quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Morre o prolífico Quincy Jones

 

Uma história que continha todos os elementos para ter acabado mal. A avó havia sido escravizada. A mãe internada em uma instituição para lunáticos quando ele tinha apenas sete anos. Seu pai trabalhava para os gangsteres da favela mais barra pesada de Chicago, o south side
O mesmo bairro onde milhares de homens, mulheres e crianças chegavam para ficar, fugindo da violência praticada contra eles no sul dos Estados Unidos. Também um lugar onde muito blueseiros chegados do Mississippi e da Louisiana acabaram fazendo história, após dois grandes êxodos.   
Portanto, restava ao jovem pobre e ao seu irmão uma vida no crime que, por sinal, já estava encaminhada. Mas uma mudança de cidade e o esbarrão em um velho piano mudaram o curso da história.
A vida nunca foi fácil para o músico, compositor, arranjador, produtor e regente, Quincy Jones. 
Sim, ele mesmo, amigo de Ray Charles, Frank Sinatra e Count Basie. Produtor dos melhores discos de Michael Jackson, Of The Wall e Thriller Jackson. Compositor de trilhas sonoras de dezenas de filmes para Hollywood. Responsável pela gravação de um dos maiores hits da era fonográfica, We Are The World, do projeto USA For Africa, que reuniu a nata da música pop da época: Ray Charles, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Dionne Warwick, Diana Ross, Cindy Lauper, Kim Carnes, Daryl Hall e John Oates, Huey Lewis, Henry Belafonte, Stevie Wonder, Lionel Richie, Paul Simon, Al Jarreau, Kenny Loggins, Steve Perry, Kenny Rogers, Tina Turner, Billy Joel, Willie Nelson e o próprio Michael Jackson. Fiz questão de citar todos esses nomes porque só um cara com a moral do Quincy Jones poderia reunir todos com apenas um telefonema. 
Apesar de ter vivido a era de ouro do jazz e tocado com os gênios do estilo, Quincy não queria ser visto “só” como um nome do jazz. Nesse sentido seu temperamento era igual ao seu amigo Miles Davis – aquele outro que mudou os rumos da música mundial umas cinco vezes.
Nadou de braçada no funk nos anos 70 e alguns anos após a consagração em USA For Africa, nos 80, se associou aos rappers do momento para gravar o moderno Back on The Block, com Ice T, Kool Moe Dee, Big Daddy Kane, Siedan Garret, Chaka Khan e seu velho parca, Ray Charles. 
Quincy Jones teve uma vida prolífica, mas doente. Sofreu com vários aneurismas ao longo da vida, o que o obrigou a fazer algumas operações no cérebro, duas delas em apenas dois meses.  
Teve sete filhos de vários casamentos desfeitos, pois era um workaholic, e ainda seis netos e um bisneto.
Teve mais de 2900 músicas gravadas; mais de 300 álbuns gravados; 51 trilhas de filmes e programas de TV; mais de 1000 composições originais; 79 indicações ao Grammy, sendo 27 premiações; é um dos 18 ganhadores do E.G.O.T. (Emmy, Grammy, Oscar e Tony). Thriller foi o álbum mais vendido de todos os tempos, We are the World foi o single mais vendido de todos os tempos. 
Há alguns anos sua saúde vinha dando sinais de enfraquecimento até que aos 91 anos, no domingo, dia 03 de novembro de 2024, faleceu Quincy, em sua casa em Los Angeles.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Rodrigo Nassif Trio e o jazz do sul

 

Rodrigo Nassif (Foto: Eugênio Martins Jr)

Texto e fotos: Eugênio Martins Jr

Não sei explicar, mas quando ouço a música instrumental praticada no Rio Grande do Sul, ela me soa diferente de tudo o que é produzido no resto do Brasil.
Sinto que a estrada que leva ao som dos pampas não é ensolarada como a que leva ao samba jazz e a bossa jazz do Rio de Janeiro. Talvez também não seja tão pavimentada como a que leva à diversidade de São Paulo. Muito menos com tantas bifurcações da estrada que nos leva aos estados e ritmos nordestinos. 
As fronteiras com Argentina e Uruguai exercem mais atração sobre a cultura local do que os “ritmos brasileiros”. Confesso que preciso estudar mais sobre a música rio grandense.   
O fato é que o Brasil é um continente e cada estado é um país, com as próprias características. E isso, por si só, já é uma maravilha. 
Os sons criados por Renato Borghetti, Yamandu Costa, Bebe Kramer e Rodrigo Nassif conseguem explicar melhor do que eu.  
Tô puxando essa conversa porque recentemente estive com o Rodrigo Nassif aqui em Santos. Em um show que ele fez no Sesc, na esteira do lançamento de Estrada Nova, seu mais recente trabalho.
O vinil, gravado em Porto Alegre pelo Rodrigo Nassif Trio em 2020, tem Samuel Basso (baixo), Leandro Schirmer (bateria) e conta com sete temas autorais. Tanto dele quanto de seus colaboradores. O show de Santos teve outro baixista, o Juliano Pereira. 
Rodrigo migrou da estridência da guitarra elétrica para as cordas de nylon e desde então se dedica a contar histórias sem palavras. Explico. 
Muito da sua música é baseada ou influenciada pela literatura, como ele mesmo explica na entrevista abaixo. Além de Estrada Nova, título extraído da obra de Ciro Martins; encontramos Balada De Los Buendia e Cia do Caribe, homenagem ao Gabriel Garcia Marquez; Blimundiando (Saramago) e Milonga Borgeana (você sabe quem).
A discografia se completa com Todos os Dias Serão Outono (2015), Rupestre do Futuro (2017) e Janelas Abertas (2018).
Leandro Schirmer 

Eugênio Martins Júnior – Como foi a tua infância musical?
RN – Bastante música em casa. Meu pai tocou clarinete e minha mãe cantou em coral. Na família da minha mãe todos tocavam instrumentos. Mas acho que a pessoa que mais me levou para a musicalidade foi meu irmão que era um cara muito roqueiro. Ele mostrava os nomes dos instrumentistas quando eu tinha cinco ou seis anos de idade. Mostrava bandas como The Who, já era adolescente, tinha dez anos a mais do que eu. Quando eu tinha cindo ele já tinha quinze anos. Ele amava essas bandas de rock inglês. Acabou me influenciando muito. Foi um despertar, no sentido de saber como a coisa funcionava. 

EM – E você já foi para algum instrumento?
RN – Quando comecei a tocar havia muitas bandas de rock. A gente já morava em Passo Fundo, onde a minha família mora. A ideia da gente era tocar em banda de rock. Era autodidata, mas depois de um tempo senti a necessidade de estudar. 

EM – Nessa época o teu lance era guitarra elétrica?
RN – Sim, tive uma Gianini Les Paul e depois uma Fender Strato mexicana. Tenho guitarra até hoje lá em casa, mas é uma guitarrinha que ganhei de um amigo e tem um tempo que não uso. Ganhei uns instrumentos das pessoas, um baixo Fender e uma guitarra. Uma viola caipira. A gente vai aos lugares e as pessoas pedem para a gente levar o instrumento.

EM – E esse violão de corda de nylon, como entrou na tua vida? É uma tradição forte no Brasil, né?
RN – Sim, uma tradição forte no Brasil e muito no Rio Grande do Sul. Acredito que seja pela versatilidade que o instrumento te dá para tocar sozinho. É um instrumento que tem vários problemas e limitações de recursos. Não tem como fazer notas com muito sustain. Não tem como fazer notas com um determinado vibrato. Várias coisas te faltam.


Juliano Pereira

EM – É verdade. E a guitarra já te proporciona esses recursos.
RN – A guitarra e outros instrumentos de arco, por exemplo, ou o piano. Mas o violão é um instrumento muito versátil, porque ele tem uma parte muito aguda e uma parte média e alguma coisa grave. Então ele facilita a vida do cara que quer pensar em sons simultâneos. Foi o instrumento que caiu na minha mão. E um bacharelado. Consegui me inscrever, fui bolsista, tocando diversos estilos de música para poder continuar. E depois ganhei uma bolsa de estudos para estudar na Argentina. 

EM – Ia te perguntar isso. Li em uma entrevista que você cresceu em Bajé. Se escorregar você cai no Uruguai. Ali é uma região de grande profusão musical. Houve essas influências?
RN – Acredito que tem em todo o Rio Grande do Sul. Tem muita influência do rock argentino. Muita influência do (Astor) Piazolla. Do Borguetinho, por exemplo. Você ouve nos discos, como aquele que tem Barra do Ribeiro, Sétima do Pontal. Mas não só nele, em vários compositores, como Mário Barbará e nos mais contemporâneos como o Pirisca Greco. Então tem a influência do Atahualpa Yupanqui, Eduardo Faluri, Mercedes Sosa. Todas essas pessoas. O Rio Grande do Sul fica muito à vontade em receber essa influência latina.   

EM - E a Argentina onde entra? Você estudou um tempo lá, né? Passou quanto tempo?
RN – Dois anos, 2006/07. Só estudava, o dia inteiro. Além da técnica musical, foi um período ao qual cresci muito como ser humano. Ao voltar ao Brasil lancei meu primeiro disco, que foi muito bem recebido pela crítica aqui em São Paulo. Aquela extinta revista, a Violão Pro, fez uma resenha muito generosa. O disco tinha algumas homenagens ao Gabriel Garcia Marques, que eram músicas como a Balada De Los Buendia. Antes de eu integrar um grupo.



EM - Você deu uma declaração que a cidade grande o atrapalha um pouco a fazer música. Gostaria que comentasse essa declaração. 
RN – Muito. Na megalópole o cara tem de ter um suprimento extra de energia para fazer quatro ou cinco turnos no mesmo dia. Estudava, mas também dava aula, com várias tarefas no conservatório como bolsista e tentava ter uma vida social e conhecer um pouco da cidade. Era difícil tirar um tempo para dar uma caminhada, fazer uma atividade que fizesse bem para a cabeça. Frequentar uma megalópole é uma coisa necessária para quem é músico, mas não é obrigatória hoje em dia. A gente vive na região metropolitana de Porto Alegre, mas a gente consegue trabalhar no estado de São Paulo morando lá. Faz dez anos que venho para São Paulo com uma freqüência regular. O único período que não viemos foi na pandemia. 

EM – O Brasil é um continente e o estado de São Paulo é um país. O principal lugar para a música instrumental é São Paulo?
RN – Se parar para enumerar a quantidade de apresentações que a gente fez sem ser em editais de incentivo à cultura, a maioria foi em São Paulo. Já fizemos a Casa Ema Klabin, Coreto da Bovespa, Sesc Consolação, Jazzb, uma série de locais que propicia que essa música tenha uma difusão mais ampla. Já fizemos Sesc Bauru, Piracicaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Taubaté, Campinas, hoje em Santos e amanhã Presidente Prudente. Tenho a minha rotina lá em Porto Alegre com o meu piá, levando na escola, essas coisas, mas viajar para cá é muito legal. Onde temos muitos encontros com o público, de maneira orgânica. Um público que cresceu de forma natural. Os músicos de São Paulo não dependem de ser chancelados pelos outros estados. A cena já se basta. Só vi isso em Nova York. Se você é bom o suficiente para uma casa te chamar é porque você já está bem para fazer outros lugares.  

EM - Gostaria que falasse sobre o músico que se banca.
RN – Essa situação é no mundo todo. Ouço muita queixa também dos mais ricos (risos). Sou muito satisfeito com minha profissão. Acho que é uma coisa muito boa para a saúde mental. Acabei virando músico porque na minha adolescência mantinha a minha saúde mental. Vou te dar um exemplo. Na quinta-feira o nosso vôo estava atrasado e não sabíamos se iríamos conseguir pegar outro vôo depois. E para segurar a ansiedade o que eu fui fazer? Tocar, claro. Nem vi o tempo passar. É uma maneira de se manter saudável, e isso pra mim é importante.   

EM – Gostaria que comentasse esse novo trabalho, o álbum Estrada Nova que, em minha opinião, leva para várias estradas.
RN – O disco foi composto a partir do dia 08 de maio de 2020, quando decretaram a primeira quarentena por causa da Covid-19. Estava com a cabeça fervendo, de bobeira em casa, não queria ficar parado. Fiz um projeto chamado Live Todo Dia em uma dessas plataformas de financiamento online e prometi 60 lives consecutivas onde iria compor ao vivo. Aí foi a oficina do capeta. Nunca deveria ter prometido 60 lives. Se eu soubesse o quanto cansava, que o vizinho podia bater na porta, o gato podia derrubar o celular, enfim. Foi um troço cansativo, mas consegui compor quase todo o disco. A pandemia demorou e resolvi fazer um segundo projeto que era o de registrar as músicas. O Leandro Schirmer é o feliz proprietário do estúdio Panamá, em Porto Alegre, onde gravamos ao vivo o disco inteiro em dois dias. Fizemos em várias salas para que não houvesse o contato entre as pessoas. 
O nome Estrada Nova é por conta de um livro do Ciro Martins que eu estava lendo na época, que fala sobre o êxodo rural no Rio Grande do Sul. Um pouco a história da minha vida, né? De estar em movimento para continuar trabalhando.


EM – Então você não pode ler um livro que já quer gravar um disco?
RN – Com certeza. (risos). Nem me considero um leitor tão aficionado. Mas coloca aí na conta que eu leio 100 páginas por mês, num ano fraco dá 1.200 páginas. Durante trinta anos de leitura dá muita página.

EM - Gostaria que falasse sobre os teus dois parceiros.
RN – A parceria musical com o Schirmer tem mais de 10 anos. Comigo ele começou a tocar percussão. Fizemos algumas experiências, várias formações, mas acabamos nessa que é violão, baixo e bateria. No final do ano passado assisti outra banda lá do Rio Grande do Sul com o Juliano Pereira e o Leandro, achei que tinha o peso necessário para o nosso trio e como eles já tocavam juntos, o convite surgiu naturalmente.  

EM – Certa vez você declarou que as pessoas não vivem sem música. Durante a pandemia, público e artistas ficaram reclusos e se virando como podiam. E recentemente os artistas daquela parte do Rio Grande do Sul que foi inundada vão passar por um período sem shows até a recuperação do estado. Gostaria que falasse sobre isso.
RN – Está uma dificuldade seríssima. Mas o período da pandemia nos deixou uma lição, a de que pouca coisa na vida é intransponível. Acredito que a classe artística do Rio Grande do Sul vai saber se unir nesse momento. Nunca foi tranqüilo ser gaúcho. Na história sempre tivemos perrengue. É a primeira vez que o Rio Grande do Sul fecha cem anos sem nenhum conflito fraticida, sabia? O último conflito que houve no Rio Grande do Sul foi em 1923. Antes foi em 1875. E antes em 1835. E antes as guerras guaraníticas. Vai contando. E nenhuma teve um intervalo de três gerações. Isso explica muito a personalidade do gaúcho. Em traços gerais a cultura local carrega algumas coisas distintas, por exemplo, esse negócio aguerrido da cultura. Então acredito que a gente vai passar por essa.


quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Adriano Souza recria paisagens sonoras de Tom Jobim

 

Adriano Souza (Foto: Nando Chagas)

Texto : Eugênio Martins Júnior
Fotos: Nando Chagas

“Tom Jobim é universal. Nesse exato momento, em qualquer canto do mundo, há alguém tocando sua música, seja numa sala de concerto para centenas de pessoas ou no escurinho de uma sala noturna, para um casal de mãos dadas. Num estúdio de gravação com hora a peso de ouro, ou numa esquina, em torça de uma moeda”.
Essa afirmação está na contracapa do recentemente lançado Ouvidor do Brasil – 99 vezes Tom Jobim, livro de Ruy Castro, jornalista e especialista em bossa nova. 
Por coincidência, recebi um release do meu amigo, também jornalista e músico, Fábio Cezanne, que um pianista no Rio de Janeiro estava lançando um álbum homenageando o maestro. O trabalho se chama Adriano Souza Plays Tom Jobim. Nada mais simples. 
Por coincidência ainda maior, em uma das respostas, Adriano cita as paisagens naturais do Rio de Janeiro que tanto inspiraram a criação de Tom Jobim, assim como permeia, o livro de Ruy Castro.
Além disso tudo, fui ouvir o disco e três coisas me chamaram a atenção: 
A primeira é a leitura pessoal que o Adriano faz de temas há muito conhecidos por nós, unindo o lirismo de Jobim com o batuque do Rio. Adriano explica na entrevista que levou anos para gravar o álbum e que isso foi benéfico ao resultado final.
A segunda é que Adriano cresceu como músico dentro de uma igreja cristã. Nos últimos anos tenho conversado com excelentes músicos egressos do ambiente religioso e que têm migrado para outros estilos musicais. As igrejas há muito têm feito esse papel sócio-cultural e isso é muito bom para a música. 
E a terceira diz respeito a mim. Tentei ouvir o disco durante o dia, mas não consegui. Minha rua passa ônibus toda hora, estou cercado de prédios sempre com obras, tem um pássaro preso aqui na vizinhança e o seu canto desesperado me incomoda muito. Os sons da cidade atrapalharam a audição desse disco delicado. Estamos tão habituados ao caos urbano que só percebemos que o silêncio é necessário nessas horas. 
Além de Adriano Plays Tom Jobim (2024), sua discografia conta com Em Tempo (um álbum só com hinos religiosos de 2019); e alguns singles lançados nas plataformas digitais.

Eugênio Martins Júnior - Como foi a tua infância musical e a tua formação?
Adriano Souza – Minhas primeiras influências musicais foram dentro da igreja protestante. Sou filho de pastor da igreja batista, cresci em meio às atividades musicais de igreja. Minha primeira participação foi no coral infantil, aos 06/07 anos de idade. Mas antes já ouvia. A igreja tem essa tradição de cantar. Em 2016 gravei um álbum só com esses hinos, em piano solo. São hinos tradicionais, cristãos, a maioria norte-americanos, cujas letras eram versões.
Foram as primeiras influências. Depois, dentro da igreja mesmo, na década de 80, houve uma mudança, na forma musical mesmo. Chegaram músicas de compositores brasileiros, muitos influenciados pela música que faço hoje, pois trabalho muito com a música brasileira, MPB, Bossa Nova. Havia um grupo de compositores de São Paulo, o Sérgio Pimenta, João Alexandre, Jorge Camargo. Era uma missão chamada Vencedores por Cristo que começou a fazer um repertório grande de um cancioneiro diferente. Incluindo outros instrumentos, porque até então os instrumentos na igreja eram piano e órgão. Começou a ficar com influência mais popular. Isso me atraiu para o violão. Na igreja foi meu primeiro instrumento, aos nove anos. E já havia uma influência de rock, pop. Além de tocar na liturgia do culto também, os cânticos mais novos que iam chegando, com bateria, baixo, uma novidade. O teclado apareceu na minha vida aos 13/14 anos. Em um dos ensaios fui parar no teclado, um órgão tradicional. Comecei a passar as coisas que fazia no violão e ali nasceu meu interesse. 

EM – Isso tudo no Rio de Janeiro?
AS – Depois do ensino médio decidi vir estudar no Rio. Esse ambiente da igreja foi em Macaé, cidade do interior do estado do Rio de Janeiro onde fui criado, apesar de eu ser capixaba, de Cachoeiro do Itapemirim. Meu pai veio para o Rio estudar em um seminário teológico em 1974 e em 1978 a gente já foi para Macaé. 
Quando vim para a cidade do Rio estudar foi a minha primeira incursão pela MPB, de conhecer a música popular mais a fundo. Até então meu envolvimento com a música era mais no âmbito da música cristã. Meu irmão já trazia para casa uns discos de MBP, Guilherme Arantes, Milton (Nascimento). Já tinha uma influência. Nesse período fui estudar numa escola chamada Centro Ian Guest (CIGAM), quando também começo a ter contato com o jazz. Fui fazer uma entrevista com o Ian Guest, que era o dono da escola, um húngaro radicado no Brasil, muito importante por causa dos songbooks de vários artistas que vemos hoje. Além de ter dado aula para o Almir Chediak, que era um cara que escreveu livros importantes, como Harmonia e Improvisação. 
Lá na escola fui fazer harmonia, percepção e piano. Comecei a estudar piano com a Marisa Gandelman e depois com Rafael Vernet. E nesses estudos de harmonia, paralelo às aulas de pianos, estudei com Sérgio Nacif, Renato Alvim, depois com Domingos “Bilinho” Teixeira e depois o próprio Ian Guest. Quatro semestres diferentes de harmonia. Essas primeiras aulas aqui no Rio foram muito enriquecedoras. E dali comecei construir pontes do que seria o meu trabalho aqui no Rio. 
Comecei a dar aula em Macaé, ia e voltava toda semana. Até que por volta dos 22 anos decidi vir morar no Rio de vez, onde estou até hoje.




EM – Então houve duas fases de estudos, popular e erudito?
AS - Sempre mantive o estudo da música erudita, porque sempre vi a necessidade de uma base técnica maior. A Marisa Gandelman lá no começo já me passava alguns exercícios, coisas ligadas à técnica pianista. Era um universo que me interessava, eu gostava. Estudei com Maria Alice de Mendonça, uma professora de Juiz de Fora que veio morar no Rio. Cheguei a estudar com a Sonia Vieira, Linda Bustani, Ronal Silveira. Mais recentemente resolvi fazer o curso de bacharelado de piano na UniRio. Então sou formado em harmonia e percepção pelo CIGAM, lá atrás, nos anos 90. E sou formado em piano na classe da professora Lúcia Barrenechea, que foi uma experiência mais intensa, de vivenciar o repertório clássico de uma maneira mais abrangente. Na faculdade você tem isso, tem de cumprir todos os períodos da música. Então toquei bastante coisa, foi um período muito enriquecedor.           

EM - O álbum Adriano Souza Plays Jobim contém oito temas. Você trabalhou o lirismo em alguns e a batucada em outros.  Gostaria que falasse sobre a obra do Tom Jobim como fonte.
AS – Quando fui separar as músicas existia essa preocupação de haver o contraste. Mais lentas, de andamento médio, mais líricas, como você comentou, e outras mais ritmadas. Mas não estava tanto atento a essa coisa que acabou ficando bem clara. Do samba, da batucada, com o lirismo das músicas do Tom. Isso acabou ficando e criando esse contraste. A obra do Tom tem essa riqueza de contrastes. De fato Tom Jobim é uma fonte grande de inspiração. A gente vive em um país onde a música popular atravessa a gente desde muito tempo. O próprio Tom foi influenciado por compositores que vieram antes dele, e por seus contemporâneos, obviamente.
Compositores que ele mesmo cita, como Dorival Caymmi, Ari Barroso, Noel (Rosa). Outros menos conhecidos, como Custódio Mesquita, Valzinho, que era um violonista da Rádio Nacional. Já compunham esse estilo de música com a harmonia mais sofisticada. O Tom conseguiu fazer isso. Com essa coisa do formato da canção, com aquela quadratura na maioria das músicas. O que proporcionou aos músicos uma grande assimilação. Para poder tocar como Standards. 

EM – No formato canção e também no instrumental.
AS - Na música instrumental, isso também é uma coisa interessante. E uma obra muito variada. Você tem valsas, baladas, sambas, e tudo de uma beleza grandiosa, né? Sua música é uma obra inesgotável para todos os músicos. Como estava falando, a gente vive em um país que tem compositores incríveis, cada um com sua característica. Portanto, somos privilegiados por crescermos ouvindo artistas como Tom Jobim, Gil, Dorival, Milton, Djavan, Chico, Paulinho da Viola, só para citar alguns. Isso é de uma riqueza inesgotável. E para a gente que faz música instrumental, e no meu caso, não sou compositor... até componho, mas, confesso que curti essas coisa de pegar uma música que já existe e trabalhar em cima dela. Isso acaba virando um tesouro. Essa coisa de transformar uma canção. Digo transformar porque já passa a ser uma transformação quando você tira a letra, né? Digo, trabalhar o arranjo e a interpretação propriamente dita.


EM - A capa desse álbum é um piano cujo tampo imita as linhas sinuosas e delicadas do pão de açúcar. Eu te pergunto: Qual a necessidade de lançar um álbum com tamanha delicadeza em uma época com tanto ruído?
AS – A ideia desse álbum já existe algum tempo. Quase que 20 anos. Só que lá atrás ele se chamaria Jobim Ballads. Só com músicas mais lentas. Chegou a ser escrito na Lei Rouanet, consegui aprovação, mas não consegui captar para gravar. Algumas dessas músicas, como Modinha, Estrada Branca, Caminhos Cruzados já estavam. Não consegui captar e fui deixando, a vida foi seguindo. Obviamente trabalho em outros projetos, com outros artistas, dou aula também. Não tinha como dedicar tempo só para isso. De certa forma foi bom porque acabei amadurecendo musicalmente essas idéias. Modinha e Estrada Branca me instigaram na busca pela minha formação musical. Estudar a técnica pianística. Vi que precisava de mais coisas, além do conhecimento da harmonia, de trabalhar a sonoridade, a técnica do piano. De Certa forma o repertório que escolhi me ajudou. Em relação ao período atual da tua pergunta, não saberia responder o por quê. É o que naturalmente estou fazendo nesse momento. E como enxergo a música do Jobim.
É claro que daqui a alguns meses posso fazer algo diferente. Mas isso reflete a minha visão um pouco sobre a música de maneira geral. É como consigo me expressar. A obra do Tom também tem isso. É uma obra delicada. Procurei ficar muito atento às idéias que ele imprimiu de alguns arranjos. Ao mesmo tempo também sugerir a minha intenção. Imprimir as minhas ideias. Mas a obra do Tom é essa delicadeza que está presente na natureza. Quando você olha para o Rio, que ele tratou tão bem quando falava sobre isso. E quando escrevia. Várias de suas letras citavam a natureza do Rio, antes desse discurso entrar em evidencia e que é super importante. O Tom já falava muito sobre isso. Sobre a preservação da natureza. Recentemente fiz um clipe da música Modinha e acabei filmando tudo ali no Jardim Botânico, um lugar meio que o quintal do Tom. A delicadeza e ao mesmo tempo a força que tem a natureza. Vamos dizer, o ruído, para usar a expressão que você usou, é a obra do Tom. Esse ruído natural. Ruído no bom sentido. Que inspira a gente. Pra mim, que tenho a alegria de morar aqui no Rio, cidade com todos os seus problemas, mas uma cidade linda. E se tratando de se debruçar sobre a obra do Tom é interessante, você passa pela cidade e ao mesmo tempo vê paisagens que inspiraram o maestro, no sentido de estar aqui. Apesar de não tê-lo conhecido pessoalmente. De estar tão próximo daquilo que o inspirou.


EM - No Rio de Janeiro ainda existe aquela cena forte de jazz como em São Paulo? Quer dizer, não só um circuito. Para haver um circuito tem de haver a disposição das pessoas em pensar: “Pô, vamos naquele lugar que vai rolar um jazz”.
AS – Na década de 80 o Rio teve um período muito fértil. Muita opção de show. Além de espaços abertos com shows gratuitos. Muito importantes para a criação do público da música instrumental. Depois rolou uma escassez, acho que por conta da violência na cidade. Também com a falta dos governos, tanto estadual como municipal, a gente viveu um período de fechamento de várias dessas casas que tinham shows de música instrumental. Mas há algum tempo a tentativa de retomada. Falando de música instrumental, temos alguns lugares que têm programação semanal. Tem o Beco das Garrafas que está lutando para se manter. Nessa semana vou tocar lá. Todos os domingos rolam shows de bossa nova ou instrumental. Tem a Casa do Choro, que é um teatro muito bacana no Centro do Rio. Apesar do nome não tem só choro, rolam outras formações instrumentais diversas. Tem o Cardosão, que é um bar em Laranjeiras, onde há alguns anos toda terça-feira tem música instrumental com o pianista Luiz Otávio, Ney Conceição, José Arimatéa, Erivelton Silva, Bernardo Bosísio. Eu toco quase toda semana no Bistrô da Casa, que é um bistrô ali do lado da Igreja da Glória, junto com o Edu Neves. A gente faz de duo ali. Tem o Blue Note que voltou. Tem essas iniciativas de concertos nas casas, para um público mais reduzido, mas que é muito bacana. Os chamados house concerts. Há alguns anos tem acontecido isso aqui no Rio e tem sido muito importante para o fortalecimento da música instrumental na nossa cidade.   

EM – Do rock ao jazz, toda a música que emana do Rio de Janeiro tem a batucada no sangue. Evidenciando a cidade negra que é o Rio. Gostaria que falasse sobre isso.
AS – De fato a influência do samba no Rio é notória. Que bom. Essa proximidade física, literalmente, do morro com o asfalto, vamos chamar assim, fez muito bem à cultura musical do Rio. Essa música que normalmente faço junto com outros músicos, que é a bossa nova, o samba, tem essa mistura claramente. O que comentamos sobre o disco que gravei. Das melodias sofisticadas. Essa palavra não é tão boa, vamos dizer assim, mais trabalhadas. Não gosto de usar a palavra sofisticada porque acaba soando como se o que não fosse “daquela” maneira não seria legal. Vamos dizer mais elaboradas, né? Como citei, até esses próprios compositores como o Tom fazem coisas mais simples e é também bom demais. Acho que a gente tem esse privilégio aqui no Rio, convivi e estou convivendo com tantos músicos fantásticos. Com tantos cantores fantásticos. Acho que a minha história está muito ligada ao samba. Trabalhei com a Beth Carvalho, cheguei a tocar com o Nelson Sargento, trabalho com o Paulinho da Viola, Roberto Menescal. Essa proximidade com o samba mais de raiz acrescentou muito à minha visão da música. E o Rio de Janeiro é o lugar que a maioria dos artistas escolheu para ficar e eu agradeço a Deus por poder estar aqui e vivenciar isso de perto. Essa riqueza que o samba e o morro são para o Rio de Janeiro.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Com apenas 58 anos, morre em Bamako, no Mali, Toumani Diabaté

 

Toumani Diabaté (Foto: Richard Saker/The Observer)

“Eles podem seqüestrar as pessoas, podem tirar suas roupas, podem tirar seus sapatos, podem tirar seus nomes e dar outro nome, mas a única coisa que eles não podem tirar é sua cultura”. Essas são palavras de Toumani Diabaté sobre o sequestro de seu povo pelos europeus com fins escravagistas.  
Diabaté, músico e representante da tradição dos contadores de história de seu país, morreu com apenas 58 anos, em 19 de julho em Bamako, capital do Mali. Dizem que quando um jali morre toda uma biblioteca é queimada. 
Na África, jali é o guardião da história oral transmitida de geração em geração. Diabaté vem de uma tradição de 71 gerações de griots e tocadores do corá, um instrumento de cordas semelhante à harpa.
Com Salif Keita e Ali Farka Toure, Diabaté era considerado um dos principais guardiões da cultura milenar transmitida de pai para filho na África Ocidental.
Desde os anos 80 Diabaté vem gravando e difundindo suas histórias em discos na África e Europa. Ouça os álbuns Songhai vol. 1 e 2. 
Nos Estados Unidos gravou com o cantor, compositor e muilti-instrumentista Taj Mahal, fazendo a ponte cultural entre a tradição dos jalis com os history tellers do blues no álbum Kulanjan (1999). 
Na série Blues, produzida por Martin Scorsese, Diabanté aparece no episódio Feel Like Going Home – que também tem Taj Mahal - sendo entrevistado por Corey Harris, outro bluesman e pesquisador de ritmos. 
Com seu conterrâneo, Ali Farka Touré, gravou o maravilhoso In The Heart of the Moon (2005). Há ainda espaço para uma recomendação, mais um disco que faz a ponte entre África e América e que vale a pena ser ouvido, Talking Timbuktu, parceria entre Touré e Ry Cooder.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Em uma semana o mundo da música sofre três grandes perdas: Happy Traum (17/07/24), Jerry Miller (20/07/24) e John Mayall (22/07/24).

 

John Mayall (Foto: André Velozo)

Happy Traum atuou na ascensão do folk nos anos 60, sendo contemporâneo de Bob Dylan no Café Wha?, onde sua banda, a New World Singers, muitas vezes cedeu espaço para o jovem Dylan. Inclusive a primeira versão de Blowin’ in the Wind foi gravada pelo grupo.
Traum também chegou a gravar com Dylan duas faixas que entraram no álbum duplo Bob Dylan’s Greatest Hits Vol. II (1971), o disco mais vendido do bardo do Village. São I Shall Be Released e You Ain’t Goin’ Nowhere, nas quais Traum encara o contrabaixo pela primeira vez em sua vida. 
Com seu irmão Artie formou uma dupla que gravou alguns discos antes de cair na carreira solo. Foi estudioso do blues, cuja maior influência veio de Brownie McGhee. Gravou bons discos, o bem puxado para o blues, Relax Your Mind (1975), (American Stranger (1977), entre outros.
O compositor, cantor e guitarrista Jerry Miller ficou conhecido por ser um dos membros fundadores da banda Moby Grape, banda fundada na efervescência de São Francisco nos anos 60. E, claro, influenciada pelo blues e pelo psicodelismo da época. Ladeado por outros dois guitarristas, Peter Lewis (ex. Peter and the Wolfes) e Alexander “Skip” Spence, Miller foi o responsável pelos grandes arranjos apresentados pela Moby Grape. Fundou ainda o The Rhythm Dukes, participando de festivais e sendo aclamado como um dos grandes guitarristas da cena, não só por publicações como a Rolling Stone, mas também pelos seus pares, inclusive Eric Clapton, que o chamava de melhor guitarrista do mundo. Chegou a dividir palco com Jimi Hendrix.       
A outra enorme perda foi a do multi-instrumentista, cantor e compositor britânico, John Mayall, morto aos 90 anos.
Fundador dos Bluesbreakers, Mayall abriu as portas para inúmeros artistas importantes para o blues e blues rock britânicos, entre eles, Eric Clapton, Peter Green e Mick Taylor. 
Clapton se tornou um dos grandes nomes da guitarra de todos os tempos; Peter Green participou do Fleetwood Mac até lançar-se em uma carreira solo errática por uso e abuso de drogas, para depois constituir o Splinter Group; e Mick Taylor, nada menos do que o jovem que provocou ciúmes em Keith Richards, quando este sentiu que  seu reinado nas seis cordas nos Rolling Stones estava ameaçado com a chegada do garoto. Mick Taylor injetou uma boa dose de blues aos álbuns dos Stones da época. É só conferir Sticky Fingers (1971) e o grandioso Exile on Main Street (1972), que você vai entender o que estou falando. Mas essas são outras histórias.
Mayall tinha a capacidade de aglutinar grandes artistas engajados em sua causa: fazer música inspirada na tradição do blues. Tanto que em todos os seus discos lemos e ouvimos muitos temas reverenciando bluesmen tradicionais. 
Certa vez, conversando com Nuno Mindelis eu chamei Mayall de bluesman e o Nuno logo me corrigiu: “Eu não considero o John Mayall um bluesman. O considero mais um bluesófilo”. Ok Nuno. O fato que ao longo de seis décadas o “bluesófilo” John Mayall andou por aí tocando em festivais pelo mundo, juntando Walter Trout, Coco Montoya, Buddy Whittington, Joe Yuele, Tom Canning, Hank Van Sickle, nos modernos Bluesbreakers e gravando com Buddy Guy, Mavis Staples, Otis Spann, Champion Jack Dupree, Curtis Jones e espalhando simpatia por onde passava. 
Inclusive Aqui no Brasil, onde sua última aparição foi no Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, em 2010. Após o show John foi para a barraquinha de CDs e ele próprio vendeu seus discos e autografou para o público.
São tantos discos bons gravados por John Mayall que fica difícil indicar algum. Portanto, parto para o gosto pessoal: Bluesbreakers with Eric Clapton (1966), esse álbum entra em todas as listas dos melhores do blues; o ao vivo The Turning Point (1969), no qual Mayall mostra toda a sua habilidade como gaitista; Wake Up Call (1993), com duas parcerias matadoras, Buddy Guy em I Could Cry e Mavis Staples na faixa título e marcando sua entrada na Silvertone e o lançamento de grandes discos; Blues for the Lost Days (1997), com várias homenagens conforme já dito; e Stories (2002), cuja resenha encontra-se nesse blog: (https://mannishblog.blogspot.com/search/label/Meus%20Discos).

Leia também a entrevista exclusiva com Coco Montoya: (https://mannishblog.blogspot.com/2009/09/por-duas-vezes-coco-montoya-estava-na.html)

Ontem a sua página no Facebook continha a seguinte mensagem: “É com pesar que recebemos a notícia de que John Mayall faleceu pacificamente em sua casa na Califórnia ontem, 22 de julho de 2024, cercado por uma família amorosa. Os problemas de saúde que forçaram John a encerrar sua épica carreira em turnês finalmente levaram à paz para um dos maiores guerreiros da estrada do mundo. John Mayall nos deu noventa anos de esforços incansáveis para educar, inspirar e entreter.
Em uma entrevista de 2014 ao The Guardian, John refletiu: “[blues] é sobre – e sempre foi sobre – aquela honestidade crua com a qual [expressa] nossas experiências de vida, algo que tudo se junta nesta música, nas palavras também. Algo que está conectado a nós, comum às nossas experiências.” Essa honestidade, conexão, comunidade e forma de tocar crua dele continuarão a afetar a música e a cultura que vivenciamos hoje e nas gerações vindouras.
Nomeado OBE (Oficial do Império Britânico), artista duas vezes indicado ao Grammy e recentemente nomeado para o Hall da Fama do Rock & Roll, John deixa seus 6 filhos, Gaz, Jason, Red, Ben, Zak e Samson, 7 netos e 4 bisnetos. Ele também está cercado de amor por suas esposas anteriores, Pamela e Maggie, por sua dedicada secretária, Jane, e por seus amigos íntimos. Nós, a família Mayall, não podemos agradecer o suficiente a seus fãs e à longa lista de membros da banda pelo apoio e amor que fomos abençoados por experimentar de segunda mão nas últimas seis décadas.
John encerrou a mesma entrevista do Guardian refletindo mais sobre o blues: “Para ser honesto, não acho que alguém saiba exatamente o que é. Eu simplesmente não consigo parar de tocar.” Continue tocando blues em algum lugar, John. Nós te amamos.

Leia o que amigos e admiradores escreveram sobre John Mayall nas redes sociais: 
  
“É muito triste saber do falecimento de John Mayall. Ele foi um grande pioneiro do blues britânico e tinha um olhar maravilhoso para jovens músicos talentosos, incluindo Mick Taylor – que ele me recomendou depois da morte de Brian Jones – inaugurando uma nova era para os Stones”. Mick Jagger

Muito triste ouvir a notícia hoje sobre o falecimento de John Mayall. Sua música, suas bandas, seus guitarristas e seu legado foram extremamente influentes no mundo do blues. Ele inspirou inúmeros jovens músicos, incluindo um certo guitarrista adolescente de Chicago que ouvia seus primeiros álbuns por horas intermináveis. Vi John pela primeira vez durante uma turnê de reencontro do Bluesbreakers com Mick Taylor e John McVie no início dos anos 80 no Park West Chicago. Toquei em um projeto conjunto com ele no The Channel em Boston no final dos anos 80 (como membro da banda de Son Seals) e o vi pela última vez no Evanston SPACE há apenas alguns anos, onde ele gentilmente concordou em ser entrevistado no meu podcast. Obrigado John e que o Padrinho do Blues Britânico fique tranquilo. Dave Specter

Lembrando John Mayall. Fizemos turnês juntos muitas vezes e por mais que ele fosse um músico lendário, ele também era um homem gentil e gracioso e sua falta será sentida. Shemekia Copeland

Cara, acabei de descobrir que meu amigo e mentor John Mayall faleceu... o fim de uma era. Todo o cenário do rock and roll e da música hoje seria completamente diferente sem John. Obrigado John por tudo que você nos deu! Grande amor e boa viagem! Debbie Davis

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Discharge - 21/06/2024 - Carioca Clube SP

O show que aconteceria em dezembro de 2023 e foi adiado finalmente rolou em junho de 2024. Com três bandas na abertura, Manger Cadavre, Havok e Midnight, o Discharge mostrou por que é considerada uma das bundas punks inglesas mais furiosas e respeitadas na cena com The Exploited, UK Subs e GBH. Sua batida influenciou todas as bandas de hadcore e crossover que vieram depois.












 

sábado, 29 de junho de 2024

Santos Jazz Festival divulgou a programação de 2024

 
Alaíde Costa (Foto: Murilo Alves)

O Santos Jazz Festival divulgou a pogramação da sua 12ª edição na quinta-feira, dia 27 com uma grande jam que reuniu artistas de Santos.
Entre eles, dois guitarristas que estarão na edição, o santista Mauro Hector, lançando o álbum Keep On e o grande Cláudio Celso, de volta ao Brasil após uma prolífica temporada nos Estados Unidos, terra do jazz. 
A abertura será um concerto com a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos que reunirá gerações de artistas, Alaíde Costa, 88 anos, a grande dama da bossa nova, que acaba de ser premiada em Cannes, e dois jovens talentosos músicos da atualidade: o baiano Tiganá Santana e a santista Monna. A abertura será na quinta-feira, dia 25 de julho, no teatro do Sesc Santos, a partir das 19h. Os ingressos gratuitos devem ser retirados no dia, a partir das 10h da manhã na bilheteria do Sesc.
Entre os dias 26 e 28 de julho, o palco principal, no Centro Histórico de Santos, receberá 15 shows: BNegão, Tássia Reis e Thalma Freitas, que está comemorando 50 anos e fará uma participação especial no festival - abrindo espaço a diversos artistas locais e reverenciando a obra de gigantes da música: como Johnny Alf, Mercedes Sosa, o movimento Buena Vista Social Club, Chico Buarque, Tim Maia e Dorival Caymmi. Além disso a VDJ Jô Discolada promete aquecer os intervalos e colocar todo mundo pra dançar. Por falar em dançar, o encerramento terá o show de comemoração dos 25 anos de carreira do Clube do Balanço.  
“Todo nosso line-up dialoga com a diversidade e a democratização da arte. Neste ano temos a honra de poder trazer ao palco a imensa Alaíde Costa, que está recebendo nos últimos tempos a reparação histórica pelo protagonismo na bossa nova e tudo que representa pra música popular brasileira. Outra homenagem que muito nos toca nesta edição é a Johnny Alf, que assim como Alaíde sofreu veladamente todo tipo de preconceito e que terá um tributo especial. E não posso deixar de citar a resistência da música latino-americana, que vamos reverenciar com apresentações dedicadas a dois símbolos: Mercedes Sosa e o Buena Vista Social Club”, destaca Jamir Lopes, curador e diretor que assina a produção do festival.
O festival contará com infraestrutura para oferecer uma experiência de conforto, segurança e qualidade ao público. O projeto contempla palco com os melhores recursos audiovisuais, área coberta, sanitários público e coleta seletiva de resíduos.
A praça de alimentação terá opções variadas salgadas e doces de gastronomia, inclusive com alternativa vegana, além de bar com água, vinho, refrigerante, drinks e o chopp Estiva.

Cláudio Celso (Foto: Eugênio Martins Jr)

Segue a programação:

25/07 - quinta-feira, às 19 horas no Teatro do Teatro do Sesc 
Abertura oficial: Orquestra Sinfônica Municipal de Santos convida Alaíde Costa, Tiganá Santana &Monna em homenagem à obra de Milton Nascimento. 
O Sesc fica na Rua Conselheiro Ribas, 136 - Aparecida.

26/07 - sexta-feira no Arcos do Valongo (Centro Histórico)
18h VDJ Jô Discolada
19h Mauro Hector Trio - Lançamento do novo álbum “Keepon” 
20h30 Choro de Bolso & Conrado Pouza – 80 anos de Chico Buarque 
22h GENIALF – Vitor Cabral Quinteto & Thalma Freitas 
23h30 BLACK MANTRA & B NEGÃO – Show Tim Maia Racional
01h00 DJ Discolada

27/07 - sábado no Arcos do Valongo
14h VDJ Jô Discolada
15h ZuzoMoussawer Quarteto – Show Canais Musicais 
16h30 Cleyton Menezes & Banda – Show “Multiplicidades Brasileiras” 
18h Quimbará – Toca Buena Vista Social Club
20h Indiana Nomma – Tributo à Mercedes Sosa – A voz dos sem voz 
22h Ubiratan Marques Sexteto (BAHIA)
23h30 TÁSSIA REIS& Banda 
01h00 DJ Jô Discolada 

28/07 - domingo no Arcos do Valongo
14h VDJ Jô Discolada
14h30 Camerata de Violões do Projeto Guri de Santos
15h30 Felipe Romano, Heitor Valin& Convidados 
16h30 CLÁUDIO CELSO Trio 
17h30 Adriano Grinenberg – Ode a Dorival Caymmi
19h Clube do Balanço – celebração dos 25 anos de carreira 

Programação paralela:
Bazar de Economia Criativa: Villarejo Art – com cerca de 30 expositores
Local: Arcos do Valongo – Centro Histórico
26/07/2024 - sexta-feira, das 18h às 02h
27/07/2024 – sábado, das 14h às 02h
28/07/2024 – domingo, das 14h às 21h