Shirley King - São Bernardo
Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos: Gondwana Producciones, Eugênio Martuins Jr
Shirley King e o saxofonista Gerald Noel desembarcaram na madrugada de 23 de agosto em Guarulhos, vindos de dois shows, na Argentina e Uruguai. No Brasil, foram seis apresentações: Bauru, Santos, Sorocaba, Piracicaba, São Bernardo e São Paulo.
O único ensaio entes das apresentações brasileiras aconteceu no dia 23 no estúdio Cake Walking em São Paulo. Começou tenso. Como lutadores que nunca se enfrentaram, banda e Shirley começaram estudando-se mutuamente.
Shirley está acostumada a se apresentar fora do circuito blues, por isso, seu repertório usual inclui soul music e alguns funks. Mas não era isso que a gente queria. Quando fechamos o show, o combinado era injetar blues na veia. Não se tratava de um problema real, foi mais uma falta de sintonia fina. Sem nenhuma objeção a moça topou montar o repertório em cima de temas de blues conhecidos por ela e já ensaiados pela banda.
Tema após tema, Ivan Márcio, Giba, Julio, Wagner, Gerald e Shirley começaram a se entender e se soltar. No final da noite, o som alto do bom e velho blues soou nos amplificadores e todo mundo ficou numa boa.
No repertório, Next Time You See Me e Crossroads (abertura com a banda de Ivan Márcio); Futher Up Down the Road e Shotgun (Gerald Noel); e Thrill Is Gone, Let the Good Times Roll, Mustang Sally, Hoochie Coochie Woman, Sweet Home Chicago, Proud Mary, Wang Dang Doodle, Rock Me Baby e outras.
Shirley e Gerald ficaram 12 dias no Brasil, quatro deles em Santos, quando ambos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco a cidade, pelo menos o bairro do Gonzaga, onde ficaram hospedados, e a orla da praia, lugar de vários passeios.
Para alguns, ser filha de um dos maiores nomes do Blues não a habilita a ser uma grande artista. A rigor, a afirmação é verdadeira. Para muitos, principalmente as pessoas que foram aos shows, Shirley provou ter herdado um pouco do talento do pai, como cantora e como entretainer. Sua voz é forte e quando sobe no palco, àquela senhora de 62 anos sabe como agradar. Ela mexe com o público o tempo inteiro e instiga a banda dar o melhor de si.
Essa entrevista foi realizada em um dos dias em que Shirley esteve em Santos. Frente à frente com a filha do blues.
O giro de Shirley foi uma parceria entre o Mannish Blog, Lucas Shows e Eventos e Ivan Márcio Blues Band. Em Santos a co-produção foi de Cássio Laranja.
Os agradecimentos vão para Dayse Marchiori, Mendes Hotéis, TVB Litoral, Studio A, Gondwana Producciones e restaurante Kenzo pelo ótimo jantar oferecido à artista.
Shirley King - Sorocaba
Eugênio Martins Júnior – Você começou a carreira de cantora de blues profissional aos 40 anos. Porque demorou tanto tempo?
Shirley King – Não comecei minha carreira de cantora aos 40, comecei a cantar aos três anos. Só não tentei fazer dinheiro cantando até os 40 porque tinha uma frustração com relação a isso. Como dançarina tinha mais controle da minha carreira e das coisas que fazia e não precisava me envolver com agentes, promotores e esse tipo de pessoas. Também odiava o blues porque ele afastou o meu pai, então nunca me vi como cantora profissional de blues. Então, quando completei 40 anos e abandonei a dança fiquei sem ter o que fazer. Tive de entrar no show business e o blues era o caminho mais fácil.
EM – Você disse que odiava o blues porque achava ele havia afastado o seu pai da família. Quando foi que mudou de idéia?
SK – Acho que tenho um caso de amor e ódio em relação ao blues. O estilo de vida me afetou muito, mas quando passei a me apresentar em diferentes clubes e comecei a perceber como as pessoas que curtem blues são diferentes, pude ver como elas amam o blues. O que eu mais queria era ser aceita e amada, então quando percebi que essa música pode fazer as pessoas se divertirem ou até mesmo ser usada para esquecer os problemas, vi sua real importância. Passei a levá-lo mais a sério quando passei a cantar na escola para as crianças. Agora ensino às crianças a não odiarem o blues, assim como eu fazia quando era jovem. Quando comecei a ensinar sobre o blues nas escolas, isso mudou completamente minha forma de vê-lo, porque encontrei as formas de entender e conhecer mais sobre as pessoas envolvidas com ele e sua história.
EM - Você nasceu perto de Memphis e agora mora em Chicago. São duas cidades chaves para a música norte-americana. Gostaria que falasse sobre essas diferenças musicais.
SK – Na verdade nasci em Arkansas, mas cresci em Memphis com meu pai. A diferença é que o blues de Chicago é mais tradicional, com baixo, bateria, guitarra e harmônica, ou uma segunda guitarra. Às vezes um teclado. O blues de Memphis sempre pede o som de big bands e sempre inclui uma seção rítmica com metais. É mais jump ou be bop blues, mais contador de histórias. O blues de Chicago é “Got My Mojo Working”. É tradicional, como nos campos e nas juke joints. Diferente do que o meu pai fazia quando ficou conhecido, contando os altos e baixos da vida.
Pra mim o Chicago blues é mais alegre comparado com o que é feito em Memphis, traz aquela sensação de diversão, não é como aquelas histórias de The Thrill is Gone ou Sweet Little Angel.
EM - Quando está no palco mostra a mesma empatia pelo público que o velho B.B. No campo musical o que mais B.B. King influenciou na sua música?
SK – Estar sempre perto de meu pai ajudou bastante, mas vi que ele fazia as pessoas amá-lo porque agia como se elas fossem seus melhores amigos. Elas se sentiam tocadas pessoalmente. Também acho que o fato de ter sido dançarina e feito as pessoas dançarem comigo ajudou. Sempre agi assim quando era dançarina. Não sei por que eu e meu pai temos tantos traços artísticos semelhantes, mas acontece desse jeito. Eu não fico sentada assistindo o que ele faz no palco para depois copiar. Às vezes eu vejo meu pai e vejo que ele está fazendo o que eu já havia feito. (risos). Não sei, talvez seja alguma conexão espiritual. Ou simplesmente herdei esse jeito por estar sempre por perto dele assistindo seus shows.
EM- Seguindo a pergunta interior, no campo musical, qual foi a principal lição que aprendeu com B.B. King? De onde vêm suas principais influências?
SK – Essa é uma pergunta que sempre me fazem. Em grande parte sempre me ajudou. Por outro lado eu sou a “filha de B.B. King”. Não sou a Shirley King. Essa é parte ruim, porque as pessoas passam a não reconhecer o meu talento. Principalmente quando faço alguma coisa igual a ele. Todos os dias tento fazer as coisas diferentes do meu pai para que não haja comparação. Eu não toco guitarra, digo às pessoas que eu balanço os quadris. Em outras palavras, não sou uma instrumentista, sou uma entretainer. Gosto de estar no controle no palco.
EM - Até que ponto ser filha do rei do blues atrapalha e até que ponto ajuda?
SK – Sempre andei com meu pai e percebi que quando ele andava pela cidade as pessoas o colocavam em um pedestal.
As pessoas às vezes me usam por causa disso. Quero apenas que elas me aceitem por mim, mas nem sempre acontece. Nunca o aborreci para estar no show, as pessoas vivem me perguntando isso, mas eu digo que a coisa tem de ser natural, pra mim está tudo bem.
Não sei, parece que com o passar do tempo ele queria ver o que eu havia aprendido com os anos e eu mostrei que estava totalmente à vontade.
EM - Você já subiu ao palco com seu pai?
SK - Nesse ano meu pai me chamou ao palco mais do que em todos os outros anos. Em janeiro eu estava em um show quando ele me chamou ao palco e disse para as pessoas pegarem suas câmeras, seus gravadores e disse que estávamos a ponto de fazer história. Ele me apresentou como sua filha e cantamos um blues. Fiquei muito nervosa, porque não estava preparada, mas cantei.
Na noite seguinte subi ao palco e tive uma lição de como não roubar o show de outro artista. As pessoas pediram para eu cantar um número a mais e eu disse sim. E ele me disse para não tomar conta do show. Eu disse: “Ok é o seu show”. E ele me disse: “Então não faça isso, ok?”. Eu disse: “Ok Sr.” (risos).
Em março ele me chamou e foi bem diferente de janeiro. Dessa vez eu estava calma e nós cantamos: “You Are My Sunshine, My Only Sunshine”. Adoramos esse momento, ele me deu o microfone e eu fiquei lá ouvindo os aplausos e dessa vez não houve problema, porque fiz o que ele disse.
EM – Demorou quanto tempo para isso acontecer?
SK – Acho que ele me chamou umas cinco ou seis vezes. Na primeira vez ele veio ao meu show. Ele me disse que as pessoas poderiam me usar para atraí-lo aos meus shows e tocar de graça e os empresários não gostam disso. Se eles pagam centenas de milhares de dólares para você e outros o têm de graça. Então apareceu por alguns momentos, porque não queria ferir meus sentimentos. Enfim, ele apareceu uma noite e eu te digo, o que ele disse que ia acontecer, aconteceu. Eu estava cantando e ele andou em direção ao palco e as pessoas começaram a gritar. Eu disse: “Uau, o que eu fiz?”. Mas eles não gritavam por minha causa, eu não havia visto que ele estava atrás de mim. Em outra ocasião ele disse que não apareceria, porque não estava sendo pago para estar no festival, mas para não me deixar chateada ele apareceu. Mais uma vez eu estava no palco e a audiência estava sentada. Quando ele entrou pela porta eu passei a cantar para as poltronas. Todos desapareceram.
Em outras palavras, meu pai é da escola antiga, ele gosta de ir direto ao ponto. Ele não gosta de falar as coisas e você não acreditar. Ele gosta de mostrar para você acreditar. Ele estava tentando me mostrar que é uma grande pessoa.
EM - Quando recebi seu repertório para planejar a turnê brasileira havia muitas músicas de soul e funk e poucos blues. Porque essa escolha?
SK – Bem, a primeira vez que escolhi com o líder de minha banda, o guitarrista Glen Nelson, as músicas que cantaria em Chicago, eu não atuava só em clubes de blues. Não tínhamos de tocar blues todas as noites. As cenas são distintas, mas no South Side de Chicago não tocamos apenas aquele estilo de blues. No East Side idem. Então, quando enviei pra você o primeiro set list achava que as pessoas gostariam que eu misturasse as músicas e não quisesse ouvir só blues todas as noites.
EM - Seus CDs são dos anos 90. Porque passar tanto tempo sem gravar? Não sente necessidade de apresentar um novo trabalho?
SK – O que aconteceu quando fiz o CD The Daughter of the Blues, foi que uma jovem veio até mim com muito dinheiro após me ouvir cantar. Ela era cantora profissional em Las Vegas e ficou impressionada ao me ouvir e quis gravar imediatamente. Então, ela criou o CD e um selo de gravação para mim. Tudo estava bem até ela querer... a mim. Mas eu não estou nessa. Pra mim é puramente negócio.
Então deixei tudo para traz, o selo, a gravação e tudo o que havia realizado. Não queria contrariar, mas quando as pessoas ganham dinheiro por você, você faz o que elas querem e foi isso que aconteceu. Depois de um tempo conheci um produtor em Toledo, Ohio, e estávamos trabalhando em um CD que seria lançado em outubro de 2009. Fui diagnosticada com câncer em abril do mesmo ano. O médico me disse que se eu continuasse a trabalhar e subir aos palcos não poderia me ajudar. Tive de parar de trabalhar no CD e tudo mais para me submeter a uma cirurgia e depois a sessões de quimioterapia. Então tive de parar e o CD nunca foi lançado.
EM – Você me disse que tem um trabalho inacabado e que faltam apenas duas canções para colocar.
SK – Estou parada com esse projeto porque o produtor e meus dois compositores preferidos não se dão bem. O produtor não quer trabalhar com os compositores e vice versa. Mas o produtor é o fator principal na gravação. Tive de começar novamente em Shelter in the Storm estão tentando me ajudar. Tenho outras canções, Agravation que é do CD The Daughter of the Blues, e It Ain’t Easy Bein’ a Diva, escrita por mim e por meu baixista, sei que é uma grande canção por que todos me pedem para cantar.
EM - Você tem tocado no Brasil com a banda de Ivan Márcio, o que achou deles? Quero dizer, você nem os conhecia, houve apenas um ensaio antes de pegar estrada. Com está sendo esse entrosamento?
SK – Costumo ir sempre à Itália e a banda é de lá, vou à Argentina e a banda é de lá. Não sou o tipo de pessoas que por ser a cantora tenho que ficar acima da banda. Tento fazê-los tocar o melhor que podem. Não são músicos de Chicago, mas respeitam nossa música. Eles estudam, aprendem e tentam tocar bem para mim. E eu tento não deixá-los constrangidos quando as coisas não saem bem. Não canto para a banda, canto para a audiência e ela sabe que pequenos erros ocorrem e isso não é nada demais. Procuramos tocar as músicas de forma diferente, todo mundo faz isso.
Teatro Municipal Brás Cubas - Santos
EM- Seguindo a pergunta interior, no campo musical, qual foi a principal lição que aprendeu com B.B. King? De onde vêm suas principais influências?
SK – Essa é uma pergunta que sempre me fazem. Em grande parte sempre me ajudou. Por outro lado eu sou a “filha de B.B. King”. Não sou a Shirley King. Essa é parte ruim, porque as pessoas passam a não reconhecer o meu talento. Principalmente quando faço alguma coisa igual a ele. Todos os dias tento fazer as coisas diferentes do meu pai para que não haja comparação. Eu não toco guitarra, digo às pessoas que eu balanço os quadris. Em outras palavras, não sou uma instrumentista, sou uma entretainer. Gosto de estar no controle no palco.
EM - Até que ponto ser filha do rei do blues atrapalha e até que ponto ajuda?
SK – Sempre andei com meu pai e percebi que quando ele andava pela cidade as pessoas o colocavam em um pedestal.
As pessoas às vezes me usam por causa disso. Quero apenas que elas me aceitem por mim, mas nem sempre acontece. Nunca o aborreci para estar no show, as pessoas vivem me perguntando isso, mas eu digo que a coisa tem de ser natural, pra mim está tudo bem.
Não sei, parece que com o passar do tempo ele queria ver o que eu havia aprendido com os anos e eu mostrei que estava totalmente à vontade.
EM - Você já subiu ao palco com seu pai?
SK - Nesse ano meu pai me chamou ao palco mais do que em todos os outros anos. Em janeiro eu estava em um show quando ele me chamou ao palco e disse para as pessoas pegarem suas câmeras, seus gravadores e disse que estávamos a ponto de fazer história. Ele me apresentou como sua filha e cantamos um blues. Fiquei muito nervosa, porque não estava preparada, mas cantei.
Na noite seguinte subi ao palco e tive uma lição de como não roubar o show de outro artista. As pessoas pediram para eu cantar um número a mais e eu disse sim. E ele me disse para não tomar conta do show. Eu disse: “Ok é o seu show”. E ele me disse: “Então não faça isso, ok?”. Eu disse: “Ok Sr.” (risos).
Em março ele me chamou e foi bem diferente de janeiro. Dessa vez eu estava calma e nós cantamos: “You Are My Sunshine, My Only Sunshine”. Adoramos esse momento, ele me deu o microfone e eu fiquei lá ouvindo os aplausos e dessa vez não houve problema, porque fiz o que ele disse.
EM – Demorou quanto tempo para isso acontecer?
SK – Acho que ele me chamou umas cinco ou seis vezes. Na primeira vez ele veio ao meu show. Ele me disse que as pessoas poderiam me usar para atraí-lo aos meus shows e tocar de graça e os empresários não gostam disso. Se eles pagam centenas de milhares de dólares para você e outros o têm de graça. Então apareceu por alguns momentos, porque não queria ferir meus sentimentos. Enfim, ele apareceu uma noite e eu te digo, o que ele disse que ia acontecer, aconteceu. Eu estava cantando e ele andou em direção ao palco e as pessoas começaram a gritar. Eu disse: “Uau, o que eu fiz?”. Mas eles não gritavam por minha causa, eu não havia visto que ele estava atrás de mim. Em outra ocasião ele disse que não apareceria, porque não estava sendo pago para estar no festival, mas para não me deixar chateada ele apareceu. Mais uma vez eu estava no palco e a audiência estava sentada. Quando ele entrou pela porta eu passei a cantar para as poltronas. Todos desapareceram.
Em outras palavras, meu pai é da escola antiga, ele gosta de ir direto ao ponto. Ele não gosta de falar as coisas e você não acreditar. Ele gosta de mostrar para você acreditar. Ele estava tentando me mostrar que é uma grande pessoa.
The Orleans - São Paulo
EM - Quando recebi seu repertório para planejar a turnê brasileira havia muitas músicas de soul e funk e poucos blues. Porque essa escolha?
SK – Bem, a primeira vez que escolhi com o líder de minha banda, o guitarrista Glen Nelson, as músicas que cantaria em Chicago, eu não atuava só em clubes de blues. Não tínhamos de tocar blues todas as noites. As cenas são distintas, mas no South Side de Chicago não tocamos apenas aquele estilo de blues. No East Side idem. Então, quando enviei pra você o primeiro set list achava que as pessoas gostariam que eu misturasse as músicas e não quisesse ouvir só blues todas as noites.
EM - Seus CDs são dos anos 90. Porque passar tanto tempo sem gravar? Não sente necessidade de apresentar um novo trabalho?
SK – O que aconteceu quando fiz o CD The Daughter of the Blues, foi que uma jovem veio até mim com muito dinheiro após me ouvir cantar. Ela era cantora profissional em Las Vegas e ficou impressionada ao me ouvir e quis gravar imediatamente. Então, ela criou o CD e um selo de gravação para mim. Tudo estava bem até ela querer... a mim. Mas eu não estou nessa. Pra mim é puramente negócio.
Então deixei tudo para traz, o selo, a gravação e tudo o que havia realizado. Não queria contrariar, mas quando as pessoas ganham dinheiro por você, você faz o que elas querem e foi isso que aconteceu. Depois de um tempo conheci um produtor em Toledo, Ohio, e estávamos trabalhando em um CD que seria lançado em outubro de 2009. Fui diagnosticada com câncer em abril do mesmo ano. O médico me disse que se eu continuasse a trabalhar e subir aos palcos não poderia me ajudar. Tive de parar de trabalhar no CD e tudo mais para me submeter a uma cirurgia e depois a sessões de quimioterapia. Então tive de parar e o CD nunca foi lançado.
Shirley King, Gerald Noel, Ivan Márcio Blues band em ação - São Bernardo
EM – Você me disse que tem um trabalho inacabado e que faltam apenas duas canções para colocar.
SK – Estou parada com esse projeto porque o produtor e meus dois compositores preferidos não se dão bem. O produtor não quer trabalhar com os compositores e vice versa. Mas o produtor é o fator principal na gravação. Tive de começar novamente em Shelter in the Storm estão tentando me ajudar. Tenho outras canções, Agravation que é do CD The Daughter of the Blues, e It Ain’t Easy Bein’ a Diva, escrita por mim e por meu baixista, sei que é uma grande canção por que todos me pedem para cantar.
EM - Você tem tocado no Brasil com a banda de Ivan Márcio, o que achou deles? Quero dizer, você nem os conhecia, houve apenas um ensaio antes de pegar estrada. Com está sendo esse entrosamento?
SK – Costumo ir sempre à Itália e a banda é de lá, vou à Argentina e a banda é de lá. Não sou o tipo de pessoas que por ser a cantora tenho que ficar acima da banda. Tento fazê-los tocar o melhor que podem. Não são músicos de Chicago, mas respeitam nossa música. Eles estudam, aprendem e tentam tocar bem para mim. E eu tento não deixá-los constrangidos quando as coisas não saem bem. Não canto para a banda, canto para a audiência e ela sabe que pequenos erros ocorrem e isso não é nada demais. Procuramos tocar as músicas de forma diferente, todo mundo faz isso.
Ivan Márcio e Giba Byblos
EM – É a sua primeira vez no Brasil e você viajou por várias cidades do estado de São Paulo. Tirando o cansaço por estar na estrada, o que tirou dessas viagens?
SK – São tão poucas as coisas que vi por aqui e não gostei. As pessoas me trataram tão naturalmente, exceto pelo fato de não falarem a minha língua. Passei um tempo muito bom, as pessoas foram cuidadosas. Não são estressadas, são relaxadas. Quando fui à praia e me sentei em frente ao mar, uma das coisas que passou pela minha cabeça foi: ”O meu deus, como deve ser bom morar em frente à praia”. (risos)
Todas as coisas que vi aqui, a praia, as montanhas, me relaxaram muito porque eu sou de Chicago, uma cidade grande. Andei hoje pelas ruas em volta ao hotel e as pessoas que encontrei não falavam minha língua, mas tentavam responder. Fui a uma loja de discos e a um café e eles tentaram me ajudar o máximo que puderam. Então não é tão ruim mesmo não entendendo a língua e sendo uma pessoa falante como eu. Um dos melhores momentos foi quando fui ao Bourbon Street. Adorei aquele clube e eles me trataram muito bem porque meu pai inspirou aquelas pessoas. Na noite passada também foi muito bom, fomos a um restaurante japonês onde a comida era ótima. Há muitas coisas pra fazer aqui. Ao mesmo tempo em que tive a oportunidade de entreter as pessoas, tive a oportunidade de conhecer sua cidade. Voltei da praia ontem e as pessoas me paravam na rua pra tirar fotos, até as crianças.
EM – Notei que você ouviu algumas músicas brasileiras nos ambientes que freqüentou e ficou bem ligada nela. O que você conhece da música brasileira?
SK – No dia do nosso ensaio ouvi uma banda de jovens no estúdio que chamou minha atenção, fui até tirar fotos com eles. (a banda Conex). Ouvi um pouco de Bossa Nova e Samba. Quando fiquei sabendo que ia fazer alguns shows por aqui, entrei na internet para me informar sobre o público, sobre a música brasileira, procurei conhecer alguns artistas. Tentei aprender sobre a audiência a qual iria a trabalhar. Percebi que os brasileiros curtiam a música, cantavam juntos, adoravam o show, mas não aplaudiam. (risos). Quando vi isso pensei: “Oh, oh!”.
Isso é o meu termômetro. Então, quando fizemos o primeiro shows (em Bauru) as pessoas estavam enlouquecidas e eu pensei: “Que porra era aquela que eu vi na internet? Olhem essas pessoas. Dançando e subindo no palco”. Não esperava uma reação daquelas logo no primeiro show. E depois desse foram todos iguais. Eles não queriam me deixar ir embora. E quanto mais as pessoas ficam excitadas nos meus shows, elas me deixam mais excitada também.
EM – Ontem no jantar você estava me falando das suas influências. E entre elas estava a dançarina Josephine Baker. Gostaria que falasse um pouco sobre isso.
SK – Josephine Baker era uma dançarina muito famosa. Etta James não era uma dançarina, mas ela era uma cantora muito boa e também é uma de minhas influências. Ela pode cantar diferentes estilos como blues, country, jazz, R&B. Eu gostaria de ser uma versão das duas coisas, gosto de fazer tudo no show, como Take 6 que assisti aqui no Brasil, eles colocam Gospel, Hip Hop, Michael Jackson. As pessoas não gostam de um só estilo de música, todos amam todos os tipos de música. Então, Etta James tem esse seu estilo. Koko Taylor é uma cantora de blues tradicional, do mais puro Chicago Blues. Me identifico com Josephine porque eu mesma era uma dançarina. Não consigo apenas ficar em pé no palco e cantar. Não é assim que acontece.
Ruth Brown me ensinou muito sobre como ter classe. Ela conversava comigo sobre os dias de glamour de Diana Ross, porque elas eram muito próximas. Ela era uma mulher muito elegante e cuidadosa com os detalhes. Aprendi com ela como me comportar no palco. Você sabe, as pessoas querem ver isso. Se você for ver no passado as mulheres que subiam ao palco estavam sempre elegantes.
EM – Quais as cantoras de hoje que você curte?
SK – Para ser honesta com você, aprecio novos talentos que se inspiraram nas mais velhas, como Tina Turner, Madona e Aretha Franklin. Que não esqueceram essas influências.
Agora, pessoas como Lady Gaga. Não sei. Não me inspira a fazer algumas coisa, não vou ser uma Lady Gaga de 60 anos. As coisas que ela faz nos shows são criativas, mas parece que as pessoas assistem seu show mais para ver essas coisas do que a para ouvi-la. Admiro Beyoncé, duas ou três mais. Essa geração está tentando fazer sua música, mas muito do que elas fazem remete às cantoras antes delas. Beyoncé foi colocada em um filme, mas o que ela sabia sobre a Chess? (N.R. Shirley se refere ao filme Cadillac Records, o qual Beyoncé interpreta Etta James).
EM – Ontem recebemos a notícia sobre a morte de Honeyboy Edwards. Gostaria que você falasse um pouco sobre ele.
SK – Todos os anos eu era convidada para uma festa de fim de ano em um clube em Chicago. Com álcool grátis e toda a família de Chicago. E o que acontecia era que tocávamos o blues tradicional e Honeyboy sempre estava lá. Foi quando o conheci pessoalmente. Até então só havia ouvido falar dele. Na comunidade do Blues de Chicago, todos se conhecem. Todos iam lá, Billy Branch, Big Time Sarah, Zora Young, Eddie Shaw, Eddy Clearwater, Lonnie Brooks, Buddy Guy. Todos eles vivem em Chicago. Tenho algumas fotos com Honeyboy. Ele era uma verdadeira lenda porque foi contemporâneo e amigo de Robert Johnson. Ele Robert Lockwood Jr e meu primo Booker (Bukka White) eram da mesma região. Meu pai é da geração após essa.
The Orleans - São Paulo
EM – Quais as cantoras de hoje que você curte?
SK – Para ser honesta com você, aprecio novos talentos que se inspiraram nas mais velhas, como Tina Turner, Madona e Aretha Franklin. Que não esqueceram essas influências.
Agora, pessoas como Lady Gaga. Não sei. Não me inspira a fazer algumas coisa, não vou ser uma Lady Gaga de 60 anos. As coisas que ela faz nos shows são criativas, mas parece que as pessoas assistem seu show mais para ver essas coisas do que a para ouvi-la. Admiro Beyoncé, duas ou três mais. Essa geração está tentando fazer sua música, mas muito do que elas fazem remete às cantoras antes delas. Beyoncé foi colocada em um filme, mas o que ela sabia sobre a Chess? (N.R. Shirley se refere ao filme Cadillac Records, o qual Beyoncé interpreta Etta James).
EM – Ontem recebemos a notícia sobre a morte de Honeyboy Edwards. Gostaria que você falasse um pouco sobre ele.
SK – Todos os anos eu era convidada para uma festa de fim de ano em um clube em Chicago. Com álcool grátis e toda a família de Chicago. E o que acontecia era que tocávamos o blues tradicional e Honeyboy sempre estava lá. Foi quando o conheci pessoalmente. Até então só havia ouvido falar dele. Na comunidade do Blues de Chicago, todos se conhecem. Todos iam lá, Billy Branch, Big Time Sarah, Zora Young, Eddie Shaw, Eddy Clearwater, Lonnie Brooks, Buddy Guy. Todos eles vivem em Chicago. Tenho algumas fotos com Honeyboy. Ele era uma verdadeira lenda porque foi contemporâneo e amigo de Robert Johnson. Ele Robert Lockwood Jr e meu primo Booker (Bukka White) eram da mesma região. Meu pai é da geração após essa.
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