sexta-feira, 10 de maio de 2024

Faltando um dia para completar 70 anos, morre em 08 de maio o gaitista Phil Wiggins

 

Phil Wiggins (Foto: NEA National Heritage Fellowship artist)

Quem deu a notícia em uma rede social foi a sua filha Martha. Segundo ela, Wiggins estava em casa rodeado pela família após ter passado uma temporada no hospital. 
O nome de Phil Wiggins é muito ligado à tradição do blues acústico, mas não aquele feito no Mississippi, até porque havia nascido e crescido em outra região do país, Washington DC.
Sua história também é ligada ao guitarrista John Cephas, com quem tocou e gravou regularmente por trinta anos. Cephas era 25 anos mais velho que Wiggins e morreu em 2009. Seu parceiro mais recorrente tornou-se então o pesquisador de ritmos e ativista Corey Harris.  
Wiggins era adepto do que eles chamam por lá de piedmont style, desenvolvido paralelamente ao blues do Mississippi, a forma de música acústica norte-americana mais conhecida até hoje.
O estilo possuía adeptos de peso como Blind Blake, Brownie McGhee, Blind Boy Fuller, Barbecue Bob, Blind Willie McTell e Reverend Gary Davis. Cephas e Wiggins vieram para seguir os passos dessa turma e por sua vez se tornaram grandes.
Estrearam em disco em 1984, com Sweet Bitter Blues. Gravaram excelentes álbuns: Shoulder To Shoulder, Somebody Told Me Truth, Homemade, Cool Down. Todos lançados pela Alligator Records.
Em 1986 ganharam o prêmio mais importante do blues, o WC Handy Award, com Dog Days of August. Vieram outros ao vivo que captam energia e atmosfera do som da dupla, entre eles, Walkin' Blues e Flip, Flop & Fly.
Sim, o blues vem se renovando como novos artistas e estilos dentro dele, mas a lacuna deixada pela morte de John Cephas e agora Phil Wiggins será sentida na música. O blues acústico que representa a tradição de uma forma secular de expressão.

Ele feliz. E eu mais ainda. Com Phil Wiggins em em São Paulo, 17 de outubro de 2017

Motocicleta e blues - Era uma noite com chuva e frio. A idéia de enfrentar a subida da Rodovia Imigrantes, cheia de curvas e caminhões,a noite, coisa que já fiz tantas vezes e conheço cada palmo e risco dessa ação, era uma idéia que me incomodava. Já perdi muitos shows por causa disso. Mas o fato de perder o show do Phil Wiggins me incomodava mais. 
Então, vestido com minha armadura anti-tempestade, e anti-ralo, fui ao seu encontro no Hotel Transamérica, em São Paulo, no dia 17 de outubro de 2019. 
Pode parecer estranho uma apresentação dessas no lobby de um hotel. E é mesmo. Mas foi onde os irmãos Simi conseguiram colocar o show. E ali naquele lugar, poucos estavam ligando para aquele coroa tocando gaita num espaço reservado para pequenas apresentações. Os caras bebendo e falando alto, uma festa de aniversário com direito ao famigerado “parabéns pra você”, uma barulhenta convenção de firma. Uma desgraça. Uma falta de respeito. A abertura foi gaitista paulistano Sérgio Duarte.
Mas o tempo que passei ali “na cara do gol” , numa poltrona até que confortável, ouvindo o som tirado daquela gaita pura, por um verdadeiro mestre, valeu cada palmo da Imigrantes, cada palmo da marginal Pinheiros molhada, na ida e volta. 
Passar momentos com os caras da tradição do blues aqui no Brasil vale muito. Consegui entrevistá-lo e depois tive a honra de presenteá-lo pessoalmente com meu segundo livro. Ele ficou felizão, como dá para ver na foto. E eu, mais ainda. Estar lá valeu todo o esforço. Porque aos poucos a tradição vira história e cabe a nós esse registro.

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