Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos: Eugênio Martins Jr e Trombone Shorty Foundation
Para quem não sabe, Treme é o lendário bairro de New Orleans de onde saíram grandes músicos. Troy Andrews é um deles. Também conhecido por Trombone Shorty, Andrews e o trompetista Kermit Rufins são, na minha modesta opinião, os grandes talentos que emergiram após a passagem do furacão Katrina por New Orleans, em 2005.
Além deles, outros artistas locais também ganharam visibilidade mundial após aparecer em Treme, a série de televisão produzida pela HBO que está na quarta temporada, Wanda Rouzan, Donald Harrison, Soul Rebels, John Boutté, Jon Cleary e Steve Riley são alguns. Andrews está um passo à frente. Juntou uma banda de jovens músicos roqueiros, a The Orleans Avenue - Tim McFatter (Saxofone), Pete Murano (guitarra), Mike Ballard (baixo) e Joey Peebles (bateria) – que mistura Red Hot Chili Peppers com Neville Brothers, Lenny Kravitz com James Brown, e isso faz toda a diferença. O público jovem adora.
Na velocidade de um furacão, Trombone Shorty tomou de assalto a cena da música pop dos Estados Unidos com dois trabalhos avassaladores, For True e Backatown.
É um dos músicos mais requisitados em festivais de jazz e blues por todo o mundo e recentemente esteve no Bourbon Street Fest, cuja 11° edição foi realizada em São Paulo.
Não pra variar, o Mannish Blog estava lá e faturou uma entrevista exclusiva com o astro da música pop do momento, onde ele fala sobre o novo trabalho, Say That To Say This.
Conta também como foi participar da série Treme, um relato ficcional, porém, dos mais fiéis, sobre as pessoas que tiveram de reconstruir suas casas, seu bairro e sua cultura após a passagem dramática do furacão Katrina por uma das cidades mais emblemáticas e folclóricas dos Estados Unidos.
Só para lembrar, em 29 de agosto de 2005 o furacão Katrina – assim chamado porque toda tempestade registrada nos anos ímpares leva nome de mulher – destruiu a costa dos Estados Unidos, atingindo os estados de Mississippi, Alabama, Flórida e Louisiana. Foi um dos mais devastadores a atingir a região do Golfo do México, causando mais de 1800 mortes e bilhões em prejuízos só na Louisiana.
New Orleans foi uma das cidades que mais sofreu com a tempestade. Rodeada por diques que se romperam, ficou 80% submersa e bairros inteiros desapareceram. A administração George Bush demorou reconhecer a tragédia e, quando o fez, o caos já havia se instalado na cidade.
Caso haja interesse sobre o assunto, o documentário em quatro capítulos produzido pela HBO e dirigido por Spike Lee, When The Leeves Broke, é o registro mais cru após a tragédia. Trouble The Water, também é um documentário que retrata o antes e o depois da tempestade.
Essa entrevista não teria sido possível sem a boa vontade da produção do Bourbon Street e Lucas Shows e Eventos. Agradeço a todos.
Eugênio Martins Júnior – Gostaria que você falasse sobre o novo trabalho, Say That to Say This?
Trombone Shorty – O lançamento mundial é dia 10 de setembro. É um disco divertido, com muito funk, soul, rock R&B e um mix da música de New Orleans. Foi excitante fazê-lo. A produção é de Raphael Saadiq que passou muito tempo trabalhando nas músicas. Estou orgulhoso desse projeto.
Trombone Shorty – O lançamento mundial é dia 10 de setembro. É um disco divertido, com muito funk, soul, rock R&B e um mix da música de New Orleans. Foi excitante fazê-lo. A produção é de Raphael Saadiq que passou muito tempo trabalhando nas músicas. Estou orgulhoso desse projeto.
EM – Como começou a parceria com Saadiq?
TS – Eu cresci e frequentei escola aqui em New Orleans com metade de sua banda. Conheci-o há alguns anos por intermédio deles. Então quando estava com algum material pronto pra fazer esse disco achei que seria perfeito submeter o trabalho a ele, já que é um grande produtor e músico. É o tipo de coisa que sempre acontece na música. Esses encontros.
TS – Sim é verdade. É como se fosse uma forma de encurtar uma longa história. Em New Orlans podemos usar períodos longos para contar as histórias e às vezes parece que poderíamos encurtá-las. Podemos contar o máximo em menos tempo. Você pode usar períodos curtos que causam maior impacto.
EM – Você diz que o álbum novo é uma mistura entre Meters e James Brown. Podemos dizer que foi buscar inspiração da velha escola do funk pra fazer o novo som de New Orleans?
TS – Sim, sempre amei os Meters. James Brown, Lenny Kravits, Earth, Wind e Fire, Michael Jackson, Stevie Wonder, são definitivamente as minhas inspirações. Minha e de muitos músicos. O rock and roll também.
EM – Você citou funk e rock and roll. E jazz tradicional? Você escuta?
TS – Sim, em New Orleans (risos). Já toquei na banda de outras pessoas, Louis Armstrong e outros clássicos. Escuto em todos os lugares e é muito familiar pra mim, mas só toco em outras bandas. Tenho 28 anos e sou muito mais influenciado pelo funk, rock e rap, as coisas do meu tempo. Tento ser um músico que faça o jovem gostar da música que incorporamos, mas levando em conta o nosso tempo.
EM – Treme, a série de televisão, mostra a cidade de New Orleans tentando se reerguer após o furacão Katrina. Como está a cidade hoje, oito anos após sua passagem?
TS – A cidade está maravilhosa. Como você disse, já se passaram oito anos e a cidade voltou a crescer, os negócios estão indo bem, a cena musical continua vibrante, com jovens talentos e os músico mais velhos ajudando esses jovens. As coisas estão começando a voltar como era antes da passagem do Katrina. Você pode sentir as coisas voltando ao normal.
EM – Você aparece muito nessa série. Como se a sua ascensão fosse uma analogia com a reconstrução da cidade. Você gostou da série? Ela retrata o que realmente aconteceu?
TS – Sim, é bem autêntica. O principal objetivo de todos os filmes foi justamente buscar essa autenticidade. Eles foram à cidade e falaram com as pessoas reais. Não eram atores. Os roteiristas falavam com as pessoas nas comunidades. Convidavam as pessoas para ir aos sets de filmagens e ver se tudo estava correndo bem. A cultura da cidade está em todos os lugares em particular. As pessoas que estavam filmando ficavam mais confortáveis quando os nativos estavam por perto tirando as dúvidas. Isso foi uma grande coisa. Muitas pessoas trabalharam e ficaram muito felizes em colocar New Orleans de volta no mapa. Poder mostrar ao mundo que New Orleans não estava morta. Que continua a sua reconstrução.
EM – Sério?! A HBO pegou pessoas da comunidade para trabalhar na série?
TS – Sim, da rua. Deram responsabilidade às pessoas em Treme, na minha vizinhança. E também em outras mais. Elas davam as instruções para as pessoas que jamais haviam sido filmadas, ou atuado, ou qualquer outra coisa relativa ao cinema. Justamente pra pegar a coisa real. Estou muito orgulhoso de ter feito parte disso.
EM – Falamos sobre a cidade, mas o que você pode dizer sobre a cena musical em particular?
TS – A cena musical está legal. Afortunadamente e desafortunadamente eu viajo muito. Então não estou lá o quanto gostaria e costumava estar. Tenho visto as pessoas indo bem. Há o Soul Rebels, que também estão tocando aqui; a New Birth Bras Band. Parece que estão indo bem. O pouco tempo que passo na cidade é com a minha família e amigos e não consigo saber o que se passa na cena. Mas fico feliz de as coisas estarem acontecendo, novos sons estão sendo gerados, você sabe, é mais trabalho para mais pessoas.
EM – Toda essa confusão em New Orleans, a passagem do furacão e o que veio depois afetou sua música de alguma forma?
TS – Não, nada. Não escrevi nenhuma música triste sobre isso.
EM – O que é a fundação Trombone Shorty?
TS – É uma coisa que eu criei para ajudar as crianças da cidade através da música. Temos uma parceria com uma universidade para ensiná-los nossa música. É uma forma de poder ajudar a minha comunidade. As crianças me procuravam e procuravam outros músicos, essa é a forma que encontramos de passar algum conhecimento sobre a teoria, o mundo dos negócios, a cultura. Procuramos dar alguma atividade para que não se percam. Eles são interessados, gostam de música, mas ainda podem ser perder nas ruas. Então, queremos resgatar essas vidas através da música. Deixá-los felizes. Mostrar que eles podem ter talento para fazer o que quiser. Caso queiram seguir uma carreira na música ou o que quer que queiram ser.
EM – Você ministra lições a esses jovens?
TS – Quando estou na cidade sim, dou lições a eles e ajudo como posso. Temos professores que fazem isso, mas tento ajudar. Às vezes são eles que me ensinam.
EM – É uma troca.
TS – Sim e isso é muito bom. (risos)
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