sexta-feira, 26 de julho de 2024

Com apenas 58 anos, morre em Bamako, no Mali, Toumani Diabaté

 

Toumani Diabaté (Foto: Richard Saker/The Observer)

“Eles podem seqüestrar as pessoas, podem tirar suas roupas, podem tirar seus sapatos, podem tirar seus nomes e dar outro nome, mas a única coisa que eles não podem tirar é sua cultura”. Essas são palavras de Toumani Diabaté sobre o sequestro de seu povo pelos europeus com fins escravagistas.  
Diabaté, músico e representante da tradição dos contadores de história de seu país, morreu com apenas 58 anos, em 19 de julho em Bamako, capital do Mali. Dizem que quando um jali morre toda uma biblioteca é queimada. 
Na África, jali é o guardião da história oral transmitida de geração em geração. Diabaté vem de uma tradição de 71 gerações de griots e tocadores do corá, um instrumento de cordas semelhante à harpa.
Com Salif Keita e Ali Farka Toure, Diabaté era considerado um dos principais guardiões da cultura milenar transmitida de pai para filho na África Ocidental.
Desde os anos 80 Diabaté vem gravando e difundindo suas histórias em discos na África e Europa. Ouça os álbuns Songhai vol. 1 e 2. 
Nos Estados Unidos gravou com o cantor, compositor e muilti-instrumentista Taj Mahal, fazendo a ponte cultural entre a tradição dos jalis com os history tellers do blues no álbum Kulanjan (1999). 
Na série Blues, produzida por Martin Scorsese, Diabanté aparece no episódio Feel Like Going Home – que também tem Taj Mahal - sendo entrevistado por Corey Harris, outro bluesman e pesquisador de ritmos. 
Com seu conterrâneo, Ali Farka Touré, gravou o maravilhoso In The Heart of the Moon (2005). Há ainda espaço para uma recomendação, mais um disco que faz a ponte entre África e América e que vale a pena ser ouvido, Talking Timbuktu, parceria entre Touré e Ry Cooder.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Em uma semana o mundo da música sofre três grandes perdas: Happy Traum (17/07/24), Jerry Miller (20/07/24) e John Mayall (22/07/24).

 

John Mayall (Foto: André Velozo)

Happy Traum atuou na ascensão do folk nos anos 60, sendo contemporâneo de Bob Dylan no Café Wha?, onde sua banda, a New World Singers, muitas vezes cedeu espaço para o jovem Dylan. Inclusive a primeira versão de Blowin’ in the Wind foi gravada pelo grupo.
Traum também chegou a gravar com Dylan duas faixas que entraram no álbum duplo Bob Dylan’s Greatest Hits Vol. II (1971), o disco mais vendido do bardo do Village. São I Shall Be Released e You Ain’t Goin’ Nowhere, nas quais Traum encara o contrabaixo pela primeira vez em sua vida. 
Com seu irmão Artie formou uma dupla que gravou alguns discos antes de cair na carreira solo. Foi estudioso do blues, cuja maior influência veio de Brownie McGhee. Gravou bons discos, o bem puxado para o blues, Relax Your Mind (1975), (American Stranger (1977), entre outros.
O compositor, cantor e guitarrista Jerry Miller ficou conhecido por ser um dos membros fundadores da banda Moby Grape, banda fundada na efervescência de São Francisco nos anos 60. E, claro, influenciada pelo blues e pelo psicodelismo da época. Ladeado por outros dois guitarristas, Peter Lewis (ex. Peter and the Wolfes) e Alexander “Skip” Spence, Miller foi o responsável pelos grandes arranjos apresentados pela Moby Grape. Fundou ainda o The Rhythm Dukes, participando de festivais e sendo aclamado como um dos grandes guitarristas da cena, não só por publicações como a Rolling Stone, mas também pelos seus pares, inclusive Eric Clapton, que o chamava de melhor guitarrista do mundo. Chegou a dividir palco com Jimi Hendrix.       
A outra enorme perda foi a do multi-instrumentista, cantor e compositor britânico, John Mayall, morto aos 90 anos.
Fundador dos Bluesbreakers, Mayall abriu as portas para inúmeros artistas importantes para o blues e blues rock britânicos, entre eles, Eric Clapton, Peter Green e Mick Taylor. 
Clapton se tornou um dos grandes nomes da guitarra de todos os tempos; Peter Green participou do Fleetwood Mac até lançar-se em uma carreira solo errática por uso e abuso de drogas, para depois constituir o Splinter Group; e Mick Taylor, nada menos do que o jovem que provocou ciúmes em Keith Richards, quando este sentiu que  seu reinado nas seis cordas nos Rolling Stones estava ameaçado com a chegada do garoto. Mick Taylor injetou uma boa dose de blues aos álbuns dos Stones da época. É só conferir Sticky Fingers (1971) e o grandioso Exile on Main Street (1972), que você vai entender o que estou falando. Mas essas são outras histórias.
Mayall tinha a capacidade de aglutinar grandes artistas engajados em sua causa: fazer música inspirada na tradição do blues. Tanto que em todos os seus discos lemos e ouvimos muitos temas reverenciando bluesmen tradicionais. 
Certa vez, conversando com Nuno Mindelis eu chamei Mayall de bluesman e o Nuno logo me corrigiu: “Eu não considero o John Mayall um bluesman. O considero mais um bluesófilo”. Ok Nuno. O fato que ao longo de seis décadas o “bluesófilo” John Mayall andou por aí tocando em festivais pelo mundo, juntando Walter Trout, Coco Montoya, Buddy Whittington, Joe Yuele, Tom Canning, Hank Van Sickle, nos modernos Bluesbreakers e gravando com Buddy Guy, Mavis Staples, Otis Spann, Champion Jack Dupree, Curtis Jones e espalhando simpatia por onde passava. 
Inclusive Aqui no Brasil, onde sua última aparição foi no Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, em 2010. Após o show John foi para a barraquinha de CDs e ele próprio vendeu seus discos e autografou para o público.
São tantos discos bons gravados por John Mayall que fica difícil indicar algum. Portanto, parto para o gosto pessoal: Bluesbreakers with Eric Clapton (1966), esse álbum entra em todas as listas dos melhores do blues; o ao vivo The Turning Point (1969), no qual Mayall mostra toda a sua habilidade como gaitista; Wake Up Call (1993), com duas parcerias matadoras, Buddy Guy em I Could Cry e Mavis Staples na faixa título e marcando sua entrada na Silvertone e o lançamento de grandes discos; Blues for the Lost Days (1997), com várias homenagens conforme já dito; e Stories (2002), cuja resenha encontra-se nesse blog: (https://mannishblog.blogspot.com/search/label/Meus%20Discos).

Leia também a entrevista exclusiva com Coco Montoya: (https://mannishblog.blogspot.com/2009/09/por-duas-vezes-coco-montoya-estava-na.html)

Ontem a sua página no Facebook continha a seguinte mensagem: “É com pesar que recebemos a notícia de que John Mayall faleceu pacificamente em sua casa na Califórnia ontem, 22 de julho de 2024, cercado por uma família amorosa. Os problemas de saúde que forçaram John a encerrar sua épica carreira em turnês finalmente levaram à paz para um dos maiores guerreiros da estrada do mundo. John Mayall nos deu noventa anos de esforços incansáveis para educar, inspirar e entreter.
Em uma entrevista de 2014 ao The Guardian, John refletiu: “[blues] é sobre – e sempre foi sobre – aquela honestidade crua com a qual [expressa] nossas experiências de vida, algo que tudo se junta nesta música, nas palavras também. Algo que está conectado a nós, comum às nossas experiências.” Essa honestidade, conexão, comunidade e forma de tocar crua dele continuarão a afetar a música e a cultura que vivenciamos hoje e nas gerações vindouras.
Nomeado OBE (Oficial do Império Britânico), artista duas vezes indicado ao Grammy e recentemente nomeado para o Hall da Fama do Rock & Roll, John deixa seus 6 filhos, Gaz, Jason, Red, Ben, Zak e Samson, 7 netos e 4 bisnetos. Ele também está cercado de amor por suas esposas anteriores, Pamela e Maggie, por sua dedicada secretária, Jane, e por seus amigos íntimos. Nós, a família Mayall, não podemos agradecer o suficiente a seus fãs e à longa lista de membros da banda pelo apoio e amor que fomos abençoados por experimentar de segunda mão nas últimas seis décadas.
John encerrou a mesma entrevista do Guardian refletindo mais sobre o blues: “Para ser honesto, não acho que alguém saiba exatamente o que é. Eu simplesmente não consigo parar de tocar.” Continue tocando blues em algum lugar, John. Nós te amamos.

Leia o que amigos e admiradores escreveram sobre John Mayall nas redes sociais: 
  
“É muito triste saber do falecimento de John Mayall. Ele foi um grande pioneiro do blues britânico e tinha um olhar maravilhoso para jovens músicos talentosos, incluindo Mick Taylor – que ele me recomendou depois da morte de Brian Jones – inaugurando uma nova era para os Stones”. Mick Jagger

Muito triste ouvir a notícia hoje sobre o falecimento de John Mayall. Sua música, suas bandas, seus guitarristas e seu legado foram extremamente influentes no mundo do blues. Ele inspirou inúmeros jovens músicos, incluindo um certo guitarrista adolescente de Chicago que ouvia seus primeiros álbuns por horas intermináveis. Vi John pela primeira vez durante uma turnê de reencontro do Bluesbreakers com Mick Taylor e John McVie no início dos anos 80 no Park West Chicago. Toquei em um projeto conjunto com ele no The Channel em Boston no final dos anos 80 (como membro da banda de Son Seals) e o vi pela última vez no Evanston SPACE há apenas alguns anos, onde ele gentilmente concordou em ser entrevistado no meu podcast. Obrigado John e que o Padrinho do Blues Britânico fique tranquilo. Dave Specter

Lembrando John Mayall. Fizemos turnês juntos muitas vezes e por mais que ele fosse um músico lendário, ele também era um homem gentil e gracioso e sua falta será sentida. Shemekia Copeland

Cara, acabei de descobrir que meu amigo e mentor John Mayall faleceu... o fim de uma era. Todo o cenário do rock and roll e da música hoje seria completamente diferente sem John. Obrigado John por tudo que você nos deu! Grande amor e boa viagem! Debbie Davis

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Discharge - 21/06/2024 - Carioca Clube SP

O show que aconteceria em dezembro de 2023 e foi adiado finalmente rolou em junho de 2024. Com três bandas na abertura, Manger Cadavre, Havok e Midnight, o Discharge mostrou por que é considerada uma das bundas punks inglesas mais furiosas e respeitadas na cena com The Exploited, UK Subs e GBH. Sua batida influenciou todas as bandas de hadcore e crossover que vieram depois.