sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O quarteto de Duke Robillard trouxe elegância ao Rio das Ostras Jazz e Blues de 2012


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Eugênio e Cezar Fernandes

Duke Robillard parece aquele tio que fica tomando goró na padaria falando sobre futebol com os aposentados. Só que ele nasceu nos Estados Unidos e com uma guitarra em punho. E tio Duke tem muita história pra contar. É guitarrista, bandleader, compositor, cantor, produtor, ganhador do prêmio Grammy e outros voltados exclusivamente ao blues.
Além disso, poucos podem dizer que sua lista de parcerias inclui Bob Dylan, Tom Waits, Jay McShann, The Fabulous Thunderbirds, John Hammond, Jimmy Witherspoon, Dr. John, Maria Muldaur e Roomful of Blues. Só para ficar nos mais famosos.
A guitarra do tio Duke é elegante. Suas cordas vibram fazendo com que as notas cheguem com leveza aos ouvidos. É de arrepiar. Mas quando quer, Duke rasga o couro com os dentes, como diria o Frejat.
Não bastasse tudo isso, Duke Robillard é uma enciclopédia de ritmos. Sua carreira mostra. Desde a fundação do grupo Roomful of Blues, em 1967, ou substituindo Jimmie Vaughan no Fabulous Thunderbirds, em 1990, sua carreira solo é recheada de discos de rockabilly, jazz, rock and roll e rhytmn and blues.
Em mais de 40 anos de carreira, gravou discos diferentes e arrebatadores: You Got Me, After Hours Swing Sessions, Dangerous Place, Strechin’ Out, Conversation in A Swing Guitar, Groove a rama são alguns.
Estive com Duke em Rio das Ostras esse ano. Encontrei-o sentado em uma cadeira de vime apanhando um sol e matando o tempo na beira da piscina do hotel onde imprensa e músicos se hospedam por conta do grande festival.
Tímido como sol daquele dia, Duke não é de falar muito. Pelo menos com estranhos. Depois de dois dias se cruzando pelo festival e que tive de ajudar o Jefferson Gonçalves proteger o órgão Hammond que estava apanhando uma chuva desgraçada no palco São Pedro durante o seu show (ver foto), Duke se mostrou um coroa bem legal. Como aqueles tios aposentados que ficam falando de futebol no bar da esquina.



Eugênio Martins Júnior – Quando foi a primeira vez que ouviu blues?
Duke Robillard – Provavelmente tinha dez anos de idade. Ouvi em um lado b do Chuck Berry, em um 45 rpm. Uma delas era Wee Wee Hours, um slow blues. Foi o primeiro blues de verdade que eu escutei. E eu amei aquilo.

EM – E quando a guitarra apareceu em sua vida?
DR – Desde cedo decidi que iria me tornar um guitarrista. Acho que com seis anos, mas meus pais não me deram uma guitarra. Aprendi a tocar sozinho em um instrumento que era do meu irmão. Vendo o seu jeito de tocar.

EM – Você tem um estilo muito elegante. Qual era a sua principal influência nessa época?
DR – Foi Hubert Sumlin, da banda de Howlin’ Wolf e Matt Guitar Murphy, da banda de Memphis Slim. E mais tarde todas as pessoas sofreram a influência de Muddy Waters, B.B. King e T Bone Walker.

EM – Roomful of Blues foi uma banda importante na cena blueseira. Fale sobre a fundação do grupo e seus anos na banda.
DR – Eu comecei na banda em 1967. A primeira formação era básica, guitarra, piano, bateria e harmônica às vezes. Concentrávamos no Chicago Blues. Alguns anos depois descobrimos o Rhytmn Blues dos anos 40 e nos apaixonamos. Então adcionamos os metais no começo dos anos 70. Fiquei na banda 12 anos, mas saí em 1979 para fazer carreira solo.


EM – Mais do que um músico, você é um estudioso dos ritmos norte americanos. Podemos dizer que foi essa versatilidade que o fez tocar com músicos tão diferentes como Bob Dylan, Tom Waits e Dr. John?
DR – Gosto de todas as variedades de blues, jazz, a origem do rock and roll e até as formas mais primitivas de country music. Todos os estilos de música são relativos ao blues. E todos eles me ajudam a construir o que eu faço.

EM – Como o Brasil, os Estados Unidos têm muitos ritmos e gênero musicais. Você conhece algum gênero musical brasileiro?
DR – Não conheço os ritmos populares do Brasil. Conheço o jazz dos anos 60, Jobim e pessoas como ele. Gostaria de aprender mais sobre isso. Estive por aqui três ou quatro vezes, mas nunca fui muito exposto. Toquei no Brasil em um festival e em alguns clubes. Em São Paulo toquei em um clube que parece New Orleans.

EM – Você vinha, tocava e ia embora?
DR – Toquei uma vez no Rio de Janeiro e eles não me deixavam sair do hotel porque diziam que era muito perigoso. E em São Paulo também.


EM – Mas nem é tanto assim, a ponto de não poder sair do hotel.
DR - Isso faz 15 ou 20 anos atrás, talvez naquela época as coisas eram piores. Gostaria de mencionar que estou produzindo um guitarrista de blues brasileiro pelo meu selo. Talvez até o final desse verão. Ele se chama Nuno Mindelis. Tenho sociedade em dois novos selos, um de jazz e outro de blues de raiz e vamos gravar o Nuno nesse selo de blues.

EM – Como surgiu essa parceria?
DR – Meu sócio já havia se envolvido com o Nuno em outras gravações e me convidou pra produzi-lo dessa vez.

EM – Você já conhecia o Nuno? O que achou de seu estilo?
DR – Sim, tenho alguns de seus CDs. Acho um ótimo guitarrista.

EM – Você tocou com Big Joe Turner que era um grande compositor. Ele escreveu Shake Rattle and Roll, Corrine Corrina, Honey Rush e outras. Na minha humilde opinião, ele nunca teve o reconhecimento merecido, talvez por ser muito velho, muito preto e muito grande. Você concorda?
DR – No tempo do rock and roll ele chegou tarde. Mas acho que as suas gravações foram populares. É claro que Bill Haley, por ser branco, ganhou mais atenção com Shake Rattle and Roll. Provavelmente também era muito mais jovem do que Joe Turner. Mas acho que ele teve o seu reconhecimento. As pessoas que tocam blues nos Estados Unidos não eram muito reconhecidas até B.B. King se tornar um dos maiores. Eles nunca tocaram para grandes audiências até alguns começarem a produzir hits e os guitarristas britânicos começarem aclamar caras como Buddy Guy e B.B. King. Isso fez toda a diferença em suas carreiras.

 

EM – Gosto de fazer essa pergunta para diferentes músicos de blues. Uma vez o Rod Piazza me disse que o blues é a música do banco de trás (back seat music). Você concorda?
DR – (risos) Acho que sim. Como no jazz, você não pode esperar ficar rico tocando blues porque isso não vai acontecer.

EM – Fale um pouco sobre essa banda que o acompanha.
DR – São quatro músicos, Bruce Bears no piano e orgão, Mark Teixeira na bateria e Brad Hallen no baixo. Realmente acho que é a melhor banda que já tive. Tocamos muito bem juntos. Eles são músicos completos em jazz, blues e outros gêneros. São muito versáteis.

EM – Qual é a importância do blues para a cultura-norte americana?
DR – É a música que fala da vida das pessoas, mas apesar disso, uma minoria escuta blues. Mas é o suficiente para nos manter viajando e tocando pelo país e pelo mundo. Sempre foi assim. Talvez ele tenha sido popular por um tempo. Mas dá para nos manter vivos, tocando em clubes pequenos e às vezes em clubes grandes. Acho que concordo com o Rod Piazza (risos). 

EM – Mas continua sendo a base da música norte-americana.
DR – Realmente foi, mas não é mais. Da década de 70 para trás, até o começo do século. Nos anos 80 a música popular começou a mudar e não e passou a não ter mais a influência do blues. Não sei de onde vem, mas não é do blues.

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