Whitney Shay e Igor Prado
Texto: Eugênio Martins Jr
Foto: acervo Igor Prado
A cantora californiana Whitney Shay é um nome em ascensão no mundo do blues.
Gravado e produzido pelo guitarrista Kid Andersen no estúdio Graeseland, seu CD A Woman Rules the World, que mostra uma garota talentosa e empoderada, vem sendo festejado desde que foi lançado, em 2018.
Com uma escolha de repertório impecável, a voz limpa e poderosa de Shay cercou-se de convidados, todos da nova cena blueseira da ensolarada Costa Oeste.
O próprio Kid toca guitarra, cítara e wurlitzer, Jim Pugh aparece nos teclados, Lisa Leuschner Andersen nos vocais, Kedar Roy no baixo e Alex Pettersen na bateria. 'Sax' Gordon Beadle aparece na maior parte do álbum ao lado de John Halblieb no trompete. Na harmônica a responsabilidade é do indi/californiano Aki Kumar e Derrick 'D´Mar' Martin aparece na percussão. Igor prado faz guitarra e voz na excelente Creeping Up On You.
O CD tem quatro temas de Shay com o parceiro de escrita Adam J Eros e outras seis bem escolhidas versões, entre elas a faixa título de Denise Lasalle, A Woman Rules the World.
Baseada em San Diego, para nós brasileiros, Shay foi descoberta pelo guitarrista Igor Prado em suas andanças pelo norte.
Criou-se uma sólida parceria e a colaboração mútua virou regra. Na mesma medida em que Igor agita a vinda da cantora ao Brasil, Shay o convida para participar de suas gravações e aparições em festivais no Estados Unidos como um de seus sidemen.
No início de 2019 esteve no Brasil para uma turnê com a banda de Igor, a Just Groove. No momento em que essa materia está sendo escrita e publicada, ambos realizam uma série de shows lá na Califórnia no Old Town Blues Club, Oceanside Museum of Art, San Diego Blues Fest, Little Village Foundation Party (com Jim Pugh, Sean Wheelee, Billy Pitman e Junior Watson), Jazz 88.3 Proud Marys Blues Jam, Blues Blast Awards, Malarkeys, Maui Sugar Mill, Belly Up Tavern (Whitney Shay Birthday Show), na sua cidade, San Diego.
Seja ao vivo ou no estúdio, cercada da nata do blues da Costa Oeste, Whitney Shay detona.
Eugênio Martins Jr – Como foi a tua infância e como conheceu o blues?
Whitney Shay - Cresci tocando e ouvindo musicais da Broadway, mas há uns 10 anos comecei a ouvir blues e soul music. Comecei a dançar ao mesmo tempo em que comecei a cantar com um pianista, fazendo jazz (torch songs) e material de big band swing. Pouco tempo depois, conheci o fenomenal guitarrista de blues Nathan James, que me apresentou os blues profundos de BB King, Bessie Smith, Etta James e Big Maybelle. Fiquei viciada. Tomei algumas aulas de violão com um lendário guitarrista de country blues de San Diego, Robin Henkel, com quem ainda me apresento até hoje. Temos uma admiração mútua pela guitarra de Elmore James. O blues nunca foi algo que me foi introduzido na infância ou adolescência, foi algo que escolhi para ouvir já adulta e algo que ainda acho que não é o suficiente até hoje.
EM – Kid Andersen, Jim Pugh, "Sax" Gordon, Aki Kumar e Igor Prado participam do teu CD A Woman Rules The World. Notei que esse time toca em outros discos do pessoal lá da Califórnia. Vocês formaram uma cena forte por lá. Poderia falar sobre isso?
WS - A cena da Califórnia é incrível. Em San Diego temos incríveis músicos de blues internacionalmente conhecidos, incluindo James Harman, Nathan James, Laura Chavez, Marty Dodson e o falecido Candye Kane, só para citar alguns. Ambos, Kid Andersen e Aki Kumar, vivem e trabalham no norte da Califórnia, e Jim Pugh sempre está lá gravando e trabalhando em projetos para sua gravadora, a Little Village Foundation, para a qual Kid produz. San Jose, CA, fica a cerca de oito horas de distância de onde eu moro em San Diego, então não posso vê-los com a frequência que gostaria, mas toda vez que eu me apresento, fico empolgada por causa dessa cena e das grandes pltéias. Conheci Jim e Kid em 2017, gravando uma faixa no estúdio Greaseland para meu amigo, o guitarrista brasileiro Netto Rockfeller. Uma vez que pude tocar com eles e ver o estúdio soube que tinha que fazer meu álbum lá por causa da produção fantástica de Kid. “Sax” Gordon Beadle conheci alguns anos atrás aqui no Brasil quando nós dois estávamos em uma turnê com nosso amigo Igor Prado e eu sabia que ele era o homem perfeito para meu álbum e tive que trazê-lo de Boston. Eu estava tão feliz que Gordon, Jim Pugh e Aki não só poderiam fazer parte do CD, mas também fazer parte da minha festa de aniversário/lançamento do álbum em San Diego. Todos são músicos que eu realmente respeito profissionalmente mas também amo como pessoas. Todos que mencionei aqui trabalham duro, são incrivelmente ocupados, essa é uma das razões pela qual nossa cena na Califórnia é tão dinâmica e movimentada.
EM – Inclusive Igor Prado tem feito um grande trabalho em trazê-los ao Brasil e conseguido colocá-los em várias gigs por aqui. Como vê esse intercâmbio.
WS - Esta é a minha sexta vez no Brasil e adorei todas as vezes. Sinto-me muito em casa aqui e todos os músicos com quem trabalhei nos últimos três anos e meio tornaram-se amigos íntimos. Parece que todos os músicos que Igor trouxe aqui, como Wee Willie Walker, Sax Gordon, Tia Carroll, eu, formamos uma família, pois todos amamos a energia dos músicos e fãs aqui na América do Sul. Nessa turnê toquei com três bandas diferentes: uma liderada por Igor Prado e Nicolas Simi, uma liderada por Luciano Leães e uma liderada por Netto Rockfeller. Todo mundo tem sido maravilhoso e todos nós nos divertimos muito. Meu português está melhorando um pouco.
EM – A sessão de metais é bem presente no seu trabalho, o que dá um brilho especial às canções e um contraponto a sua interpretação. Gostaria que falasse sobre isso.
WS – A sessão de metais é composta por Sax Gordon Beadle no sax tenor e barítono, John Hablieb no trompete em algumas faixas também. Sax Gordon é um músico muito educado que frequentou a escola de música Berklee, mas também é alguém que tocou blues e estudou todos os estilos diferentes de saxofone rhythm & blues, então ele é realmente especial. Como artista, dei a Gordon a liberdade para interpretar os temas e organizar os metais como ele queria, pois tinha a consciência que ele realmente saberia o que iria funcionar melhor. Kid Andersen teve uma grande contribuição quando trouxe John Hablieb, que acrescentou um toque adicional ao trompete.
EM – O dueto com Igor Prado em Love’s Creeping Up On You é sensacional. Gostaria que você contasse a história dessa parceria.
WS - Conheci Igor em maio de 2015, quando nós dois tocamos no Doheny Blues Festival perto de Los Angeles. Fomos apresentados por um amigo e produtor mútuo e alguns meses depois ele me convidou para vir ao Brasil. Após várias turnês e colaborações, sabia que queria escrever um dueto para o meu álbum e ter Igor cantando nele, porque sempre gostei de vê-lo cantar, embora ele não faça isso com muita frequência. Foi na verdade a última e mais rápida música que meu parceiro de composição Adam J Eros e eu escrevemos para o álbum e parece ser uma das melhores e todo mundo adora. Alguns críticos nos EUA disseram que é a canção sexy do álbum.
EM – Você imaginava que houvesse uma cena de blues como a nossa no Brasil. Com tantos jovens se dedicando a esse estilo?
WS - É incrível e muito diferente ter uma cena tão jovem aqui, tanto músicos quanto fãs, são muito mais jovens do que a maioria dos fãs de blues e muitos dos músicos nos EUA. Quando vim pela primeira vez ao Brasil foi meio chocante tocar com o Igor e a banda dele, porque o público era tão elétrico, isso me deixava muito animada. O primeiro show que fiz no Brasil foi em Caxias do Sul para o Mississippi Delta Blues Festival em 2015. Foi um dia que nunca vou esquecer porque a banda e o público estavam completamente em chamas e barulhento.
EM – Porque você escolheu A Woman Rules the World, uma canção de Denise LaSalle, para ser a principal música do seu CD?
WS - Originalmente, essa música foi sugerida pelo produtor Kid Andersen e foi ideia dele chamar o meu álbum assim. Para ser sincera, no começo estava preocupada em agradar as pessoas e alienar parte do meu público, titulando meu álbum assim. Estava preocupada em ofender alguém que não gostava da ideia de uma mulher pudesse ser forte, mas depois de gravar o álbum e olhar para todos os títulos das músicas, percebi que não havia outra opção além de chamar o álbum assim. Hoje em dia, acho que é hora de as mulheres não terem medo de serem fortes e fazerem escolhas ousadas. Muitas das músicas que escrevi para o álbum tem letras sobre ser uma mulher forte e eu sempre escolhi músicas de artistas femininas fortes. Então acabei mantendo a intenção de fazer um registro sobre o empoderamento feminino. Estou feliz que ficou assim.
EM – Duas perguntas em uma. Tem tocado em várias cidades do país, o que tem achado? E vi que você aproveitou bem os teus dias de folga, passeando por São Paulo. O que achou da cidade?
WS – Cantei em todo o Brasil neste momento. No norte, em São Luis, em um festival em Ibitipoca, em toda a parte de Minas Gerais, em Brasília, no sul em Porto Alegre e Caxias, e finalmente em São Paulo. Por motivo diferentes, amo todas as cidades em que estive. Na maioria das vezes as pessoas com as quais interajo me fazem amá-las. Tanto quanto São Paulo em particular: em minhas diferentes visitas, fui vários museus de arte, fiz compras, experimentei vários restaurantes diferentes e até caminhei pela Liberdade. São Paulo é uma cidade gigante com muito para ver, mesmo depois de seis vezes, estive talvez um décimo dela.
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