Pepe (risos). Mas é mesmo como se fosse um time. Por isso soamos tão bem. Também nos damos bem fora do palco.

EM – Você gravou mais de vinte álbuns em 20 vinte anos de carreira. Como faz para manter esse ritmo?
JP – É divertido. Eu amo o processo. Amo fazer os arranjos, pensar no time para a gravação. Pode ser Duke Ellington, Bossa Nova, canções pop ou canções românticas. Gosto de pensar como vai ser. É sempre um desafio. É como um intenso e curto caso de amor. Você tem as idéias, grava o disco e depois a coisa acaba. Acho que essa é uma boa analogia.



EM – O grupo é muito mais solto quando está no palco do que nos álbuns, gostaria que falasse sobre isso. A hora que estão apenas os quatro em cima do palco é a hora da verdade?
JP – Certo. Acho que é porque não temos de nos preocupar com o tempo e fazemos o que queremos fazer. Tentamos gravar os discos assim também, mas é difícil. Fazer as mesmas coisas que fazemos ao vivo no estúdio. No estúdio não há a reação da audiência, como tivemos hoje. Isso te energiza. Nós nunca sabemos como ela irá se sentir.

EM – Em tempos de internet, downloads, e música eletrônica, o que é preciso fazer para as pessoas manter o interesse no jazz?
JP – Grandes apresentações ao vivo. Elas nunca serão substituídas. Acredito que subir ao palco e causar uma boa impressão é a única coisa que temos. Quero dizer, manter sua personalidade ao vivo. Música ao vivo nunca vai acabar.



EM – Nunca tirar o fator humano da equação?
JP – Sim é isso. Nada substitui isso. Temos muito prazer em tocar em lugares onde as pessoas estão com fome de música.

EM – Já que estamos falando nisso, o que você acha dos downloads?
JP – Ohh, acho bom. É como esse negócio é. Vejo de uma forma que isso acaba trabalhando a nosso favor. Nesse meio muitos pensam: “Como vou ganhar dinheiro com isso?”. Eu digo que ganhamos dinheiro fazendo shows. Enquanto você nos prestigiar e as pessoas vierem nos ver, continuaremos tocando ao vivo.



EM – Sei que devem ter acontecido muitos, mas gostaria que destacasse um grande momento em sua carreira.
JP – Vou falar do Brasil. Foi quando toquei Garota de Ipanema a primeira vez em São Paulo. Toda a audiência cantou em português e depois em inglês. Foi no Bourbon Street. Foi muito louco porque foi uma coisa inesperada. Depois disso Diana Krall me encontrou e disse: “Cara, toquei Garota de Ipanema no Bourbon Street e todo mundo cantou junto”. Eu disse: “Eu sei, eu também”. (risos)
Ficamos surpresos com a beleza, o ritmo e a unidade das vozes cantando. Foi maravilhoso.

EM – O que você mais gosta no Brasil e o que mais odeia?
JP – Acho que não existe alguma coisa que eu odeie. As pessoas são alegres. Nos divertimos muito nos lugares onde tocamos. Passamos bons momentos bebendo, fazendo música, rindo e fazendo piadas. O que eu gosto no Brasil é que há culturas diferentes em cada cidade. Em São Paulo, Santos, Belo Horizonte , todos têm orgulho de alguma coisa. Você vai a um lugar e eles têm o melhor churrasco, em outro eles têm a melhor cachaça, no outro o melhor chopp, aqui é o melhor futebol. É impressionante.  A cultura é riquíssima.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sam Rivers morre na Flórida aos 88


Considerado um dos grandes nomes da vanguarda do jazz por sua capacidade de improvisação, o saxofonista Sam Rivers morreu de pneumonia aos 88 anos de pneumonia em Orlando, estado da Flórida, EUA.
Nascido em uma família de músicos, Rivers integrou a banda da diva Billie Holiday nos anos 50 e tocou com Miles Davis nos 60.
Adepto do Be Bop, o saxofonista de Oklahoma gravou uma série de álbuns inovadores de sua própria autoria para o selo Blue Note, entre eles Fuchsia Swing Song. Também tocou junto com o baixista Dave Holland e o baterista Tony Williams.
Em 1970, Rivers e sua esposa Bea compraram um apartamento no coração de Nova York, vindo a se tornar um local de encontro para músicos e aficionados por jazz. O nome do lugar era Studio Rivbea.
Em pouco tempo, este lugar se converteu na pedra angular do movimento "Loft jazz scene", que se popularizou nos anos 70 em Nova York e que consiste em fazer shows em grandes apartamentos, que são de fato reciclagens de fábricas e armazéns em desuso.
Nos anos 80, Rivers tocou durante quatro anos com a banda United Nations de Dizzy" Gillespie, para logo se estabelecer em Orlando e formar sua própria banda.
"Para mim, meu pai esteve de férias a vida toda", disse sua filha e empresária Monique Rivers Williams na segunda-feira, ao jornal The Orlando Sentinal, ao informar sobre o falecimento.
"Ele costumava me dizer: 'Estou trabalhando, mas aproveito cada momento dele'", explicou. "Aposentaria não fazia parte de seu vocabulário. Ele costumava me perguntar: Para que temos essa palavra?", acrescentou.