sexta-feira, 21 de junho de 2019

Quinta-feira, 20 de junho de 2019 - Diário de Rio das Ostras

O texto meia boca é meu e as fotos sensacionais são do fotógrafo oficial do festival, Cezar Fernandes

Vox Sambou

Após 13 anos ainda estou aqui em Rio das Ostras cobrindo o festival de jazz e blues realizado pelo Stênio e sua equipe da Azul Produções. Festival que passou por altos e baixos no últimos anos – e quem não passou? – mas aos poucos vem voltando ao seu tamanho normal, com todos os palcos.
O Rio das Ostras Jazz e Blues (ROJB), chegou a ser interrompido em 2017, auge do acirramento ideológico entre os esquerdas e direitas do Brasil, como se a cultura pudesse se abrigar em algum desses cantos. 
O fato é que quando a Lei Rouanet e os artistas passaram  a ser apontados pelos próprios corruptos como a origem de todos os males do país, o cultural foi um dos setores mais afetados. 
Em 2018 o ROJB voltou fraco, mas marcou o território com algumas atrações distribuídas em poucos palcos, sendo a maioria de bandas caseiras. Não que isso seja ruim, muito ao contrário, é que o festival se notabilizou justamente pela mistura entre o som brasileiro do jazz e blues e o som dos gringos.  
O festival, que sempre aconteceu no feriadão de Corpus Cristi, começava na quarta-feira para terminar no domingo, só que esse ano a quarta foi tirada para que o palco mais charmoso do evento voltasse, o da Praia de Tartaruga.

Mo'zar Jazz Band


A edição 2019 foi inaugurada às 10h15 do dia 20 de junho com a Mo’zar Jazz Band, na Concha Acústica da Praça São Pedro. A banda que coloca 15 músicos em cima de um palco, a maioria de jovens com menos de 18 anos, vem das Ilhas Maurício e é mantida exclusivamente com doações. Segundo o Stênio, a própria banda entrou em contato com ele pedindo para vir ao Brasil e participar do festival. 
O som da molecada é uma mistura do sega, som tradicional das Ilhas com o jazz tradicional, eles classificam como sega jess.
Alternando temas próprios com clássicos do jazz, como Cantaloup Island, por exemplo, a molecada não fez feio. Óbvio que estão todos em formação e isso fica claro em cima do palco, mas também é isso que encanta. Eles fazem um som honesto e com muito solos jazzísticos. Quem dera as nossas escolas estimulassem isso por aqui.


Flávio Guimarães e Blues Groovers

O segundo show foi com os caras que estão acostumados a tocar por aqui, Flávio Guimarães, ele mesmo, o maior gaitista de blues do Brasil, fundador da banda Blues Etílicos, com o trio Blues Groovers do Otávio Rocha (guitarra), Beto Werther (bateria) e Cesar Lago (baixo) e a participação do Fernando Magalhães. O set de clássicos do blues, entre eles Crazy Mixed Up World (Little Walter), Wild Wild Woman (Johnny Shines) e Big Boss Man (Jimmy Reed), e temas de Charlie Musselwhite, Gone Too Long e River Hip Mama, levantou as massas no palco da Lagoa do Iriry. É preciso ter em mente que quem estava no palco era a nata do blues brasileiro, não mencionei, mas Rocha e Werther também integram a Blues Etílicos, maior banda de blues aqui no brasa e o Fernando revesava com o Frejat os solos de guitarra da maior banda de rock do Brasil por um bom tempo, o Barão Vermelho.

Serginho Trombone (foto de celular Eugênio)

O trombonista e arranjador Serginho Trombone é uma instituição no instrumento. Emprestou seu talento ao Tim Maia, Luiz Melodia e Ed Motta. Em carreira solo, trilhou o caminho do jazz instrumental que apresentou ontem no palco da Praia da Tartaruga que voltou à cena. 
É preciso dizer que a decisão da prefeitura, ou dos bombeiros, de interditar a área em frente ao palco, na parte das pedras, deixou a platéia longe dos artistas e muito P da vida. Houve vaias em várias ocasiões. Por que foram colocadas faixas, grades e agentes da defesa civil se não havia a disposição de liberar a entrada da galera? Ontem o clima estava bom e a maré um pouco revolta, mas nada perto do que já vi em outros anos, com as ondas subindo nas pedras e atravessando por baixo do palco. Sei lá, meio broxante. Assim como a demora para subir ao palco, o show atrasou em quase quarenta minutos. 
Serginho é demais, sua banda manda um jazz de alto nível. Entenda-se jazz brasileiro, com groove e samba embutidos, que fazem bem aos quadris e ouvidos. Saí um pouco antes do final pra descansar para a primeira noite e... dormi demais.

Chico Chagas

Vox Sambou nasceu no Haiti, mas por problemas políticos partiu com sua família para o Canadá onde está baseado até hoje. Foi para estudar, mas a música bateu mais alto no coração.
E no exato momento em que a população do Haiti protesta nas ruas contra a corrupção e a mídia mundial faz questão de ignorar, Vox Sambou sobe ao palco principal do ROJB e manda seu recado de resistência. Suas plataformas são o afrobeat, reggae e o rap com a poesia escrita em francês, inglês, espanhol e português. Junte a isso a mistura de nacionalidades dos músicos, dois brasileiros três canadenses e a cantora Malika Tirolien, vinda de Guadalupe, e tem-se um som que aponta para o futuro. O afrofuturismo, como gosta de dizer o meu amigo DJ Lufer. A base é o Petro, a forma de expressão haitiana ouvidas em My Rythmn e Tout Moun,  som explosivo que encerrou a gig. A banda, André Sampaio (guitarra) Pit de Souza (baixo), Vinicius Chagas (sax), Malika (voz), Jean Daniel (bateria), David  Ryspan (teclado) e Modibo Keita (sax), esse remanescente de um projeto social tocado pelo próprio Sambou.

Macahiba Jazz - Homenagem a Artur Maia

Palco Costazul

Chico Chagas (Costazul)

Vox Sambou 

Vox Sambou e Malika Tirolien 

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