segunda-feira, 7 de abril de 2025

Jefferson Gonçalves e Bitencourt Duo levam ritmos híbridos para fora do Brasil

 

Luciano Bittencourt, Jefferson Gonçalves e Júlio

Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior

Conheci o gaitista Jefferson Gonçalves por causa do blues. E conheci o irmãos Bittencourt por causa do Jefferson. 
Trabalhei com Jefferson em algumas ocasiões e quando ele se juntou ao Bitencourt Duo para um novo projeto me chamou para mais uma parceria. Sim, o Bittencourt sobrenome é escrito com duas letras T. O Bitencourt do duo é escrito com um T só. Coisas da numerologia.
A primeira parceria foi a apresentação no Instrumental Sesc Brasil, o programa famoso gravado no Sesc Consolação, em São Paulo. Fizemos também o Santos Jazz Festival e o Sesc Taubaté. Nesse último aconteceu uma coisa engraçada. 
Ao final do show, fui ao banheiro tirar cerveja do joelho e escutei o seguinte comentário: “Só faltava essa, misturar blues e jazz com batuque. Esses caras gostam muito é de inventar”. 
Contei para o Jefferson e demos boas risadas sobre isso. 
Explico. Há um pessoal purista que tem dor de barriga quando encontra as misturas musicais que derivam do blues e do jazz com os ritmos brasileiros. 
Mas o Brasil é assim. Misturar está no nosso DNA. Foi a convivência entre indígenas nativos, brancos europeus e negros africanos que inventou o jeitinho musical brasileiro.
E a formação inusitada do grupo – harmônica tocada de forma percussiva pelo Jefferson, a percuteria Frankenstein do Júlio e a guitarra híbrida do Luciano – soa mesmo diferente.  
Cajazz & Umblues é um tema fruto-musical que brinca com a língua e explica o que é esse “soa mesmo diferente”. Cajá e umbu, duas frutas recorrentes no norte e nordeste brasileiros inspiraram o tema. 
Elas mesmos têm muitos nomes: umbu, imbu, ambu e cajá, acaiá, taperebá, escancarando a criatividade brasileira demonstrada pelo trio no álbum de estreia.
O trabalho gravado em 2023 traz ainda Nada Será Como Antes (Milton Nascimento), Arrasta Pé Alagoano (Hermeto Pascoal), Tenho Sede (Dominguinhos e Anastácia), as autorais Forró de Outono e Som e Tradição e ainda dão uma chegadinha em New Orlans com Cissi Strut (The Meters).

Júlio Bittencourt e seu kit

Eugênio Martins Júnior - Fale sobre a tua infância musical.
Júlio Bittencourt – Falar sobre a minha infância musical é falar um pouco sobre meu avô. Tive a oportunidade de ter na família um avô ligado à música. E Sebastião Pinto foi um grande cantor da “Era do Rádio” no Brasil. Contratado da Rádio Nacional do Rio Janeiro. Teve um grande destaque na geração dele, gravou vários discos. Na infância morei um pouco na casa dos meus avós, com meus pais. Os ensaios de meu avô com o violão, as serestas, eram a realidade da casa. Ele era empresário, dono de loja, mas a alma dele sempre foi de artista porque cantou a vida toda. Esse avô era do lado da minha mãe. E pelo lado do meu pai, além de trabalhar na fábrica de pólvora, em Piquete (SP), ele tocava bandolim no cinema mudo. Temos o bandolim dele até hoje. São dois lados da família com influências musicais. 
Estudei um pouco de piano erudito, o que era possível na época, acabei gostando muito. Estudei um ano e meio, mas desisti porque parecia muito devagar para o que eu imaginava sobre música. Era muito criança, decorava as músicas e depois não conseguia ler as partituras. Anos mais tarde, aos 17, tive o estalo de querer ser baterista. Até hoje não sei a razão, não tinha referência nenhuma. Montei uma banda de rock e comecei a tocar. Com tudo isso, a grande influência era a minha mãe ouvindo MPB, Chico Buarque e Roberto Carlos. E meu pai ouvindo a grande orquestra de Frank Sinatra.      

EM - Tua bateria traz elementos diferentes. Como chegou a essa conclusão?
JB – Realmente a minha bateria tem muitas referências. E tudo começou por acaso. Muito antes de gravar alguma coisa com o Jefferson, esse projeto tão bonito que a gente vem tocando. Sempre gostei muito de pesquisar sonoridades diferentes e achar lugares para tocar que não são convencionais. Buscava muito elementos que não fossem tradicionais na bateria para poder agregar ao meu som. Achava que aumentaria meu mundo musical e que eu poderia oferecer alguma coisa diferente. Isso me estimulava a ir ao próximo passo, não ficar só no tradicional. Um belo dia ganhei de presente de um amigo uma alfaia de maracatu feita por um grande mestre aqui da nossa região, chamado Flávio Itajubá. Me deu vontade de adaptar essa alfaia como um bumbo de bateria. Um instrumento extremamente relacionado à cultura brasileira. Um djembê, no lugar do ton 2, e no lugar do ton 1, deixei um tambor realmente pequeno, de 10’. Volto para o surdo de 14’ da bateria Gretch, que é a sonoridade que eu mais amo. E coloquei uma caixa vintage, da década de 60, que também tem uma sonoridade muito legal. Coloquei uma conga, ao lado esquerdo, pensando em algo do lado cubano, e misturas de pratos feitos na Turquia, pratos americanos e outros criados aqui mesmo, quando peço para um amigo cortar um pedaço de prato e fazer outra coisa.  E alguns elementos de mão. Consigo misturar tudo isso e minha assinatura musical ficou bem mais fácil de ser compreendida. Esse molho facilitou a mistura da música brasileira com a improvisação do jazz, que é onde mais trilho, mais gosto de fazer e onde tenho a possibilidade de criar. Não sou um baterista ligado em repetir as coisas. Gosto muito de criar. Isso me ampliou o mundo.


Júlio Bittencourt

EM – Além do samba isso tudo agrega outros elementos culturais na tua música, caribenhos e africanos. Fale sobre isso.
JB – Quando trago esses elementos, busco um caminho específico. O da cultura do instrumento. Mas levando para uma forma pessoal de tocar. Não sou aquele baterista que carrega o peso de usar uma conga com a técnica do congueiro. Gosto de colocar esses elementos no meu kit e usar da forma que funciona bem para mim. Com isso tiro um pouco do peso de ser o mantenedor da cultura daquele tambor, sabe?
Que tem pessoas que fazem lindamente e eu admiro, mas não é minha onda. Minha praia é pegar instrumentos que se transforme na minha arte, minha forma de pensar, minha música. Trazer elementos de fora e transformar em uma coisa pessoal.
  
EM – Antes dessa parceria com Jefferson você gravou alguns discos bem diferentes. Em um deles me chamou a atenção, o Deslimites, cujas músicas foram compostas na hora que estavam sendo tocadas. Como foi a escolha dos temas e dos músicos, como fez essa relação?
JB – Gravei muita coisa. Toco com meu irmão há muitos anos. Mas temos diferentes pontos de vista em relação à música e ao que cada um gosta de forma mais específica. E sempre estive ligado a essa expressão do jazz tocada de uma forma muito livre. Para falar sobre o Deslimites, e até esse nome eu gosto de explicar, sou muito fã de um poeta chamado Manoel de Barros, um grande poeta brasileiro. E ele usa palavras com outros sentidos. Consegue fazer isso de forma maravilhosamente poética. Então pego dele o termo Deslimites e trago para meu disco. E ele nasce quando encontro o saxofonista Loran Brunet, um parisiense muito bacana. Ele esteve no Brasil e acabamos nos conhecendo e desenvolvendo uma afinidade sobre essa forma de tocar. A música livre, sem barra de compasso. Começa a tocar sem a necessidade de separar 4x4, 6x4, 6x8. A gente brinca que é uma música mais livre possível, sem a regra do espaço, do tempo e do compasso. O Loran passou por Cruzeiro e conversando sugeri gravar alguma coisa sem combinação nenhuma. Eu tocava meu instrumento e ele sentia o que eu estava tocando e seria uma conversa musical. Sem combinar nada. Aí ele falou: “Mas nada?! Não combina ritmo, tempo da música?”.  Eu respondi: “Nada. A gente só toca”. Entramos no estúdio, microfonamos os instrumentos e começamos a gravar algumas coisas. Percebemos que isso foi extremamente rico em ideias. Saia direto da alma, sem passar pela lógica cerebral. Tentamos nos livrar dessas amarras e tocar o que era do nosso espírito livre. Gostei da ideia e chamei outros músicos. Cada vez que encontrava com um explicava a cena, trazia para o estúdio e gravava no máximo em três takes. A ideia era levar para o disco as originais, as autorais. Depois disso gravei mais dois discos, um com o Loran Brunet e depois com outro saxofonista chamado Hudson Bochard, Margens do Jazz. Estávamos tocando em uma pousada bem no alto da serra aqui em Visconde de Mauá e eu já tinha um equipamento de gravação. Então levei minha bateria para a margem de um rio, microfonamos e gravamos. Por isso chamei de Margens do Jazz, porque são todos os temas criados ali naquele lugar. Essa é uma das coisas que mais amo fazer, gravar com as pessoas de forma livre.

EM - Já no Caminho Natural o samba e o jazz rolam mais soltos. Gostaria que falasse sobre esses dois trabalhos distintos.
JB – Por quase 15 anos tive um projeto chamado Júlio Bittencourt Trio, com meu irmão, Luciano Bittencourt, e o Benjamim BJ Bentes. Investimos na nossa carreira de jazz pela região. Já havíamos gravados um disco de marchinhas de carnaval e depois gravamos um disco ao vivo em uma casa de shows chamado Jazz Village. Achei que estava na hora de gravarmos um disco autoral. O nome do disco surgiu disso, que era realmente o caminho natural do nosso trabalho. O Luciano é um grande compositor e o BJ também. Arrisquei colocar uma música minha. Dei pitaco em algumas coisas, lógico, mas as composições são deles. Vínhamos de uma influência muito grande tocando no Rio de Janeiro. Tocamos no Beco das Garrafas, tocamos samba jazz com diversos artistas. Sempre fui um apaixonado e esse disco tem essa pegada misturando o samba e o jazz. Mesmo que tenha uma música chamada Maranhão, que é outra onda. Depois disco gravamos outro projeto chamado Cores, cuja pesquisa apontava quais eram as vibrações, as frequências relacionadas às cores. Há pesquisas que dizem que as pessoas conseguem perceber a cor X com determinada vibração. Cada nota uma cor. Pesquisamos sobre cromoterapia, sobre pessoas ouvem um tambor relacionam aquele som com uma cor, uma coisa muito louca. Gravamos o disco, que para mim foi o melhor que já gravei com o Júlio Bittencourt Trio. Há diferenças entre os dois projetos. Um com a influência dos dois compositores e o outro que acho mais livre, não chega a ser free jazz, mas tem essa liberdade. Não se encaixa nos padrões tradicionais da música brasileira. Ou desse projeto do duo com o Jefferson.
  
EM – Aproveitando que você citou, como o público europeu recebeu essa formação inusitada, harmônica, tambores e aquela guitarra diferente do teu irmão?
JB – Tivemos oportunidade de visitar cinco países com esse repertório bem brasileiro e diferente. A guitarra do meu irmão é uma guitarra híbrida com três cordas de contrabaixo e três de guitarra. Minha bateria é uma mistura de bateria e percussão e levamos isso tudo lá para fora. Até uns bichinhos de apertar, um porco e uma galinha. A recepção foi muito boa. Nunca imaginamos que na Alemanha teríamos uma expressão de carinho tão grande. Pessoas dançando, batendo palma, comprando os discos, que até pagavam mais caros para ajudar a difundir. Foi uma grande revelação. Estivemos na Espanha, Alemanha, República Tcheca. Na Bélgica tocamos em um jazz clube maravilhoso, cujas paredes havia fotos dos grandes músicos europeus que já haviam tocado lá. Em Portugal tocamos em festivais de jazz e recebemos convites para voltar. As portas se abriram de uma forma que deu a certeza de que iremos voltar. Sou grato por essa química entre todos. A música vai muito além do combinado. Porque se fosse fácil só combinar elementos e isso desse certo muita gente poderia tocar qualquer coisa. Mas o que funciona na música é o além do combinado. É a química que acontece quando nos juntamos para tocar. Na minha concepção nós somos instrumentos da música que vem de Deus. Que usa o nosso corpo e nós projetamos isso aos nossos instrumentos físicos. A gente percebe que a música consegue curar e ajudar muito as pessoas, com depressão e uma série de doenças.

Luciano Bittencourt

Luciano Bittencourt

EM - Fale sobre esse instrumento estranho que você toca, a guitarra híbrida. E como ela cabe na música brasileira?
Luciano Bittencourt - Esse instrumento se chama guitarra híbrida, é uma mistura de baixo e guitarra em um instrumento só , são três cordas de baixo e quatro de guitarra, com duas saídas independentes.  O criador foi o músico americano Charlie Hunter, com o qual tive a honra de estar e poder adquirir essa guitarra em 2020. Estive em sua casa na Carolina do Norte e tive oportunidade de fazer aula com ele que foi de extrema importância para mim.
Como sou pioneiro desse instrumento no Brasil, tive que transportar a técnica adquirida com Charlie para os ritmos brasileiros, tão ricos em harmonia e estilos. Mergulhei de corpo e alma nesse instrumento mágico e tive que reaprender quase tudo, foi e ainda é um grande desafio. Mas estou muito feliz e estudando muito.
O incrível é que a híbrida se encaixa perfeitamente na música brasileira, faço parte do Bitencourt Duo e nesse trabalho em parceria com o gaitista Jefferson Gonçalves posso explorar a música nordestina na mistura com jazz e blues. Lançamos vários álbuns com turnês no Brasil e Europa, principalmente por aplicar a híbrida na nossa rica cultura. 
Com o Saxofonista Leo Gandelman que também temos uma parceria tenho a oportunidade de tocar o soul jazz mas sempre com um sotaque brasileiro. Enfim esse é um instrumento versátil e me sinto honrado por ser o primeiro a trazê-lo ao Brasil

EM – Qual a tua percepção sobre o público da Europa com a música que vocês apresentaram? 
LB – Foi maravilhosa. Melhor impossível. A música brasileira sempre foi muito bem representada no mundo todo. Sempre vista como a melhor do mundo. Tocamos ritmos brasileiros tradicionais como o maracatu, baião, com a pegada jazzística. Isso fez com que os europeus sentissem o calor da nossa música. Uma experiência incrível.


EM - Você e teu irmão tocam (com trocadilho) um bar de jazz na cidade de Cruzeiro, onde moram. Como é essa dinâmica? Há público ou é só uma teimosia de vocês?
LB – Sim, temos uma escola de música que se chama Instituto Musical Bittencourt na cidade de Cruzeiro. Dou aula de guitarra e violão e o Júlio de bateria. Nessa escola temos um auditório onde todas as terças-feiras fazemos jam sessions com músicos que vêm de longe e músicos da região. Essas jams são de jazz e música brasileira. É um evento que cultivamos há 15 anos. Um público que vai para ouvir música e não ficar conversando e ter outro tipo de entretenimento. E temos outro local que se chama Espaço Luckys, com eventos mensais e bimestrais e shows de grandes artistas, Leo Gandelman, Tunai, Jefferson Gonçalves e o duo. É num ponto turístico da cidade. Como já disse, um público que nós estamos formando.

Jefferson Gonçalves



Jefferson Gonçalves

EM - Como aconteceu a parceria com os irmão Bittencourt?
Jefferson Gonçalves - Já conhecia os irmãos Bittencourt quando eram trio, com o BJ, o baixista que tocava com eles. Nos encontramos em um festival em Caldas Novas. Daí em diante passei a segui-los nas redes sociais. Vi uma postagem do Júlio tocando uma bateria bem percussiva e com bastante uso de tambores e o kit tinha uma composição muito interessante. Mandei uma mensagem dizendo que a levada estava ótima e merecia uma melodia e começou toda a história e lançamos nossa primeira composição chamada: Cajazz & Umblues.
Isso aconteceu no meio da pandemia de Covid 19 e como todos estavam em casa foi bem mais fácil organizar a música, o Luciano fez a harmonia em cima da melodia e o ritmo já estava pronto, foi o alicerce de tudo.


EM - A parceria com a marca de instrumentos que você representa rendeu uma turnê na Europa. Como se deu isso?
JG - Sim, a Seydel Harmonicas organiza um festival anual em Klingenthal, na Alemanhaa. Recebi o convite para tocar como convidado de uma banda alemã, mas queria levar meu som, tocar minhas ideias percussivas e as frases que tiro do pife e coloco na gaita. E tocar com uma banda que não conhece esse mundo, definitivamente não ia dar. 
O convite chegou no meu e-mail e eu estava na praia com a família. Na hora falei com minha esposa, Juliana Longuinho, e ela me disse para tentar fazer um crowdfunding. Fiquei com aquilo na cabeça e conversei com os irmãos Bittencourt que toparam na hora.
E durante a divulgação nas redes recebi outro convite, dessa vez do gaitista espanhol Joan Pau Cumellas, um dos produtores do Calella Harmonica Festival. Entramos em contato com amigos produtores em Portugal, o brasileiro Cláudio Paula, que articulou todos os shows no país.
Na viagem tivemos o apoio do Felippão Santos que fechou os shows de Bruxelas (BE) e Sant Feliu de Guixols (ES), além da gravação que fizemos no estúdio da Thomann Music (AL).

EM – Como está sendo essa virada musical? Quero dizer, anteriormente você tocava com uma banda de blues com cinco elementos, com cantor e letras em inglês. E agora está em trio, fazendo música instrumental e com pegada mais brasileira. Mas ainda misturando elementos.
JG - Antigamente não (risos). Ainda toco com esses malucos e com o Pedro Friedrich em dupla. Cada projeto tem uma direção. Com a banda, hoje Mamooth Band, fazemos releituras de clássicos do’ blues e rock com essa pegada nordestina, além de composições próprias. Com o Pedro Friedrich faço uma onda mais roots, blues do delta, que também gosto muito. Além desses projetos, toco com Rosa Marya Colin e tenho um projeto com Eric Assmar e Gustavo Andrade. Não me fecho somente a um projeto, quero tocar com bastante gente, pois aprendo muito com isso.


EM – Você é um tijucano e projetou a tua carreira no Rio de Janeiro, cidade fundamental para a música e a cultura do Brasil. Recentemente se mudou para o interior da Bahia. Essa mudança de ritmo está influenciando na tua arte?
JG – Acho que sim, pois tudo que muda na sua vida vai mudar no seu trabalho. Aqui em Cumuruxatiba, Bahia, a vida é mais tranquila e simples. Isso me dá mais tranquilidade para tocar, estudar, escutar música. Sempre dou canja com músicos daqui e gosto disso.
Mas a minha mudança para cá não foi para pesquisa de música e sim pela qualidade de vida e isso com certeza afetou minha forma de compor e tocar.
 
EM – Vou desviar um pouco o assunto. Você teve uma parceria com o Laudir de Oliveira. Como o conheceu e como começou essa parceria. Essa pergunta é porque eu falo sobre alguns percussionistas brasileiros na introdução desse livro.
JG – Sim, Laudir de Oliveira tocou durante muito tempo na banda. Fizemos muitos shows e gravações, foi uma honra tocar e dividir esses momentos com ele.
Meu contato com Laudir foi o mais surreal que poderia ter sido. Fui em uma consulta médica e enquanto esperava para ser atendido a secretária ficou puxando papo comigo e perguntou o que eu fazia. Quando disse que era músico, ela na hora disse: “Tenho um irmão que é músico também, toca percussão”, e disse o nome dele. Na hora eu respondi: “Seu irmão é o cara!”. Ela riu e passou o número de celular dele para eu ligar. Guardei o número e lógico que não liguei. (risos).
No mês seguinte voltei para outra consulta e assim que cheguei ela disse: “Meu irmão está esperando você ligar até hoje”, e ligou para o Laudir na mesma hora e passou o telefone para eu falar.
Laudir me atendeu com calma e simpatia únicas. Conversamos rápido e disse que ligaria mais tarde, chegando em casa liguei e mais uma vez fui atendido por ele com muita simpatia e na hora ele fez o convite para ir até Ramos, bairro onde morava, para levar um som.
Uma semana depois cheguei na casa de Laudir acompanhado do cantor senegalês, Hampaté. Passamos uma tarde conversando e tocando, no final ele pergunta o que o Hampaté fazia no Brasil. Expliquei que ele veio conhecer músicos brasileiros e iria gravar um CD com minha banda. Na mesma hora o Laudir disse que queria gravar e aí começaram a nossa parceria e amizade. 
Sou um cara de sorte, conhecer esses mestres e conviver com eles é uma honra e um privilégio. Outro grande percussionista e baterista que gravei e sou amigo é o grande Robertinho Silva.

Fotos IMB








quinta-feira, 20 de março de 2025

Rio das Ostras Jazz e Blues Festival vira documentário

 Filme celebra 20 anos do maior evento do gênero na América Latina; estreia será em 29 de março, com sessão gratuita na Concha Acústica, em Rio das Ostras. Em breve o documentário será disponibilizado no Youtube.

O antigo palco da praia da Tartaruga (Foto: Cezar Fernandes)

A história de um dos maiores eventos de jazz e blues da América Latina vai ganhar vida nas telinhas e telonas. Com mais de duas décadas de sucesso, a história do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival será contada em documentário com estreia na noite de 29 de março em exibição gratuita para toda população.
Da areia da praia à Cidade do Jazz: 20 anos de Rio das Ostras Jazz & Blues Festival resgata momentos marcantes com entrevistas inéditas de artistas, produtores e realizadores que ajudaram a consolidar o evento, que colocou a vila de pescadores no cenário internacional da música.
 A obra conta com mais de 30 depoimentos de artistas internacionais, nacionais, produtores e personalidades importantes do evento. 
A produção lançou mão de imagens de arquivo e registros inéditos dos bastidores e shows, que ilustram os desafios e conquistas ao longo de duas décadas. O filme é um registro que mantém a memória cultural e preserva a história do Município.

Paulo Moreira e Cezar Fernandes, produtores do doc (Foto: Divulgação)

A direção do filme é assinada por Cezar Fernandes, com produção executiva de Paulo Moreira, ambos diretores da produtora que, desde 2020, realiza a cobertura oficial do evento. 
A relação da dupla com o Festival, no entanto, vai além do documentário. Os dois também possuem uma trajetória ligada à música, seja pela fotografia, seja pela própria música, já que Paulo é músico, guitarrista da banda Jams. 
Segundo os organizadores, foi um diferencial na construção do documentário. O olhar atento de quem já viveu o evento de diferentes formas permitiu que a produção captasse não apenas a grandiosidade dos shows, mas também a atmosfera dos bastidores e a essência artística presente em cada edição.
Cezar Fernandes, em especial, é um dos principais responsáveis pela preservação da memória visual do Festival. Desde 2006, ele documenta todas as edições de forma ininterrupta, consolidando o maior acervo fotográfico do evento. Seu trabalho não apenas registra apresentações históricas, mas revela momentos inéditos nos bastidores.
“Reunir o material para produção de um documentário sobre o Rio das Ostras Jazz e Blues Festival é uma oportunidade única de reviver histórias fantásticas desses quase 20 anos de cobertura fotográfica que faço do evento, além de conhecer novas histórias contadas pelos personagens que reunimos durante as gravações. São essas histórias que nos mostram o porquê do Rio das Ostras Jazz e Blues Festival ser o maior e mais importante evento do gênero na América Latina”, conta o diretor.
Para Paulo Moreira, que já viveu momentos icônicos na carreira de músico, com duas indicações ao Grammy Latino e os prêmios da Música Brasileira e Multishow, entregar um trabalho de pesquisa sobre o Festival tem uma importância histórica. “É muito gratificante produzir uma obra inédita sobre o maior Festival da cidade que eu fui criado. Vi esse evento crescer, já fiz parte do casting enquanto músico e hoje tenho a honra de fazer parte da sua produção. Entregamos um material que mantém parte importante da memória de Rio das Ostras”, contou o produtor.
O roteiro do filme, além da montagem e edição ficaram a cargo de Luke Aguiar. A assistência de produção tem a assinatura de Renata Cabral, assistência de fotografia de Heloise Fang e design gráfico de Marcelo Quirino.
 O projeto foi viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, do Governo Federal, e é uma coprodução da Artphoto Studio e Like Produtora, com apoio da Azul Produções, da Fundação Rio das Ostras de Cultura e da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras.

Jefferson Gonçalves (Foto: Cezar Fernandes)

John Paul Hammond (Foto: Cezar Fernandes)

Naná Vasconcelos (Fotos: Cezar Fernandes)
Serviço:
“Da Areia da Praia à Cidade do Jazz: 20 Anos do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival” – 70 minutos
Formato: documentário
Dia: 29 de março (Sábado)
Horário: 19h
Local: Concha Acústica – Praça São Pedro – Centro
Classificação livre – entrada franca





terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O bandolim virtuoso de Fábio Peron é a nova música instrumental brasileira

 

Prolífica parceria entre Fábio peron e Alessandro Penezzi

Texto e fotos : Eugênio Martins Júnior

A apresentação de Fábio Peron e Alessandro Penezzi aconteceu no Clube do Choro de Santos, em 15 de novembro de 2024, dentro do evento anual da entidade, Choro Patrimônio Santista. Aproveitei a ocasião para fazer essa entrevista e pegar o contato do Penezzi para tentar outra.
O show consagrou a parceria que rendeu dois trabalhos, Alessandro Penezzi e Fábio Peron e Na Trilha do Choro. 
Quem esteve lá presenciou a incrível capacidade de improvisação dessas duas feras da música brasileira. 
Fábio Peron já foi considerado uma promessa de uma nova geração de músicos. Hoje ele é um dos grandes. 
Peron começou a tocar aos cinco anos de idade, dedicando-se à composição, pesquisa e arranjo de vários períodos e estilos da música do mundo. 
Tem como instrumento principal o bandolim de 10 cordas, mas também possui fluência em outros instrumentos, como os violões de 6 e 7 cordas e cavaquinho.
Seu currículo inclui ainda parcerias com Paulo Vanzolini, André Mehmari, Amilton Godoy, Arismar do Espírito Santo, Thiago Espírito Santo, Lea Freire, Silvia Goes, Naylor “Proveta” Azevedo, Mestrinho, entre muitos outros. 
Lançou seu primeiro CD em 2011, 0 Fábio Peron em Boa Companhia. Não parou mais. Em 2013 gravou Roupa Na Corda, com Arismar do Espírito Santo e Léa Freire. No ano seguinte, Alma de Músico, com Thiago Espírito Santo e Mestrinho do Acordeon. Em 2015, lançou seu segundo trabalho solo “Fábio Peron e a Confraria do Som”, que conta com participações de Arismar do Espirito Santo, Thiago Espirito Santo, Izaías Bueno de Almeida, Alexandre Ribeiro, Ricardo Herz, Chico Pinheiro e Zé Barbeiro, entre outros.


Eugênio Martins Júnior- Seus pais são músicos, como foi a tua infância musical? Li que vários músicos frequentavam a tua casa.
Fábio Peron – Sim, meu pai Italo Peron, Violonista, minha mãe Vera Cury, pianista. Foi ambiente mais favorável do mundo. Tinha acesso a tudo que queria ouvir e muita gente com muita informação. Sempre tive pra quem perguntar e em quem me inspirar. Isso foi fundamental. E também por ter instrumento em casa que foi tremendamente facilitador.

EM – Qual foi o teu primeiro instrumento?
FP – O primeiro que caiu na mão foi flauta doce. Mas depois me apaixonei pelo bandolim, pelo Jacob e pelo Izaías Bueno de Almeida, que é um bandolinista maravilhoso e foi super generoso comigo. Não só por influenciar a forma como eu ouvia, mas por ser uma pessoa que convivi bastante e estava sempre disponível.   

EM - Fez parte da sua formação.
FP – É assim, o Jacob provavelmente é a maior influência para qualquer bandolinista de choro. Só que não tive a oportunidade de conhecê-lo. E nem de ver vídeos dele.  O Izaías foi o primeiro que eu vi tocando daquele jeito na minha frente. Eu ainda era criança. Nem sabia que dava para fazer aquilo. E tive a sorte de tê-lo próximo na infância e na adolescência e até hoje.

EM – Você lembra quando e onde o viu pela primeira vez?
FP – Foi na casa do Paulo Vanzolini...

EM – Sério isso? (risos)
FP – Sim. meu pai produziu uma obra do Vanzolini chamada Acerto de Contas. Uma caixa com quatro discos. Uma produção que levou anos, de ensaio, inclusive. E meu pai se aproximou muito dele nessa época. Eu era criança e estava começando a tocar choro na flauta doce e freqüentava muito as rodas que tinham lá. E o Izaías sempre estava. Que tempo bom. Ver o mestre tocar ao vivo.


EM - Você gravou um disco com o Joel Nascimento, o Jacob do Bandolim 100 Anos – Sentimento & Balanço. Estive com ele aqui em Santos. É uma figura com um conhecimento enorme e cheio de histórias pra contar. Gostaria que falasse um pouco sobre esse trabalho com o Joel. Como foram essas gravações?
FP – Sim, como o nome diz foi em homenagem aos 100 anos do Jacob do Bandolim. Foi um projeto do Henrique Cazes que chamou o João Camarero (violão de 7 cordas) e o Marcos Nimrichter (acordeon). Tem a participação do Silverio Pontes (flugelhorn) e do Rogério Caetano (violão de 7 cordas de aço). Ah, gravar um disco com músicas do Jacob com o Joel Nascimento é a maior diversão do mundo. 

EM – Juntos no estúdio?
FP – Gravamos separados, mas no estúdio, no mesmo dia.

EM – Já que estamos falando tanto no Jacob. Gostaria de saber a tua opinião sobre a importância do Jacob para a música brasileira.
FP – Toda a importância. Tanto pelas composições quanto pelo intérprete e qualidade de gravação, de fonograma. Dá para ouvir os arranjos do regional com muita clareza. E também de pesquisa e resgate de repertório. Muita coisa do Ernesto Nazareth, por exemplo. Os arranjos do Jacob são tão lapidados que hoje em dia você pode tocar em qualquer roda de choro. Brejeiro, por exemplo, choro do Nazarth que é super famoso em qualquer roda de choro que você for tocar, não será preciso perguntar, vai ser o arranjo do Jacob.     

EM – Por que eu digo isso? Em Fábio Peron e a Confraria do Som há vários estilos musicais apresentados por vocês. Uma verdadeira viagem aos cantos do imenso Brasil.
FP – Esse foi meu segundo álbum. E a proposta era a de ser uma coisa diversa. São sete convidados que dentro de uma vertente da música brasileira representam coisas completamente diferentes. Um deles é o Izaías, outro é o Zé Barbeiro, o Ricardo Hers, Chico Pinheiro, Arismar do Espírito Santos, Thiago do Espírito Santo e o Alexandre Ribeiro. Gravei uma música em duo com cada um deles. E uma música com formação maior. Tem frevo, ijexá, samba, choro, valsa, tem tudo.


EM - Folia de Três traz uma formação inusitada, acordeon, bandolim e bateria. Digo inusitada porque a gente não vê essa formação por aí. Mas, por outro lado, na música instrumental cabe tudo, não é mesmo?
FB – E nesse disco ainda toco um instrumento que eu inventei, o bandolão. Um bandolim de cinco cordas uma oitava abaixo, mas com outro corpo, outras cordas. Ficou bem interessante a sonoridade. A primeira ideia foi fazer em quarteto, mas com a urgência de marcar o primeiro ensaio, foram apenas os três. O som rolou bem e decidimos não chamar mais ninguém. (risos)
  
EM – Tenho uma teoria que as plataformas digitais foram uma coisa boa para música instrumental brasileira, sempre valorizada lá fora, mas aqui bem menos. O que acha?
FP – Falando sobre os clássicos, é uma questão de referência para quem quer estudar música. O Jacob do Bandolim que a gente já falou bastante é um exemplo. Quando comecei a tocar não existia esses streamings e Youtube. O jeito era comprar CD, mas era uma coisa cara. Não eram todos que tinham acesso. Hoje você assina um streaming por 20 reais, o preço de um CD, e tem acesso a muita coisa.    

EM – Como nasceu essa parceria para gravar um álbum com o Alessandro Penezzi? O mesmo que vocês estão lançando aqui no Clube do Choro? 
FP – Essa parceria é muito antiga. A gente se conheceu há muitos anos. Eu já era fã do Penezzi. Fizemos um trabalho juntos em um evento corporativo e antes da apresentação tínhamos um bom tempo no camarim. Ficamos ali tocando e deu certo. Nos grudamos muito. Freqüentei a casa dele por muitos anos, coisa de três vezes por semana para tocar através das madrugadas até sangrar os dedos. Muitos anos depois a vida de ambos estava condizente para que pudéssemos gravar esse disco.  

EM – Você faz parte dessa geração que revitalizou o choro nos anos 2000, que roubou o choro da mão dos coroas e criou, não diria um movimento, mas uma nova movimentação em torno desse gênero musical. Gostaria que falasse sobre isso.
FP – Tem um pouco a ver com a questão do acesso que falávamos antes. É uma música que não tocava na rádio e CD era caro. O choro sempre foi uma música para quem foi atrás. Concordo que tem muito mais gente tocando. Dou aula na EMESP, que é a Escola de Música do Estado de São Paulo e tem muita gente interessada por choro. Tem os clubes de choro também, além de Santos há o de Brasília, Lisboa. Tem muito procura e as pessoas têm onde achar a informação.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Programação 2025 do Clube do Choro começa em fevereiro

 

Choro de Bolso

O ano de 2025 do Clube do Choro de Santos começou dinâmico. A programação inicia já no dia 08 de fevereiro a partir das 16h, no Boulevard da Rua XV, com a Oficina Prática de Conjunto, ministrada pelo Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo aos alunos da Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas.
Às 20h30 o Teatro Rosinha Mastrângelo recebe o grupo para a roda de choro promovida pelo clube.  
O show reúne expoentes do Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo, um dos principais projetos do gênero em desenvolvimento no Brasil, com a seguinte formação: Alexandre Ribeiro (clarinete), João Poleto (sax e flauta), Zé Barbeiro (violão de 7 cordas), Milton Mori (cavaquinho e bandolim), Roberta Valente (percussão) e Yves Finzetto (percussão), tendo como convidados o violonista Alessandro Penezzi e os irmãos Izaias e Israel Bueno de Almeida. A entrada é franca.

Dia 13 de fevereiro, a partir das 20h, na sede do Clube do Choro, o duo mais querido da Baixada Santista, Choro de Bolso, realiza o show de lançamento de Pão de Cará, seu mais recente álbum.
Após sete anos do lançamento do primeiro disco, Os Sambas, Choros e Canções que a Gente Mesmo Faz, Julinho Bittencourt e Choro de Bolso se encontram novamente para um novo álbum. 
O trabalho, que mescla músicas cantadas (parcerias de Marcos Canduta e Julinho) e instrumentais (temas de Canduta), diferentemente do primeiro trabalho, o trio conta com o acompanhamento de baixo e bateria, além de piano em algumas canções, o que gera uma sonoridade bem diferente do que o público se acostumou a ouvir com o Choro de Bolso. No repertório, canções que remetem aos Beatles, fado, bolero, Valsa, e claro, Choro. A entrada também é franca. 
O dia 20, também a partir de 20h, o Clube do Choro sediado à Rua VX de Novembro, realiza a tradicional roda de choro com os professores da Escola de Choro Luizinho Sete Cordas, tendo como convidados mestre Luizinho 7 Cordas e o  violonista franco-alemão Olivier Lob.
Uma verdadeira celebração da música brasileira, este encontro musical promete encantar o público com performances que destacam a maestria desses grandes artistas e educadores.

Serviços:
Show - Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo e Convidados
Data - 08/02
Horário – 20h30 
Local - Teatro Rosinha Mastrângelo
Endereço – Av. Senador Pinheiro Machado, 48 – Vila Mathias – Santos
Ingresso – grátis

Show – Choro de Bolso – Lançamento de Pão de Cará
Data – 13/02
Horário – 20h
Local – Clube do Choro de Santos
Endereço – Rua XV de Novembro, 68 – Centro - Santos.
Ingresso – grátis
Show – Roda de Choro com professores da Escola Luizinho 7 Cordas
Data – 20/02
Horário – 20h
Local – Clube do Choro de Santos
Endereço – Rua XV de Novembro, 68 – Centro - Santos.
Ingresso - grátis

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Representatividade

Representatividade é uma palavra
Representa atividade
Sem ativismo
Sim à verdade

Disseram pra mim 
Que não posso tocar o blues
Porque sou branco
Do hemisfério sul

Por que brasileiro
Abusado e mestiço
Sim, brasileiro 
E mestiço não é raça

Representatividade
É pra quem representa
Não é pra qualquer um
Que não sangra irmão

Representatividade é uma palavra

Tem que apanhar
Tem que viver a vida
Não adianta bater
Em quem não pode se defender

Não cheguei agora 
Represento faz tempo
Sou da estrada
E do desenvolvimento

Atuo na cena blues
No Brasil e na minha cidade
Quem é você, burocrata?
Fora da realidade 

Que vai me dizer o que fazer,
Que vai me dizer o que sentir
Que vai me dizer o que falar
Que vai me dizer o que cantar

O blues é antisistema 
Eu falo eu canto
O blues é antifascistema
É sim, meu irmão

O blues vem da garganta
E do coração
Do ponto de vista da chibata
O blues representa o não

O blues representa
O blues representa

O blues representa
O blues representa

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Morreu o Sam, da dupla Sam e Dave

 

Foto: Adam Bettcher/Getty Images

Sempre fui um cara cheio de teorias. Uma delas é a de que o blues criou a soul music, como fez com muitas outras vertentes da música norte-americana, para a soul music influenciar o blues. 
Explico. O blues é a matriz de todos os afroritmos, sejam eles religiosos, festeiros, sensuais ou contestadores. Nesse último caso, a soul music. Outro dia estava conversando sobre isso com o Igor Prado, guitarrista aqui do brasa que manja do assunto.
Os anos 60 foram o máximo para contracultura e para a construção das encruzilhadas musicais. E da consolidação de gravadoras pretas importantes como Motown, Stax, Atlantic Records. 
Os casts desses empreendimentos continham tudo o que nós amávamos. E ainda amamos. Se liga só: 
Motown: Marvin Gaye, Jackson 5, Stevie Wonder, Diana Ross, The Supremes, Lionel Richie, The Temptations, Martha and the Vandellas. 
Stax: Staple Singers, The Bar Keys, Booker T. & the MG’s, Lou Marini, Donald Duck Dunn, Stevie Crooper e todos aqueles feras de estúdio.
E a Atlantic Records, comprada pela Warner e, cujo catálogo possuía Ray Charles, La Vern Baker, Ben E. King, Solomon Burke, Otis Reding, Doris Troy, Rufus Thomas, Don Covay, Esther Philips, Wilson Pickett, Percy Sledge, Sam Cooke e... Sam e Dave.

Sam & Dave


A dupla lendária ecoa até hoje como as vozes mais importantes e emblemáticas da soul music. Sam & Dave está para a cultura estadunidense como Tonico e Tinoco está para a cultura brasileira. 
Em 1968, após o assassinato do reverendo Martins Luther King foram os artistas convidados a se apresentar em seu memorial devido à importância das suas presenças.
São os artistas que todos se inspiraram. De Os Irmãos Cara de Pau a The Commitments, que nós brancos passamos a conhecer por aqui, Sam Moore e Dave Prater (que morreu em 1988) são os caras que nos deram Soul Man, Hold On, I’m Comin’, Soothe Me, Come On, Come Over e a maravilhosa versão de We Can Work It Out e muitos mais hits. 
Tudo isso pra dizer que morreu a lenda Sam Moore na última sexta-feira, dia 10 de janeiro, aos 89 anos em Coral Gables, na Florida. 
Se hoje você ouve Bruce Springsteen, Michael Jackson e Al Green, e acha que eles são gênios, e são mesmo, é graças ao velho e grande Sam. Não aquele que costumam chamar de Tio. 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Brazilian Blues Band comemora trinta anos com cinco datas em São Paulo

Cruzeiro, São Paulo, Santos, Campinas e Vinhedo recebem a banda em janeiro numa grande celebração do blues nacional


A Brazilian Blues Band, um dos grandes nomes do blues brasileiro, celebra 30 anos de carreira com uma série de shows. 
A turnê passará por cinco cidades do estado de São Paulo, no mês de janeiro, com a produção da Mannish Boy Produção Artísticas, de Santos.
O quinteto formado pelos músicos Luiz Kaffa (voz), Marssal Leones (teclado), Rairy de Carvalho (guitarra), Leandro Godoi (baixo) e Eduardo Camargo (bateria), se apresentará no IMB Jazz Club (Cruzeiro), Bourbon Street Jazz Club (São Paulo), Quintal da Veia (Santos), Espaço Reúne (Campinas) e Mercado das Artes (Vinhedo). 
As noites serão únicas para aqueles que apreciam o Blues/Rock cantado em português, com um repertório autoral que percorre as três décadas de história da banda, incluindo seus maiores sucessos e homenagens a Celso Blues Boy – do qual o quinteto foi banda de apoio em inúmeros shows –, Erasmo Carlos, Barão Vermelho, entre outros.

Uma Trajetória de Sucesso - Entre o tempo e a música, segue o Blues Brasileiro. Fundada em 1994, o quinteto brasiliense já lançou três discos de estúdio, fez duas turnês pela Europa e inúmeros shows pelo Brasil. 
É nesse ritmo constante que a Brazilian Blues Band completa 30 anos de estrada, história e muita música em 2024.
Com a formação atual, que mistura músicos experientes e talentosos, a banda tem se destacado pela qualidade de suas apresentações ao vivo e pela habilidade de transitar entre o Blues/Rock clássico e o mais contemporâneo, sempre com uma pegada única e embebida de música afrobrasileira.
Entre as duas turnês na Europa e os inúmeros shows pelo Brasil, podemos dar destaque para os principais festivais e casas do gênero pelo país: Clube do Blues de Santos (SP); Rio das Ostras Jazz & Blues Festival (RJ); Vijazz (Viçosa/MG); Fest Bossa n’ Jazz (Pipa/RN); Festival Jazz e Blues de Guaramiranga (CE); Festival BB Seguridade de Blues e Jazz (DF); República Blues (DF); Circo Voador (RJ); Bourbon Street (SP), Universo Paralello (BA), entre outros. 
A Brazilian já dividiu o palco com atrações de peso, como Blues Etílicos, Celso Blues Boy, Armandinho Macedo, Nuno Mindelis, Hermeto Paschoal, Rita Lee, Zeca Baleiro, Toninho Horta, Maria Gadú, Rodrigo Suricato, Fernando Magalhães, além dos artistas internacionais Stanley Jordan, T.M. Stevens, Mud Morganfield e Billy Cobham.

O Show - A Brazilian Blues Band completou 30 anos de estrada no ano de 2024. Dando continuidade à carreira sólida e árdua, o trabalho independente gerou mais um resultado neste ano de comemoração: o lançamento de Agregue-se, 4º álbum de estúdio com músicas inéditas, homenageia o guitarrista e amigo Greg Wilson (Blues Etílicos), morto no ano passado.
O trabalho foi gravado em Brasília e São Paulo, com a produção musical de Dillo e participações de Fernando Magalhães (Barão Vermelho), Adriano Grineberg e Seu Pereira (Seu Pereira e Coletivo 401). A proposta de show inclui a apresentação das canções inéditas e de músicas que compõem a trajetória do grupo de Blues Rock durante os 30 anos de história. O novo trabalho foi lançado na íntegra no dia 16 de novembro de 2024 em todas as plataformas digitais e em tiragem impressa. 
Os shows serão mais um marco na carreira da banda e prometem ser uma verdadeira celebração do Blues/Rock brasileiro. 
O público poderá conferir clássicos da banda, como “Um Gigante”, “Cachaça, Fumaça e Rock n’Roll”, além de versões especiais de músicas que marcaram a carreira da Brazilian Blues Band. 
Além disso, a banda promete surpresas, como participações especiais e uma seleção de músicas inéditas que refletem a evolução do som da banda ao longo dessas três décadas. 

Os ingressos e demais informações sobre os shows estão disponíveis na página das respectivas casas. Não perca a chance de viver essa experiência única e celebrar o legado da Brazilian Blues Band.

Data - 14/01/25 - Local - IMB – Cruzeiro.
Ingressos - R$ 30,00 na portaria.
Horário do show - 18h30.
Endereço - Rua Sete de Setembro, 947.

Data - 15/01/25 - Local - Bourbon Street Music Club – São Paulo. 
Participação de Big Chico
Ingressos - R$ 65,00 
Horário do show - 21h.
Endereço - Rua dos Chanés, 127 – Moema.

16/01/25 - Quintal da Véia – Santos. 
Participação de Carla Mariani
Couvert - R$ 20,00 
Horário - 20h. Duas entradas de 40m.
Endereço - Rua Julio Conceição, 263 – Encruzilhada - Santos 
 
17/01/25 - Espaço Reúne, Comida e Cultura – Campinas.
Horário – 20h.
Endereço - Rua Josepha Maria Antonio Picelli, 53 – Barão de Geraldo - Campinas

18/01/25 - Mercado das Artes – Vinhedo.
Ingressos – R$ 40,00 (via Sympla) e R$ 50,00 na porta.
Horário do show – 20h.
Endereço - Estrada da Boaiada, 1877 - Vinhedo