domingo, 6 de fevereiro de 2011

Celso Salim e Rodrigo Mantovani lançam CD com releitura de clássicos do blues em março

Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: divulgação

Foi uma semana de fortes emoções musicais. Sábado e domingo acompanhando o Choro de Bolso no Bar Bohêmia, no Espaço Veja, na Riviera de São Lourenço. A dupla Canduta (violão) e Débora (flauta), chamou Mauro 7 Cordas e o percussionista Edinho para acompanhá-los em três apresentações.
Na quarta feira, dia 26, aniversário da cidade, o AB4, grupo do tecladista Ari Borger, veio a Santos para uma apresentação no Sesc. Final de tarde regado a cerveja e blues da melhor qualidade. Grátis.
E, finalmente, na sexta-feira, show com o Hamilton de Holanda no Teatro Municipal de Santos, também comemorando o aniversário de cidade, também com entrada franca.
Com o Choro de Bolso e o Hamilton de Holanda atuei como produtor, mas no show do Ari Borger fui para curtir a música. E claro, aproveitar que estava ali e fazer uma entrevista com o guitarrista Celso Salim que reproduzo abaixo. Mais uma exclusiva do Mannish Blog.
O quarteto é formado por figuras carimbadas do blues nacional. Além de Borger e Salim,  tem  Humberto Ziegler na bateria e Marcos Klis no baixo. Em pouco mais de uma hora de apresentação, os músicos tocaram os temas do mais recente CD do AB4, Backyard Jam. Entrosamento total.
Veja também entrevista com Ari Borger feita em no Rio das Ostras Jazz e Blues em 2009: www.mannishblog.blogspot.com/2009/10/ari-hammond-borger-cara-do-piano-blues.html



Eugênio Martins Júnior – Você toca, compõe, canta, produz, faz tudo. Blueseiro brasileiro tem de se virar nos trinta pra ganhar o pão de cada dia?
Celso Salim – Estou tocando bastante, além do meu trabalho ainda toco com o Ari e com o Sérgio Duarte. Acaba que pintar uns shows legais, mas tem que tocar com esse volume. Várias “gigs” rolando ao mesmo tempo. Mas os espaços para o blues são raros. O Sesc dá um espaço bom, mas é difícil ter espaços como esse, até em São Paulo, que as pessoas acham que rola blues, mas não tem tanto, não.

EM – Mas o Brasil tem um circuito, por exemplo, aqui na  Baixada Santista eu tento fazer alguma coisa, no Rio tem o Manfra, o Big Gilson que fazem um intercâmbio legal com os gringos, em São Paulo tem o Bourbon Street e o pessoal da Lucas Shows que fazem bastante coisa. Também tem o Igor Prado que está fazendo o nome do Brasil lá fora, tocando pra caramba e trazendo os gringos.
CS Tem algumas coisas. Eu, particularmente, ainda não consegui entrar na panela dos caras. Nunca toquei no Rio. Em vários festivais, sempre mando meu material, mas é difícil. Quem tem um espírito mais empreendedor talvez se dê melhor, mas é como você falou, produção, composição, não sei o quê. Se eu também for me produzir... Eu faço, mas não dou conta de ser tão eficiente (risos). Mas a gente está correndo atrás, tem muita banda também.

EM – Já que tocou no assunto, como você vê o cenário nacional de bandas de blues  no Brasil? Os músicos das antigas falam que nos anos 80 era melhor, mas eu discordo, acho que hoje tem muito mais gente fazendo blues.
CS – Com certeza tem muito mais gente tocando blues. Muito mais bandas em vários estados. Tem uma época dos anos 90, do Natu Blues, Nescafé, (n.r. festivais da época), o pessoal falava que tinha muita coisa acontecendo, mas eu acho que em termos de oportunidade, mas  em número de bandas hoje tem muito mais.

Hoje você toca com o Sérgio Duarte e com o Ari, além da carreira solo. Faz tempo que você não tem um trabalho seu lançado, o último foi o Big City Blues de 2007. Está vindo coisa nova?
CS – Acabei de gravar um CD em parceria com o Rodrigo Mantovani, baixista que toca com o Sérgio Duarte, com o Igor Prado. Ele gravou o Big City também, mas esse CD são só eu e ele. É baixo acústico e dobro e a gente faz algumas coisas bem antigas, sabe: Blind Willie McTell, Blind Boy Fuller, Muddy Waters e algumas nossas. A gente gravou no estúdio lá em casa, com estúdio móvel e vamos lançar agora. Espero que saia da fábrica daqui uns quinze dias.

EM – Hoje há essa possibilidade de gravar com um estúdio em casa. Facilitou muito, principalmente para o blues, como uma dupla, por exemplo. Ou é difícil gravar no Brasil?
CS – É difícil pra caralho. Gasta dinheiro e não vende. A gente está em uma era que não vende mais CD. A gente vende CD em show, mas também não faz tanto show. Foi em casa, mas não foi um estúdio simples. A gente trouxe um estúdio, não foi tão caseiro assim. A gente contratou um estúdio com todos os equipamentos. O Sérgio Duarte dá uma canja.


EM – Ele sempre tem boas participações no teu trabalho, não é?
CS – Sim, por exemplo, no Big City, ele faz umas três ou quatro músicas. Não tenho o que falar, ele é um puta gaitista. Tem de chamar ele. Blues de raiz tem de levar uma gaita.

EM – A produção é tua, também?
CS Produção minha e do Rodrigo, aliás, o CD vai ser Celso Salim e Rodrigo Mantovani, chama Diggin' the Blues. A capa já está quase pronta, a “master” a gente já está fazendo, já está encaminhado.

EM – Você ouviu o blues a primeira vez com o teu professor de guitarra que te mostrou várias coisas, mas qual foi o primeiro guitarrista que te chamou a atenção?
CS – Ele era um amante do blues animal, ele tinha muita coisa, então, ele me mostrou muita coisa ao mesmo tempo. Todos os Kings, Freddie King, Albert King, B.B. King. Ouvi bastante Magic Slim, depois fui pegando umas coisas mais modernas, Johnny Winter, Clapton. É difícil falar, tem coisas que gosto muito, Muddy Waters, talvez, Robert Johnson. Esses caras.

EM – É porque a gente está nos anos 2000, o blues está com pouco mais de cem anos e ele apareceu no Brasil com força nos anos 80, então é muita influência de fora. O blueserio brasileiro tem muita influência do rock and roll, tanto quanto os blueseiros verdadeiros, você não acha?
CS – É claro, aqui é muito recente. Com certeza muda um pouco. Tem muita banda de blues no Brasil que tem essa pegada mais forte. Johnny Winter, ZZ Top, que é blues mas é rock ao mesmo tempo.

EM – Aí acontece da Prado voltar e fazer uma coisa mais tradicional, o próprio Flávio Guimarães que antes apavorava todo mundo na gaita volta às raízes. É foda essa influência dos brasileiros.
CS – Pode crer (risos). Sempre busquei as raízes. Comecei a ouvir blues bem antes do rock. Depois começou a rolar um Led Zeppelin, Cream que também tem muit influência do blues.

EM – Você morou em Los Angeles, o que isso influenciou na tua música?
CS – Morei lá três anos, de 97 a 2000. Fui estudar outras coisas, música em geral. Estudei country, jazz, harmonia e teoria musical. Blues na escola não aprende mesmo. Aprende é tocando. Tinha uma banda de blues lá e eu tocava na noite. Fazia shows com os gringos, todos americanos e aí você aprende pra caralho. E vi muito show também. Você abre o jornal e fica doido com o que tá rolando. Vi muita coisa, B.B. King, RobertCray, Allman Brothers, maravilhoso, duas vezes. Vi show de rock and roll, Black Crowes. Nessa convivência com os americanos você absorve  muita cultura, tocar em botecos onde a galera dança. Você toca Hoochie Coochie Man e a galera dança. Aqui nego fica parado. A galera entende as letras também, né? 

EM – Você falou das letras, no Big City elas são em inglês. Você acha mais legal, tem mais facilidade em compor blues em inglês?
CS – Eu faço inglês porque morei fora e tenho intimidade com a língua. Faço assim porque sempre gostei. Blues em português  poucas pessoas conseguiram atingir um  lance legal. É complicado. Ainda mais quando querem traduzir a poesia do blues pra português fica bobo.  

EM – No Big City há somente uma cover, o resto das músicas são todas suas composições. Isso é raro acontecer, a maioria das bandas busca muita coisa lá de fora. Parece que há a necessidade de pagar um tributo aos criadores do negócio. Você sente isso?
CS – Os meus outros CDs vieram com a maioria de músicas próprias. O segundo é inteiramente autoral. O primeiro são quatro covers e seis próprias. Aposto  muito nisso, componho muito. Esse trabalho que vai sair agora tem muito pouco de coisas minhas. São só duas minhas e oito faixas gringas, mas são frutos de uma pesquisa que a gente fez intensa de coisa bem antiga. Mas mesmo assim estou com quarenta músicas próprias. Já tenho um CD inteiro elétrico pronto. Com letra, tudo certinho, com banda. Mas é difícil. A galera quer cantar em inglês, mas pra compor em inglês, tem que ter um vocabulário, senão vai ficar bobo.  Então isso já é uma dificuldade.

EM – Com relação aos músicos de blues dos Estados Unidos, você consegue fazer esse intercâmbio com eles, como o Big Gilson e o Igor Prado, por exemplo, que viajam pra caramba?
CS – Não consegui ainda. Tenho que focar um pouco mais na minha carreira. É difícil não ter um agente pra te vender.

EM – Mas eles também não tem, ou não tinham. Muitas vezes foram na raça. Eu sou prova disso porque converso sempre com os caras.
CS – Claro, eles conhecem, fazem intercâmbio. Mas eles têm espíritos mais empreendedores,.(risos). Eles têm muito mais anos de estrada também. Quantos anos o Big Gilson está fazendo som aí? A gente vai aos poucos tentando. Talvez eu volte aos Estados Unidos,  morar lá o ano que vem. Estou a fim de estudar engenharia de áudio, essas coisas. E aproveitar pra tocar mais blues lá. Vou pra Los Angeles de novo, se eu voltar já tenho uma base com o pessoal da banda que eu tocava. A gente volta a fazer algumas coisas.

EM – Uma coisa que eu achei interessante é que você usou três tecladistas no Big City Blues. São os três mais requisitados no Brasil, o Adriano Grineberg, o Ari Borger e o Flávio Naves. Foi pela identidade de cada um ou foi pra contemplar os amigos?
CS – (risos) Não, chamo os músicos que posso chamar por amizade, mas também que posso contar com a qualidade, que eu acho o máximo. Chamei o Igor também, mas chamo os caras que são bons instrumentistas. Se não tocar bem, não rola. (risos).

EM – Da cena atual de blues quem te chama a atenção?
CS – Não conheço muito a cena, mas o Larry McCray, já fiz show com ele aqui. Não estou ouvindo muita coisa nova mesmo, mas conheço os caras que vem aqui o Rick Estrin e os Nightcats, que são muito bons. Parei no tempo, ouço muita coisa antiga. (risos). Dos brasileiros gosto da banda do Igor, os caras tocam pra caralho. Tem o (Marcos) Otaviano, super guitarrista. Tem outros caras, mas os dois são os que me vêm primeiro.

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